O caminho para casa nunca me pareceu tão longo, deixar Victor sozinho no hospital era algo que me partia o coração. Mas eu precisava ficar com a vovó.
Paro o carro em frente a casa e procuro a capa dele que deixo na varanda, para evitar a chuva ácida e manchar a pintura. Minha avó sai na porta alegando que escutou o som do carro.
Sorrio para ela, cobrindo o carro.
– Fiz uma sopa deliciosa! – Ela toca minhas costas assim que chego na porta, Vovó mesmo com seus 68 anos, não parecia nunca ter essa idade, no máximo 50, eu diria, era magra e se importava demais com a aparência, principalmente com a moda. A casa só era simples de fora, mas por dentro se assemelhava um pouco a casa dos meus pais. Claro que ela arrumou tudo com o tempo. Não temos muito dinheiro para reformar tudo de uma vez.
– Está realmente um delícia, vovó! – Elogio e ela sorrir, feliz, ela adora ser elogiada.
Conversamos um pouco sobre meus pais e de como estão as coisas, sobre minha bolsa de estudos e como faremos para que eu consiga ir. Agora que ganhei o carro penso em vendê-lo para conseguir me manter no Canadá, até conseguir um emprego por lá. Porém, penso na vovó que vai ficar sem carro, queria deixar para ela, acredito que isso possa até compensar minha ausência, já dei a ideia para que ela fosse comigo assim como tento novamente agora:
– Não mesmo! Aqui está todo mundo que conheço, não quero arriscar tudo rumo ao desconhecido, não, não! – Ela diz, balançando as mãos, dramatizando ao extremo. Sorrio diante sua reação, adoro suas expressões e reações quando não gosta de algo. – E além disso, você nem terá tempo para mim – Continua. Balanço a cabeça em negativo e ela muda de assunto, me perguntando por Victor.
...
– Querida, acorde – Sinto as mãos macias da vovó em meu ombro esquerdo, me balançando devagar. Abro os olhos em seguida os fechando pela claridade que está o quarto.
– O que foi? Vovó? – Indago esfregando os olhos. Ela não costuma me acordar.
– Seu pai está aqui – Ela diz, com os braços cruzados, ela e meu pai não se davam lá muito bem embora as vezes ele tentasse, ela dizia que ele puxou tudo oque tinha de ruim no meu avô.
– O que? O quê ele quer aqui? – Tiro o lençol de cima de mim, pondo os pés no chão para me levantar.
– Hoje é sábado – Ela diz, apontando para o relógio ao lado da minha cama, mas ainda marcava 7:10 da manhã.
– Mas tão cedo? Meu Deus... – Resmungo me levantando e indo para o banheiro.
Após estar acordada de verdade, eu caminho em direção a sala, o silêncio reinava toda a casa. Assim que adentro a sala de estar, vejo meu pai e a vovó apenas se olhando, em silêncio. Os olhos dele encontram os meus e ele passa as mais na cá sua coxa por cima da calça social e se levanta.
– Filha, vamos conversar lá fora – Pede, dando um aceno de cabeça para minha avó. Passo por ela seguindo meu pai até a porta, vovó levanta as sobrancelhas para mim como se disse "vá lá".
– O que faz aqui tão cedo? – Pergunto, fechando a porta atrás de mim.
– Preciso conversar com você antes de irmos. – Se limita a dizer, procurando uma das cadeiras para se sentar, o acompanho, sentando ao seu lado. Algo me dizia que coisa boa não vinha por aí.
– Sim – Incentivo a continuar.
– Serei direto, estou falindo, Selen, completamente falido – Começa, visivelmente nervoso. – Um homem ofereceu uma proposta, investir alguns milhões na empresa e filiais, mas tem um preço. – Ergo as sobrancelhas, mas o que eu tinha haver com isso?
– Sim, e qual o preço? – Pergunto sem entender.
– Casar.
– Casar? – ??
– Sim. – Afirma, e eu com isso?
– Por que você está aqui? – Resolvo perguntar logo.
