(11) "Almoço e Incertezas"

Alice

Enfim, domingo e, enquanto nos preparamos para o almoço que Natanael nos convidou ontem, o ambiente em casa é uma mistura de antecipação e nervosismo. Melissa, inquieta, anda de um lado para o outro, vai até a janela e retorna, apertando as mãos uma na outra com cada vez mais força.

— Ali, é melhor não irmos a esse almoço. Não sei explicar, mas estou com um pressentimento ruim. Parece que algo vai acontecer — diz ela, aflita.

Olho para ela enquanto calço meu tênis e digo:

— Não era você que estava toda animada quando o conheceu? O que mudou? Por que de repente parece que está com medo dele?

Melissa coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha de maneira rápida e nervosa e se senta ao meu lado no sofá, deixando escapar um suspiro.

— Eu estava animada, mesmo, mas agora só sinto medo. Você já viu o jeito que ele me olha? Parece que vai me devorar, amiga, e não estou falando no sentido positivo. Estou falando sério, parece que sou uma presa para ele.

Passo a mão pelo rosto, um pouco impaciente, e me levanto do sofá. Coloco a mão no bolso do moletom e digo a Melissa:

— Olha, Mel, se você não quiser ir, não tem problema. Eu vou, o Natanael parece ser uma pessoa de mente aberta. Eu gostei dele.

Melissa bufa irritada, levanta-se também e cruza os braços de forma brusca.

— Olha só para você, senhorita Alice, toda autoconfiante, querendo se aproximar daquele sujeito que mais parece um ogro. Vai lá, com essa sua analogia de mente aberta, e logo, com essa mente tão aberta, ele vai estar falando em comer pessoas para você.

Eu sorrio e a abraço apertado, dizendo:

— Sabe, esse seu drama todo parece algo mais profundo. Acho que você está se importando mais com ele do que imagina. Está assustando você, não é? Parece que alguém está chegando perto do seu coração.

Ela derruba os ombros, em sinal de rendição, e suspira profundamente, murmurando:

— Por que você tem que me conhecer tão bem, amiga? Ele realmente está despertando algo em mim, mas é diferente de tudo o que já senti antes. Fico completamente mole só de estar perto dele e ao mesmo tempo quero estar com ele de forma intensa, mas também quero estapear ele... Não sei o que isso significa, estou perdida e confusa.

Seguro firmemente as mãos de Melissa, olhando em seus olhos com compreensão.

— Mel, sentimentos conflitantes são complicados mesmo. Às vezes, o que sentimos pode ser desconcertante. Pode ser que essa mistura de desejo e aversão seja uma forma de você lidar com a intensidade do que está vivendo.

Ela morde o lábio inferior, profundamente pensativa, e diz:

— Mas por que tem que ser tão complicado? Por que não posso simplesmente saber se isso é bom ou ruim?

Coloco uma mecha do seu cabelo atrás da orelha com um gesto suave e respondo:

— Infelizmente, as coisas nem sempre são tão simples. O que você está sentindo pode ser um reflexo de como você está se abrindo para novas experiências e sentimentos. Talvez, ao invés de lutar contra isso, você precise dar um passo para entender o que realmente está acontecendo. Às vezes, a confusão é apenas uma parte necessária do processo.

Ela me olha com um misto de gratidão e frustração, dizendo:

— E se eu for e ele realmente for tudo o que eu temo? E se for ainda pior do que eu estou antecipando?

Ergo os ombros e digo solenemente:

— A única maneira de saber é indo e vendo por si mesma. Não podemos controlar tudo, mas podemos enfrentar o que vem pela frente com coragem. Além disso, você não está sozinha. Estarei lá para te apoiar, não importa o que aconteça.

Melissa esboça um sorriso pequeno, ainda carregado de incerteza, e diz:

— Você sempre sabe o que dizer para me fazer sentir um pouco melhor. Obrigada, Ali.

Sorrio de volta e digo:

— É para isso que servem as amigas. Vamos lá, faça o que achar melhor, e lembre-se de que você tem o direito de se proteger e de colocar limites se precisar. Estou com você.

Ela dá um suspiro profundo e assente com a cabeça, como se estivesse decidindo dar um voto de confiança a si mesma.

— Tudo bem. Vou tentar enfrentar isso, mesmo que seja desconfortável.

Abracei-a novamente, sentindo uma sensação de solidariedade e determinação em meio à incerteza, enquanto sorrio, exclamo:

— É isso aí! Vamos enfrentar essa situação juntas.

Com um novo senso de coragem, saímos de casa. Ao atravessar o muro caído, chegamos à porta da casa de Natanael. Batemos na porta. Ele atende rapidamente, sorrindo ao nos ver.

— Vocês chegaram! Entrem! Fiquem à vontade, eu já estou quase terminando o almoço.

Entramos, e, ao contrário de ontem, a casa dele está bem organizada e limpa. Melissa me lança um olhar nervoso, mas tenta se recompor, enquanto eu retribuo com um sorriso encorajador.

Natanael nos conduz para a sala, onde a atmosfera é acolhedora e convidativa. Melissa respira fundo, tentando se acalmar, enquanto nos acomodamos e conversamos. O almoço está prestes a começar, e apesar das incertezas, o ambiente parece promissor.

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