CAPÍTULO 3

Nada podia ser pior na minha vida, quando algo estranho está acontecendo. Saí um pouco para tomar um banho de sol na varanda da casa quando minha empregada me entregou um bilhete anônimo. E nesse bilhete algo me aterrorizou que dizia as seguintes frases.

“Nada é o que parece ser, a sua vida é uma mentira, seus sonhos de Cinderela vão acabar. Assina seu amigo de todas as horas”.

Tentei me acalmar. E olhei para todos os lados tentando ver se enxergava alguém; perguntei a Fátima, minha empregada, quem foi que entregou? Para meu desespero ela me disse: que encontrou em cima da minha cama, mas como poderia estar no meu quarto?

O que esse bilhete está querendo dizer? Quem está por trás disso tudo? Será um dos meus empregados que me olha com ar de piedade? Parece que sentem pena de mim. E se estava ruim agora com esse bilhete minha vida está um caos. Ele me conhece bem, e muito bem, pelo jeito. A pergunta é, quem? Não posso fazer interrogatório aos meus empregados, o que eles vão pensar de mim?

Vão negar com certeza! Além do mais, vão me chamar de louca. E se meu marido ouvir isso, com certeza vai me internar de vez. Se não bastasse o problema da minha amnésia cerebral, agora mais esse problema de bilhetes anônimo para aumentar ainda mais o meu desespero e minha angústia.

A pessoa que me mandou esse bilhete sabe muito sobre mim, e sobre meu passado, e quem será essa pessoa? Um chantagista barato querendo me pressionar a troco do que? E se ele começar a me chantagear? Para extorquir dinheiro do meu marido?

Não consigo parar de pensar. É tantas coisas acontecendo nesses últimos dias que minha cabeça está um turbilhão de pensamentos negativos que estão me levando à loucura. Preciso fazer alguma coisa mais o que? Por onde começar se nem sei nada de mim mesma. A única coisa que eu lembro é dos sonhos constantes que eu tenho. Essa noite eu tive mais um daqueles terríveis pesadelos, e mais uma vez envolveu aquele homem que sempre aparece em meus sonhos.

Eu estava presa numa cabana abandonada algemada sobre uma cadeira. A sensação que eu tinha era que eu estava sendo sequestrada sem forças para reagir ou fugir daquele lugar. Me sentia sozinha, abandonada num lugar distante sem ninguém por perto para me socorrer. Quanto mais eu tentava me acordar daquele pesadelo, mais eu sofria desesperada no meio do nada sem ninguém por perto para me salvar. E quando eu acordava meu marido me abraçava carinhosamente.

— Fique calma querida, você teve mais um daqueles terríveis pesadelos, mas estou aqui para te proteger; e não vou deixar que nada de mal te aconteça. Comigo, você está segura!

— Segura do que Alexandre? Porque você não me fala de uma vez o que está acontecendo comigo, ou aconteceu alguma coisa de muito grave? — Meu marido me soltou e virou o rosto querendo fugir das minhas perguntas, ou me poupar de alguma coisa, e isso está me deixando mais angustiada; ainda vou explodir de raiva e acabo descontando nele. Que nem sei se é culpado ou inocente no que está acontecendo.

Não sei ao certo se amo ele ou não. É alguém que não está gostando disso, o fato de eu estar morando num verdadeiro palácio de contos de fadas, não sei se fui pobre um dia. E dei o golpe do baú.Tudo é uma incerteza, as suspeitas do meu marido pelos telefonemas misteriosos que ele costuma dar em seu expediente. E o fato dele ficar nervoso querendo me esconder a qualquer custo sobre meu passado.

Eu acho que eu tenho direito de saber o que aconteceu comigo. Seja o que for quero que me conte, e aquele homem dos meus sonhos tem horas que estou sendo amada por ele tendo sexo. Outra hora ele me mantém presa num cativeiro. Será que foi meu amante ou marido no passado? Da qual meu marido faz questão de me esconder?

Quando finalmente meu marido me olhou em meus olhos me encarando firme ficando sério, e aquele silêncio dele me deixou ainda mais nervosa sem saber qual seria o próximo passo? Eu vi algo assustador em seus olhos demonstrando certa angústia da parte dele. Como se ele estivesse sentindo uma dor profunda na alma. É aterrorizante ver o medo estampado no olhar, mas eu estava disposta a enfrentar a verdade doa a quem doer, não ia desistir fácil. Queria saber. Então meu marido me olhou e me perguntou:

— Você tem certeza que está preparada para ouvir o que tenho a dizer a respeito de tudo?

— Estou, seja lá o que for, enfrento tudo se for preciso.

— Está bem, vou falar até porque também não aguento mais essa situação. Também tenho pesadelos só de pensar se alguma coisa acontecer com você. Minha vida não é nada sem você minha querida, eu te amo mais que tudo nessa vida, e juro que eu faria tudo de novo caso fosse necessário.

— Alexandre, você está me deixando angustiada, me fala de uma vez.

— Está bem, vou te falar.