– Preciso que você case com ele. – Fala. Arregalo os olhos, acho que não escutei direito.
– E por que eu faria isso? – Só pode ser piada.
– Porque ele quer Selina, mas ela se recusa a fazer isso, se você aceitar faço o que quiser. – Ele implora, tentando tocar nas minhas mãos. Eu não vou fazer isso.
– Tudo por conta da sua filhinha mimada? – Reviro os olhos, magoada. – Eu não vou fazer isso. – Afirmo, me levantando da cadeira e indo em direção a porta com o intuito de voltar para dentro.
– Se fizer isso, garanto que cuidarei da mãe do seu amigo – Sua proposta me faz parar.
– O que? – Volto para ele, sem acreditar.
– Além de pagar uma faculdade para ele, cuidarei de todos que você ama. – Me surpreendo em vê-lo se ajoelhar em minha frente.
– Mas por favor, faça isso. – Continua a implorar.
Percebo que estou chorando quando sinto minhas bochechas molhadas.
– Tudo bem – Aceito. Pela felicidade de Victor e a recuperação da tia Nancy, valeria a pena, eles precisavam de ajuda, e se isso for o preço, eu aceito.
Ele me abraça apertado, como se eu tivesse salvado sua vida.
– Obrigado, filha.
...
– Quem é ele? – Pergunto, meu pai puxa o ar com força antes de responder.
– Aquele mesmo homem que mandou mensagem para sua irmã, na última vez que esteve em minha casa – Arregalo os olhos, era o homem que a perseguia? Lembro perfeitamente da menagem que ele enviou a minha irmã, em letras maiúsculas. Meu Deus.
– Vocês irão trocar de vida. – Ele diz o que eu já imaginava. Odeio a ideia de ter a vida dela, ela era uma cobra, uma pessoa ruim. Mas era necessário.
Estávamos no carro, indo para a casa dele, decidir como faremos isso.
Logo quando passamos pela porta, minha mãe nos recebe, parecendo assustada.
– Ela aceitou? – Selina aparece atrás dela, perguntando.
– Sim – Respondo por ele.
– Isso é realmente impressionante – A cobra abre um sorriso. Se não fosse por Victor eu a faria se foder.
Tudo consistia em me transformar em Selina. Ela fez um story dizendo que iria cortar o cabelo já que os meus eram mais curtos. E foi o que minha mãe me forçou a fazer, pintar da tintura preta mais escura já existente.
Já fazia várias horas que eu estava parada na mesma posição, o solão inteiro estava se dedicando ao meu cabelo que estava completamente descuidado, tudo para ficar pelo menos próximo ao cabelo de Selina.
– Bom, falta emagrecer só alguns quilinhos – O homem que havia acabado de escovar meu cabelo diz. Assinto levemente com a cabeça, cansada demais para tentar discutir ou rebater.
– Verdade – Minha mãe concorda, vejo ela fazendo uma careta atrás de mim, através do espelho.
Já em casa, eu temia até de me olhar no espelho, eu já não era eu mesma. Isso era aterrorizante.
Victor me ligou algumas vezes, mas eu não tinha coragem para atender. Papai me disse que já haviam transferido a tia Nancy do hospital e que ela estava se medicando melhor e tendo uma recuperação mais rápida.
– Selina, você tem que entregar seu celular para sua irmã. – Minha mãe tenta mais uma vez, Selina se recusava a entregar.
– Mas eu já disse que isso não é necessário. – Revira os olhos voltando a atenção para o mesmo que está nas suas mãos. Aproveito a distração das duas e pego o meu, apagando as conversas que tinha com Victor e várias coisas que não quero que essa cobra saiba.
– Chega, me entreguem as duas os celulares!
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 58
Comments
Eloi Silva
eu não gostei dos pais fazerem um coisa dessas agora eles lembraram que tinham outra filha corja de abutres tomara que eles se dão mal por isso
2024-10-14
0
Cida Pereira
não gostei ela se disfarçar de uma pessoa ruim pra ajudar eles não!!
2024-09-29
1
Odette/Odile
Arrepiante!
2024-09-28
1