A atmosfera estava impregnada de tensão enquanto Kiara e Ricky deixavam o bar para trás, afastando-se das sombras que abrigavam as histórias de suas vidas. À medida que caminhavam pelas ruas escuras, a luz da lua projetava sombras inquietantes em seu caminho.
- Kiara, precisamos falar sobre onde você está ficando, não é seguro para você na pousada — começou Ricky, sua expressão séria refletindo uma preocupação que ele mal conseguia esconder.
Kiara revirou os olhos, já preparando uma defesa.
- Alaric, não sou uma iniciante nesse mundo. posso cuidar de mim mesma.
Ricky suspirou, passando a mão pelos cabelos escuros, um gesto herdado da mãe.
- Eu sei que você é forte\, mas o que aconteceu naquele calabouço... eu simplesmente não quero te perder também.
A expressão de Kiara endureceu à menção do calabouço e das difíceis escolhas que tiveram que fazer.
- Não vou a lugar nenhum\, tenho meus motivos para estar aqui\, e você deveria entender isso — ela retrucou\, mantendo um tom firme.
Ricky parou, colocando uma mão no ombro dela para fazê-la encará-lo.
- Kiara\, não quero que algo aconteça com você\, morar comigo é mais seguro\, mão posso perder mais ninguém da família\, já perdemos nossa mãe e o Ky\, não quero que o mesmo aconteça com você.
Os olhos de Kiara encontraram os de Ricky, vendo a dor que ele carregava. As cicatrizes do passado ainda ecoavam em suas vidas, e a morte da mãe era uma ferida que nunca cicatrizaria completamente. O afastamento de Kyler, o irmão caçula, carinhosamente chamado de Ky, havia ocorrido há oito anos, e desde então eles não sabiam como ele estava.
- Aprecio sua preocupação, mas tenho minhas razões para estar aqui, não posso simplesmente fugir — disse ela, sua voz uma mistura de determinação e desafio.
Ricky soltou um suspiro derrotado, sua expressão mostrando compreensão, mas não total aceitação.
- Pelo menos, prometa que vai tomar cuidado — pediu, suavizando o tom.
Kiara assentiu, ciente de que isso era o máximo que conseguiria dele. Eles continuaram a caminhar pelas ruas escuras, o silêncio entre eles se tornando uma melodia desconfortável. Quando chegaram à pousada, Ricky parou na entrada, olhando para ela com uma mistura de tristeza e frustração.
- Se precisar de mim, estarei na cabana ao lado do bar — disse antes de se afastar, desaparecendo nas sombras da noite.
Kiara ficou ali, observando-o partir, as palavras dele ecoando em sua mente. A escolha de ficar na pousada era dela, mas as sombras do passado continuavam a pairar sobre eles, lembrando que, por mais que tentassem fugir, algumas coisas nunca podem ser deixadas completamente para trás.
Dentro da pousada, Kiara se deparou com a solidão que havia escolhido. O preço da vingança era alto, e ela estava disposta a pagá-lo, mesmo que isso significasse caminhar sozinha pelas sombras.
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A manhã trouxe uma luz fria que filtrava pelas cortinas da pousada, dissipando as sombras da noite anterior. Kiara estava sentada em um canto, examinando a adaga que sempre carregava. Ricky, perdido em pensamentos, estava em uma cadeira próxima. A porta da cabana se abriu com um rangido, anunciando a chegada de Christian. Ele entrou, fechando a porta suavemente atrás de si. Seus olhos, normalmente calculistas, percorreram a sala antes de se fixarem nos dois.
- Bom dia, coisinha — disse Christian com um riso sarcástico. — Ricky — saudou.
Kiara olhou para ele, mantendo uma expressão imperturbável. Ricky levantou os olhos para encontrar o olhar de Christian, e uma tensão silenciosa se instalou. Christian caminhou até eles, observando-os com uma curiosidade calculada.
- Não pedi explicações antes porque não sabia se ela ficaria aqui ou não — suspirou ele. — Agora que temos a resposta\, pode me dizer por que nunca mencionou que tem uma irmã? — perguntou\, com um tom intrigado.
Ricky suspirou, passando uma mão pelo rosto, preparando-se para a explicação.
- Kiara e eu viemos de um passado complicado, Christian, praticamente crescemos em um reformatório no sul do país, em Nartanve — começou Ricky, sua voz carregada de lembranças sombrias.
Christian arqueou uma sobrancelha, surpreso.
- Um reformatório? Você não parece exatamente produto de uma educação convencional, já não posso dizer o mesmo dela — comentou, com um brilho de interesse nos olhos.
Kiara manteve o silêncio, permitindo que Ricky continuasse.
- Fomos enviados para lá por motivos que não são da sua conta, Christian — respondeu Ricky, adotando uma postura mais defensiva.
Christian levantou as mãos em um gesto de rendição.
- Tudo bem, tudo bem, não vou mexer com o passado de vocês, pelo menos não por enquanto, continuem.
Ricky prosseguiu, explicando como escaparam do reformatório, incendiando-o e fugindo para Leeris, uma cidade próxima às montanhas. Lá, se envolveram em uma briga com uma alcateia, o que os separou quando o pai deles descobriu. Kiara acabou retornando ao reformatório, enquanto Ricky conseguiu fugir. Christian ouvia atentamente, analisando cada detalhe.
- Interessante, e eu aqui pensando que você era calmo quando mais novo, vejo que me enganei; vocês são completamente apocalípticos — comentou Christian, com uma mistura de curiosidade e avaliação. Ele olhou para Kiara por um momento antes de sorrir sutilmente. — E para minha surpresa, coisinha, há mais em você do que eu inicialmente pensava.
Christian se afastou, enquanto Kiara mantinha sua expressão imperturbável. Ele sentou-se em uma cadeira e virou-se para ela, com um brilho de curiosidade e desafio nos olhos.
- Antes de ir, quero saber mais sobre suas habilidades — disse ele, em um tom baixo mas carregado de interesse. — Já vi que você controla o fogo e é boa em esgrima, mas o que mais consegue fazer?
Kiara manteve o olhar firme, respondendo calmamente.
- Além de luta corporal, tenho uma conexão especial com alguns animais, consigo me comunicar com alguns deles, de forma que outros não conseguem.
Christian assentiu lentamente, avaliando as palavras dela.
- Por que "alguns"? — perguntou, arqueando a sobrancelha.
- Nem todos os animais permitem a conexão\, eles nos veem como ameaça.
- Muito interessante, coisinha — disse Christian com um sorriso ladino — Quero que esteja preparada; vou testar essas habilidades em breve — declarou, em tom de comando.
Com isso, ele se levantou e saiu da cabana, deixando Kiara e Ricky sozinhos novamente. Ricky observou Kiara com uma expressão de preocupação e admiração.
- Não o subestime — disse ele, em tom grave. — Ele é mais sádico do que parece.
Kiara assentiu, ciente dos riscos, mas determinada a seguir em frente. As sombras do passado continuavam a envolvê-la, revelando que, mesmo nas alcateias mais escuras, sempre havia mais a descobrir. O caminho à frente se estendia diante dela, cheio de desafios e revelações, e Kiara estava pronta para enfrentar o que quer que viesse.
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Atualizado até capítulo 141
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