Capítulo 13

Letícia…

No início da noite, tomei um banho, me arrumei, jantei e segui para o hospital.

Entro cumprimentando a todos e vou para o andar da ala cirúrgica.

Vou direto para a sala de reuniões. A secretária avisou no grupo, que hoje o novo diretor cirurgião, marcou uma reunião com todos os médicos e residentes para se apresentar e especificar qual a sua técnica de trabalho.

Quase todos já haviam chegado, como não havia cadeira para todos, ficamos de pé. Conversava com alguns colegas residentes, quando vejo a secretária acompanhada do novo diretor. Não posso acreditar no que os meus olhos veem…

Era o meu novo vizinho, fico estática.

Ele conversava atentamente com a secretária e doutor José ex-diretor (o qual veio substituir) então dei passos discretos para trás e tentei me esconder.

Fiquei o mais encolhida que pude atrás dos meus colegas e encostada na parede, para não ser percebida pelo homem.

Dr. Ítalo, é um homem carismático, com cabelos ruivos e bem cuidados, vestido impecavelmente em seu jaleco, chama a atenção de todas as mulheres que estão na sala. Seu olhar é penetrante, ele tem um sorriso que facilmente conquista as pessoas ao seu redor. Por trás desse charme, há uma aura de cafajeste que não passa despercebida.

Ele entra pela porta da sala de reuniões com confiança. Os colegas o cumprimentam com respeito, mas também com uma pitada de desconfiança, o homem lança olhares provocativos para algumas das cirurgiãs da equipe, piscando para uma ou outra, enquanto troca comentários sutis e brincalhões.

Ele se posiciona na cabeceira da mesa e dá início a reunião. Com uma voz firme, mas envolvente, se apresenta e apresenta suas ideias para a ala.

Enquanto fala, ele nota a reação das mulheres na sala. Impressionante como caem na desse homem, algumas sorriem discretamente, outras reagem com uma revirada de olhos. E ele está ciente do efeito que causa nelas e parece se divertir com isso.

Assim que finaliza a reunião, tento sair sendo o mais discreta possível, até ouvir meu nome…

— Letícia, venha até aqui, minha cara! — diz Dr. José.

Eu havia até soltado o cabelo e tampado a lateral do meu rosto.

Respirei fundo, joguei os cabelos para trás e virei o rosto para o lado deles, o rapaz não esconde a surpresa em me ver.

— Venha cá! — insiste Dr. José.

Me aproximo deles com um sorriso forçado.

— Dr. Ítalo, essa é Letícia Wersley, filha de um colega cirurgião muito conceituado, ela faz residência aqui conosco e afirmo ser a mais aplicada, fui seu professor na faculdade, aluna de notas excelentes! Acredito que se darão muito bem!

— Mais uma vez é um prazer, senhorita Letícia!

— Já se conheciam?

— Nos conhecemos hoje, somos vizinhos!

— Que coincidência! Como dizia, Letícia é uma das melhores alunas que já tive, dedicada, esforçada…

— Bom saber disso! — diz com um olhar malicioso.

Reviro os olhos e ficamos os três ali conversando. Nosso assunto foi apenas sobre trabalho e com José tecendo elogios a minha pessoa e estava ficando constrangida.

Finalmente consigo escapar deles, quando sou chamada em meu consultório.

O meu plantão foi tranquilo, por sorte não vi mais o Dr. Ítalo. Ele tem uma presença marcante, é bonito, mas é um puta de um cafajeste.

Nos corredores só se fala dele, parece que já ficou com duas médicas, só hoje.

Durante a madrugada, ocorreu um grande acidente na avenida principal e vários pacientes deram entrada, dentre eles um jovem de seus 20 anos e seria necessária uma cirurgia. Faziam racha, todos os inconsequentes bêbados.

Dr. Blunt, foi chamado e em poucos minutos estava no hospital, uma das enfermeiras diz que ele mandou eu me preparar para estar ao seu lado no centro cirúrgico.

Rapidamente me troco e sigo para o local…

O paciente, estava deitado na mesa cirúrgica, inconsciente e com sinais visíveis de trauma. A equipe médica se movia rapidamente, cada um desempenhando seu papel na tentativa de salvar sua vida.

Dr. Ítalo estava à frente da mesa, sua expressão era determinada e focada. Ele faz sinal para que eu me coloque ao seu lado e assim faço.

— Preparem os instrumentos! — ordena ele, enquanto olhava para mim. — Precisamos agir rápido!

Pego o bisturi e passo para o Dr. Blunt, ele faz uma incisão precisa na pele do paciente. O som do bisturi cortando a pele parecia ressoar em meio ao silêncio concentrado da equipe.

— Agora vamos abrir a cavidade abdominal! — diz com olhar fixo no paciente. — Letícia, quero que esteja atenta ao que estamos vendo aqui!

Observo atentamente enquanto o médico aprofundava a incisão. Assim que alcançou a cavidade abdominal, uma onda de sangue começou a jorrar.

— Precisamos controlar essa hemorragia! — afirma ele.

Pego o aspirador e começo a remover o sangue acumulado enquanto Dr. Ítalo examinava os órgãos internos à procura de danos críticos.

— Olhe aqui! — diz apontando para uma lesão no baço do paciente. — Está severamente comprometido, precisamos removê-lo imediatamente!

Balancei a cabeça em positivo, rapidamente começo a preparar os instrumentos necessários para a esplenectomia. Cada movimento meu, era metódico e sentia a pressão da responsabilidade que ele depositará em mim.

— Sempre deve lembrar-se que em momentos como este, a calma é essencial!

Com as instruções do médico-cirurgião ecoando naquela sala, me preparo para ajudar na remoção do baço.

Enquanto isso, o anestesista monitorava os sinais vitais do paciente com atenção redobrada, ajustando os níveis de anestesia conforme necessário.

— Verifique os níveis de hemoglobina! — pede ele à enfermeira responsável, enquanto continuava seu trabalho.

Faço as incisões necessárias para remover o baço danificado sob a supervisão cuidadosa dele.

— Estamos quase lá! — exclama ele.

Finalmente, conseguimos remover o baço danificado e estabilizar a hemorragia interna.

— Bom trabalho! — diz ele com um leve sorriso ao olhar para mim, enquanto começavam a fechar a cavidade abdominal do paciente.

Fiquei feliz pela confiança e orgulhosa ao ouvir isso de alguém que está acima de mim.

Quando terminamos de suturar as camadas internas e fechar finalmente a pele com pontos delicados, ele diz:

— Se saiu muito bem hoje, Dr.ᵃ Wersley!

Sorrio timidamente enquanto limpávamos o espaço cirúrgico e preparávamos para sair da sala.

Retiramos os nossos aventais, luvas, máscaras, descartando corretamente e saímos com um sentimento de dever cumprido.

Ítalo me alcança e mais uma vez me parabeniza e eu o agradeço.

— Dr. José disse estar preparada e quis ver com meus próprios olhos! Você tem muito potencial...

Sorrio sem jeito.

— Que tal sairmos qualquer dia…

Acabei me tocando de suas intenções e fiquei irritada.

— Devia ter imagino, que o que estava fazendo era com segundas intenções!

Ele tenta se explicar, mas saio apressada de suas vistas e desacreditada com a sua cafajestagem.

Quando estou saindo do meu turno, sou chamada pela enfermeira chefe, que me adianta que o Dr. Ítalo, mandou me colocar nos mesmos horários que ele.

… Esse idiota presunçoso, não tem o direito de fazer isso!…

Como não gosto de problemas, não vou reclamar com o diretor, mas se não for profissional e manter a ética, vou reclamar.

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