Estava tudo perfeito assim...

Rafael: Eu já disse que não precisa me mostrar todas as vezes que você tomar o comprimido.

Não foi apenas essa vez em que Rafael soltou todo o seu líquido em mim. Na gaveta do criado mudo dele, tem algumas caixinhas de comprimidos, pílula do dia seguinte. Sempre ele ia na farmácia comprar e me entregava na empresa, agora ele já compra e deixa na gaveta, assim já tomo logo.

Comecei a tomar anticoncepcional, porém descobri que tenho alergia, camisinha seria o único meio viável para nós, e usávamos todas as vezes, porém, após um único dia sem fazer, sem, segundo ele, ele se viciou em sentir a minha pele. Desde então, nunca mais usamos. Rafael, usa preservativo com todas as outras que ele se relaciona (que ódio falar isso, todas que ele se relaciona) comigo não, não mais.

Clara: Faço questão.

Rafael: Eu já disse que me viciei no seu beijo?

Clara: Desse jeito posso me apaixonar.

Rafael: Venha aqui! — ele me puxa e começa a me beijar, sem pretensão de que role algo. — nunca reparei no quão gostosa a sua boca é. Vamos comer alguma coisa.

Clara: Nessa geladeira não tem mais nada. Precisa fazer umas compras.

Rafael: Ninguém fica aqui... Venho aqui só quando quero ficar com você.

Clara: Vai falar que...

Rafael: Não. Nunca trouxe ninguém aqui, nenhuma outra mulher. Comprei esse apartamento assim que percebi que a minha vida estava dando certo. Ninguém sabe, nem a minha família... Está surpresa né? Vinha aqui todas as vezes que queria ficar sozinho, depois parei e agora venho todas as vezes que quero ficar com você. Vou pedir alguma coisa.

Clara: Vou tomar um banho.

Rafael: Pega outra roupa lá no closet. O lado esquerdo da cama é meu.

Isso poderia ser tão real...

Pego uma outra roupa e vou tomar banho. Fico lá por longos minutos. Penso e repensou na vida. Não é oque ele quer para a vida dele, mais é oque eu quero para a minha vida. Eu quero viver isso todos os dias, não somente quando um homem estiver com... pena de... Será que...

Saio do banheiro com a toalha enrolada na cabeça e com uma camisa dele.

Clara: Isso tudo foi por que ficou com pena de mim? Quero dizer... Com pena pelo dia que foi hoje, ontem sei lá... já está de madrugada.

Rafael: Não tenho pena de ninguém, Maria Clara. Apenas fluiu. Tira isso da sua cabeça. Vou entrar no banho, fica de olho no meu celular, quando estiverem na portaria vão mandar mensagem.

Literalmente, estamos prestes a dormir juntos pela primeira vez.

Rafael: Deita aqui... — ele aponta para o peito dele e eu me aconchego lá. — escuta... Isso aqui, tudo isso aqui que rolou hoje...

Clara: Por favor, não diz... Eu já sei. Obrigado por hoje. Gosto de você, Rafael, gosto muito. Você é a minha chave quando eu estou trancando a minha alma num cativeiro, onde só eu vivo... Você me tirou de lá diversas vezes, mas,hoje, hoje literalmente você me tirou de lá. Obrigado. Uma pena, hoje ser o melhor dia em que ficamos juntos mais também ser o último...

Rafael: O último?

Clara: Você disse que eu merecia mais do que isso... Eu mereço mais do que isso. Vou viver.

Rafael: Pode ficar com outras pessoas e comigo também, assim como eu faço... não precisa se prender a mim...

Clara: Não quero ficar com ninguém, quero viver com alguém. Viver oque vivemos hoje. Quero viver oque vivemos hoje, todos os dias com uma única pessoa.

Rafael: Podemos ficar sempre assim, ué.

Clara: Sabendo que também sou a única dessa pessoa... Quero viver assim todos os dias com uma única pessoa sabendo que eu também sou a única na vida dela.

Rafael:...

Clara: Um relacionamento.

Rafael: ...

Clara: Boa noite. — aplico um selinho nos lábios dele, outro na bochecha e depois na testa.

Viro para o outro lado e ele permanece como estava antes.

Fico de olhos fechados, pensando muito no dia de hoje, foi bom... Foi muito bom. Gostei de dividir a minha dor, gostei de falar sobre ela, gostei de sentir carinho.

Rafael: Maria Clara?

Clara: ...

Rafael: Já dormiu?

Ouço ele me chamar, porém continuo quieta. Logo, Rafael vira para as minhas costas, tira os cabelos que caiem no meu rosto eq diz:

Rafael: Se você foi capaz de fazer isso comigo hoje, imagine, se fosse assim durante todo esse tempo. Boa noite, Maria Clara.

Sinto ele erguer a minha cabeça levemente para cima e então depositar um beijo na minha boca.

Rafael: O problema é que a sua boca me viciou.

Sinto ele me abraçar por trás, enfia o rosto nos meus cabelos e ficar quietinho até dormir. Aproveito todo aquele aconchego e pego também no sono.

É difícil voltar a quatro anos atrás e relembrar de tudo isso... Foi bom. É difícil saber que hoje, temos algo que nos liga, porém é só meu. Só liga a mim nele e que bom que eu tenho isso.

Depois que dormimos juntos, no dia seguinte, quando acordamos, não vi ele na cama, possivelmente já estaria arrumando para ir trabalhar. Pego o meu celular e vejo já ser 09:47 AM

Clara: O trabalho...

Rafael: Feliz aniversário...

Rafael aparece na porta do quarto com uma caixinha de presente.

Clara: O meu aniversário foi ontem...

Rafael: Mais não desejei feliz a niversario para você, e ainda que você diga, que foi o seu melhor aniversário em 16 anos da sua vida, eu fui comprar isso para você.

Clara: Que colar lindo...

Rafael: Quis te dar uma coisa que representa você.

Clara: Uma borboleta me representa?

Rafael: Ainda que a borboleta era uma largata, ouve o tempo em que ela saiu do casulo e voou... Você viveu muito tempo no seu casulo... Ainda que doesse muito, você não desistiu. Parabéns por isso. Mia tentou 3 vezes, mesmo que esses pensamentos tomam conta de você toda noite, parabéns, você aguentou 16 anos. É tão forte quanto uma borboleta no momento em que está saindo do casulo. Voa, Maria Clara, voa.

Sorrio em meio às lágrimas, antes que eu diga qualquer palavra, Rafael levanta a minha cabeça e me beija, após, pega o colar da minha mão e coloca no meu pescoço, me vira para ele, segura dos dois lados do meu rosto e começa a me beijar novamente.

Rafael: Por que não apareceu antes? Por quê?

Clara: Agora é tarde?

Rafael: Não sou bom para você.

Clara: Você me faz bem.

Rafael: Isso não significa que sou bom para você. Vá se trocar antes que eu perca a linha.

Clara: Eu perdi a noção da hora, vou tomar um banho rápido e já estou indo para a empresa...

Rafael: Você não vai ir para a empresa hoje, nem eu. Vamos sair.

Clara: Sair?

Rafael: Sim! As oito horas tenho um compromisso, então deixo você na sua casa. Qualquer coisa passo lá para pegar você ou você vem direto para cá.

Clara: Você só pode ter batido a cabeça...

Rafael: Só quero aproveitar esses últimos momentos de calmaria ao seu lado. Já tomou café?

Clara: Ainda não.