CAPÍTULO 4

Ele costumava me levar nas festas, era mais para satisfazer seu ego e vaidade do que propriamente amor como eu pensava que fosse. O tempo foi passando e ele começou a me trair e brigas constantes aconteceram entre nós dois. E para complicar engravidei de duas lindas meninas gêmeas. Que nasceram saudáveis com pele branca (cabelos) lisos e castanhos claros mais para loiro do que para castanho. Era a minha razão de viver. Uma se chamava Clara e outra Clarissa. Vanderlei mudou completamente, não dava mais atenção a mim e nem às nossas lindas filhas.

Eu ficava em casa sozinha cuidando delas. Enquanto ele saia com as outras mulheres e chegava em casa de madrugada fedendo a bebida e perfume barato de mulheres baratas que ele arrumava. Ele tinha dinheiro com as vendas de drogas e armas pesadas. Na verdade, era o mais rico da favela. Bom, a minha vida ficou assim, vivia somente para as minhas filhas, que foram crescendo e se tornando lindas para meu orgulho. Já Vanderlei não gostava delas, não dava atenção merecida a elas.

Era um pai ausente. E pelo que ele está me relatando eu apanhava muito dele quando chegava em casa de madrugada, muitas vezes fui estuprada por ele. Com aquele bafo de todos os tipos de bebidas que bebia, e bafo de cigarro e perfumes vagabundos.

E me forçava a fazer sexo sem eu ter vontade transar com ele. Com ele eu não tinha que não querer, eu dependia dele para tudo. Embriagada pela paixão doentia por Vanderlei e o vício nas drogas. Não aprendi a fazer nada na vida.

A única coisa que eu fiz foi aprender a vender drogas com ele na juventude. E mais tarde me tornei uma garota de programa e foi nestes programas que conheci Alexandre. Ele era um cliente especial que não se conformava com a vida que eu levava. Me fez proposta de casamento para que eu largasse daquela vida miserável que eu vivia.

Até uma clínica de recuperação para drogados ele ofereceu a me pagar se eu largasse da prostituição e das drogas. Naquela época eu não tinha cabeça para pensar na oportunidade que a vida estava me dando naquele momento. Alexandre estava disposto a me dar uma vida nova, mas nem sabia que ele podia me amar tanto a ponto de arriscar tudo por mim. Afinal ele era um dos clientes mais bonitos que eu transei na minha vida de garota de programa, mas naquele momento só pensava em mim, e mais ninguém.

Sexo era para comprar drogas, e homens para mim era todos iguais, não via diferença. O único que me fazia sentir-me mulher de fato era Vanderlei e mais ninguém. Não sei por que eu amava tanto aquele homem que era uma perdição da minha vida. Que me levou à ruína. Eu respirava ele.

Estava na minha vida como uma pedra em meu caminho, que me atrapalhava todos os meus sonhos, não sei o que é pior? Ser viciado em drogas ou numa pessoa igual a ele, não vejo outra explicação! Não me venham dizer que é amor porque não é.

Para se livrar das drogas depende de nós mesmos. Ou uma clínica de recuperação, já ser viciada em pessoas, é mais difícil, é mais complexo. Então Alexandre estava disposto a me tirar daquela situação.

Eu não acreditei muito nas boas intenções dele! O que um homem bem-sucedido e rico ia querer com uma garota de programa? Perguntei a ele naquela época, se ele era casado? Eu não tinha nada a ver com isso, mas achava errado um homem trair suas esposas com prostitutas. O que foi? Eu era sim prostituta não tenho vergonha de dizer que eu fui, e nem orgulho se quer saber mesmo! Hoje eu não faria o que eu fiz.

Tem coisas na vida que as escolhas são feitas de forma desenfreada. É fácil as pessoas julgarem o que fizemos, a primeira coisa que fazem é atirar a primeira pedra, invés de querer entender o que leva um ser humano a fazer coisas abomináveis como foi o meu caso. Foi escolha minha foi sim.

E daí? Não se trata de ser errado ou pecado. Eu me lembro bem quando uma mulher adúltera foi pega em ato de adultério, e foi levada para Jesus julgar, o que ninguém sabe a verdadeira razão porque os sacerdotes do templo fizeram isso, não foi por piedade do homem traído, e sim por puro interesse, queriam que Jesus infringir a lei de Moisés. Assim eles poderiam condenar a morte.

Mas como Jesus conhecia bem as raposas velhas corriqueiras que existem até hoje, já sabia das astúcias demoníacas deles, escreveu em silêncio. E, em voz alta, disse: “se alguém aqui não tiver pecado algum que atire a primeira pedra”, ninguém julgou porque todos sabiam que tinham pecado, embora hoje isso não funcione, mas todos se julgam acima do bem e do mal com direito a julgar por qualquer motivo.

Talvez seja isso que o mundo está do jeito que está. Mas não estou me justificando, apenas estou colocando meu ponto de vista como foi a minha vida. Hoje estou ciente dos meus erros e estou sendo perseguida pelo meu passado. E aceito ser condenada pela minha própria consciência. Sei bem que todos são condenados pela vida e pela consciência, e não adianta fugir, cedo ou tarde a vida vem e cobra sem dó e sem piedade.

Resumindo a mim do que eu estava falando, embora (sendo) uma prostituta drogada. Sim porque eu tinha que me drogar para ter coragem de enfrentar aquela vida miserável que eu levava pelas circunstâncias do destino. Se as pessoas soubessem o quanto é miserável e triste, a vida de uma prostituta não estaria julgando de maneira tão perversa e cruel no julgamento. Cada um paga pelos seus pecados e pelos seus erros, mas há mulheres que cometem pecados ainda bem maiores que as prostitutas.

Essa é a mais dura realidade. E nessa amarga experiência que eu tive pude ver que os homens que frequentavam o prostíbulo onde eu trabalhava eram mais miseráveis do que as próprias prostitutas. Alexandre era um deles que me contou que era casado e foi fiel e leal a sua esposa, segundo ele nunca deixou faltar nada para ela, que era vaidosa e se preocupava sempre com a aparência do que os sentimentos dele.

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