Capítulo 3

Helena,

Os anos vão se passando, e a Helena Lincon já não existe mais. Sofri tanto nesses anos que posso ter certeza de que nem tenho mais alma, somente um corpo para ser sadomizado por qualquer doente mental.

Fiz exatamente como a Loli mandou fazer, me vesti num personagem, e assim vou levando a minha vida. Já orei e rezei tanto para que meus pais me encontrassem aqui que acabei desistindo. Se um dia eu tinha uma vida, ela já era, junto com todos os meus sonhos.

Fui machucada, humilhada e desvalorizada. Fui rebaixada a ser um lixo humano. Conheci todas as práticas do BDSM, aprendi como usar cada um dos equipamentos e como alguns podem ser dolorosos. Fui submetida a ficar amarrada de cabeça para baixo por horas e sair pelada na rua na madrugada e embaixo de chuva.

Aprendi as técnicas da masturbação, felação e como engolir esperma sem vomitar. Não foi colocado nenhum pênis de verdade na minha boca. De acordo com as meninas, a Nora faz uma mistura de farinha de amido com sal e água, deixando uma gosma nojenta para imitar o esperma do homem. Me fez engolir aquilo sem fazer careta e me ensinou a limpar o canto da boca no final.

Usei vários vibradores, porém, nenhum fez a penetração, todos foram colocados na entrada da minha intimidade... Quero dizer, bøceta, pois foi assim que a Nora mandou eu chamar a minha intimidade. Mas nunca foi forçado para dentro.

Usaram cordas, me deixando em várias posições para ver como é a minha flexibilidade na hora que o meu mestre for me usar. Ah sim, e sempre chamá-lo de mestre ou senhor, depende de como o dono vai querer ser chamado. E para finalizar, fui obrigada a colocar um chip anticoncepcional no braço, pois não posso engravidar do meu dono.

Estou na minha última noite aqui na casa da Nora, amanhã já está certo o meu leilão, e estou com tanto medo que mal consigo dormir. De acordo com as meninas, meu comprador pode ser um bom homem, ou um homem mau. Pode ser que ele enjoe de mim com o tempo e me devolva para cá, ou pode ser que eu não suporte o que ele fará comigo e acabe indo a óbito.

Mas, para falar a verdade, nenhum dos dois me põe medo, já estou morta por dentro, a única coisa que farão é enterrar o meu corpo. Nora permitiu que fizéssemos uma pequena festinha em nosso quarto. Deu um bolo e algumas bebidas para comemorar a virada do meu aniversário, junto com um buquê de rosas vermelhas.

Mega: — Olha, você deve ser muito especial, viu, porque ela nunca fez isso com ninguém aqui.

— Grande coisa, comemorar o quê? Amanhã vou ser leiloada para um homem que nunca vi na vida. Pode ser também a nossa última noite juntas. — Todas elas vêm me abraçar, a maioria aqui já passou por tudo que eu passei e foram devolvidas para cá.

Comemos, e pela primeira vez fiquei bêbada na minha vida. Foi bom essa despedida, nunca fiz tantas amigas como fiz aqui. Mesmo com a Nora às vezes batendo na nossa cara, nos apoiamos umas às outras, e elas sempre cuidavam dos meus machucados quando eu vinha para cá depois das sessões de torturas da Nora e suas perversões.

Sou despertada de manhã pelas meninas que me avisam sobre a minha produção para o leilão. Ele será à noite, mas de acordo com elas, eu preciso ficar bonita e elegante para o dinheiro arrematado por mim valer a pena.

Sou levada até um quarto chique. As paredes têm uma tonalidade lilás com rosa, e no centro do quarto, uma banheira de hidromassagem com pétalas de rosas. Retiro a minha roupa, e duas meninas me ajudam no banho. Enquanto uma lava os meus cabelos, a outra me ajuda a lavar as costas.

Depois de anos, tenho um banho de gente, já que lá no quarto, o chuveiro sai pouca água e tem tempo contado no relógio para cada vez que liga o chuveiro. Depois do banho, Nora chega com um vestido. Ele é um vermelho escuro, quase vinho. Tem um decote na frente e as alças são bem finas. Tem uma fenda enorme na perna direita. Um belo vestido para o meu sacrifício. Depois de maquiada, cabelo arrumado e perfumada, Nora manda eu dar uma volta e fala:

Nora: — Está perfeita, Rosa. — Esse foi o nome que escolhi para contracenar nessa minha nova vida. Helena era uma pessoa de verdade, Rosa, uma fictícia. — Não se esqueça de tudo que aprendeu aqui, isso será de bom uso para onde você for.

Apenas concordo com a cabeça. Obviamente, não irei esquecer de nada que passei aqui, mas sei que foi apenas o início dos meus sofrimentos. Ela me chama para irmos, e as meninas vêm se despedir de mim. Todas vêm me abraçar, e choramos juntas.

Nora: — Já chega dessa melação, vamos logo. Até porque, pode não ser despedida. Dependendo de quem te arrematar, você pode voltar daqui alguns meses. Agora vamos que o carro já está lá fora te esperando.

Saio com ela, e uma limusine nos espera. Ela entra no carro comigo e fica o tempo todo no telefone. Às vezes me bate uma vontade enorme de abrir a porta do carro, pular e pedir ajuda a qualquer pessoa. Mas, além de me machucar toda, não tenho certeza de que serei ajudada, já que vi vários policiais entrando no puteiro da Nora atrás das meninas, só para trepar.

Paramos em frente a uma casa, cujo o portão é todo fechado na cor vermelha. Assim que passamos por ele, posso contemplar a beleza da mansão luxuosa na cor branca. Como as janelas são transparentes, dá para ver o brilho dos lustres de ouro daqui de fora.

Entramos pelos fundos, onde tem duas mulheres esperando para serem leiloadas também. A todo momento, Nora pergunta como eu devo ficar na frente do meu dono, o que falar e o que fazer. Me fez lembrar até de como eu faço a chuca, para deixar meu ânus bem limpo.

Assim que o leiloeiro começa a falar em um som abafado por estarmos atrás do palco, ele chama as meninas primeiro, me deixando por último. Cada segundo que passa, meu coração bate acelerado. Olho para a porta na esperança de entrar alguma polícia e acabar com tudo isso, e me levar de volta para os meus pais.

Leiloeiro: — Rosa, da casa da Madame Nora... — Meu nome é anunciado, e ela me leva até uma porta, desejando-me boa sorte. Respiro fundo e entro, revelando um salão abarrotado de homens mascarados...

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