Depois que Lívia tirou o gesso e as hastes da perna, ela passou a acompanhar Will em suas viagens, o que estaria causando um grande incômodo a Mark. Como é sabido, ele é um mulherengo inveterado que gosta da vida que leva e não pensa largar a libertinagem. Sozinho em seu escritório na produtora, está largado na cadeira, porém, não muito relaxado, na verdade, ele está um tanto tenso, pois desejava aquela mulher, mas ela deixou bem claro que ele nunca a teria, e agora, ela poderia estragar o seu modo de viver a vida, pensativo, admira a imagem de Lívia na rede social, enquanto passa o feed adiante.
— Preciso deixar o caminho livre, talvez consiga convencê-la a ser minha e acabar de vez com essa frescura dela ir aos shows. — refletiu.
— Bom dia, senhor Mark! — disse Margot ao abrir a porta.
— Lívia está? — perguntou ele, entrando na sala.
— Sim, ela está no jardim. Vou avisá-la que o senhor está aqui.
— Não precisa, pode deixar que eu vou até o jardim.
Ele atravessa a sala e entra à direita, passando por um corredor não muito longo. Cada passo dado na casa do amigo, indo ao encontro da mulher dele, faz a adrenalina de Mark subir. Quando ele passa pela porta, já está no jardim. Ele vê Lívia sentada, lendo um livro, sob a sombra da linda e frondosa árvore de carvalho.
— Minha nossa, Lívia! Você parece uma deusa, uma ninfa da floresta, no meio desse jardim.
Ela olhou rapidamente para ele, surpresa e assustada, e perguntou com a voz e o corpo trêmulos:
— O que faz aqui?
— Mil desculpas se a assustei! Mas preciso falar sobre Will — disse ele com a voz mansa, mantendo-se parado. Embora a vontade de pular em cima de Lívia, arrancar sua roupa e possuí-la ali mesmo aos pés daquele carvalho era enorme.
Ela então levantou-se da cadeira de ferro estilo vintage, largou o livro na mesinha e voltou-se para atrás da cadeira e ficou segurando no encosto, ela faz isso, por uma questão de se manter protegida. Vai que Mark tenta atacá-la, ao menos poderá se defender. Apertando forte com as duas mãos o encosto da cadeira, seu coração parecia pular do peito de tão nervosa, ela pede a ele para que seja breve.
— Você não precisa ter medo de mim, — respondeu ele com a voz mansa — Prometo não me aproximar um centímetro. E quero aproveitar e pedir perdão pelo o que eu fiz a você no restaurante. Eu fui um canalha, admito!
É perceptível o medo que ela sente, mesmo tentando não demonstrar. Ela solta um suspiro ao ver Paolo se aproximando. — Estou pronto para levar a senhorita. Vamos?
— Pode aguardar por aqui mesmo, Paolo, que já estou indo. — respondeu ela com a voz calma, soltando até um sorriso.
— Eu preciso falar em particular com você, Lívia. — Mark respondeu encarando Paolo.
— Paolo, favor me aguarde ali na sombra da macieira que já partimos.
Assim que Paolo se afasta, Mark começa a executar seu plano:
— William e eu conversávamos anteontem, um papo distraído entre velhos amigos e um bom copo de uma excelente vodka russa. Como somos amigos há muitos anos, conheço bem Will e pude notar que ele não estava bem. Insisti que ele me dissesse o motivo daquela aflição, daquele peso no olhar. Depois de insistir muito, ele finalmente abriu o jogo.
Lívia o escutava com atenção e, nesse momento, já estava sentada. Sentia-se segura, afinal, Paolo estava por perto.
— Will me contou estar sentindo-se preso, sufocado por você, e não sabe como falar sobre o assunto sem que você se sinta magoada. Ele sente-se um prisioneiro na própria casa, e nos shows, quando seria um respiro para ele nas viagens, você o acompanha. Enfim, ele não tem tido momentos a sós com a banda e nem mesmo de solitude para refletir suas escolhas de vida, pois você sempre está presente — disse ele com a voz controlada e olhando-a nos olhos.
Ela não diz nada, apenas o observa com um olhar desolado, como quem não quer acreditar no que acabara de ouvir.
