Naquela época eu dava pouca importância a isso. Porque estava no auge do egoísmo, que o mundo girava em torno do meu umbigo. Era apenas uma oportunista querendo se dar bem na vida, só isso. Não tenho orgulho de dizer isso. Também não sou hipócrita a ponto de me sentir vítima da situação e nem quero justificar o que fiz no meu passado. Fiz e está feito. Não adianta chorar pelo leite derramado, é coisa do passado.
Passado esse que quero esquecer! De que jeito? Se ele me persegue? Não tenho paz e nem sossego. Se não bastasse, hoje encontrei mais um bilhete anônimo ameaçador.
“Parece que você se deu bem na vida, sua piranha?”.
Estou num beco sem saída. Recebo esses bilhetes anônimos sem saber quem está fazendo isso, para me atormentar ainda mais a minha vida.
Mas como eu estava dizendo: Lembrando aquela noite quando Alexandre passou a noite comigo ele desabafou. Sim porque apesar de ser uma prostituta, havia uma luz que brilhava dentro de mim.
Eu não era tão má quanto eu imaginava que fosse. Afinal, uma prostituta drogada que se envolve com traficante, namorada de um chefão do tráfico pode ser na vida? Era assim que eu me sentia.
Mesmo sendo assim, tinha pena do Alexandre. Embora não confiasse em homem algum. Porque conheci muitos! Um diferente do outro, uns mais fortes, outros carentes de sexo, e viciados, outros tímidos e alguns metidos a valentão.
Quer saber, esses metidos a valentões eram tão inseguros quanto os tímidos, na verdade, eles faziam para demonstrar suas inseguranças. Muitos homens se escondem por trás das aparências, das atitudes de demonstrar poder. É apenas uma máscara da hipocrisia. O medo de mostrar suas fraquezas como todo homem tem.
Uma delas é o orgulho. Alexandre era diferente de todos que eu conheci, era delicado, sensível, romântico e sonhador. Azarado nas escolhas dele. Primeiro se apaixonou por uma oportunista que deu o golpe de baú nele.
Pelo que me contou era uma patricinha mimada e interesseira. Que só estava interessada no dinheiro dele! Até ser traído por ela. Contava-me essas coisas na cama, nunca me interessei pelas histórias dele. Hoje pensando bem, ele era mais miserável do que eu. Sim porque ele tinha tudo e não era feliz. Já eu não quero falar mais a respeito disso.
É cansativo ficar aqui me justificando, preciso virar o disco e ir direto ao assunto. Alexandre sempre que ele estava triste me procurava. E olha que nem sempre queria sexo, me pagava bem para ser uma psicóloga; ou uma psiquiatra.
Eu ficava de pernas cruzadas na cama e escutava as lamúrias dele. Porque para mim era bem melhor ficar ouvindo chorar do que ficar dormindo com homens sujos, fedorentos fedendo a asa e chulé, e entre outras coisas, como dizem por aí.
Fazia três até quatro programas numa noite. Alexandre pagava em dobro do que eu ganharia numa noite. Antes disso, ele era bem conhecido da minha cafetina naquela época! Ela escolhia sempre as melhores prostitutas. Porque era um cliente especial e frequentava há muito tempo. Pensando bem hoje acho que Alexandre não era tão perfeito quanto eu imaginava. Devido às circunstâncias que eu vivia talvez seja isso.
Afinal ele foi um verdadeiro cavaleiro comigo, hoje já nem sei! Por que em minha opinião, homem que presta não trai suas esposas com garotas de programa, ou com qualquer outra mulher. Às vezes me pergunto: será que ele ainda não anda frequentando os prostíbulos? Eu não acredito muito que os homens mudam! Quem nasce torto morre torto e ponto final?
Mas voltando ao assunto! Alexandre foi muito importante na minha vida. Naquela altura dos acontecimentos eu não era ninguém. Talvez seja essa a razão dele ser especial para mim, o único que gostava de ouvir e ser ouvido. Eu era mãe, irmã, e psiquiatra dele quando ele se sentia deprimido.
Não era só sexo que ele queria comigo, sabia me valorizar como pessoa, e como mulher, nunca me senti tão amada como estava sendo com ele. Depois que fui morar com Vanderlei não vi mais. Pelo menos por um bom tempo não soube dele. E ele não sabia que eu tinha ido morar com outro homem, não sei se me procurou.
A minha vida ao lado de Vanderlei estava um verdadeiro inferno. Era traída mal tratada, e a única coisa que valia a pena era as minhas duas filhas que foram crescendo, eram infelizes com a falta de carinho e de atenção do pai que se preocupava mais com os negócios do que com a família, e isso me deixava triste.
Parecia um castigo por eu ter abandonado meus pais sem dar notícias a eles. E até hoje nem sei se eles estão vivos ou mortos, e tudo pelo meu egoísmo. Até que um dia cansei de tudo e resolvi sair de casa dele e fui morar com uma amiga que fiz amizade ainda quando era garota de programa. Ela se chamava Clotilde, a única amiga que eu podia confiar. Ainda bem que Vanderlei não sabia o lugar em que ela morava. Ela se casou com um homem bem sucedido americano que veio numa conferência no Brasil e resolveu sair pela cidade e se apaixonou por ela.
E tempos depois pediu ela em casamento, parece que os dois estão felizes. Eu fiquei feliz por ela, porque era tão sonhadora e romântica. Na verdade, toda a mulher é romântica e sonhadora, até mesmo aquelas que demonstram frieza. Fiquei com as minhas filhas morando com ela por uns tempos.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Fatima Gonçalves
eita que história é essa
2025-03-23
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