capítulo 8 :Mágoa

Viver aprisionada nessa sede intensa por sangue é como se fosse um castigo enorme.

— Olha só bebeu tudo — ele se aproxima se sentando numa rocha perto de mim — Pensei que não queria.

Todo esse tempo tenho-me alimentado do sangue de animais inocentes, no início tentei resistir o máximo que pude.

Mas um dia enquanto andava pela floresta, encontrei um casal na floresta e o cheiro do sangue deles era atraente, era algo que não conseguia explicar o cheiro deles fazia as minhas veias saltarem e um desejo forte, fazendo eu querer correr até aqueles pescoços e beber cada gota do seu sangue.

Na medida em que eu me aproximava deles o desejo se tornava mais fortes.

E naquela noite eu alimentei-me de sangue humano.

Até hoje escuto os gritos deles , eles estavam assustados e com medo .E por mais que eu quisesse parar , não consegui. Quando tudo acabou ,me vi banhada em sangue, os corpos deles estavam ali do meu lado .

E eu chorei, chorei amargamente por ter-me tornado um monstro. Eu havia destruído a vida deles assim como aquele vampiro destruiu a minha.

Deste aquele dia, fiz de tudo para não me aproximar de humanos novamente, passei a alimentar-me de animais da floresta deste pequeno coelhos até inocentes cervos, as vezes cachorros que se perdiam dos seus donos.

E quando termino ,sempre começava a chorar novamente um após o outro, depois desses anos fazer isso deixou de ser um grande fardo, mas lá, no fundo ainda tenho o desejo enorme de que tudo isso acabe e que pelo menos um dia eu desperte e tudo tenha sido apenas como um sonho.

Acordar e perceber que posso andar sobre a luz do sol sem me queimar, levantar-me da cama e preparar-me para as provas da escola ou ainda chegar na cozinha e ver a minha mãe preparar aquelas panquecas que quase sempre ficava queimada, e depois ouvir o meu pai dizendo que chegou do trabalho e mesmo cansado sempre corria-nos e tentava consertar as coisas.

Ouvir mais uma vez o meu tio contar história toda a noite, sempre que via nos visitar. E escutar os gritos dos meus irmãos disputando o controlo da televisão.

Mas infelizmente nunca vou despertar desse pesadelo, agora que tenho esse vampiro aqui comigo, posso ter a minha vingança ,porém não consegui matá-lo quando tive a oportunidade.

Enquanto me perco nos pensamentos o escuto falar e retorno a mim.

— Porque está tão distraida, por acaso está a pensar em mim.

— Não é da sua conta.

— Foi difícil não foi? — ele desvia o olhar e abaixa a cabeça como se tentasse esconder algo.

-Do que está falando?

— Se tornar vampira assim do nada — ele entrelaça os dedos, posso perceber um pouco de tristeza no seu rosto — Deve ter ficado assustada, naquela noite eu… eu…

Fico parada apenas escutando, mas ele fica em silêncio e movimenta a mão passando sobre a sua coxa e depois se levanta sem dar nenhuma palavra.

— O que Foi? — me levanto e olho nos seus olhos que estão agora castanhos- está preocupado se eu sofri porquê? foi você que me transformou nesse monstro que me tornei, e agora me pergunta se foi difícil.

Ele fica calado evitando olhar-me.

— Eu não te matei ontem por que me ajudou com aquele lobisomem, mas não pense por um segundo que não irei matar-te pelo que fez a minha família.

Saio daquele local carregada de dor, tristeza e ódio. Ando até um local mais afastado da caverna e deixo algumas lágrimas escorrem, coloca a mão sobre a boca de modo a tentar esconder o som dos meus soluços.

Fico ali por horas e não escuto nada além desse silêncio que se tornou o meu amigo durante todo esse tempo.

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