Ao entardecer eles finalmente chegam ao asfalto degradado pelas ações do tempo. A estrada, outrora liso e uniforme, agora é uma colcha de retalhos de buracos e pedras soltas, testemunho da erosão incessante da natureza. Musgos e ervas daninhas, os artistas verdes da terra, bordam as bordas da estrada com vida, infiltrando-se em cada espaço disponível, reivindicando cada centímetro para o selvagem. As árvores se inclinam sobre ela, como espectadores curiosos, lançando sombras que dançam e se contorcem com o movimento do sol. Eles comemoram sem emoção, mas com esperança de alcançar algo que jamais teriam. Esta estrada, marcada pelas ações da natureza, é uma lembrança de que mesmo as criações mais duradouras do homem não são páreo para o poder eterno do mundo natural. Ela é uma metáfora para a resistência e a resiliência, um símbolo da luta constante entre o homem e a terra. E, no entanto, apesar de sua degradação, ela permanece, um caminho que ainda convida os viajantes a seguir em frente, para descobrir o que jaz além do horizonte desgastado.
---Ela estava certa... Chegamos ao entardecer... --- murmurra Ethan cabisbaixo com olhar lacrimejante, enquanto a carruagem finalmente alcança a estrada.
---Só mais esta noite e mais um dia e teremos completado a missão, Karla...--- Diz Dancan observando o céu se transformar em um palco onde a natureza pinta sua obra-prima diária. As nuvens se tingem de laranja, rosa e roxo, como se estivessem em chamas com a despedida do sol. O horizonte engole lentamente a esfera dourada, que lança seus últimos raios, tocando tudo com um brilho suave e dourado. As sombras começam a se alongar, e o mundo parece desacelerar, envolvido pela tranquilidade que precede a noite. O ar se enche de uma calma serena. É um momento de reflexão e admiração, um lembrete diário da beleza efêmera e do ciclo constante da vida.
À medida que a luz diminui, as primeiras estrelas começam a piscar no céu, anunciando a chegada da noite, o céu fica cada vez mais escuro, eles decidem montar acampamento para passarem a noite, o silêncio e a angústia paravam pelo ar, embora todos sentissem as mesmas coisas ninguém conseguira tocar no assunto delicado novamente, como se uma bomba fosse instalada e apenas uma palavra pudesse detoná-la. Após todos comerem, Ethan decide se prontificar para ficar no primeiro turno de guarda novamente.
---Ethan, eu irei com você. --- Dancan levanta, pronto para enfrentar o cansaço para vigiar o acampamento, mas logo é interrompido por Fred, que sai da barraca que ainda estava próximo a fogueira.
---Dancan, deixe-me fazer este turno com Ethan, por favor.--- Diz enquanto caminha lentamente em sua direção.
--- Se você estiver melhor...--- Indaga Dancan observando o homem visivelmente abatido com uma faixa em sua cabeça, como se esperasse alguma resposta, Fred assente com a cabeça e dá um leve tapa em seu ombro, assim o moreno segue para sua barraca para descansar.
Fred se posiciona ao lado de Ethan e começa a observar o lugar. Era uma noite escura e com poucas estrelas, como se as da noite anterior estivessem sido apagadas, o céu assume um manto de mistério e quietude. A lua, uma fenda pálida no véu noturno, lança um brilho suave sobre a terra, criando sombras dançantes nas folhas que tremulam ao sopro da brisa que bagunça seus cabelos e acariciam seus rostos cansados e pensativos.
---Ethan... Eu sinto muito, eu deveria ter protegido a Karla...--- Fala em tom sereno e apreensivo, baixando sua cabeça.
---Não se sinta culpado, você não poderia ter feito nada sozinho.---Diz olhando-o de relance em tom firme.
---Mas...--- É interrompido por Ethan.
---Mas nada, Ora, vê se fica quieto. Não estou com raiva de você... ---O homem para por alguns segundos, exitando em falar algo.--- mas sim de mim, estou frustado, pois não pude nem protegê-la...--- O homem levanta seu rosto robusto, com um semblante perdido e desolado e olha para o céu onde as estrelas se escondem. Fred o olha surpreso, enquanto a brisa do anoitecer acaricia seus rostos como uma tentativa de amenizar sua perda.
---Eu sabia... que você a amava...--- Fred não consegue segurar e começa a chorar, limpando seus olhos com seu antebraço. ---Sabia que vocês se gostavam... Se eu não tivesse escorregado...--- Fred soluça enquanto tenta enchugar suas lágrimas em vão. Ethan o olha de cima um pouco frustrado.
---Mas a Karla nunca demonstrou gostar de mim...--- Sussurra observando o céu escuro, enquanto Fred termina de enchugar suas lágrimas.
---Ela me disse uma vez... Que gostava de você, mas você estava sempre focado no trabalho e não queria te atrapalhar...--- Fred o olha sereno com os olhos vermelhos de chorar, Ethan fica surpreso com o que o amigo disse e seus olhos começam a lacrimejar. A noite escura não é tenebrosa, mas sim uma tela onde a imaginação pode pintar constelações não vistas, histórias não contadas, e sonhos que esperam pacientemente para serem sonhados.
