(9) "Desconfiança e Expectativas"

Alice

É sábado e, como não trabalho, acordo um pouco mais tarde do que o habitual. Ainda sonolenta, me espreguiço na cama e me levanto, arrastando os pés até o banheiro para a minha rotina matinal.

Após finalizar a rotina, vou até o guarda-roupa, pego uma leggin e uma camiseta folgada e as visto rapidamente. Amarro meu cabelo em um rabo de cavalo um pouco frouxo e saio do quarto com uma determinação tranquila. A casa está em silêncio, quebrado apenas pelo som habitual da movimentação da cidade do lado de fora.

Chego à cozinha e começo a preparar o café. Enquanto a máquina trabalha, ouço os passos de Melissa se aproximando. Ela entra bocejando e esfregando os olhos, e, ao me ver, me olha sonolenta.

— Bon dia! Você deveria estar dormindo, Alice. Hoje você não trabalha, ainda é cedo.

Dou-lhe um sorriso relaxado enquanto mexo no café.

— Não exagera, Melissa. Não é tão cedo assim. E, irei até a casa do Natanael. Quero me desculpar com ele.

Os olhos de Melissa imediatamente se abrem com interesse. Ela parece despertar na hora e responde empolgada:

— Que ótimo, amiga! Posso ir com você?

Sorrio de lado, sabendo bem o que ela está insinuando.

— Eu sei bem o que você está querendo, senhorita Melissa. Mas claro, você pode vir comigo.

O rosto dela se ilumina com um sorriso radiante. Ela começa a se afastar, mas para de repente e me olha com uma expressão animada.

— Só um instante, vou me arrumar rapidinho!

Assinto com a cabeça e volto a me concentrar no café, enquanto Melissa desaparece para se preparar. O aroma do café fresco preenche a cozinha, e o ambiente leve e descontraído me faz pensar na visita a Natanael.

Melissa logo retorna, agora vestida com um vestido soltinho e uma sandália simples. Ela gira e me pergunta com um sorriso.

— E aí, o que achou?

Enquanto tomo um gole do café, olho para ela e digo:

— Você está simplesmente linda, Melissa, como sempre. Agora, se a sua preocupação é se o Natanael vai gostar, acredito que sim.

Melissa se aproxima correndo e me abraça, dizendo animada:

— Espero que sim!

Olho para ela e, pergunto:

— Não vai tomar café antes de irmos?

Ela balança a cabeça negando e ri.

— Não. Aliás, falando assim, parece que estamos indo para tão longe, sendo que a casa dele está aqui do lado.

Sorrio enquanto guardo a xícara e concordo.

— Verdade. Vamos então.

Saímos de casa e atravessamos pelo muro caído. Chegamos à varanda da casa de Natanael, e tudo está silencioso. Melissa, curiosa, se aproxima da janela e tenta espiar lá dentro.

Sem demora, a cutuco.

— Para com isso, Melissa. É para bater na porta, não para espionar a casa dele.

Ela suspira profundamente e me encara.

— Ok. Mas amiga, e se ele não for quem aparenta ser?

Franzo o cenho e pergunto:

— Como assim, Melissa?

Ela responde rapidamente.

— Sei lá, vai que ele é um foragido da polícia, um assassino em série, um maníaco. Nos filmes é assim que começa: começamos a nos aproximar, e então... pronto, sumimos e acabamos nos jornais.

Não consigo segurar o riso e dou uma gargalhada alta. Melissa realmente conseguiu me fazer rir muito.

— Vai, Alice, eu estou falando sério! Você acha isso engraçado? Você realmente não é normal, amiga.

Ainda com o sorriso no rosto, tento me conter e digo:

— Ah, relaxa, Melissa. Isso só torna as coisas mais interessantes, não acha? Além do mais, é um pouco tarde para você se dar conta disso só agora, não é?

Antes que Melissa possa responder, a porta da casa se abre de repente, fazendo Melissa gritar e se agarrar a mim. Diante de nós está Natanael, sem camisa, descalço e de bermuda.

Ele nos encara, claramente confuso, e diz:

— Oi, está tudo bem?

Sem demora, tomo a frente e digo com firmeza:

— Oi, Natanael. Está tudo bem sim. Será que podemos conversar um pouco?

Ele olha para dentro de sua casa, depois se volta para nós, coça a cabeça e responde com um meio sorriso:

— Claro, entrem. Só não reparem na bagunça.

Nós entramos e ele fecha a porta atrás de nós. E, diz:

— Oi para você também, Melissa.

Melissa, ainda grudada em meu braço, tenta disfarçar seu nervosismo com um sorriso forçado.

— Ah, oi, Natanael. Desculpe, estou um pouco desatenta hoje.

Natanael dá um leve aceno e nos convida a seguir para a sala. À medida que seguimos, a desordem da casa se torna evidente. Roupas estão espalhadas pelo sofá e caixas de pizza estão empilhadas na mesinha de centro, dando a impressão de que um furacão passou por ali.

Natanael começa a limpar a bagunça com eficiência, retirando algumas roupas do sofá e colocando as caixas de pizza em um canto. Ele parece tão descontraído quanto o ambiente desorganizado.

— Sentem-se, por favor — diz ele, indicando o sofá.

Nos dirigimos ao sofá, e quando Melissa vai se acomodar ao meu lado, ela inadvertidamente pega, com a pontinha dos dedos, uma cueca que estava caída no sofá. Ela me olha com os olhos arregalados e, antes que eu possa reagir, Natanael retorna para a sala.

Melissa, com as bochechas visivelmente vermelhas, tenta disfarçar o embaraço. Natanael, por sua vez, parece completamente indiferente à situação e diz de maneira casual:

— Joga aí, Melissa.

Melissa arregala ainda mais os olhos, me lança um olhar de pânico e, após um momento de hesitação, acaba por jogar a cueca para Natanael. Ele a pega com um movimento rápido e a coloca sem cerimônia em um canto.

Com um tom relaxado, Natanael se vira para nós e pergunta:

— Então, o que traz vocês aqui tão cedo?

Melissa e eu nos entreolhamos. Voltando meu olhar para Natanael, digo com sinceridade:

— Vim aqui para te pedir desculpas, Natanael. Pela forma como te tratei. E também quero agradecer pela torta.

Ele me observa por um momento, como se estivesse prestes a dizer algo, mas depois se detém. Passa a mão pelo cabelo desgrenhado e diz com um sorriso tranquilo:

— Tudo bem, relaxa. Aliás, gostaria de fazer um convite a vocês duas.

— Convite? — pergunta Melissa, que estava quieta e visivelmente desconfortável.

Natanael a encara com um olhar sério e diz:

— Sim, um convite exclusivo.

Melissa e eu nos entreolhamos, curiosas e um pouco desconfiadas. O clima na sala muda, e a expectativa pelo que virá a seguir começa a aumentar.

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