Três dias após Lívia voltar para a mansão Baker, Brandon combina com Victoria para irem juntos visitarem a amiga. Ao chegarem na mansão são recebidos por Margot que abre a porta, Lívia está no sofá da sala de estar os aguardando. Will já estava a caminho de casa, tinha ido trabalhar cedo na produtora.
Brandon levava consigo um buquê com um misto de rosas, lilás e rosas em três tons diferentes com flores do campo e uma medalha do sagrado coração de Jesus em ouro.
— Muito obrigada! Adorei. — disse ela ao beijá-lo no rosto. — Você pode, por favor, tirar minha corrente e pôr a medalha nela? — perguntou Lívia, a Brandon.
— Sim, claro. — respondeu ele, ajeitando os cabelos dela para ter acesso a corrente.
Brando tremia de nervoso, seu coração em total descompasso, as mãos suando frio e por dentro um calor que ardia.
— Boa tarde, a todos! — Will entra na sala de estar, vai em direção de Lívia, que no instante que o vê, sorri e o chama fazendo gesto com os braços querendo um abraço.
— Amor, você saiu cedo hoje! — disse ela ao abraçá-lo.
— Sim, tínhamos uma reunião marcada para às 07h, e eu não podia me atrasar. Não quis acordá-la, você estava tão feliz com o que sonhava que não tive coragem. Ela sorri e então mostra a ele o presente que Brandon lhe deu: a medalha em seu pescoço. Ele logo respondeu: — Que belo presente! E as flores também são.
Will senta-se ao lado de Lívia no sofá. Vick menciona que ela e Brandon pesquisaram muito sobre a amnésia de Lívia, mas não descobriram nada além do que Mikael já havia dito. Baseado nas informações do doutor, tiveram a ideia de fazer uma viagem com Lívia, apenas os três. Planejam ir para a Geórgia, na casa da avó de Vick, e para Dallas, na casa dos pais de Brandon. Como Lívia conhece todos eles, esperam que ela consiga lembrar de algo relevante ou, quem sabe, descobrir que não se lembra de nenhum ou de alguns deles.
— Imaginem ela passar mais de 3h e 6h dentro do avião neste estado? Vocês dois tem noção o que é para ela suportar essas hastes de metal? — perguntou Will, muito incomodado com a possibilidade de Lívia viajar sozinha com Brandon.
Lívia então, se pronuncia sobre o assunto mostrando-se desconfortável com Will e Victoria. Ela estava esquecida de Brandon,
mas não havia esquecido de mandar em suas próprias decisões.
— Por favor, vocês dois, parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui. Ninguém tem o direito de resolver nada por mim! O tipo de tratamento, e o que eu posso ou não posso fazer, cabe a mim decidir.
— Desculpe, meu amor! Eu só estava preocupado com você e não queria tomar decisões por você. Mas me diga, o que você quer fazer? Você quer viajar assim? — perguntou Will, com a testa franzida e a voz tensa.
— Definitivamente não. Eu sei que não estou em condições de fazer longas viagens. Quero seguir a recomendação do Mikael e manter o Brandon por perto. Acredito que isso será suficiente e o tempo cuidará do resto. Não farei nada diferente disso, pelo menos por enquanto.
— Tudo bem minha, menina. Eu já estava de acordo com isso também. Acredito que será o suficiente para sua recuperação.
Brandon passou a visitá-la todos os dias. Ele começou a contar-lhe as histórias que viveram juntos, mostrando fotos dos lugares que visitaram na Califórnia, alguns lugares em Dallas, no Texas, e da família de Brandon, que Lívia conhecia muito bem. As histórias eram engraçadas e cheias de aventuras. Por exemplo, houve um dia em que os dois viajaram juntos e o carro de Brandon quebrou no meio do caminho. Não havia posto de gasolina em parte alguma, então eles tiveram que caminhar 20 km até a cidade mais próxima. Durante uma boa parte do trajeto, Brandon carregou Lívia nas costas, pois uma cascavel atravessou a rodovia e ela ficou desesperada, pulando em seu colo.
Outra história foi: a primeira vez que os três amigos foram andar a cavalo. Brandon escolheu a égua mais mansa que seu pai tinha no rancho, chamada Hera.
