Novamente uma nova conversa...

Não sei descrever qual foi a minha sensação ao vê-lo. Um mix de sentimentos passou por mim. Medo, insegurança, raiva, tristeza... Tentar sair dali o mais rápido possível foi o que prevaleceu na minha mente, por isso tentei sair dali o mais rápido possível, mesmo sabendo que seria em vão.

Eu vi, Rafael suspirando fundo, sentindo o cheirinho da Manuela, eu vi, Rafael fechando os olhos, possivelmente, pensando o mesmo que eu... "o meu cheiro favorito..."

É incrível, como ele se saiu tão bem, é incrível como ele olha bem no fundo dos olhos da Manuela, é mais incrível ainda, como Manuela o olha.

Ele tem perguntas, eu não tenho respostas. Talvez, eu tenha respostas, mas, não sei como forma-las. Eu não estava preparada para isso, nunca imaginei que precisaria me preparar para isso, mas também, aonde eu estava com a cabeça de trazer Manuela para cá? De trazê-la para a cafeteria que fica enfrente a empresa...

Agora, aqui estamos nós três. Manuela, Rafael e eu...

Rafael: Ela parece muito comigo...

Vejo-o um sorriso bobo no seu rosto.

Rafael: Os olhos dela, os olhos dela são os meus... O cabelo dela é perfeito, o cheiro dela e perfeito...

Não digo nada, apenas observo ele falando enquanto olha para ela.

Rafael: 3 anos... Quase 4 anos... Quase quatro anos depois eu conheço a minha filha, e isso, nem aconteceu porque você quis que acontecesse. Tudo isso, tudo isso foi de propósito não foi? Por tudo que eu fiz naquele dia.

Clara: Não...

Rafael: Não? Não foi pelo o que eu fiz?

Rafael anda pela sala de um lado para o outro.

Clara: Foi por tudo o que você falou. Eu posso odiar você como homem, mas jamais teria o direito de esconder um filho seu, isso se você não tivesse falado aquelas coisas.

Rafael: Maria Clara...

Clara: Rafael, não seja sonso... — fecho os olhos e respiro fundo — Volta no passado, volta a quase quatro anos atrás, pensa em tudo, exatamente tudo o que você falou. A quase quatro anos atrás, se eu chegasse em você, naquele momento e dissesse que estava grávida, o que você diria? O que você faria?

Rafael: ... — Silêncio.

Clara: Você disse que a escola que eu estudei, Jade deu aula. Eu não sou ela. Eu não sou nenhuma das outras mulheres que você ficava. Eu era alguém, perdidamente apaixonada por você. Eu cheguei aqui nessa sala para contar o motivo de eu estar passando tão mal. Eu vim aqui contar, mesmo com medo, eu queria que você dividisse esse peso comigo, por que sim, antes foi um baita peso. Rafael, você olhou nos meus olhos, você disse aquilo tudo... Não contente você foi na minha casa, foi agressivo fisicamente, verbalmente... Você pediu que eu fosse a sua...

Rafael: Por favor chega!

Clara: Não gosta de lembrar desse dia? Pois eu me lembro dele, todos os dias... Em quase quatro anos, eu me lembro daquele maldito dia, todos os dias. "Maria Clara, como foi o dia que você descobriu a chegada da Manuela?" Eu respondo: "Um dos dias mais difíceis da minha vida". Não é algo que eu consiga contar com facilidade. VOCÊ, VOCÊ, RAFAEL, FEZ ISSO COMIGO. Muito antes de saber que eu estava grávida, você já estava renegando a criança. Você deixou claro de todas as formas possíveis que não queria um filho, que se eu estivesse grávida já saberíamos que não era seu. Porra.. Sério? Eu ficava com mais quem? Você sabia que eu só tinha você, mesmo você tendo várias... Eu sinceramente não tinha esse direito, mas você me deu esse direito a partir do momento que fez, que falou tudo aquilo.

Manu: A mamãe tá cholano?

Olho para a minha filha, limpo as lágrimas e abro um pequeno sorrisinho para ela.

Clara: Não meu amor. Só caiu uma coisinha no meu olho.

Olho novamente para a janela.

Rafael: Eu errei, Maria Clara. Eu errei feio pra caramba... Eu fiquei... — ele para de falar, passa a mão no rosto e volta a falar novamente. — Eu não queria perder você, eu queria continuar com você, mas eu fui obrigado a noivar...

Clara: Sério? Obrigaram o queridinho Sr Castellani a noivar... Rafael, eu não me importo se você noivou ou não, quer dizer, por mim eu me importei e muito. Você sabia que eu tinha sentimentos por você, eu sabia que eu tinha sentimentos por você, mais eu também sabia que tudo o que tínhamos era coisa de momento e tudo bem. Agora, você dizer que queria continuar comigo e fazer umas atrocidades daquelas, foi demais. Eu não sei aonde você estava com a cabeça....

Rafael: Em você, em você, Maria Clara. Não parava de pensar em você nenhum segundo sequer... Naquele maldito jantar, eu estava...

Clara: Já passou... Não precisamos voltar nisso. O seu noivado não interferiu na minha decisão, a não ser sobre eu e você. Manuela não teve, não tem e nunca terá, nada haver com isso. Eu me sai bem como mãe até hoje, não me importo de...

Rafael: Vai dizer que ela continuará apenas com você?

Clara: Sim...

Rafael anda de um lado para o outro, fica parado, olhando para a janela.

Clara: Pode me dá a carta, por favor?

Rafael: Eu te dar a carta, é o mesmo de estar te dando um emprego em outra cidade...

Clara: Sim, na cidade que eu moro...

Rafael: É o mesmo de eu estar mandando vocês duas para longe...

Clara: Não vai me dar a carta?

Rafael: Não.

Clara: Eu realmente preciso daquele emprego, Rafael... Você não me dá a carta, não fará eu ficar aqui.

Rafael: Então você já pode ir...

balanço a cabeça que sim.

Pego o celular da mão da Manuela, coloco no sofá e dou a mão para ela.

Clara: Obrigado!

Quando estou prestes a sair, Rafael segura no meu braço, me vira novamente para ele, nossos olhares se encontram e ficamos nos encarando.

Rafael: Manuela... — ele se abaixa e fica do tamanho dela. — ainda vamos nos ver muito, ok? Se comporte, aí você ganha um desse só pra você...