Logo ele parte para o golpe fatal:
— Eu sei o quanto você ama o Will e não quer perdê-lo. Por isso, você não falará nada sobre essa conversa que tivemos, nem mesmo para comentar que estive aqui a procurá-la.
— Mas os empregados o viram, não é mesmo? — perguntou ela, atenta.
— Sim, mas você pedirá para que eles não digam nada, inclusive é melhor eu ir indo, ou vamos acabar nos encontrando. Mas antes, se você me permitir, vou lhe dar um conselho, Lívia:
— Sentir saudade de vez em quando apimenta a relação. — respondeu ele com um sorriso maroto.
— Você tem razão, Mark. Eu vou ir nessa viagem porque minhas passagens já foram compradas, mas na próxima não irei. — respondeu Lívia, deixando-se levar por Mark.
— Isso, boa menina! — respondeu ele com um sorriso maroto.
Will jamais imaginaria que Mark, tomaria tal posição de prejudicar a relação entre ele e Lívia, mas se ele tivesse imaginado por um segundo sequer, teria se afastado de Mark antes.
Era noite de sexta-feira, o show havia acabado e Will a convidou para beber um drinque com a banda e ele, porém ela lembrou da conversa com Mark e recusou.
Ela o encoraja a ir sozinho com os amigos, pois está cansada e quer descansar.
— Vou levá-la até o nosso quarto e prometo que não irei demorar, no máximo 01h estou de volta aos seus braços.
— Tudo bem, amor! — disse ela, o abraçando forte e lhe dando um beijo cheio de paixão. — Coitado do Will, mal ele sabia que seria o último beijo entre eles. E diga-se de passagem, ele não merecia o que virá, pois realmente estava dedicado na relação entre os dois, ele fazia tudo por Lívia, desde o início do namoro deles, fora fiel, como nunca tinha sido antes. Mesmo quando estava sozinho, ele bebia seu drinque com os amigos e voltava para sua suíte, mesmo que seu quarto fosse ao lado da suíte de Mark, ele preferia a solidão da sua suíte, do que perder Lívia e seu amor. Esse amor que preenchia todos os espaços vazios que ele sentia antes dela chegar. Hoje, ele não se imaginava sem Lívia ao seu lado, por esse motivo tinha cuidado toda vez que Lívia o acompanhava para pedir que Nancy reservasse a suíte deles, com dois ou três andares de diferença das demais, justamente para ela não ver ou ouvir os horrores que aconteciam nas noitadas pós show.
Eram 03 horas da manhã, quando Lívia acordou com o celular e o atendeu, era um número não identificado, do outro lado da linha ninguém disse nada e desligou, ela olhou confusa, ainda sonolenta para o celular e não entendeu, afinal quem faria uma ligação para ela naquelas horas, ela estando em Paris. Ela poderia não saber quem fez isso, porém a pessoa que ligou sabia bem o que queria fazer. Lívia se deu conta que Will ainda não tinha retornado, e logo pensou: — ele bebeu demais, e deve estar no bar do hotel com todos os amigos, cada um jogado de um lado.
Ela pega em cima da poltrona a camisa de linho branca do Will e veste por cima da lingerie que usava, e sai do quarto para ir até o bar do hotel. Aquela hora o hotel todo parecia dormir, não havia ninguém pelos longos corredores com luzes suaves e nem nos elevadores, era como se não tivesse ninguém hospedado ali. Ela chega até o bar, um ambiente amplo, cheio de espelhos por todos os lados, os lustres de cristais enormes e luxuosos, na parede atrás da bancada extensa, várias bebidas desde os valores mais baixos, até as com valores exorbitantes por dose. O bar não está completamente vazio, porque um senhor franzino está ali a limpar o chão. Ao ver Lívia, ele para de passar o pano no chão e diz:
— Boa madrugada, senhorita!
— Boa noite, senhor! Eu estou procurando o pessoal da banda que estavam aqui, o senhor os viu?
— Ah, sim! Como não percebê-los, eles estavam agitados e muito felizes. Saíram a mais de 01 hora daqui.
