DEPENDÊNCIA DO AMOR

...BERNARDO LOHAN...

O sorriso dela me desarmou completamente. Era como se, naquele momento, o peso de tudo que eu estava carregando desaparecesse. Eu a puxei suavemente para mais perto, deixando nossos corpos ainda mais próximos. O cheiro dela, a forma como seus dedos entrelaçaram nos meus, tudo ali parecia certo.

— Eu estava preocupado com você — murmurei, ainda mantendo meus olhos fixos nos dela. — Quando você disse sobre o seu pai...

Ela suspirou, e por um instante, seus ombros caíram levemente, como se o peso da preocupação voltasse.

— Ele está melhor agora. Foi só um susto... mas eu tinha que estar com ele. — Ela falou, sua voz suave, mas carregada de responsabilidade. — Não consegui pensar em mais nada o dia todo.

Eu assenti, entendendo perfeitamente. Família sempre vinha primeiro. E, claro, eu sabia que Ísis faria qualquer coisa por quem amava. Ela era assim, e era uma das coisas que eu mais admirava nela.

— Estou aqui agora, se precisar de mim. — Eu disse com firmeza, apertando levemente sua mão.

Ela sorriu de novo, dessa vez um pouco mais tímida, mas ainda assim com aquele brilho nos olhos que me deixava sem chão.

— Eu sei... e estou feliz por isso. — Seus dedos tocaram levemente meu rosto, traçando uma linha suave. — Mas, você também parece preocupado. O que foi, Bernardo?

Eu respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas. A verdade estava ali, se acumulando em mim. Todo o medo, a ansiedade... eu queria contar tudo. Queria que ela soubesse sobre o casamento, mas, ao mesmo tempo, eu não podia. Não ainda.

— Tem muita coisa acontecendo, Ísis. — Falei, meus olhos desviando por um segundo antes de voltarem aos dela. — Eu só... eu precisava te ver, te sentir perto de mim. Porque, com você, tudo parece mais fácil.

Ela ficou em silêncio por um momento, apenas me olhando com aqueles olhos que pareciam ler tudo dentro de mim. Então, ela se aproximou mais, deixando a testa encostar na minha, seus lábios quase roçando os meus novamente.

— Eu estou aqui. — Ela disse, baixinho, como uma promessa. — Você não precisa dizer tudo agora, mas eu sinto que algo está te perturbando. Só quero que saiba que estou aqui, seja o que for.

Eu segurei seu rosto com as duas mãos, sem conseguir segurar o sentimento que borbulhava dentro de mim. Ela era muito mais do que eu esperava, e o medo de perder aquilo me consumia. Mas, por ora, estar ali, com ela nos meus braços, era o suficiente.

— Obrigado. — Murmurei antes de beijá-la de novo, dessa vez com mais calma, mais controle, mas com o mesmo desejo de nunca deixar aquele momento acabar.

Ísis me puxou suavemente pela mão, me convidando a entrar. Assim que passamos pela porta, o calor da casa me envolveu, contrastando com o ar frio do lado de fora. A casa dela era aconchegante, simples, mas cheia de uma energia acolhedora. Eu podia sentir o cuidado em cada detalhe.

Enquanto eu tirava o casaco, ouvi passos vindos da sala ao lado, e logo, o pai de Ísis apareceu. Ele parecia abatido, com o rosto pálido e o nariz vermelho, claramente ainda se recuperando. Vestido com um suéter grosso e segurando uma xícara de chá entre as mãos, ele parecia estar com frio, mesmo com o ambiente aquecido.

— Quem está aí, filha? — ele perguntou, a voz rouca e cansada. Mas assim que seus olhos me encontraram, sua expressão mudou. O olhar preocupado suavizou, e um leve sorriso se formou em seus lábios.

— Bernardo? — Ele perguntou, com um tom de surpresa, mas um toque de alívio na voz. — Não esperava vê-lo por aqui.

Eu sorri de volta, respeitoso, e dei um passo à frente, estendendo a mão para cumprimentá-lo.