Quando eles estavam longe do rancho de seu pai, eles ouviram um estouro, e isso assustou os cavalos, Hera foi quem mais assustou-se e bateu em disparado, Lívia sem prática alguma com equinos, acabou caindo poucos metros depois desacordada, deixando os dois amigos desesperados. Foi uma correria! Brandon correu até o rancho e pegou a pick-up de seu pai para levar Lívia ao hospital, quando retornou encontrou Lívia e Victoria sentadas e rindo. Mesmo assim, pegou-a no colo e a pôs no banco da frente da pick-up, enquanto Victoria levou os dois cavalos de volta para o rancho.
No hospital, Lívia ficou em observação naquela tarde e noite, e Brandon como sempre ao seu lado.
— Não me conformo, em não lembrar, são histórias incríveis que vive e não consigo! — Lívia respondeu com os olhos marejados e a voz embargada.
— Fique tranquila, você vai conseguir na hora certa, — disse Brandon com um sorriso encorajador. — Faça o seguinte: quando eu não estiver por perto, tente se lembrar deles no presente, da forma como eu conto pra você. Tenho certeza de que , em algum momento, você vai se lembrar.
E assim, Brandon continuou com a terapia por dias e semanas, mas nada parecia fazer Lívia lembrar. Eles já haviam visto muitas fotos e vídeos juntos, mas sua memória permanecia bloqueada. Durante todos esses encontros, Will observava à distância, atento a cada passo e detalhe das interações entre Brandon e Lívia. Ele sentia que precisava proteger o que era seu, não que Lívia fosse sua propriedade, mas a verdade é que ele morria de ciúmes ao ver Brandon tão próximo dela. No fundo, Will sabia o motivo de seu ciúme, mas tentava evitar o inevitável. Mais cedo ou mais tarde, as coisas aconteceriam, ele querendo ou não.
Embora Lívia não se lembrasse do passado ao lado de Brandon, ela estava criando novas memórias afetivas no presente. E isso faria toda a diferença no futuro deles. Esses momentos vividos após a tragédia e a perda de memória, com o apoio de Brandon, estavam fortalecendo a cada dia a união entre eles.
***
As lembranças vem à tona
Lívia estava sozinha no jardim quando Brandon chegou mais cedo para vê-la.
Ele teria um compromisso inadiável de trabalho, então para não perder a chance de estar com ela, foi mais cedo.
Lívia parecia estar chateada ou triste com alguma coisa, seus olhos estavam inchados e vermelhos, — ela chorou. — pensou ele. Ela lhe dá um abraço apertado e suspira forte, e com a voz embargada diz que sente muito. — pelo o que? — perguntou ele.
Ela se afastou dele e, olhando nos olhos de Brandon, disse que estava sendo muito difícil para ela. Todo o esforço e dedicação dele, e ela não conseguia se lembrar do passado que compartilharam. Isso estava machucando profundamente seu coração. No entanto, ela se sentia grata por ele estar criando novas memórias para o futuro. No presente, ela sentia um carinho especial por ele, pois ele era um grande amigo.
Os dois estavam sentados frente a frente. Brandon segurou suas mãos e se aproximou dela, bem perto, sussurrando ao pé do ouvido:
— Eu amo você, Lívia. Sempre amei. Espero ansioso por sua recuperação e por vê-la feliz novamente.
Ela se afastou lentamente, mantendo-se frente a frente, olhando-o nos olhos. Então, deu-lhe um beijo no rosto e disse:
— Agradeço por seu amor, Brandon!
Por um momento, Brandon achou que ela iria beijá-lo nos lábios. Seu coração disparou descontroladamente, e ele sentiu uma vontade absurda de beijá-la. Ele passou a mão delicadamente em seu rosto, aproximando-se para lhe dar um beijo. Ela fechou os olhos, esperando que ele a beijasse.
Brandon se aproximou e a beijou no cantinho do rosto, próximo aos lábios, dizendo:
— Deus sabe o quanto é difícil para mim estar assim, diante de você, e não poder beijá-la!
Brandon repetiu a frase que havia dito no dia em que partiu para a Espanha. Nesse exato momento, imagens embaralhadas retornaram à mente de Lívia. Ela viu o momento da despedida no aeroporto e todo aquele sentimento veio à tona.
Sentindo toda a emoção daquele instante retornar e transbordar em seu coração, ela olhou novamente nos olhos de Brandon e, tocando seu rosto com a mão direita, disse:
— Eu estou me lembrando de você, finalmente, Brand! Por que você me esqueceu e não respondeu às minhas mensagens? Envolvido pela emoção e fitando seus olhos fixamente, ele respondeu:
— Minha maluquinha, me perdoe por tê-la feito sofrer. Prometo que isso não se repetirá!
