CAPÍTULO 8

“Seu marido não é o homem perfeito quanto você imagina!"

Era só o que me faltava para estragar o meu dia. Encontrar mais um bilhete com tom de ameaças. Já não basta o inferno que está a minha vida, suspeitando do meu marido, se eu tinha dúvidas em relação a ele, agora vem esses bilhetes para atormentar ainda mais a minha vida. Não basta os meus pesadelos, que eu tenho? Não basta eu ter perdido a minha memória? Minhas suspeitas do meu marido, e sem saber se ele é ou não a pessoa perfeita que em alguns momentos vêm uma vaga lembrança de que ele era um cavaleiro. E outras vezes se parece igual o Vanderlei. Quem é esse Vanderlei? Será que ele existiu mesmo? Como vou saber e por onde começar a encontrar? Se é que ele existe mesmo se não é invenção do Alexandre para encobrir as sujeiras dele mesmo?

Se ele for esse traficante e Vanderlei é um dos concorrentes? Nada faz sentido as minhas suspeitas. Não adianta eu ficar aqui me torturando tentando encontrar respostas. Não adianta eu olhar para as paredes para ver se cai alguma coisa na minha cabeça e eu acorde para a realidade, e quem sabe descubro quem eu sou. A pergunta é! Por onde começar?

Meu Deus, que angústia que eu sinto no peito sem saber quem eu sou. Será que estou enlouquecendo? Essa noite sonhei que estava presa num hospício gritando desesperadamente tentando encontrar uma saída. Até quando vou suportar essa dor que carrego na minha alma em frangalhos. O desespero toma conta de mim todos os dias. E cada dia que passa um novo capítulo surge na minha vida.

E nada é claro na minha mente. Me sinto uma estranha nessa enorme mansão de luxo. Eu poderia ser uma mulher feliz com um marido que cuida de mim que me trata bem, tenho todas as mordomias possíveis, mas parece que está faltando alguma coisa. Não sei o que é, sinto um vazio no peito com uma vontade de chorar e gritar, e pedir socorro porque me sinto presa.

Todos ficam me vigiando.Tenho a impressão que meu marido controla todos os meus passos aonde eu vou. Sinto- me vigiada pelos empregados e as sombras da noite que me atormenta. Ninguém faz ideia do drama que eu vivo, é claro, que, se eu falar para alguém, vão me chamar de louca, mas não sou!

Eu só quero paz e liberdade. Preciso descobrir a minha verdadeira identidade. Antes que eu enlouqueça de vez. Mais um dia na minha vida tediosa sem esperança de que possa mudar alguma coisa, é o estresse de sempre, as pessoas me olhando com cara estranha me julgando, só falta-me dizer que sou uma louca varrida.

E o pior disso tudo é que não consigo confiar em mais ninguém! Sinto-me perseguida por todos, e as pessoas à minha volta, são empregados. E do meu próprio marido. E sem contar das minhas lembranças do passado, e dos pesadelos que tenho às noites, desconfiar da minha própria sombra já virou um hábito do dia a dia, sem saber o que fazer da minha vida.

Essa noite tive mais um daqueles terríveis pesadelos como sempre. Tão real que me acordei assustada e meu corpo estava suado, senti calafrios só de pensar no sonho que eu tive. A maioria das pessoas quando sonha esquece. Não é meu caso que lembro de tudo a cada detalhe: dos pesadelos que eu tenho, e as imagens ficam nítidas e gravadas o dia inteiro para a minha tortura. Sonhei que estava sendo perseguida por homens estranhos todos encapuzados. E pior dentro daquela maldita floresta que me persegue todas as noites, e sempre lá que as coisas acontecem que me deixa mais aflita.

Para piorar não sei em quem recorrer para pedir ajuda que eu possa sair dessa enrascada, sem ao menos saber do que se trata. Perguntar para meu marido nem pensar porque sei que ele vai me negar esse favor de me levar até essa floresta. Ou esclarecer a respeito do que sabe. Não quero mais fazer perguntas se não consigo confiar nele, tenho a sensação de que ele esconde alguma coisa de mim.

Vou ter que arriscar sair sozinha ou pedir ajuda de alguém aqui da minha casa, mas em quem vou confiar? Até agora não sei se meus empregados são dignos da minha confiança. E se for algum deles que fica me escrevendo aqueles bilhetes anônimos sem eu saber? E se tiver algum espião que trabalhe aqui em casa me vigiando? Não posso comentar para Alexandre.

Não sei do que ele é capaz! Como ia reagir? Estou num beco sem saída, sem saber em quem confiar. Cada dia que passa mais angustiada fico. Desconfiando de tudo e de todos. Duvido até de mim mesma. Às vezes me acho uma louca vendo coisas! Sim porque levando a sério esses sonhos que tenho todas as noites sempre com a mesma floresta e as mesmas coisas, fica difícil assim. Uma hora dessas vou dar um jeito de fugir de casa e sair por esse mundo afora e tentar descobrir o que aconteceu de fato com a minha vida no passado.

A questão é: onde começar, sem nem dirigir um carro eu sei. Eu preciso desesperadamente de ajuda de alguém! Nem sei se tenho amigos, ou família. E pelo que Alexandre me contou, sai de casa com treze anos e nunca mais voltei, e segundo ele sai mundo afora. Eu era uma viciada em droga. Depois fui a São Paulo e lá me tornei uma prostituta e casei com um gângster maldoso, e perigoso, que tomou minhas filhas que eu tive.

Isso na versão de Alexandre, mas parece suspeito sem eu saber se ele é ou não confiável, tenho medo dele! Mesmo me tratando bem. Sem memória não sei nada. Do que adianta enxergar bem, ouvir ser bonita, mas se perdi a memória, e não sei quem eu sou. Será que estou tomando alguma droga, ou medicamento que faça esquecer o que aconteceu na minha vida? Será que sou uma prisioneira sem saber de nada, ou alguma testemunha de algum crime que Alexandre cometeu e ele não queira que eu saiba?

Meu Deus do céu é muita coisa para minha cabeça sem saber quem eu sou, e quem eu fui no passado. Volta e meia ele bate na minha porta querendo-me dizer algo. E além dos bilhetes anónimo parece uma tortura. Mais complicado do que aqueles pesadelos que tenho às noites.

Até quando vou suportar essa angústia? Preciso correr o risco, e fugir nem que seja a pé e seja lá o que Deus quiser. Amanhã mesmo vou sair dessa casa e resolver de uma vez por toda essa situação porque do jeito que está não dá para ficar, e minha vida que está em jogo.

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