---Idiota... Como fui idiota... Eu pensei que tivesse mais tempo...--- Ethan começa a chorar frustrado, a dor que sentia esmagava seu peito com uma força devastadora. ---Ahhh! Idiota!! Ahhhh!!---Ethan grita com todas suas forças para os céus, Fred continua a chorar ao seu lado, evitando olhá-lo nessa situação. Os outros que estavam na barraca ouvem seus gritos desesperados e começam a ficar pensativos e deprimidos. A troca de turnos é feita, mas Ethan não consegue dormir com seus pensamentos perturbados. A manhã chega e todos se aprontam para partir, eles sobem na carruagem e seguem viagem. O caminho é longo e degradado, as vezes tendo que descer para tirar pedras ou galhos do caminho. Toda a jornada foi coberta por silêncio e olhares vagos, ao entardecer eles já podiam avistar ao longe uma estrutura grande que cercava uma enorme área.
---Vejam, está a menos de 2 quilômetros!--- Exclama Dancan, acordando-os de seus devaneios, eles viram-se para ver. Quando de repente o cavalo começa a ficar agitado. O cavalo, com seus olhos arregalados refletindo sua angústia, puxa a carroça com uma urgência frenética. Suas narinas dilatadas aspiram o ar da manhã, e cada sombra parece lançar-lhe um novo terror. Os cascos batem contra o chão irregular, ecoando o ritmo acelerado de seu coração assustado. A carroça balança violentamente atrás dele, a madeira rangendo e gemendo como se compartilhasse do medo do animal. Sua crina emaranhada pelo vento, e o suor lhe escorre pelo pelo brilhante, ele relincha alto, um som que corta a quietude matutina, anunciando sua inquietação. O arrepio que percorre sua espinha é quase palpável, e ele sacode a cabeça, tentando afastar os fantasmas invisíveis que só ele pode ver.
---Oh! Oh! Calma!--- Dancan tenta acalmar o garanhão agitado, Ethan percebe que não é um bom sinal e pula da carroceria, pousando no asfalto desgastado.
---Pode vir!--- Ele para em frente a uma parte da floresta do outro lado da pista, era perceptível os movimentos das folhas e arbustos, como se algo forçasse passagem entre eles, a criatura emerge das sombras, parando em frente a ele, a respiração da fera era pesada e turbulenta, seu corpo esguio e medonho possuía várias cicatrizes, além de um físico monstruoso.
---Desgraçada! Então foi você! --- A ansiedade para lutar é como estar na beira de um precipício, com o vento uivando e o coração batendo no ritmo de um tambor de guerra. É uma mistura de adrenalina e nervosismo, onde cada um de seus músculo está tenso, pronto para a ação, mas a mente está inundada com uma enxurrada de “e se?”. Seu estômago revira, as mãos trêmulas enquanto segura sua lança e a respiração que parece nunca ser suficiente diante do monstro em sua frente. A luta ainda não começou, mas a batalha interna já está em pleno andamento. A ansiedade sussurra dúvidas e pinta cenários de fracasso, mas também pode ser a faísca que incendeia a determinação, transformando o medo em foco, a incerteza em estratégia. Ethan avança com sua lança velozmente em direção a criatura que se prepara para atacar, os outros que estavam na carruagem descem incrédulos com tamanha abominação.
---Ethan!--- Todos gritam temendo o pior enquanto ele avança sem exitação.
Ethan avança com semblante furioso sem exitação, ele crava sua lança no estômago da fera, quando ele tenta tirá-la para dar mais um golpe, não consegue pois está presa entre os ossos da besta. A fera o olha vorazmente e abre suas mandíbulas, percebendo a ação da besta Ethan põem um de seus braços na frente, a besta crava seus dentes em seu braço e o sacode, o impacto da mordida, a sensação de ser dilacerado, é uma memória gravada a ferro e fogo na mente, a besta o joga para longe sem o seu braço, a lança de Ethan cai logo ao seu lado, ecoando no asfalto degradado, enquanto a fera devora seu antebraço dilacerado.
---Ahhh!--- A dor pelo impacto no chão não é nada comparado a ver e sentir seu braço dilacerado, é como uma experiência que transcende a dor física; é um turbilhão de choque, incredulidade e uma agonia lancinante que se espalha como fogo selvagem. A dor é tão intensa, tão avassaladora, que parece criar um vazio, um espaço onde antes havia força e capacidade. É um grito silencioso que ecoa no abismo da perda, enquanto o corpo tenta compreender a ausência súbita.
---Ethan!--- Dancan corre com seu machado para atacar a fera, mas a mesma só faz um movimento para arremessá-lo longe, Fred e Amanda correm juntos para tentarem parar a criatura abominável, mas Fred tem suas costas feridas em um movimento rápido da fera e Amanda é pêga pelo pescoço pelas garras da criatura que rugia. Amanda olha de soslaio para Kainna que permanece imóvel.
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Atualizado até capítulo 41
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