Eles se abraçaram e choraram juntos. Logo, Will chegou e, ao vê-los abraçados, foi em direção a eles, puxando Brandon pela jaqueta jeans e o empurrando no chão. Lívia gritou, pedindo para que ele parasse! Brandon se levantou e foi para cima de Will, dando-lhe um soco de direita que o fez cair sobre a mesinha do jardim. Ela gritou para Brandon parar! Porém, tomados pela raiva, brigaram como dois animais descontrolados. Até que Paolo e George chegaram e os separaram. Com o rosto sangrando, Will ordenou que expulsassem Brandon dali.
Lívia, chorando muito e nervosa, disse a eles:
— Vocês não se atrevam a fazer nada com Brandon! Soltem-no agora e deixem-no ir embora.
Brandon estava com a roupa rasgada e sangrando, pois Will havia lhe acertado na boca. Ele virou as costas e saiu furioso, limpando a jaqueta suja de terra. Se Lívia pudesse levantar da cadeira de rodas e ir atrás de Brandon, certamente ela iria sem hesitar, como não pode, ela então questionou Will muito irritada.
— Como você pode chegar aqui assim, feito um animal? — disse ela, tentando controlar as lágrimas.
— Você acha que vou chegar em casa, ver você agarrada com esse garoto imbecil e ficar quieto? — gritou Will com a voz rouca.
— Minha memória está voltando. Eu lembrei dele! — disse ela, em um misto de alegria e tristeza. — Minhas lembranças voltaram e eu o abracei emocionada. E você estragou tudo! Eu estava feliz por lembrar de uma parte da minha vida que havia esquecido. Então você chega assim, derrubando tudo! Agredindo Brandon e me ofendendo com seu ciúme repentino.
— Meu amor, venha cá. Me perdoe, Lívia!
Ele tentou abraçá-la, pedindo perdão, pois não sabia o motivo. — Venha, me dê um abraço agora.
Lívia, nervosa, disse que não estava em condições de abraçá-lo, pois estava magoada.
Will, feliz e radiante, sorriu como uma criança e disse:
— Finalmente você lembrou dele! Agora ele pode sair de nossas vidas para sempre!
— William, Brandon é meu amigo! Ele jamais sairá da minha vida, pois eu o amo. Mesmo que ele vá para Marte, nunca deixarei de ser sua amiga.
— O que você disse, Lívia? Repete!
— Sobre o que, Will? — perguntou ela, se fazendo de boba.
— Você declara amor por esse garoto assim, com essa naturalidade?
— Declaro meu amor sim, pois ele é meu amigo. Você acha que entre amigos não existe tal sentimento? Eu amo vocês de formas diferentes. Ele é meu amigo, meu protetor, meu porto seguro. Mas você é meu noivo, quem eu amo e admiro! E eu sou sua menina, não sou? — perguntou ela, meiga, beijando sua mão. Tentando amenizar sua fala sobre o amor por Brandon, pois na verdade, ela estava dividida entre os dois e não queria magoar Will. Ela simplesmente baixou a guarda.
Will não resistiu ao jeito dela falar e ao modo que ela o olhou nos olhos. Ele se inclinou e a abraçou ao dizer:
— Sim, você é a menina que tanto amo e estou muito feliz por você estar se recuperando. Você me perdoa? — disse ele, tocando seu queixo e beijando seus lábios.
— Olhe para você! Seu rosto está sangrando. Brigou feito um cachorro rolando no chão. — Lívia respondeu com a voz doce.
Então, ela o beijou e o convidou para ir até o quarto para cuidar dos seus ferimentos.
Enfim...O beijo
Alguns dias haviam se passado e Brandon teria que voltar para Espanha. Como ela havia recobrado sua memória, ele poderia voltar, afinal, era sua carreira que estava em jogo.
Brandon e Vick conversam e ela combina de ir até Liv e falar sobre ele. Chegando na residência Baker, Vick é recebida por Margot que lhe diz:
— Bom dia, senhorita! Que bom vê-la por aqui. Lívia está trancada no quarto há três dias e não sai de lá para nada.
— Mas o que deu nela?— perguntou.
— Não sei, mas estou muito preocupada com ela. —respondeu Margot a levando até o quarto.
—Bom dia, amiga! — disse Victoria, ao entrar no quarto, aflita.
— Amiga, que bom que você está aqui! — Lívia abraçou Victoria, ao recebê-la.
— Obrigada, Margot! Você poderia mandar nos trazer suco, por favor! — pediu Lívia, sorrindo.
— Claro, mandarei providenciar.