— Obrigada! Que o senhor tenha um ótimo descanso quando terminar seu trabalho. — respondeu ela com sorriso doce. — Pobre desse senhor, tão velhinho e ainda tendo que trabalhar, a essa hora, coitado! — refletiu.
— Obrigado, senhorita! Pra você também, um bom descanso. — disse o velhote, pegando o rodo na mão.
Lívia pára em frente o elevador e logo deduz que Will pode estar na suíte de Mark, então ela e vai até o 25° andar, quando o elevador abre a porta, ela sai de dentro dele e segue em direção à esquerda, caminha devagar prestando atenção na numeração dos quartos, conforme ela se aproxima da suíte 2508, ela ouve um burburinho de vozes e risadas. A porta do quarto estava meio aberta, ao chegar nela aproximou-se a mão direita pegando na maçaneta e a empurrou devagar entrando de mansinho. Pisando no carpete em passos leves, ela vai até o final do curto corredor e depara-se com uma cena que jamais pensou em imaginar.
No quarto haviam 10 mulheres, todas elas extremamente lindas. Três delas estavam com Mark, uma dançava nua, enquanto a outra estava montada nele e a terceira inclinava sua cabeça e o beijava na boca. Derrick estava com duas que também, o entretiam maravilhosamente bem, pois ouvia-se seus gemidos, os outros dois músicos não estavam ali na sala, mas se gemidos altos vindo do banheiro, então dá para supor que a festa se estendeu a este cômodo. Mas, a pior cena ainda estava por vir, ela dá mais dois passos e vê Will ao lado do roupeiro sentado na poltrona com uma morena maravilhosa sobre seu colo, o beijando e entrelaçando as mãos nos cabelos dele. Os olhos de Lívia na hora se inundaram de lágrimas, pois aquele colo onde muitas vezes ela havia sentado, inclusive pela manhã, e sentiu-se além de amada, arrebatada de prazer, estaria agora dando o que era seu para outra mulher. Ela sente seu coração doer de tal maneira que a faz sufocar e ela quase não consegue respirar. Sem conseguir manter o controle, chega perto deles e pega um copo de uísque que está sobre o criado mudo e joga na cara deles, fazendo a mulher afastar sua boca da dele rapidamente e gritar.
Ele, atônito e confuso, empurra a mulher de seu colo. A festa é momentaneamente interrompida. Derrick puxa um lençol para cima de si, enquanto Mark apenas sorri, satisfeito ao ver que seu plano havia dado certo.
— Como você pôde fazer isso comigo, Will? — perguntou ela, com tom de dor na voz, seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas.
— Minha menina, por favor, me escute! — implorou ele, sua voz carregada de desespero.
— Você não podia ter feito isso! — gritou ela, sua voz ecoando pelo quarto.
Will a segurou nos braços e tentou beijá-la, mas Lívia o empurrou com força, dando um tapa em seu rosto. O som ressoou, deixando todos ao redor boquiabertos.
— Você jamais vai me tocar novamente! Eu tenho nojo de você! — disse ela, virando-se bruscamente e correndo, suas lágrimas finalmente caindo.
— Deixe essa garota, Will. Ela ainda tem muito o que aprender sobre a vida! — disse Mark, com um ar de satisfação. — Volte à sua realidade, Will. Olhe todas essas maravilhas à sua disposição!
— Não quero nenhuma outra mulher! Eu quero a minha mulher! — respondeu ele, virando as costas com determinação.
Will saiu rapidamente e foi atrás de Lívia na suíte, no caminho ele percebe que seu olhar começa a ficar cada vez mais turvo e embaralhado. Cada passo ao corredor era como se o chão se movesse e fosse de esponja. Ele estava acostumado a beber e não bebeu tanto assim, para sentir essa reação estranha e uma dor de cabeça que vinha aumentando. No elevador, os botões se misturaram todos, e ele mal conseguiu identificar o seu andar, com dificuldade e depois de ter apertado 05 botões, ele finalmente acertou seu andar.
Ao chegar em frente a porta de sua suíte, ele tenta abrir a porta com seu cartão, mas Lívia havia bloqueado a porta com a corrente de segurança. Ele nesse momento lamentou por ela o ter feito e soltou um palavrão baixinho, em seguida chamou por ela e pediu que abrisse a porta.
