Capítulo 15

A tensão no ar era palpável enquanto Kiara, Ricky, e o restante da alcateia se posicionavam conforme o plano de Christian. A música alegre e o riso despreocupado do festival de Laranith continuavam a preencher o ambiente, mas para eles, o tempo parecia ter desacelerado, cada segundo estendendo-se como uma corda prestes a arrebentar. Kiara se manteve focada, os olhos atentos em Haires e seus seguidores. Eles também estavam em posição, disfarçados entre os aldeões, mas Kiara podia ver o brilho de alerta em seus olhos. O plano dependia da capacidade da alcateia de agir de forma coordenada e precisa, algo que Kiara sabia ser possível, mas não sem riscos.

Christian deu o sinal final com um movimento sutil de sua mão, e a alcateia entrou em ação. Em um instante, o caos controlado tomou conta do festival. Os membros da alcateia, movendo-se com a destreza de predadores, cercaram os homens de Haires, aproveitando o tumulto para neutralizar seus alvos antes que pudessem reagir. Kiara avançou ao lado de Ricky, o corpo movendo-se em harmonia com sua espada enquanto ela abatia um dos homens de Haires com precisão. O festival ao redor começou a se desorganizar, os aldeões gritando e correndo, confundidos pela súbita erupção de violência no meio de suas festividades. Por um momento, parecia que o plano estava funcionando perfeitamente. Kiara lutava com a mesma ferocidade e foco que a tornavam uma guerreira formidável. Ela desarmou um segundo adversário, seus movimentos fluindo como água, adaptando-se rapidamente a cada nova ameaça, mas então, algo inesperado aconteceu. Enquanto ela girava para enfrentar um terceiro inimigo, um dos seguidores de Haires, que ela não havia visto, avançou de forma furtiva. Em um instante, ele encontrou uma abertura em sua defesa, e antes que Kiara pudesse reagir, sentiu uma dor aguda na barriga. Ela arfou, a dor cortante quase tirando o ar de seus pulmões. Olhando para baixo, viu a lâmina que havia penetrado sua carne, o sangue começando a manchar suas roupas. O choque do golpe a fez vacilar, e por um breve momento, o mundo ao seu redor pareceu girar.

Ricky, percebendo o que havia acontecido, lançou-se em direção a Kiara, abatendo o homem que a atacou antes que ele pudesse desferir outro golpe. Ele gritou seu nome, mas a voz parecia distante para ela, abafada pela dor intensa que a dominava. Kiara tentou se manter de pé, mas as forças começaram a abandoná-la. Ela segurou a lâmina cravada em sua barriga, tentando desesperadamente se manter consciente. O cenário ao seu redor, uma mistura de luzes de festival e sombras da luta, começou a borrar. Christian, que estava em outra parte da batalha, percebeu o perigo que Kiara enfrentava. Ele deixou seu próprio adversário e correu em sua direção, o rosto marcado por uma expressão de preocupação que ele raramente deixava transparecer.

— Kiara! — Ele gritou, sua voz carregada de uma urgência que era incomum para ele.

Christian chegou a tempo de pegar Kiara antes que ela desabasse no chão. Ele a segurou firme, seus olhos encontrando os dela, uma mistura de raiva e frustração brilhando em suas íris. Kiara tentou falar, mas a dor a impediu de formar palavras.

— Fique comigo, coisinha — Christian sussurrou, a dureza habitual em sua voz suavizada pela preocupação evidente. Ele puxou a lâmina da barriga de Kiara com um movimento rápido e eficiente, pressionando sua mão contra a ferida na tentativa de estancar o sangramento.

Ricky se aproximou, sua expressão tomada por preocupação.

— Precisamos tirá-la daqui, agora — ele disse, sua voz tensa.

Christian assentiu, suas mãos firmes enquanto ele levantava Kiara em seus braços. O restante da alcateia continuava a lutar, mas agora parecia que a missão havia mudado. Proteger Kiara se tornara a prioridade.

Enquanto Christian carregava Kiara para longe do caos, ela lutava para manter os olhos abertos. A dor era insuportável, mas ela forçou um sorriso fraco, tentando mostrar que ainda estava ali, ainda lutando, mesmo que sua força estivesse se esvaindo rapidamente.

— Não... se preocupe... comigo — ela murmurou, a voz fraca, mas determinada.

Christian não respondeu de imediato, apenas segurou Kiara mais perto, o rosto endurecido pelo esforço de manter o controle. Ele sabia que precisavam chegar a um lugar seguro, e rápido. As luzes do festival começaram a desaparecer à medida que se afastavam da multidão, e a floresta escura ao redor parecia mais acolhedora do que nunca. Enquanto se embrenhavam na mata, Christian finalmente falou, sua voz baixa, mas carregada de uma emoção que ele raramente deixava transparecer.

— Não vou deixar você morrer, Kiara — ele disse, quase como uma promessa. — Você ainda tem muito para fazer.

E com essas palavras, ele acelerou o passo, determinado a levar Kiara para um lugar onde pudesse ser cuidada, onde pudesse se recuperar e continuar lutando — pelo seu plano, pela alcateia, e pela própria sobrevivência.