Assim que Margot sai, Victoria pergunta o que está acontecendo e por que Lívia não sai do quarto há três dias. Lívia está deitada, vestindo uma camisola vermelha, com a perna ainda engessada. Três meses após retornar para casa, ela ainda usa gesso e hastes de metal, mas agora consegue se movimentar sozinha com a ajuda de muletas. Ela mal pode esperar para retirar as hastes de metal e ter mais mobilidade. No final da semana, ela tem uma consulta com o ortopedista e torce para que ele autorize a retirada das hastes, para finalmente ficar livre.
Lívia começa a explicar, ou melhor, tenta explicar o que está passando em sua cabeça e em seu coração, pois não quer admitir a mudança que está acontecendo dentro dela.
— Bem, estou me sentindo estranha desde que me lembrei do Brandon. Que o Will não me escute.
— Como assim, Liv?
— Eu tenho me pego pensando nele do nada. Quando ele me liga, meu coração dispara, gaguejo ao falar com ele.
— Não vai me dizer que está apaixonada por ele! — exclamou Victoria, já sabendo da resposta, mesmo que para Lívia não parecesse ser tão óbvia assim.
Will chega bem na hora e abre a porta do quarto, quase escutando Victoria falar. Ele entra sorrindo, alegre, e vai em direção às duas que estão sentadas na cama.
— Oi, Vick! Que satisfação em vê-la aqui em casa — disse ele, ao dar um abraço nela.
Ele senta ao lado de Lívia na cama, a puxa para perto e diz que Margot mencionou que, novamente, ela não havia saído da cama.
— Você está com alguma dor? — perguntou ele, acariciando sua mão.
— Não estou com ânimo para nada hoje. É só isso!
Ele a puxa para mais perto e lhe dá um beijo. Abraçando-a, diz que está ali para qualquer coisa que ela precisar.
— Eu sei, Will. Obrigada! — respondeu ela, forçando um sorriso.
— Vick, fique conosco para o almoço, por favor! Assim você faz companhia para minha menina carente e, quem sabe, a convença a sair deste quarto.
— Tudo bem, Will. Fico sim. — respondeu Victoria, fitando a amiga.
Ele se levanta da cama, dá um beijo na testa de Lívia e menciona que irá deixá-las à vontade para que possam conversar, avisando que sairá, mas voltará logo.
— Eu já volto, meu amor. Chego a tempo para almoçarmos juntos.
— Okay, amor.
— Esse homem não existe, Liv! O Mikael é super amoroso e romântico. Mas o Will, meu Deus! Ele entrou na fila do romantismo mil vezes e sabe ser galanteador só em respirar.
— Você e o Mikael estão firmes, então?
— Estamos, ele é incrível. — disse Victoria, com os olhos verdes brilhando.
— Fico muito feliz por você. Você merecia alguém como o Mikael. Ele é carinhoso e amável como médico, deve ser um excelente namorado.
— Ele é maravilhoso, amiga! — respondeu Victoria, com os lindos olhos verdes faiscando. — Mas vamos, me conte sobre o Brandon, antes que o Will volte.
— Amiga, estou em maus lençois! Agora que minha memória voltou ao normal, pude recordar tudo que aconteceu desde a viagem de Brandon para a Espanha. Estou completamente confusa!
— Não sei se estou dividida ou se só me sinto mexida por saber que Brandon me ama. Desde quando você me falou, a caminho do shopping, que ele me amava, senti que algo mudou dentro de mim, mas não sei se é amor! Afinal, eu tenho Will e sinto algo grande por ele, não posso negar. Mas o Brandon... — Lívia soltou um suspiro profundo. — Esses dias que ele passou ao meu lado, ele sempre procurou dizer que me amava, inclusive no dia em que recobrei minha memória. Nesse dia, senti uma vontade absurda de beijá-lo e não parei de desejar que ele me beijasse, mesmo sabendo que estávamos no jardim da casa de Will. Ai, meu Deus! Eu sei que isso seria errado! Mas naquele momento, a emoção estava desesperada gritando dentro de mim, e eu sei que ele sentiu o mesmo.
— Ainda bem que não aconteceu nada. Pois logo em seguida, Will chegou e nos viu abraçados, fazendo uma cena daquelas! Brigou como um cão furioso. Imagina se visse um beijo entre nós?! Estou confusa! Amo Will, mas não consigo parar de pensar em Brandon.
