Capítulo 11

A noite estava quieta, mas a mente de Kiara estava agitada demais para permitir qualquer descanso. Deitada na cama, ela revirava os pensamentos sobre a batalha, a discussão com Christian, e as palavras de Nevan. Não importava o quanto tentasse se acalmar, algo dentro dela a impulsionava a sair.Decidida, levantou-se e pegou sua espada, saindo em silêncio do bar. A floresta à noite tinha um ar diferente, mais místico e sombrio, mas ela se sentia em casa ali. Caminhou até uma clareira que usava para treinar, os sons da natureza ao seu redor criando uma trilha sonora tranquilizadora.Começou a praticar seus golpes, movendo-se com precisão e força, como se cada golpe fosse uma maneira de liberar a tensão acumulada. A cada movimento, a frustração e a raiva pareciam se dissipar um pouco, substituídas por um foco renovado. Sua respiração se tornou ritmada, o corpo se movendo em uma dança que misturava agressividade e controle.Mas então, um som diferente chamou sua atenção. Kiara parou e se concentrou, tentando identificar de onde vinha. Era o som suave da água sendo perturbada. Cautelosamente, ela seguiu em direção ao ruído, até que chegou à beira de um lago oculto pela vegetação. O luar iluminava a superfície tranquila, e foi então que ela o viu. Christian, estava no meio do lago, com o peitoral para fora da água, seus músculos estavam tensionados e reluzentes sob a luz da lua, cada movimento dele criando pequenas ondas que quebravam o reflexo da noite.

Christian, com seu instinto aguçado, percebeu a presença de Kiara. Ele virou-se na direção dela, um sorriso travesso surgindo em seu rosto enquanto nadava lentamente em sua direção.

— Se eu soubesse que teria plateia, teria cobrado entrada, coisinha — provocou, sua voz carregada com uma mistura de ironia e charme.

— Não seja tão convencido, Christian, eu só estava treinando, e o som da água me chamou a atenção — respondeu ela, tentando soar indiferente, embora a visão dele no lago, com a água escorrendo por seu corpo, estivesse longe de ser algo fácil de ignorar.

Christian chegou à margem e apoiou os braços no chão, ainda com a água cobrindo parte do seu corpo. Ele ergueu uma sobrancelha, o sorriso malicioso ainda presente.

Christian saiu lentamente do lago, a água escorrendo pelo seu corpo enquanto ele mantinha o olhar fixo em Kiara. Cada movimento seu era deliberado, quase como se estivesse saboreando o efeito que sabia estar causando. Ele se aproximou, parando a uma distância segura, mas ainda perto o suficiente para que Kiara sentisse a intensidade de sua presença.

— Treinando a essa hora da noite? — Ele perguntou, a voz baixa e suave — Pensei que você já tivesse liberado bastante energia hoje.

Kiara manteve a espada firme ao seu lado, lutando para não demonstrar como a proximidade de Christian a afetava. Havia algo nele que a deixava em alerta, mas também despertava uma curiosidade que ela não conseguia ignorar.

— Precisava clarear a mente — ela respondeu, tentando manter a voz firme — E você, o que está fazendo aqui?

Christian deu um passo mais perto, os olhos brilhando com uma intensidade que fez o coração de Kiara acelerar. Ele inclinou a cabeça ligeiramente, observando-a com uma expressão que misturava interesse e desafio.

— Eu gosto do silêncio da noite — ele respondeu finalmente, sua voz carregada com uma suavidade quase hipnótica — E parece que você também.

Kiara estreitou os olhos, tentando não se deixar levar pela suavidade da voz dele. Ela deu um passo para trás, mantendo a distância entre eles.

— Talvez. — Ela respondeu, desviando o olhar para o lago. — Mas acho que ambos sabemos que há muito mais do que apenas silêncio nesta noite.

Christian sorriu, o canto de seus lábios se curvando de maneira sedutora enquanto ele se aproximava mais um passo.

— Ah, Kiara, você tem razão. — Ele disse, a voz agora com uma pitada de provocação. — Há muito mais acontecendo aqui.

Kiara sentiu uma faísca de irritação misturada com algo que ela não queria admitir. Ela deu mais um passo para trás, mantendo a espada entre eles como um lembrete de que ela não era alguém fácil de intimidar.

— Se está tentando me distrair, Christian, não vai funcionar — ela disse, tentando manter o controle de sua respiração e emoções — Eu não sou alguém que se impressiona facilmente.

Christian soltou uma risada baixa, o som profundo reverberando na noite. Ele parou de avançar, respeitando o espaço que ela havia criado, mas sem perder o olhar fixo nela.

— Isso é o que mais gosto em você, Kiara. — Ele admitiu, o tom de sua voz se suavizando levemente. — Você não é fácil de impressionar, e é isso que torna tudo muito mais interessante.

Kiara sentiu o calor subir em suas bochechas, mas manteve a expressão firme. Não podia deixar que ele a visse vacilar, não agora, não depois de tudo o que havia acontecido naquela noite.

— Bom, então acho que estamos entendidos. — ela disse, tentando encerrar a conversa. — Agora, se me der licença, tenho mais treino para fazer.

Christian observou-a por um momento, seu sorriso diminuindo, mas a intensidade em seus olhos ainda presente.

— Claro, continue seu treino. — Ele disse, dando um passo para trás. — Mas saiba que vou ficar de olho em você, coisinha.

Kiara balançou a cabeça, virando-se para retomar seus movimentos de espada. Ela sentiu o olhar de Christian em suas costas enquanto ele se afastava, mas se forçou a ignorá-lo, concentrando-se nos movimentos precisos e controlados que a mantinham centrada.

Christian, ao se afastar, parou por um momento na beira da clareira, olhando para Kiara com um misto de fascínio e respeito. Algo nela o intrigava de uma forma que ele não conseguia explicar. Ela não era como as outras, e isso o fazia querer entendê-la ainda mais. Enquanto se virava para retornar ao bar, um sorriso de canto brincou em seus lábios.

Kiara ouviu o som dos passos de Christian se afastando, mas não se virou. Ela continuou praticando, tentando esquecer a sensação de seu olhar sobre ela e o estranho magnetismo que sentia quando estavam próximos. Sabia que essa conexão perigosa poderia ser uma arma de dois gumes, e precisava estar preparada para o que viria a seguir.

A noite continuou silenciosa ao redor, com apenas o som da espada cortando o ar e o sussurro da natureza como testemunhas da batalha interna que Kiara lutava para manter o foco.