As lembranças da minha família invadem meus sonhos como uma onda silenciosa, mas devastadora.
É como se ainda estivessem vivos, perto de mim, como se aquela noite terrível jamais tivesse existido.
Vejo-me caminhando pelo jardim da nossa casa. O ar é leve, o perfume das flores mistura-se com a brisa suave, e o calor do sol acaricia minha pele como um abraço gentil. O cenário é tão real que quase posso ouvir as risadas que costumavam preencher aquele lugar.
De repente, duas pequenas figuras surgem correndo em minha direção. São as crianças. Estão sorrindo, seus rostos iluminados pela alegria inocente.
— Kemilly! Kemilly! Sentimos sua falta! — gritam, suas vozes cheias de amor e saudade.
Meu coração aperta ao ouvi-las. Sinto as lágrimas ameaçarem meus olhos enquanto abro os braços e me abaixo, pronta para recebê-las e abraçá-las com toda a força que tenho.
Mas, subitamente, tudo muda.
As cores vivas se apagam, substituídas por um cinza sufocante. O chão começa a se cobrir por um rio escuro e viscoso... sangue. O cheiro metálico invade minhas narinas. O sorriso em meu rosto desaparece quando vejo meus irmãos caídos no chão, seus corpos ensanguentados e imóveis.
E então, ele aparece.
Aquele rosto maldito. Os olhos vermelhos e frios, como se pudessem perfurar minha alma, e uma cicatriz que cortava seu rosto como uma marca de guerra. Ele me encara exatamente como naquela noite — com a mesma mistura de ódio e prazer cruel.
Meu instinto grita para fugir. Começo a correr, mas meus pés tropeçam, e caio pesadamente.
Acordo num sobressalto. Meu coração bate descompassado, e lágrimas deslizam pelo meu rosto. A sensação foi tão real que ainda sinto o cheiro de sangue no ar.
Respiro fundo, tentando me acalmar. Olho ao redor e percebo onde estou: algemada, numa cela úmida e vazia. O cheiro de mofo e podridão é tão forte que me dá náusea. A sujeira cobre as paredes e o chão, e há manchas que prefiro não identificar.
As celas vizinhas estão todas vazias, separadas por grades enferrujadas. O silêncio é pesado, quase sufocante.
Aproximo-me das barras frias e grito:
— Olá! Tem alguém aí?! — minha voz ecoa pelo corredor, mas não há resposta. — Ei! Tirem-me daqui, seus desgraçados! Apareçam, canalhas!
O som morre no vazio. Ninguém responde.
Encosto-me de costas nas grades, levando as mãos à cabeça. Uma sensação estranha começa a me invadir, como se algo ruim estivesse prestes a acontecer.
— Ah, por que tudo isso não pode passar de um sonho... — murmuro, minha voz carregada de rancor e impotência.
Então, ouço.
O som metálico de uma porta se abrindo, seguido por passos pesados que ecoam pelo corredor. Levanto-me devagar, atenta, tentando ver quem se aproxima. Conforme a figura avança, seu rosto começa a se revelar sob a luz fraca.
— Vejam só... finalmente acordou — diz ele, com um tom sarcástico. Não é nenhum dos dois homens que vi antes.
— Quem é você? — pergunto, estreitando os olhos.
— Não se preocupe, vampira. Em breve você não vai mais existir — responde, exibindo um sorriso malicioso e um olhar carregado de ódio.
— Do que está falando?
Ele não responde. Apenas destranca a cela e entra, avançando na minha direção.
— Você até que é bonitinha — diz, erguendo a mão para tocar meus cabelos.
— Tire as suas mãos imundas de cima de mim! — rosno, encarando-o com fúria, antes de lhe acertar uma cabeçada.
— Sua desgraçada! — ele rebate, e um tapa forte atinge meu rosto. Meu sangue ferve instantaneamente. — Só porque é uma vampira não pense que tem mais poder que eu! Agora... vou me divertir com você.
— Não ouse tocar em mim. Mesmo algemada, eu acabo com você! — minha voz é um desafio, carregada de veneno.
Os olhos dele brilham de repente — um dourado intenso, selvagem, repleto de fúria.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Davi Santos
mn tou sem palavra para esse livro para falar quanto esse livro é bom
2025-03-21
0
Rosaria TagoYokota
adorando a historia
2025-02-27
0
ana clara
tô adorando esse livro porr#
2024-12-02
3