— Lívia, é normal essa confusão de sentimentos. Afinal, você passou por grandes emoções nos últimos meses e sempre teve os dois ao seu lado, cada um à sua maneira. E vamos combinar, os dois são incríveis! Brandon sempre foi zeloso, carinhoso e amoroso com você. E Will é tudo isso e ainda faz todas as suas vontades. Você tem os dois na palma da mão!
— Eu não queria estar sentindo o que estou sentindo! — disse Lívia com os olhos em lágrimas.
— Não vai começar a chorar, Liv. Vai ficar com o rosto inchado.
— Ainda bem que Brandon está retornando para a Espanha de novo. Assim, essa confusão dentro de mim se aquieta. Não posso permitir que esse sentimento dentro de mim flua. Devo muito ao Will pela vida do meu pai e pela minha vida também.
— Você já pensou em deixar o Will e ficar com o Brandon? — perguntou Victoria.
— Não, nem posso pensar nisso. — respondeu Lívia com lágrimas descendo pelo rosto.
— Vem, levante. — disse Victoria. — Vamos vestir uma roupa e descer deste quarto.
— O pior de tudo é que eu queria ver o Brandon pela última vez, queria me despedir dele, mas não vou poder. Will deixou claro que não suporta a presença dele.
— Antes de Brandon viajar, vou fazer um jantar para ele lá em casa. Você poderia ir, ele ficaria feliz em se despedir de você.
— Não sei, Vick. Will não vai aceitar que eu vá.
— Diga a ele que irei fazer a noite das meninas. Ele gosta de mim e não vai saber que Brandon estará lá, a menos que você fale.
— Se ele souber que você está tentando me aproximar de Brandon, ele certamente passaria a odiá-la, como odeia o Brandon. Mas quero ir, preciso me despedir dele!
Vick ajudou Lívia a vestir um vestido longo floral em tom rosa. Fez uma trança em seus cabelos, passou-lhe um batom avermelhado e um rímel, mesmo contra a vontade dela.
— Pronto! Você está linda! Quando Will voltar, já vai ver outra mulher. Vamos, eu levo você na cadeira.
— De jeito nenhum, vou descer as escadas nesta cadeira. Vou chamar o Paolo!
Lívia interfonou para a portaria Sul, pedindo a Paolo que subisse até o quarto, pois precisava de sua ajuda. Paolo era um homem forte e enorme! Seus braços eram fortemente malhados, assim como todo o seu corpo, mesmo usando terno e gravata. Lívia e Paolo se davam muito bem, eram amigos, e não foi à toa que, desde o início, Will queria deixá-lo como seu segurança.
Paolo chegou batendo na porta do quarto.
— Pode entrar — disse Lívia, sorridente.
— Chefinha! No que posso ajudá-la? — perguntou ele, segurando a maçaneta da porta aberta, mas sem entrar no quarto.
— Tudo bem, Paolo? Entre, por favor. Preciso que você me ajude a descer a escada.
— Claro, vamos lá, chefinha.
Paolo a pegou em seus braços e desceram a escadaria da casa. Ela poderia caminhar, mas descer aquelas escadas de muletas seria suicídio. Will, neste momento, estava entrando na sala e a viu nos braços de Paolo. Ele disse alto e sorrindo:
— Até que enfim resolveu sair do quarto, meu amor! Só mesmo Vick para conseguir isso.
Paolo a deixou no sofá e ela o agradeceu sorrindo. Will também o agradeceu e Paolo se retirou.
— Mas vou lhe dizer, Will, não foi fácil. Você sabe como ela é teimosa!
— Ah, se sei! Teimosia é seu sobrenome — disse ele rindo.
— Aproveitando, Will, gostaria de lhe falar que vou fazer a noite das meninas lá em casa e queria que a Lívia fosse. Será que Paolo poderia levá-la?
— Você me deixa ir, amor? — indagou Lívia com a voz meiga.
— Eu não preciso deixá-la ir. Isso é algo que você mesma decide, se quiser. Eu mesmo posso levá-la e depois buscá-la, se preferir.
— Ai, meu amor! Por isso eu amo você, Will. Você é maravilhoso! — disse Lívia, enchendo a bochecha dele de beijos.
— Minha menina, tenho uma surpresa para você. Sei que irá alegrar seu dia e que você vai adorar!
— Não acredito, meu amor! O que é? — perguntou curiosa, com os olhos brilhando.
Ele entregou a ela uma embalagem de presente, dentro da qual havia uma caixinha de veludo preto da joalheria. No seu interior, um colar com um pingente em formato de coração, todo em ouro rosé, com uma pequena safira na lateral e a frase:
— Para minha menina. Com muito amor, William.