— Minha menina, por favor, deixe-me entrar! — disse ele sussurrando do outro lado da porta.
— Vai embora, Will, por favor! — respondeu ela, sua voz quebrada.
— Eu não quero ir, quero falar com você. Por favor, abra a porta e deixe-me entrar. Eu não estou me sentindo bem.
Lívia abalada e furiosa, abre deixando ele entrar. Ele está arrasado. Seus lindos olhos azuis, estavam vermelhos, demonstrando sua dor.
— Deixe-me explicar para você, apesar de eu não lembrar de como isso aconteceu. Estávamos no bar, depois fomos para a suíte do Mark, e em seguida você chegou, mas o mais estranho é que pensei estar com você. — respondeu ele confuso e com a voz arrastada.
— Ah, você não sabe o que aconteceu? Mas eu sei, e posso te dizer; você não consegue largar essa vida, é mais forte que você. Sem contar que você tem o grande Mark, que o impulsiona a fazer toda essa nojeira.
Agora eu entendo o motivo dele ter me procurado há dois dias na sua casa e de ter me dito que você disse a ele que se sentia sufocado por mim. Você sente falta de viver no lixo! — disse ela, erguendo uma sobrancelha.
— Quem disse isso a você? O Mark?! Eu nunca falei que você me sufocava! Isso é mentira! — respondeu desesperado.
— Pelo menos dessa vez, Mark me fez um enorme favor, abriu meus olhos e me mostrou quem realmente é você, e o que você faz nas minhas costas. Você não presta Will! Como eu pude me deixar levar por você?! — rebateu ela, olhando para ele com os olhos inundados de lágrimas.
Will de repente não consegue enxergar mais nada, sua visão ficou completamente preta e ele diz a ela, que está passando mal. Lívia o ajuda a deitar e ele desmaia. Ela assustada, liga para recepção e pede ajuda de um médico, o recepcionista diz que por sorte naquele final de semana há uma convenção médica no hotel e vai chamar a doutora para ir até o quarto deles. Em menos de 05 minutos, a doutora Melissa, bate à porta da suíte deles, e o examina às pressas.
— Pode ficar tranquila, senhorita Lívia, ele teve uma queda brusca na pressão arterial supostamente pelo álcool, mas já apliquei a medicação, amanhã estará ótimo e com uma terrível ressaca.
— Obrigada doutora! E mil desculpas por tirar a senhora de seu descanso a essa hora da madrugada! — respondeu Lívia, envergonhada.
— Eu já estou acostumada. São os ossos do ofício. Há mais de 15 anos na medicina, me acostumei com o ônus da minha profissão. E a senhorita está bem? — perguntou a médica atenta, uma vez, que o rosto de Lívia estava inchado assim como seus olhos.
— Sim doutora, estou sim. Só chorei por ter tido uma discussão com ele, mas nada demais. Mas obrigada por perguntar. — respondeu Lívia, abrindo a porta.
— Okay! Qualquer coisa pode pedir para me chamar no quarto 1506, Lívia.
— Muito obrigada, doutora!
Lívia observa Will deitado na cama, tão vulnerável e as lágrimas novamente caem sem parar. Ela aproxima-se dele e senta ao seu lado pegando em sua mão e fala em voz alta: — Como você pode tocar naquela mulher! Se eu não estivesse entrado no quarto, você certamente se deitaria com todas elas, e não seria somente um beijo cheio de desejo como aconteceu com a morena. Lívia lamenta. — Não posso perdoá-lo! E mesmo que fizesse, não conseguiria olhar para você do mesmo jeito que eu o olhava antes do ocorrido. Amanhã estou indo embora antes de você acordar. Espero que você seja feliz, Will! — disse ela, pousando a mão dele sobre o colchão.
***
Lívia deixou seu anel de noivado em cima do criado mudo e saiu. Na recepção informou sua baixa do quarto 2120 e pediu para chamar um motorista de aplicativo. A recepcionista que a atende informa que pergunta se ela não prefere um táxi, pois a todo momento tem um chegando um.
