A PROVA DOS DOCES.

Chegamos ao local da prova dos doces, e eu confesso que estava mais curioso do que esperava. Claro, era um detalhe importante do casamento, e eu sabia que Amara estava animada. Mas, dessa vez, algo me dizia que essa experiência seria diferente. Talvez fosse o fato de finalmente estar mais envolvido nas decisões, ou talvez fosse o resquício daquela sensação de ter conhecido alguém especial.

Quando entramos, fui recebido com um sorriso acolhedor pela moça responsável, Samia. Ela tinha um jeito simpático e parecia genuinamente animada por estar ali, nos guiando pelo processo. Enquanto ela nos cumprimentava, percebi que seus olhos se demoraram um pouco mais em mim. Não que fosse incomum, mas parecia mais admiração do que qualquer outra coisa. Amara trocou um olhar comigo, como se dissesse "é, você ainda tem o charme."

Samia começou a explicar os doces, e eu fiquei observando, meio distraído, enquanto ela se movia de forma fluida entre os detalhes e a organização do evento. Meus olhos voltavam para Amara de vez em quando, admirando como ela parecia em paz. Ela estava realmente no controle de tudo, o que me deixava mais tranquilo. Mas Samia, sempre profissional, nos fazia sentir que tudo estava sob controle, como se essa prova fosse mais uma peça de um quebra-cabeça que estava se encaixando.

Foi aí que, do nada, Samia deixou escapar:

— Vocês dois... formam um casal perfeito.

Fiquei surpreso por um segundo, não tanto pelo elogio, mas pela forma como ela disse. Parecia sincero, e pela expressão de Amara, ela também sentiu isso.

Eu apenas sorri de canto, mantendo a postura habitual. Não era sempre que eu recebia um elogio desse tipo, mas algo na forma como Samia nos olhava era genuíno.

— Obrigada — Amara respondeu, um pouco envergonhada, mas claramente lisonjeada.

Eu apenas balancei a cabeça, ainda com o sorriso discreto.

— A gente faz o que pode. — brinquei, dando um leve toque no ombro de Amara, que me retribuiu com um olhar carinhoso.

Samia continuou com a prova, mas eu percebia seus olhares ocasionais, quase como se estivesse intrigada com algo mais. Talvez fosse nossa sintonia, como ela mesma disse. Eu e Amara sempre fomos muito próximos, e agora, no meio de toda essa confusão de casamento, era bom ver que nosso vínculo ainda era sólido.

Mas minha mente, mesmo enquanto provava os doces e discutia sabores, vagava de volta para Ísis. Eu não mencionei nada, claro. Samia provavelmente não desconfiava, mas aquele comentário sobre a "energia entre nós" mexeu comigo. Porque, apesar de todo o respeito e carinho que eu tinha por Amara, era com outra pessoa que meus pensamentos estavam.

De qualquer forma, deixei a prova correr seu curso, tentando manter a leveza do momento. Amara estava radiante, e eu sabia que, no fim das contas, tudo estava caminhando como deveria.

...(...)...

Enquanto Samia continuava a falar sobre as opções de sabores, minha mente começou a vagar. Cada doce que ela mencionava me fazia lembrar de outra noite, de outro momento. Os doces de chocolate com morango que ofereci a Ísis. Como ela segurava a fruta, seus lábios se fechando em torno dela, mordiscando de um jeito tão... sensual. Era impossível esquecer a forma como seu olhar ficava suave e provocante ao mesmo tempo, quase como se soubesse exatamente o que estava fazendo comigo.

Eu tentava me concentrar, mas o dejá-vu era inevitável. O gosto do morango, o cheiro do chocolate, tudo isso me levou de volta àquela noite no telhado. Minha mão automaticamente foi até o bolso, puxando o celular. Eu precisava saber se ela havia respondido a minha mensagem da manhã.

Ao desbloquear a tela, lá estava: a resposta dela.

"Bom dia. Foi mesmo uma noite incrível... Não sei se sobrevivo a mais uma tão cedo, ainda estou me recuperando. Mas, quem sabe? Me liga."

Um sorriso apareceu no meu rosto, e eu podia sentir a satisfação crescendo dentro de mim. Ísis sempre sabia como me provocar da maneira certa, mantendo aquele mistério que me deixava cada vez mais interessado. Sem pensar muito, respondi.

"Estou pensando em você agora mesmo."

Enviei a mensagem e guardei o celular no bolso, mas a lembrança dela ficou comigo. Voltei minha atenção para a mesa de doces, mas agora, tudo ali parecia ter um sabor diferente. Ela estava na minha mente, e de alguma forma, tudo ao meu redor começava a girar em torno dela.

...(...)...

Depois de finalizarmos a prova dos doces, Samia nos conduziu até a porta com aquele sorriso amigável de sempre. Despedi-me com um aceno de cabeça, enquanto Amara agradecia com entusiasmo. Assim que entramos no carro, o silêncio tomou conta por alguns minutos. Amara parecia distraída, olhando pela janela, e eu apenas dirigia, imerso em meus próprios pensamentos. Ísis ainda rondava minha mente, a lembrança dela me acompanhando desde o momento em que enviei aquela mensagem.

Mas, claro, Amara não era do tipo que ficava calada por muito tempo. No meio do trajeto, ela se virou para mim, lançando um olhar curioso, mas sério ao mesmo tempo.

— Você pensa em contar pra ela que está noivo? — perguntou, sem rodeios, cortando o silêncio.

Senti um frio passar pela minha espinha, mas mantive os olhos na estrada. Sabia exatamente do que ela estava falando.

— Porque, Bernardo... você sabe, uma hora ou outra ela vai descobrir que você é casado. — Ela continuou, olhando diretamente para mim agora, sua expressão ligeiramente preocupada.

Suspirei profundamente, sem saber exatamente como responder. Eu sabia que Amara estava certa. Eu estava envolvido com Ísis, mesmo que as coisas ainda fossem recentes, e o fato de eu estar em um casamento arranjado por conveniência era algo que não poderia ser escondido para sempre.

— Ainda não é o momento... — falei, finalmente, tentando explicar meus próprios sentimentos. — Eu... eu preciso de tempo para entender o que realmente está acontecendo entre nós antes de jogar essa bomba.

Amara assentiu levemente, mas pude ver que ela ainda estava inquieta.

— Bernardo, você sabe que eu apoio você, sempre vou estar do seu lado. Mas... só toma cuidado. Isso não vai ser fácil pra ela. Nem pra você.

Ela tinha razão. Eu sabia que essa situação era delicada, e quanto mais o tempo passava, mais complicado tudo ficava. Mas havia algo em Ísis, algo que me puxava para ela de uma forma que eu não podia ignorar.

— Eu sei... — murmurei, apertando um pouco mais o volante. — Só quero fazer isso do jeito certo. Não sei o que é, mas... ela é diferente. é especial. E eu não quero perder isso antes mesmo de saber o que realmente temos.

Amara soltou um suspiro, se recostando no banco, olhando novamente para fora da janela.

— Tudo bem. Só não demore demais pra decidir.

Temia contar isso e ela fugir de mim. Um casamento, um noivo prestes a entrar em um altar pra encontrar outra mulher... não era bem o sonho de ninguém.

E aquela situação começou a pesar, mas do que eu gostaria.

Era fácil,no início... Mas agora, eu tinha a Isis, tinha um sentimento sendo explorado e não quero, nunca que isso acabe. Principalmente assim.

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