Lívia ficou feliz e emocionada, agradecendo com muitos beijos e abraços. Ela pediu que ele colocasse o colar em seu pescoço. Enquanto ele ajustava o colar, ela disse a Vick, sorrindo:
— Como não amar esse homem incrível?
Vick observava a cena de fora, analisando a situação. Ela tinha a impressão de que, apesar de Will amar Lívia, ele a comprava com presentes. Por mais incrível e maravilhoso que ele fosse, ele sabia que, em sua condição de vida, podia dar tudo à mulher que estivesse ao seu lado e, assim, mantê-la com ele.
Lívia realmente era uma menina com um homem rico, sedutor, lindo e com anos de experiência de vida à sua frente, refletiu ela.
— Posso estar enganada, mas foi a impressão que tive ao vê-los juntos — pensou Vick consigo mesma.
— Espero que minha amiga consiga ter certeza de seus sentimentos por ambos, Brandon e William, e que ela não sofra por sua escolha — refletiu mais uma vez.
— Meu amor, ficou lindo! Obrigada! — disse Lívia, passando os dedos no colar enquanto via seu reflexo no enorme espelho da sala.
— Quando será a noite de vocês, Vick?
— Amanhã, Will.
— Confirmado. Vocês terão a noite das meninas — disse ele, sorrindo.
Logo após o almoço, Vick saiu e foi para o trabalho. No caminho, seu celular tocou e ela atendeu. Era o jovem Brandon do outro lado da linha, ansioso para saber de Lívia.
— Sim, ela está mexida por você e está confusa, até chorou contando-me. Não sei se é uma boa ideia promover esse encontro de vocês dois lá em casa. Will vai levá-la e buscá-la. Estou com medo por Liv, ela não merece sofrer por amor novamente.
— Do jeito que você fala, parece que vou magoá-la — respondeu Brandon do outro lado da linha, franzindo o cenho.
— Não sei. Só espero que você segure sua onda, Brandon.
— Eu só quero poder estar com ela pela última vez antes de ir para a Espanha. Não posso voltar à casa de Will e não quero vê-la no aeroporto sofrendo como da última vez, só isso!
Na noite do jantar das meninas, Will entrou no quarto e viu Lívia se arrumando. Ele disse que ela estava linda com aquele vestido. Ela vestia um vestido curto branco, soltinho no corpo, com mangas curtas e babados, e recortes vazados nos ombros. Usava brincos de ouro branco com pedras, que Will havia lhe dado antes do acidente, e o colar de coração que ganhou no dia anterior.
— Eu adoro vê-la assim, cheia de vida e feliz. Depois de tudo que passamos nos últimos meses, é maravilhoso poder estar diante de você e ver que a cada dia você se recupera mais.
— Verdade, meu amor. Às vezes eu me pergunto: como consegui sobreviver ao acidente? O que me incomoda é esse gesso e essas hastes. Espero ansiosa por poder tirar isso da minha perna!
— Logo, logo esse dia vai chegar. Os piores já se passaram.
— Verdade, amor — respondeu ela, ao abraçá-lo.
Chegando em frente ao prédio de Vick, Lívia saiu do carro com a ajuda de Will. Ela interfonou para o apartamento da amiga e Vick desceu para ajudá-la a entrar.
— Boa noite, Vick! — disse ele ao cumprimentá-la.
— Boa noite! Desculpe, Will, por não te convidar a entrar, mas... — ele a interrompeu, — tudo bem, hoje à noite é das meninas. A hora que você quiser que eu a busque, você me liga no celular.
— Está bem, meu amor. Até mais! — respondeu ela, dando-lhe um suave beijo nos lábios.
— Divirtam-se, meninas! — respondeu Will, entrando no BMW.
Elas subiram no elevador. Brandon e Mikael já estavam no apartamento esperando-as. Mikael abriu a porta e cumprimentou Lívia com um forte abraço e um beijo no rosto. Ela entrou e Brandon veio ao seu encontro com duas taças de vinho nas mãos. Olhando-a, ele deixou as taças na mesinha de centro em frente ao sofá e, abrindo os braços, caminhou até ela para abraçá-la.
Eles deram um demorado abraço, o tipo de abraço cheio de sentimentos e vontades. Os dois corações batiam tão acelerados e descompassados que o próprio corpo dava sinal do que estava sentindo. Lívia tremia ao tocar Brandon e sentia tremer por ser tocada por ele, algo até então comum entre os dois. Porém, agora, com sensações novas experimentadas por ela. Brandon se afastou, ainda que abraçado nela, e disse:
— Você está linda! — Beijando-a no rosto e puxando-a contra seus braços novamente.