— Obrigada! Vou aguardar o táxi do lado de fora. — respondeu Lívia ao mexer no celular.
Will acordou com uma ressaca tremenda, ainda sonolento, lembrou do ocorrido e deu um pulo da cama, chamou por Lívia e viu que o armário estava aberto e a mala dela não se encontrava ali. Foi até o banheiro jogar água no rosto tentando acordar, quando retornou até a cama para procurar por sua carteira, pode ver o anel de Lívia sobre o criado mudo junto com um bilhete de despedida que dizia somente:
— Adeus e obrigada por tudo, Will!
Imediatamente ele liga para recepção e pergunta se sua noiva havia dado baixa no quarto 2120. A recepcionista confirmou, e disse que ela ainda está no hotel, pois aguarda na frente do saguão o táxi.
Ele corre para tentar encontrar ela e mais uma vez, se explicar. Ele sentia que algo estava errado, pois estava acostumado a beber e sabia que uma, duas ou três doses de uísque não seria capaz de deixá-lo assim, em um estado de não responder por si. Ele bateu a porta do quarto e sentiu uma forte martelada, o barulho da porta ecoou em sua cabeça de tal forma, que ele fez uma careta pondo a mão em seguida na testa.
Ao descer, em frente ao hotel ele vê Lívia, entrando no táxi do aeroporto, logo vem outro atrás, e ele entra, pedindo-lhe que siga o táxi da frente.
Will está nervoso, pois não lembra o que realmente aconteceu na noite passada. Ele lembra claro, que estava com uma mulher em seu colo,mas não sabe como iniciou aquilo tudo. Ele lembra de estar com a banda bebendo, mas não lembra em que momento as mulheres chegaram. Ele nem lembra de ter as cumprimentado, se ele estivesse realmente sóbrio neste momento, teria saído e não permanecido naquele ambiente.
— Por favor motorista, não perca esse táxi de vista e vá mais rápido.
— Sim, senhor, farei o possível.
O motorista persegue o táxi em que está Lívia, por um tempo atrás, por uma longa distância, enfim consegui ficar logo atrás e começa a buzinar e fazer sinal para o mesmo parar. Mas o motorista de Lívia continua seu caminho sem se importar. Então, na movimentada Champs-Élysées, ele consegue emparelhar e Lívia pode perceber que é Will, e pede que seu taxista não pare! Ele consegue andar por mais alguns metros, mas infelizmente precisa parar quando o motorista fica novamente emparelhado com seu veículo, e Will grita pondo a cabeça pra fora, e pede que ele pare.
— Desculpe, senhorita, mas terei que parar, do contrário podemos nos envolver em um acidente. Lívia revira os olhos e faz uma careta.
— Espero que não perca meu voo por isso! — disse ela, impaciente.
Will finalmente consegue aproximação com Lívia. Batendo no vidro do carro com o dedo indicador, ele pede que ela abra a janela. Ela suspira fundo e abre.
— Vamos conversar, por favor! — disse ele com os olhos marejados.
— Não temos mais o que falar, Will. — respondeu ela, irredutível.
— Por favor, o senhor pode nos deixar a sós? Quanto à sua corrida, não se preocupe, eu pago em dobro o tempo que o senhor perder.
O motorista, feliz, disse que vai ficar na sombra da árvore em frente. Will entra no carro e senta ao lado de Lívia que não gosta, mas aceita. Ele tenta pegar sua mão, porém Lívia a puxa rapidamente e pede que ele não a toque.
— Precisamos conversar, Lívia. Não é justo comigo o que está acontecendo! Eu disse a você que não estou mentindo, não lembro de nada antes de você chegar!
— Não tenho mais nada a falar com você,William! O que eu vi ontem, já me basta. Não precisa me dar explicações! Afinal de contas eu sabia quem era você desde o início. A culpa é minha de escolher me arriscar com o homem errado. — afirmou chorando. — Fique com seus amigos, os seus shows, uma vida sem limites e esqueça se relacionar sério com mulheres, por respeito à elas, por respeito à lealdade por suas relações. Poupe as mulheres de sofrer!