— Então finalmente meu marido começou a falar como e quando, e onde, a gente se conheceu e de que forma me conheceu. No fundo eu sabia que vinham coisas pesadas. Eu estava preparada para o pior, mas tinha que arriscar, do jeito que estava pior não ia ficar. Precisava saber da verdade. Mesmo que fosse dolorida. Eu sabia que algo de muito podre havia por trás disso tudo, mas tinha que ir até o fim.

Eu prestei bem atenção no que meu marido falava. Mesmo desconfiando dele sem saber o motivo, será que ele estava sendo sincero no que estava falando? Pelo menos na versão dele, até aí tudo bem, era a versão dele, mas que nada ia me convencer sendo ele inocente ou não das minhas suspeitas!

Acho que cada pessoa sensata ia pensar e agir como eu estava agindo naquelas circunstâncias que estava a minha vida. Sem visão para nada, sem passado, e sem futuro. O presente era apenas incertezas, e inseguranças sem saber para que lado seguir. A minha vida estava igual a um livro em branco. Eu precisava achar o livro da minha vida. Escrever as páginas que faltavam, saber quem eu fui no passado.

Porque pessoas sem passado não tem futuro e isso era mais que óbvio. Então, meu marido me chamou para seu escritório e me pediu que eu me sentasse. E não interrompesse quando estivesse me contando os detalhes da minha vida de quem eu fui.

Na medida em que meu marido foi contando a minha vida do passado, as coisas foram ficando bem claras na minha mente.

Senti o quanto ele estava emocionado quando me falou de como tudo aconteceu desde a primeira vez que nos conhecemos. Também foi difícil para ele expressar o que ele sentia. Lágrimas desciam dos olhos dele, só não sabia se era verdadeira as lágrimas, ou eram lágrimas de crocodilo? Não é para menos das devidas circunstâncias que ele me conheceu.

Segundo meu marido, eu conheci um cara barra pesada quando eu tinha 14 anos. Ele se chamava Vanderlei. Chefe de uma gangue que mandava no bairro onde eu morava. Foi uma paixão de adolescência que toda jovem tem. Eu era muito apaixonada por ele, fazia tudo o que ele me pedia, que era vender drogas nas esquinas.

E quando a polícia descobriu ele fugiu para a cidade de São Paulo. E foi que a minha vida virou um inferno. Apaixonada por ele, e sem ele eu não sabia o que fazer da minha vida! Duas coisas na vida que eu não era capaz de viver sem. Uma era ele, e outra, as drogas. Usava cocaína, fumava maconha, e tive várias convulsões por causa disso.

E por eu ser dependente química eu fugi de casa. Não avisei meus pais para onde eu ia, peguei só a roupa do corpo. E comprei passagem para cidade de São Paulo sem rumo, sem saber o que o destino me reservava! Enfim, fui atrás daquele homem que era a minha perdição. Fiz coisas que só Deus sabe. Quando cheguei à grande São Paulo fui me hospedar num hotel barato.

Era o que eu podia pagar. Sem saber onde ele morava sem dinheiro algum, precisava arranjar um emprego, do que eu ia viver? Não tinha experiência na vida. Nunca trabalhei em nada. Viciada eu precisava urgente uma pedra para fumar antes que eu ficasse louca, entrei na prostituição para ganhar dinheiro para pagar as diárias do hotel e sustentar meu vício, é claro. Eu era bonita na época boca carnuda, lindo corpo para fazer parar o trânsito.

E não foi difícil conseguir clientes num bordel barato de São Paulo. Mas não tinha outra coisa naquela época para fazer, a não ser me prostituir. Nessas de me prostituir encontrei Vanderlei! E aí meu verdadeiro inferno começou. Ele me envolveu novamente. Apaixonada do jeito que eu era, fazia tudo por ele. Até assaltar bancos para ter dinheiro e comprar drogas.

Fui morar com ele e segui os passos pelo mundo do crime comprando e vendendo drogas para aquelas regiões das favelas. Vanderlei ficou rico tornando-se chefão do tráfico. Era ele quem mandava. E ninguém entrava ou saia sem a permissão dele.

E começou a comprar policiais corruptos, e tinha até juiz na folha de pagamento: advogados. E para piorar ele era amigo pessoal de um político poderoso que foi até um ex-presidente da república que indicou um ministro ao STF que, graças a ele, fez se tornar muito poderoso. Ai a minha vida até que foi mudando sendo a mulher dele tive que largar das drogas, ele não queria que eu usasse. Afinal era um homem poderoso e não ficava bem ter uma mulher drogada. Sendo assim, até que vi uma luz no fim do túnel. Não precisava mais me prostituir para comprar drogas.

Ele me dava tudo o que eu precisava, roupas e joias caras. Tinha que estar à altura dele bem vestido. Eu sendo bonita, despertava cobiça em outros homens. Até que ele não tinha ciúmes, sentia orgulho de ver outros homens babando por mim, mas quando alguém passava do ponto ele mandava matar a sangue-frio e jogava nos valões das favelas.

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