— Que saudade, Brandon! — respondeu ela.
— Eu também estava com saudades de você, minha maluquinha. É bom ter você aqui. Venha, vamos sentar e bebericar um vinho.
O jantar estava sendo preparado por Mikael e Vick, que estavam cozinhando um assado no forno. Enquanto a carne assava, eles aproveitaram para conversar com os amigos na sala. Brandon sentou ao lado de Lívia e segurou sua mão, fazendo um carinho. Mikael e Vick foram até a cozinha ver o jantar, deixando-os sozinhos.
— Você está bem, maluquinha? — perguntou Brandon com aqueles lindos olhos azuis brilhantes.
— Estou sim — assentiu ela. — E você, como está? Quero lhe pedir desculpas por aquele dia. William não deveria ter chegado daquele jeito!
— Depois que saí,William não a interrogou muito?
— Não tinha o que interrogar. Bem, ele até tentou, porém, eu mostrei a ele que não havia nada.
Brandon aproximou-se dela, puxando-a para perto de si, e olhando em seus olhos, disse sério:
— Me diz que você não sente nada com isso?
— Brand, por favor! — disse ela, tentando empurrá-lo.
Vendo o que estava se passando na sala, Mikael não deixou Vick seguir adiante e segurou-a pela mão. Os dois ficaram quietos ali, só observando.
— O que houve, minha maluquinha? — ele a apertou mais contra si.
— Eu estou confusa e espero que você me entenda — ela tentou detê-lo, pondo as duas mãos sobre seu peito largo e forte.
— Entendo, é claro. E acredito que precisamos conversar sobre isso, de preferência antes de eu ir para a Espanha.
Brandon, neste momento, olhou no fundo de seus olhos e a beijou nos lábios. Lívia tentou fugir ou afastá-lo, mas não conseguiu, pois Brandon não a deixou escapar, apertando-a firme em seus braços. Ela então acabou cedendo e entregando-se ao momento. Ela o beijou com tanto ardor e paixão que sentiu seu corpo arder. Segundos depois, ela voltou a si, nervosa, e disse a ele que não podia fazer isso com Will.
— Você não pode fazer o quê? — perguntou ele, ansioso.
— Não posso traí-lo. Eu devo muito a ele! — exclamou ela, tentando conter as lágrimas.
— Você quase morreu por culpa dele! Você perdeu seu filho por culpa dele! — disse inconformado.
— Não repita isso! Ele não teve culpa nenhuma. Eu preciso ir embora! — disse ela, atordoada, levantando-se do sofá.
— Você não vai a lugar nenhum antes de me escutar — Brandon falou, segurando-a pelo braço. — Você se sentiu atraída por mim. Você já falou sobre isso antes do seu acidente em suas mensagens. Você não lembra? Eu não posso acreditar! Você não vai nos dar a chance de conversarmos a respeito?
— Brand, por favor! Eu realmente estou muito confusa. Eu preciso de um tempo para poder pensar com mais clareza nos meus sentimentos.
— Você não gostou do nosso beijo? — insistiu ele, puxando o seu corpo para junto do dele.
— Sim — gritou. — Confesso que desejei por ele desde nosso último encontro. Mas não está certo com Will! Não posso! Entenda.
Já com o telefone nas mãos, ela pediu para Will ir buscá-la, pois já havia terminado a sua noite.
— Não vá, fique — disse Brandon, arrependido.
— Não posso. Estou me sentindo péssima!
— Lívia, você não vai para casa agora! Se acalme. Will vai notar seu nervosismo — intrometeu-se Victoria.
— Estou bem, Vick.
— Poxa, Brandon! Eu disse pra você segurar sua onda. Olhe como ela está!
— Vamos conversar, Liv. Não vá agora! Não quero que você saia assim e fique esse mal-entendido entre nós. Por favor, perdoe meu atrevimento em ter avançado o sinal!
— Não existe nada mal-entendido entre nós dois, Brand. Eu só preciso de um tempo. Mesmo que você vá embora para a Espanha, na hora certa vamos conversar novamente. Eu prometo! E não me peça perdão pelo beijo, porque eu gostei.
Ela despediu-se e saiu pela porta. Brandon foi atrás dela, mas por sorte Mikael o segurou pelo braço, dizendo:
— Você está louco?! Will deve estar na frente esperando por ela. Imagina se ele ver você, o que pode resultar? Deixe ela ir! Dê-lhe espaço e o tempo que ela pediu.