— Você está sendo injusta comigo, Lívia! Com você e por você, eu fui fiel. Coisa que nunca fiz por nenhuma outra mulher, pois jamais amei outra mulher como eu amo você. — disse ele, às lágrimas.
Lívia sentindo-se balançar, procura na memória a imagem da noite anterior em que Will estava aos beijos com a morena. Então, ela sente a raiva tomar conta de si novamente e pega pesado:
— Você tem noção, que você desestabilizou todo o emocional e o psicológico de uma mulher, fazendo com que ela tentasse tirar a vida de outra? — perguntou com olhar fixo nos olhos dele. — A minha VIDA,Will?! — gritou. — Eu perdi nosso filho,Will?! E Pra quê? — Para ver você aos beijos com uma garota de programa de luxo! E você, quer o que? Quer que eu acredite que você bebeu demais?!
— Não estou dizendo que eu apenas bebi demais. Eu acredito que a minha bebida tinha algo mais. — afirmou ele.
Lívia Olhou para ele, surpresa. Ela não espera essa explicação.
— Você acha que foi drogado? — perguntou ela, ainda cética, mas com uma ponta de curiosidade.
— Sim, é a única explicação que faz sentido. Eu nunca me senti assim antes. Por favor, me dê uma chance de provar isso. — Will implorou, seus olhos fixos nos dela.
Lívia hesitou. Ela queria acreditar nele, mas a dor da traição ainda era forte.
— Me desculpe, Will, mas não posso, aquela imagem não sai da minha cabeça. — respondeu ela com a voz embargada. — E não sei, se haverá um dia em que eu vá digerir essa história!
— Mas Lívia, eu estava fora de mim. Entenda, por favor! — implorou ele.
— Não era só você que estava fora, sua língua também estava, e o pior, estava dentro da boca daquela garota.
— Mas Lívia, e como fica nós dois? Se realmente eu descobrir que fui drogado, podemos voltar a ficar juntos? — perguntou ele, certo do que queria, estar ao lado dela.
— Preciso ir, ou irei perder meu voo. — respondeu ela, fria.
— Você irá voltar para nossa casa?
— Não, eu voltarei ao ponto zero de minha vida, a casa de Vick. Estou pensando também, em voltar ao Brasil para casa de meus pais, eu preciso ficar o mais longe de você!
— Okay! Eu vou provar a você que sou inocente. — afirmou ele, saindo do táxi.
O taxista entrou no carro com um sorriso enorme e agradeceu a ela por ter entrado em seu táxi hoje, pois o dinheiro que acabou de receber valeu por um dia inteiro. Ela então lembrou de como Will podia ser generoso e bondoso com as pessoas. Ela deu um leve sorrisinho e pediu que ele seguisse para o aeroporto, pois estava decidida. Embora sofresse por dentro, não iria aceitar uma traição; aquilo continuava sendo uma traição. Segurando-se para não chorar, ela seguiu seu caminho sozinha e com o peito prestes a explodir.
Antes de o avião levantar voo, ela tentou ligar para Brandon. Afinal, seu amigo poderia lhe dar algum alento neste momento de dor, mas infelizmente não conseguiu, pois ele estava ocupado demais na Espanha.
Retornando a Los Angeles horas depois, após quase 16 horas de viagem, ela chegou em solo americano e sua amiga Victoria a aguardava no aeroporto. Lívia, abraçada em Victoria chorou, contando tudo que se passou na noite anterior com Will e o quanto estava doendo.
***
Enquanto isso, na França…
Will tenta desesperadamente falar com ela, mas não consegue, pois ela o bloqueou.
Ele foi até o bar do hotel, pediu dose dupla de uísque, e aguarda enquanto o barman foi providenciar.
— Boa noite,Will! Como você e Lívia estão?
— E aí, Derrick! Nem me pergunte dela. — Will respondeu em tom desanimador. — Ela saiu daqui de um jeito, que acho não ter mais volta!
Derrick tinha algo para contar ao Will, mas não estava achando como colocar as palavras, afinal tinha a ver com o sócio e amigo de muitos anos dele. Mas não sabia como falar, e talvez Will não acreditasse.
— Pode contar, o que Mark tenha feito não vai me surpreender. — disse ele, bebendo um gole de uísque.