— Boa noite, senhor. Ísis me contou o que aconteceu. Fiquei preocupado e quis ver se estava tudo bem com vocês. — Minha voz era calma, mas firme, tentando passar a tranquilidade que, por dentro, eu não sentia.

Ele apertou minha mão, ainda segurando o chá na outra, e assentiu levemente, o sorriso não desaparecendo.

— Estou bem, estou bem... só um resfriado insistente, nada grave. Mas obrigado por vir, fico mais tranquilo sabendo que minha filha está com alguém de confiança por perto.

Seu comentário fez meus ombros relaxarem um pouco. Saber que ele confiava em mim era um alívio, ainda mais sabendo que eu estava com tantas coisas pendentes em minha vida. Ísis estava ao meu lado, e eu podia sentir o olhar dela sobre mim, como se estivesse observando cada reação, cada gesto.

— Não se preocupe, senhor. — Falei, tentando soar mais confiante do que me sentia. — Vou cuidar bem dela.

Ele deu uma leve risada, embora ainda com o cansaço visível em seus olhos, e se acomodou em uma poltrona próxima.

— Bom, fico feliz de saber disso. Vou só descansar um pouco mais. E obrigado de novo por vir.

Ele então recostou-se mais na poltrona, tomando outro gole do chá. Eu me virei para Ísis, que me olhava com um sorriso terno. Era como se, naquele momento, tudo fizesse sentido. Eu estava ali, com ela, em meio a todas as incertezas da vida. E, por agora, isso era o suficiente.

...(...)...

...•••• ISIS ••••...

Ver Bernardo ali, dentro da casa do meu pai, fez algo diferente acontecer dentro de mim. Era como se, de repente, ele estivesse conhecendo uma parte de mim que poucos viam. Aquela parte mais íntima, a parte que envolve minha família, minhas raízes. A casa onde cresci, o homem que cuidou de mim desde sempre. E, de alguma forma, ver meu pai, um homem geralmente desconfiado, aceitar Bernardo tão naturalmente, fazia meu coração disparar ainda mais.

Eu estava nervosa. Era impossível não estar. Cada gesto dele, cada olhar de preocupação que ele lançava tanto para mim quanto para meu pai, só reforçava o quanto eu me sentia cuidada, protegida. Havia algo em Bernardo que mexia comigo, que me fazia querer me aproximar mais, como se ele estivesse lentamente se infiltrando na minha vida, ocupando um espaço que, até então, eu não sabia que precisava ser preenchido.

Enquanto ele conversava com meu pai, eu não conseguia parar de observá-lo. O jeito como ele se comportava, sempre tão firme, mas com um toque de suavidade que só eu parecia perceber. E agora, vendo-o ali, dentro do espaço que era tão importante para mim, senti uma mistura de emoções. Eu estava apaixonada, isso era inegável. Era como se, aos poucos, Bernardo estivesse se tornando parte de tudo o que eu era.

Ele estava invadindo cada pedaço da minha vida, e, surpreendentemente, eu gostava disso. Gostava da sensação de que, com ele, eu não precisava carregar tudo sozinha. Gostava de saber que ele se importava o suficiente para estar ali, me apoiar, e cuidar da situação sem me pressionar. Aos poucos, eu percebia que o medo de me entregar estava sendo substituído por um desejo profundo de deixar que ele fizesse parte do meu mundo.

E, naquele momento, vendo Bernardo sentado na sala da casa do meu pai, senti uma onda de tranquilidade misturada com nervosismo. Era como se algo maior estivesse se formando entre nós, algo que não poderia mais ser ignorado. Eu estava apaixonada, e a ideia de tê-lo cada vez mais envolvido na minha vida me deixava ansiosa e feliz ao mesmo tempo.

Estava perdidamente apaixonada por ele, como pode.. Criar expectativas tão rapidamente, como se envolver assim com pouco tempo? Eu não sei.. Eu só sei que não quero que acabe, eu precisava de mais!

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