Como foi combinado com meus pais, hoje eu poderia ir me despedir dignamente da vovó. Mas eles me disseram que não iriam me levar lá já que vovó não gostava do papai e ele queria evitar transtorno. Eu não dúvida nem por um minuto que a vovó devia estar uma fera. E mamãe também não queria ir, elas tiveram muitos desentendimentos desde o casamento deles, a ambição da minha mãe e a humildade da minha avó, nunca fez com que ela aceitasse minha mãe como sua nora.
Sentia falta do meu Jeep e a ideia de dirigir um carro automático me aterrorizava, era completamente confuso para mim. Por isso, quis pedir para o motorista me levar, mas antes que eu fizesse isso, Selina atravessou meu caminho.
– Esqueceu que agora eu sou você?! – Ela solta um grunhido de raiva ao passa por mim e acenar com a mão para o motorista. Ouvi eles comentarem hoje mais cedo que ela já estava fazendo as compras para a viagem.
Observo ela entrar no carro, com o estilo de roupas que eu costumava usar, moletom largo, seus cabelos estavam do mesmo tom castanho que o meu anterior, ela estava completamente irreconhecível. Segurei o riso, ela me criticava tanto, agora era eu.
Não tendo mais opções. Escolho um dos carros de Selina para ir até a vovó, sento-me no banco e pego meu celular, vendo um vídeo no YouTube de como dirigir isso.
Vou devagar já que não confiava em mim mesma, não era um bicho de 7 cabeças como pensava, mas eu me sentia completamente insegura.
Assim que paro o carro, minha avó sai na varanda, me olhando com olhos semicerrados. Com toda certeza não me reconhecendo.
– O que foi dona Julie? – A chamo como costumo chamá-la as vezes e ela abre o sorriso instantaneamente.
Fecho a porta do carro e caminho até a pequena escada que dá acesso a varanda. Vovó sorrir para mim antes de me abraçar apertado.
– Não sabia que vinha – Diz, sorrindo, ela fica parada em frente a porta, olhando muitas vezes para trás. Estranho, o que tinha ali?
– O que foi? Tem alguém aí? – Pergunto me curvando para tentar olhar para dentro.
– Quem chegou? Querida? – Uma voz de homem soa de dentro da casa, minha avó arregala os olhos e rir, tentando disfarçar. Agora já não sei se ela estava assim com tantas saudades de mim, ou sei lá, achei que ela estivesse brava comigo.
Em seguida, escuto passos serem arrastados atrás de vovó. Logo vejo um senhor, alto e bem cuidado, me olhando sorrindo, ele olha para mim e para vovó, confuso.
– Olá minha jovem! – Ele diz, tentando passar por vovó. – Você deve ser a Selen, sua avó me falou muito sobre você – Me cumprimenta com um aperto de mão.
Olho para a minha avó querendo alguma explicação, mas ela se faz de desentendida.
– E o senhor, quem é? – Pergunto, ele olha para a minha avó e depois para mim.
– Alfred, sou namorado da sua avó – Ele rir nervoso. – Faz um tempo que a peço em namoro mas ela só disse que aceitaria depois que você crescesse, e eu soube que você vai casar! – Ele diz animado. Meu sorriso murcha, eu era um atrapalho na vida da minha avó?
Olho para ela que está com a cabeça baixa.
– Vamos, entre, acabei de assar uns biscoitos para ela, vamos tomar um café! – Ele chama educadamente, sempre com um sorriso no rosto. Não quero estragar essa clima tão agradável ela sua animação, sorrio para ele e aceito o convite.
Na mesa, eu tiro foto dos biscoitos que Alfred fez, postando nos storys do Instagram.
Alfred era viúvo, conheceu a vovó quando ainda era jovem, mas eles seguiram caminhos diferentes e após a morte da esposa, ele voltou para a cidade e encontrou por acaso a vovó. Ele diz que já faz 10 anos que isso aconteceu, então pelo meus cálculos, faz 9 anos que ele espera por ela.
– Não demos muito certo na época, a sua avó era muito teimosa e não queria responsabilidade como um casamento, naquela época ainda era cobrado pela sociedade que mulheres servissem ao lar e o marido – Ele olha para a avó, segurando sua mão por cima da mesa.
– Ela só não sabia que eu iria apoiá-la não importasse o que ela quisesse fazer, tentei fazê-la entender que nosso casamento não seria uma prisão para ela. – A vovó o interrompe.
– Mas eu era jovem demais, não dei chance para que ele pudesse tentar me impedir de deixá-lo, apenas sumi da sua vida e conheci seu avô. – Ela diz, tristemente.
– O importante é que estamos juntos agora! – Alfred exclama, feliz, em seguida me pergunta se aceito mais alguma coisa.
Estava feliz por vovó, achava que ela não queria ninguém por opção, mas na verdade era porque ela queria cuidar de mim primeiro, me dar o que meus pais não davam: amor.
– Eu espero que sejam muito felizes – Desejo, minha avó ainda me olha um pouco desconfiada mas eu a asseguro com o olhar que está tudo bem.
– E o seu noivo? – Agora meu sorriso se desfaz novamente. Olho para Alfred sem saber o que dizer.
Meu celular começa a tocar.
– Me desculpem, tenho que atender – Digo, assim que vejo que é um número privado.
Vou para a varanda e deslizo meu dedo, atendendo a ligação.
– Olá? – Escuto apenas um suspiro.
– Olá, diabinha – Sinto meu sangue congelar com a voz extremamente grossa. Era Aslan.
– Oi... – Tento não gaguejar.
– É apenas para avisar que estou indo ao Brasil, buscar minha mãe para nosso casamento, volto em algumas semanas. – Me notifica, eu sabia que ele era brasileiro, mamãe se deu ao trabalho de me contar, dizem que pessoas do Brasil eram perigosas, será por isso também que Selina ou o quis?
– Ok – Apenas digo, nervosa.
– Esteja pronta para mim quando eu chegar – Fala, antes de desligar a chamada.
Me dou conta que minhas pernas estavam bambas assim que me levanto. A voz dele era tão... não consigo nem ao menos explicar.
Olho o registro da ligação, foram apenas 3 minutos e eu estou assim nesse estado?
– Querida? Está tudo bem? – A voz da vovó me desperta. Aceno que sim com a cabeça.
O resto da tarde eles me contam algumas histórias da juventude, e antes de eu entrar no carro para voltar para casa, vovó vem até mim pedindo desculpas, mas quem deveria mesmo era eu, não fazia ideia do sacrifico que ela fazia por mim.
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Atualizado até capítulo 58
Comments
Cida Pereira
o que será que vai acontecer, será que ela ainda é virgem.
2024-09-29
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