— Eu vi um lance estranho na suíte dele. — respondeu Derrick, nervoso. — Eu vi ele com a morena que você pegou ontem a noite. — Ah, você também, Derrick? Eu não peguei ninguém, me pegaram! — Will respondeu, angustiado.
— Então, eu tenho certeza disso. Eles te pegaram! — afirmou Derrick, com a voz trêmula de indignação. Ele sentiu um nó se formar em seu estômago enquanto relembrava a cena. — Eu vi e ouvi quando Mark disse à morena que ela não poderia ter sido mais perfeita, e que a ideia de colocar aquelas gotas na sua bebida fez toda a diferença. Em seguida, ele lhe entregou um maço de notas de 100 dólares.
Derrick apertou os punhos, sentindo a raiva borbulhar dentro de si. Ele não conseguia acreditar na traição que testemunhara. Seus olhos estavam arregalados, e ele mal conseguia conter a frustração em sua voz.
— Eu queria ter feito algo naquele momento, mas estava em choque. Nunca imaginei que alguém pudesse ser tão cruel — continuou Derrick, sua voz agora embargada pela emoção. — Eu sinto muito por não ter agido antes, mas agora você sabe a verdade. Eles armaram para você, e eu estou aqui para te ajudar a provar isso.
— Will vira em direção a Derrick, não querendo acreditar no que acabara de ouvir. E diz em voz alta:
— Então foi ele?! Desgraçado!?
Ele levantou do banco, colocou uma nota de 50 dólares debaixo do copo e saiu furioso. Derrick foi atrás dele, dizendo para ele se acalmar e não fazer besteiras. Mas Will estava tão fora de si que só pensava em vingar-se de Mark, afinal ele fora o culpado de Lívia sair magoada e chorando de Paris, e o culpado de destruir sua felicidade. Conforme atravessava o saguão do hotel, ele relembrou as palavras ditas por Lívia e de seus olhos inundados pelas lágrimas. O maxilar dele contraiu-se e seus lindos olhos azuis ficaram negros pela raiva que o consumia.
Ao chegar na suíte de Mark, foi ele mesmo quem o recebeu na porta.
Will sem pensar, partiu para cima dele, invadindo o quarto e empurrando Mark para dentro aos gritos:
— Desgraçado!? Como você pode fazer isso comigo?! Eu julgava que você fosse meu amigo, seu canalha!?
Mark, rindo debochado, respondeu:
— Do que você está falando? Enlouqueceu Will?
Will, então, lhe deu um soco na boca e gritou:
— Você destruiu minha vida, seu canalha! Você colocou algo no meu uísque, pagando para uma prostituta me seduzir, sabendo que Lívia iria me procurar, seu crápula!? Como você pôde?!
Mark com a boca sangrando respondeu a ele com a voz cheia de ódio e mágoa.
— Você achou mesmo que a negativa daquela garota iria ficar assim? Até Jenny, eu levei para cama e não foram poucas vezes.
Nós rimos de você, depois de transarmos, a Jenny sempre dizia: — Pobre Will, agora eu chego em casa e faço uma cena de ciúmes perguntando por que ele não me atendeu. E digo que estava procurando por ele até essa hora! — risos alto de Mark. — A melhor parte, você nem imagina, vem agora. — debocha ele. — Transamos em sua cama uma vez. — Lembra quando mandei você ir na produtora do Jack? Então, foi nesse dia, eu aproveitei bem a companhia de sua mulher, na sua cama. Jenny é incrível na cama!
Will partiu para cima dele, pegando-o pelo colarinho e empurrando-o contra a parede, dando um soco na cara. Mark, sangrando, também o acertou na boca, fazendo Will desequilibrar-se e cair no sofá. Mark pulou em cima dele e disse com ódio nos olhos:
— Você achou mesmo que eu iria aceitar calado ter sido rejeitado por uma menina idiota daquelas? Uma vadiazinha que se acha uma grande influenciadora.
Will empurrou com os pés e ao levantar-se do sofá, partiu para cima, apertando o pescoço de Mark para sufocá-lo. E rebateu:
— Uma menina idiota, mas que você nunca conseguiu e jamais irá levar para a cama, seu cretino! — disse Will, revoltado.
