Rascunho

Cheguei em casa exausta, mas uma euforia me consumia. Mal podia acreditar em tudo que tinha acontecido. O dia tinha sido intenso, mas a lembrança de Bernardo dizendo que estava apaixonado por mim ainda rodava na minha cabeça como um filme.

Joguei minha bolsa no sofá e me joguei junto. Por mais que o cansaço do dia tivesse tomado conta, eu não conseguia parar de pensar em tudo. Cada detalhe daquele dia, cada olhar trocado, o toque sutil das mãos dele… Tudo parecia tão surreal, tão fora da minha rotina.

Peguei o celular, e lá estava uma mensagem dele. Apenas um simples

"Espero que tenha chegado bem".

mas só aquilo já era o suficiente para fazer meu coração acelerar.

Respondi rápido, tentando não parecer ansiosa demais:

 "Cheguei sim, e você? Está bem?"

Enquanto aguardava a resposta, minha mente voltava àquela noite no restaurante. Tinha algo mais que Bernardo queria me dizer, mas ele parou, se segurou. E eu sabia o motivo. Meu pai estava doente, e aquele assunto não parecia ser algo leve. Ele deve ter evitado para não me sobrecarregar. Mas agora, a curiosidade estava me corroendo por dentro. O que ele queria dizer?

A resposta dele chegou logo depois:

 "Sim, estou bem. Mas sinto que você quer saber de algo. Está tudo bem?"

Claro que ele percebia. Ele sempre parecia saber o que eu estava pensando, mesmo antes de eu conseguir formular as palavras. Mordi o lábio, tentando encontrar a melhor forma de perguntar. Eu precisava saber o que ele tinha evitado me contar naquela noite.

"Na noite do restaurante, senti que você queria me dizer algo, mas... evitou. Por causa do meu pai, talvez? Está tudo bem? Não precisa esconder de mim."

Enviei a mensagem e senti um leve frio na barriga. Sabia que estava entrando em um território mais sério, mas ao mesmo tempo, não conseguia deixar de querer entender o que estava passando na cabeça de Bernardo.

A resposta de Bernardo veio mais rápido do que eu esperava. O coração já estava acelerado enquanto eu lia cada palavra com atenção.

"Não era nada demais, Ísis. Só achei que o momento não era o melhor pra conversarmos sobre certas coisas, considerando a situação do seu pai. Não queria te sobrecarregar."

Parei um pouco, sentindo o alívio inicial. Talvez eu estivesse imaginando demais... Mas continuei lendo.

"Eu só queria te dizer que... Eu gostaria de conversar com você pessoalmente, sabe? Pra entender o que somos. Eu não quero só encontros casuais."

Meu coração disparou, e meus olhos voltaram a ler aquela última frase, como se eu precisasse confirmar se era real. "Eu não quero só encontros casuais."

Fechei os olhos por um momento, absorvendo o peso daquelas palavras. Ele estava falando sério. Aquele mistério e charme que Bernardo sempre trazia não era só um jogo para ele. Ele queria mais. Ele queria entender o que éramos... E, de certa forma, eu também queria. Mas ao mesmo tempo, tudo parecia tão rápido, tão intenso.

A mente começou a rodar. Será que ele estava falando de um relacionamento sério? E o que eu estava pronta para dar a ele? As dúvidas me encheram, mas também uma curiosidade intensa de saber o que ele realmente queria me dizer cara a cara.

Peguei o celular e digitei devagar, tentando controlar a mistura de ansiedade e expectativa que tomava conta de mim.

"Claro, podemos conversar. Quando nos vemos de novo?"

Enviei a mensagem, e a espera pela resposta parecia durar uma eternidade, mesmo que fossem só minutos. Bernardo sempre sabia me desarmar com palavras, mas agora eu sentia que estávamos à beira de algo maior, algo que poderia mudar tudo.

O som da notificação me pegou de surpresa. Olhei para a tela e vi o nome de Bernardo piscando, mas dessa vez não era uma mensagem. Era uma video chamada.

Meu coração deu um salto. Nunca havíamos nos falado por vídeo. Sempre foram só mensagens e encontros presenciais. Isso era… novo. E, de repente, me vi nervosa, ajeitando o cabelo às pressas e me posicionando melhor no sofá, tentando parecer mais tranquila do que realmente estava.

Respirei fundo e atendi.

— Oi...— falei com um sorriso tímido, me sentindo um pouco estranha. Ele apareceu na tela, com aquele sorriso charmoso e o olhar que sempre me deixava sem palavras. Bernardo parecia igualmente sem jeito, o que me fez relaxar um pouco. Ele também estava sentindo a mudança no ar.

—Oi... — Ele respondeu com aquela voz calma que eu tanto gostava. Por um segundo, nenhum de nós disse nada. O silêncio se estendeu, mas não era desconfortável, era como se ambos estivéssemos absorvendo a nova forma de nos ver.

Eu ri de leve, sem saber bem o que dizer, até que ele quebrou o silêncio.

 —Posso ir aí?

Fiquei surpresa e acabei rindo de nervoso.

— Bê... a gente acabou de se despedir! — disse, ainda com o riso preso na garganta.

— Eu sei...— Ele disse, com aquele sorriso meio culpado, como se soubesse que estava sendo impulsivo, mas não conseguisse evitar. —Mas... eu queria te ver de novo.

Meu coração acelerou. Bernardo não era o tipo de cara que fazia isso, pelo menos não nos encontros anteriores. Sempre houve um mistério, uma distância controlada. Mas agora... as coisas estavam mudando, e eu sentia isso tão claramente quanto ele.

—Você não cansa, não? —provoquei, rindo de leve, mas por dentro, já sentia meu coração dizendo sim, mesmo antes da boca.

Ele riu, mas seus olhos estavam sérios.

—Não quando se trata de você.

O que mais eu poderia dizer? Meu corpo inteiro já estava dizendo sim, então não faria sentido negar.

— Aí meu deus — Disse com euforia — Tá bom... vem logo então, antes que eu mude de ideia."

Eu sorri, meio nervosa, meio animada, enquanto ele me olhava pela tela.

—Me manda o endereço? — ele pediu, com a expressão calma, mas os olhos cheios de expectativa.

—Vou mandar por mensagem — respondi, tentando parecer mais relaxada do que realmente estava. O que eu estava fazendo? Ele estava prestes a vir aqui, e eu mal conseguia acreditar no quanto as coisas estavam acontecendo rápido.

Bernardo apenas sorriu de volta.

—Vou chegar logo.

Meu coração deu um salto, e antes que eu pudesse responder, ele encerrou a chamada. Fiquei ali, olhando para a tela apagada do celular por um instante, tentando absorver tudo o que tinha acabado de acontecer. Ele está vindo. Agora.

Com os dedos ainda tremendo um pouco, digitei o endereço e mandei a mensagem. E então fiquei parada, de pé no meio da sala, olhando ao redor. Eu tinha pouco tempo até ele chegar, e a mistura de nervosismo e empolgação crescia a cada segundo.

Eu precisava me preparar, tanto por dentro quanto por fora. Bernardo estava vindo, e, de alguma forma, eu sabia que a nossa noite estava apenas começando.

...(...)...

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