14 – Conhecendo Olívia.

    Os dias pareciam estar passando em segundos.

Hoje pela manhã, tive que ir no centro fazer os últimos ajustes do vestido. Me dava vontade de chorar em me ver belíssima ao espelho e pensar que não estou me casando por amor. Eu sentia medo do desconhecido, do que poderá acontecer comigo se um dia Aslan perceber e no que ele é capaz de fazer.

– Você está tão linda! Minha Selina... – Minha mãe diz emocionada, pegando a barra do vestido. Selina, eu odiava esse nome e odiava estar fazendo isso.

O véu foi posto na minha cabeça e foi aí que não consegui aguentar, as lágrimas desciam grossas pelo meu rosto enquanto eu me encarava pelo espelho. Meu Deus, Selen, o que você está fazendo da sua vida?

O buquê era belíssimo, clássico com rosas brancas, escolha de Aslan, ao menos isso ele opinou.

– Agora temos que ir no salão, hoje é o jantar com sua sogra! – Minha mãe me relembra. Me limito apenas aceitar.

Tiro o vestido, voltando a vestir a roupa anterior, um vestido curtíssimo roxo. Era o menos pior das roupas de Selina.

O salão era um pouco distante da loja de vestidos, fomos andando até lá.

Seguro a respiração a cada pessoa que passava por nós, como morávamos em uma cidade pequena, tudo virava assunto, com certeza já sabiam do meu casamento e com certeza das coisas ruins que Selina fez antes de tudo isso.

Meu pescoço já estava doendo pelo tempo na mesma posição, estavam lutando para fazer um penteado no meu cabelo, acho que não precisava de tudo isso.

Pego meu celular olhando as horas: 13:23 da tarde, e eu ainda não havia almoçado. Regras da minha mãe para perder mais peso.

Ele vibra com uma mensagem.

"Voltei para resolver algumas coisa, queria me despedir de você dignamente." Era uma mensagem de Victor, sorrio instantaneamente. Mas meu sorriso murcha em seguida.

Explico para ele que hoje não posso por conta do jantar. Ele diz que conhece o restaurante que eu vou.

A S L A N

– Qual é mesmo o nome dela? – Mamãe indaga, cinicamente, enquanto tira sua bolsa do ombro, pousando em cima do sofá. Estávamos no apartamento que comprei recentemente para morar com Selina após o casamento. Era enorme e ficávamos no último andar, era todo nosso. Minha mãe ficaria uns dias comigo antes eu encontrar um lugar seguro para ela morar sozinha.

No caminho para cá ela me disse que não quer ficar próxima de alguém como Selina. Claro, Jonas já deve ter se encarregado de contar sobre Selina a ela.

– Sim, minha mãe – Confirmo. Pegando a bolsa dela e levando para o quarto que ela ficará.

– Ah – É tudo o que diz quando eu volto. Ela tira os saltos e sorrir para a emprega que está fazendo nosso almoço na cozinha.

– Bom dia querida, tudo bem? – Ela cumprimenta. Reviro os olhos. Eu não importava com a opinião dela em relação ao meu casamento e a mulher que estou me casando. Dona Olívia ainda achava que eu era um santo, um homem bom. E tinha que casar também com uma mulher boa.

As horas seguintes gastamos almoçando e tagarelando sobre o que aconteceu na minha ausência, um pouco antes da morte de meu pai, Olívia descobriu que ele possuía uma amante no sul do Brasil.

Não consigo entender que mesmo sabendo disso, ela ainda sofre sua morte. Já eu, não estava nada surpreso com meu pai. Ele sim nunca foi um santo.

– Eu já deveria ter desconfiado antes de me casar com ele, afinal de contas, é brasileiro... – Dá de ombros, bebericando o café. Minha mãe é jovem, no auge dos 54 anos. Cabelos loiros e olhos azuis, muito bem cuidada para a idade. – Mas eu era muito nova, tinha acabado de fazer 18 anos e logo depois veio você – Ela sorrir para mim, apertando minha mão que estava em cima da mesa. – A melhor coisa que eu fiz. – Fala orgulhosa.

...

Me sentia terrivelmente ansioso enquanto esperava minha mãe ficar pronta. Quero ver o rosto de Selina e principalmente a roupa que ela irá, pedi para que fosse com suas roupas habituais, as roupas que ela costumava usar para postar foto no Instagram. Diferente da roupa social que ela foi da última vez.

– Finalmente! – Digo assim que escuto seus saltos batendo no chão. Ela nada diz e caminha até a porta. Abro a mesma para ela.

Decidi eu mesmo ir dirigindo, mas sempre com os seguranças atrás de mim.

Era estranho a minha mãe ter ficado calada o tempo inteiro até chegarmos no local.

O restaurante era sofisticado, o único que servia comida brasileira nessa cidade pequena.

Abro a porta para minha mãe e a ajudo a descer do carro. Assim que sai, ela parece me ignorar e caminha para a entrada do restaurante sem me esperar.

Praticamente corro para alcançá-la, o que será que ela estava pensando em fazer?

Encontramos a mesa onde está Selina e seus pais, minha mãe toma a minha frente, indo até lá.

– Boa noite, você deve ser Selina, não é? – Puxo a cadeira para ela e sento ao seu lado.

S E L E N

    Meus olhos vagavam pela mulher elegante que sentou a minha frente. Longos cabelos loiros claros e os olhos azuis estonteantes. Ela sorrir para mim e não consigo distinguir se é um sorriso falso ou não, ela exalava superioridade.

Ela e meus pais se apresentam todos sorrindo, por um momento me questiono se tudo isso é realmente uma farsa.

– Então? Vamos pedir? – Olívia, minha futura sogra, toma iniciativa.

– Sim, claro – Minha mãe responde. Todos pegamos o menu.

– Não conheço nenhuma comida que é servida aqui – Meu pai comenta, distraído.

– Claro, nunca foram ao Brasil? – Olívia pergunta.

– Não – Ele responde, voltando a olhar o menu.

– E você? Queridinha? – O apelido me faz levantar as sobrancelhas para ela. Noto o nojo no seu tom de voz.

– Ah, nunca fui – Respondo, forçando uma confiança na voz, como Selina me orientou.

Ela rir. Fico sem entender.

– É porque lá a maioria da população são pessoas negras? – Pergunta, pondo os cotovelos na mesa, me olhando como se fosse levantar a qualquer momento e me atacar.

Minha "confiança" some em segundos, e agora? O que eu digo?

– Não eu – Sou interrompida pela minha mãe.

– Ainda não tivemos uma oportunidade de conhecer, mas vamos em breve, afinal de contas ela é noiva do seu filho – Minha mãe retruca.

– Mas casar com um brasileiro não faz dela menos racista – Agora ela olha para a minha mãe. – Ou faz?

– Bem, vamos pedir essa Moqueca de peixe? Parece uma delícia pela foto – Meu pai interrompe a tensão no ar e se inclina para mostrar o menu para a minha mãe. Minha mãe entra no jogo, assentindo.

Com as mãos trêmulas eu também pego novamente no menu, vendo a foto. Dava para ver fatias de pimentões na foto e o que parece ser um caldo cremoso com peixe.

– Parece bom – Tento disfarçar, o olhar de Olívia para mim estava me quebrando em mil pedaços.

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