(5) "Encontros, Tortas e Emoções"

Alice

Quando chego em casa, a tarde já está se transformando em noite. Desço da bicicleta ao me aproximar do portão, abro-o e empurro a bicicleta para dentro antes de fechá-lo e guardá-la.

Ao me aproximar da porta, ouço risadas e uma voz grave conversando com Melissa. Seguro a maçaneta, giro-a e, ao abrir a porta e colocar o pé para dentro, sou imediatamente envolvida por um aroma inconfundível.

— Uva... — murmuro, sentindo meu coração despertar para esse cheiro familiar.

Ao entrar completamente e fechar a porta atrás de mim, dou alguns passos e fico pasma ao ver o vizinho da casa ao lado, sentado no nosso sofá, sorridente e conversando com Melissa, que está quase sentada em seu colo.

Assim que notam minha presença, Melissa se levanta rapidamente e vem até mim, me envolvendo em um abraço caloroso.

— Amiga, que bom que você chegou! Temos uma visita — diz ela com entusiasmo.

Ela se volta para o homem e pergunta:

— Como é mesmo o seu nome?

Ele se levanta e caminha em direção a nós com passos lentos, e diz com uma voz profunda:

— Meu nome é Natanael. Prazer em te conhecer, Alice. Você nem imagina o quanto é querida. Já ouvi muito sobre você.

Eu o encaro e, levantando uma sobrancelha, pergunto:

— Já ouviu? Quem foi que falou?

Ele pigarreia, desvia o olhar por um momento e, passando a mão na nuca, volta a me olhar e aponta para Melissa.

— Foi a Melissa. Ela me contou que vocês são como irmãs e que você é muito querida por ela.

Melissa sorri e acrescenta:

— Exatamente. Mas amiga, o Natanael comentou que o muro estava rachado quando ele comprou a casa e por isso caiu.

Dirijo meu olhar para ele, avaliando-o. Dou de ombros e digo com indiferença:

— Apenas saiba que não iremos ajudar com nenhum centavo se é isso que está querendo. Não temos nada a ver com isso. Só não nos perturbe, pois eu não estou nem um pouco interessada em quem você é.

Minhas palavras reverberam pesadas na sala. Natanael me observa surpreso, e Melissa, com um sorrisinho sem jeito, diz:

— Desculpe, Natanael. A Alice às vezes exagera. Não leve a mal. Ela é um pouco insensível às vezes. Costumo dizer que o coração dela não bate em certos momentos.

Após as palavras de Melissa, um silêncio constrangedor se instala, mas eu definitivamente não me importo com este Natanael, seja lá quem ele seja.

Ele pigarreia e me lança um olhar indecifrável antes de voltar o olhar para Melissa.

— Entendo, Melissa. Ela deve estar cansada após um dia longo de trabalho.

Ele então lança um último olhar que passa por nós duas e diz:

— Enfim, tenham uma ótima noite. Espero que apreciem a torta. Até mais.

Melissa se apressa para acompanhar Natanael até a porta, e eu me dirijo para o meu quarto. Assim que chego no quarto, fecho a porta atrás de mim com um suspiro profundo. A frustração ainda me acompanha enquanto caminho em direção ao banheiro, tirando minhas roupas pelo caminho até ficar apenas de calcinha e sutiã.

Ao entrar no banheiro, me olho no espelho e murmuro para mim mesma:

— O que há de errado com você, Alice? Por que não consegue ser uma pessoa normal, como todo mundo?

Caminho até o chuveiro e o ligo, permitindo que a água morna comece a escorrer. À medida que a água quente me envolve, meus pensamentos vagam para o passado. A imagem do meu pai, Alberto, vem à tona. Seu sorriso e entusiasmo, a maneira como ele sempre esteve presente para mim, são lembranças que trazem um misto de dor e conforto.

Meu pai foi tudo para mim, especialmente porque minha mãe faleceu no meu nascimento. A perda dele, quando eu completei quatorze anos, foi devastadora. A lembrança de sua morte me faz desmoronar, e me curvo no chão do banheiro, deixando a água misturar-se com minhas lágrimas.

— Por que te tiraram de mim, paizinho? — sussurro entre lágrimas, que se misturam com o fluxo constante da água.

A notícia do assassinato do meu pai ainda ressoa profundamente dentro de mim, como um eco que não se apaga. Foi o momento em que meu mundo desabou, e eu fiquei sozinha, perdida. Até encontrar Melissa.

Sento-me no chão do banheiro, envolvendo-me em meus próprios braços, buscando algum tipo de conforto na água morna que continua a cair. Tento me ancorar nas memórias boas e na gratidão que sinto por Melissa, mesmo enquanto a dor da perda e a sensação de estar sozinha persiste.

O som da água se torna um murmúrio suave, e, enquanto fecho os olhos, a sensação de estar um pouco mais próxima das lembranças que amo me oferece um alívio momentâneo. A água quente continua a fluir, e eu permito que o choro me lave, um passo necessário para começar a encontrar algum equilíbrio interno.

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