— Eu fui burro, Mikael! Estúpido! Não poderia ter feito isso com ela.
— Vocês dois deixaram-se levar pela emoção. Não existe culpado ou errado — respondeu Mikael, sensato.
— Eu a conheço, ela vai ficar mal por dias, sentindo-se como se tivesse cometido algum crime.
— Mesmo assim, deixe ela ir agora. Você tenta falar com ela outra hora. Veja pelo lado bom, ela sente algo por você e sabe disso. Agora deixe ela pensar e tomar a decisão certa sem pressioná-la!
***
Enquanto isso, na portaria, Victoria fala com Lívia.
— Fique calma e se controle para não chorar, pois a qualquer momento, Will vai chegar.
— Eu não sei o que fazer, Vick! Me sinto mal pelo que aconteceu no seu apartamento e, ao mesmo tempo, queria estar com Brandon, sentindo-o perto de mim. Sou leviana! Uma traidora!
— Não, Liv. Você não é traidora. Só agiu pela emoção, não foi nada premeditado e Brandon insistiu de certa forma. Mas agora, fique tranquila! Olha o carro do Will chegando.
Elas saem para fora do condomínio e vão em direção a ele.
— Minha menina, o que houve? — Lívia chora ao abraçá-lo.
— Vocês duas brigaram? — perguntou Will, tentando entender.
— Não, Will, ela não se sentiu bem. Acho que ainda não estava preparada para ficar longe de você. Vou deixá-los, irei subir!
— Tudo bem, Vicky. Até logo!
— Até mais, Will.
— Venha, meu amor — ele passa o braço em torno dela, abraçando-a. — Entre no carro, no caminho conversamos.
— Não quero conversar, Will. Quero ficar junto de você e ir para casa.
— Okay. Tudo bem.
Chegando em casa, Will pergunta a ela o que houve na casa de Vick. Ela estava tão feliz antes de sair para visitá-la, mas de repente veio calada o trajeto inteiro. E por que aquele choro em frente ao prédio de Vick?
— Eu me senti sozinha, Will. Senti medo! Por mais que estivesse em companhia de Vick e em sua casa. Eu senti medo, pois as lembranças de Jenny vieram e invadiram minha mente. Senti medo dela entrar no apartamento de Vick e fazer mal a nós duas.
Ela jamais poderia dizer a real razão de seu choro a ele. Nunca poderia dizer-lhe que o motivo de suas lágrimas era Brandon, ou melhor, a falta dele. O quanto ela sentia sua falta e o quanto queria estar ao seu lado, tocando-o, beijando-o...
— Oh, minha menina! Aquela mulher nunca mais chegará perto de você. Eu te prometo isso! Não fique assim.
***
Dias se passaram, até que chegou o dia de Lívia ir ao seu ortopedista, o Dr. Charles, para saber se poderia tirar o fixador que estava em sua perna direita.
— Não acredito, doutor! Quer dizer que voltarei hoje para casa sem isso?
— Sim, Lívia, você está livre! Mas terá que fazer fisioterapia por algum tempo, até seus movimentos voltarem ao normal. No início, ficará mancando, mas isso se resolverá rapidamente com a fisioterapia.
— Eu poderia ficar manca, doutor, desde que me visse livre disso tudo! Agora poderei voltar a viver novamente!
Na semana seguinte, Brandon liga para Lívia, despedindo-se. Naquela tarde, ele está partindo novamente para a Espanha.
— Eu sinto muito pelas coisas entre nós estarem estranhas desde o jantar na Vick, mas não me arrependo de ter a beijado.
— Eu lamento por estarmos separados de tal forma, em não poder ir até você e despedir-me. Pensei tanto em ligar para você e lhe contar que tirei o gesso e agora estou fazendo fisioterapia.
— Fico feliz por você, maluquinha!
— Brand, eu gostaria que tudo fosse diferente. Sentirei muito sua falta!
— Eu também sentirei, minha maluquinha. Vou estar pensando em você. E quero deixar algo claro em nossa conversa. Eu vou dar o tempo que você me pediu. Assim que pudermos conversar sobre isso, me ligue ou, melhor, vá até a Espanha e fique comigo para sempre.
Chorando muito do outro lado da linha, Lívia diz que tudo bem. Eles se despedem, e Lívia se vê em um dos momentos mais delicados de sua vida, avaliando seu sentimento por dois homens incríveis, que foram e são muito importantes para ela.
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Atualizado até capítulo 26
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