Derrick, segurando os braços de Will, tentou tirá-lo de cima de Mark, que estava ficando sem ar, e então disse a Will que o soltasse, pois não valia a pena.
— Solte ele, Will! Por favor, meu amigo! Ele não vale a pena!
Will lembra-se de Lívia, das vezes que ela o alertou sobre a inveja e o mau caráter de Mark, e diz em tom alto:
— Como pode uma menina de vinte e cinco anos saber tanto da vida e perceber o canalha que você é Mark? Lívia sempre alertou sobre você. O pouco tempo que vivemos juntos, ela conseguiu identificar o quão mau caráter você é. Você dava em cima das minhas namoradas no tempo em que éramos jovens, depois veio a fama e a vida rodeada de belas mulheres, e você, sempre quis as que eu escolhia. A verdade é que você sempre viveu na minha sombra. Mas acabou!
Aqui e agora acaba nossa amizade e nossa parceria profissional. Pago a multa que for, para me ver longe de você! Não me importa se tiver que perder todo meu patrimônio. Mas, com você eu recuso-me a continuar trabalhando. E tem mais, os shows que ainda tenho pra fazer, não vou fazê-los. Estou voltando para Los Angeles, agora atrás de Lívia.
— Você é um otário, Will! — respondeu Mark, alisando o pescoço e fazendo careta.
Will, virando-se para ele pela última vez, já quase na porta, parou e olhou para Mark como se considerasse algo. Deu dois passos à frente, desferiu outro soco na boca dele e gritou:
— Esse é por Lívia! Eu deveria ter lhe dado esse soco quando você tocou nela.
— Vai, seu idiota, correr atrás daquela piranha! Eu vou ter o prazer de arrancar cada centavo seu, William! — retrucou Mark, com ódio nos olhos.
***
Lívia e Victoria chegaram ao apartamento da amiga. Sempre sensata e realista, Victoria afirmou, preocupada, para Lívia:
— Você precisa conversar com Will. Pelo que você me contou, ele nega que estava com essa mulher por querer. E se realmente ele estava bêbado demais ou se alguém colocou algo na bebida dele? Você mesma disse que o amigo dele não presta.
— Eu vi aquela mulher sentada no colo dele, como eu costumava fazer. Beijando e tocando seu corpo. Você acredita que eu vou lidar bem com isso, Vick? — Infelizmente não vou e nem quero!
Já fui traída diversas vezes no meu passado por JC e me sujeitei aceitar, mas hoje em dia, eu não aceito viver desta forma. — disse Lívia certa do que pensava.
— Eu acho que você deve avaliar primeiro e depois tomar uma decisão definitiva, para evitar arrependimentos futuros.
O telefone de Lívia tocou. Era Brandon.
— Alô, maluquinha!
— Oi, Brand! Saudades de você. — Ela chorou ao falar com ele.
— O que aconteceu, Lívia? O que fizeram a você? — perguntou ele, nervoso.
— Acabou meu noivado com Will, porque ele me traiu. — disse ela, sem piscar.
Brandon pôs o telefone no mudo por cinco segundos e gritou: "Obrigado, meu Deus!" Lívia, do outro lado da linha, chamou seu nome: "Brandon!" Ele voltou a colocar o telefone no estado normal e disse a ela que sentia muito, fazendo uma careta de riso e felicidade extrema.
— Sinto muito por isso! Eu imagino o quão difícil está sendo para você! — disse ele, sorrindo e agradecendo mais uma vez ao nosso bom pai, sem deixar sair um só som de sua boca. Então, ele a convidou:
— Você não quer vir para a Espanha por um tempo? E a gente conhece a Itália juntos.
— Obrigada, Brand! Mas vou pôr minha cabeça em ordem primeiro e depois, se for visitá-lo, eu te aviso.
— Tudo bem, Liv. Aguardarei ansioso por sua resposta. Eu preciso desligar agora, mas se você quiser me ligar depois, estou disponível para você.
— Está bem. Até a próxima. — respondeu ela com a voz embargada.
***
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 26
Comments