Capítulo 11

Ricardo Narrando

Eu sinceramente, não sei o que estou sentindo. Tanto pela situação do meu filho, quanto pela Carol. O meu coração está despedaçado por ver o meu filho nesse estado, ele é tudo para mim, meu refúgio, minha vontade diária de seguir vivo. Ele é tudo o que eu tenho.

A situação com a Carol também está bagunçando a minha cabeça, não sei o que pensar, não sei o que sentir. Só sei que nesse um mês que ficamos distantes, eu não paro de pensar nela. É uma sensação f0dida essa que me encontro, nunca mais senti uma parada dessa por mulher nesses onze anos, na verdade, acho que nunca senti nada tão intenso assim por mulher nenhuma. Eu tenho sentido muito a falta dela e ver meu filho chamar por ela durante todos esses dias e ainda mais agora, está destruindo o meu psicológico.

Ir atrás dela foi necessário, não poderia deixar o meu filho continuar sofrendo por mais tempo. Precisei passar por cima do meu orgulho e fazer isso. Essa noite, a febre dele foi muito alta e eu não posso deixar que isso continue a acontecer.

Ver a ligação dos dois e o carinho dela com ele, ver principalmente que ele aceitou tomar a medicação depois de conversar com ela, trouxe-me uma paz que não senti antes.

Percebi também que ela sente carinho não só pelo meu filho, mas também por mim, demonstrado quando ela pediu que eu deitasse no seu colo. Acho que ela sentiu o tamanho do meu desespero quando cheguei lá na loja, ela ficou bastante preocupada. Conversar com ela sobre a nossa situação foi essencial, ainda que não tenhamos nada definido, sei que ela estará por perto sempre e agora eu não vou mais deixar ela sair de perto de mim, a não ser que ela queira muito.

Fiquei tanto tempo deitado no colo dela e já fazia tantos dias que eu não dormia por conta da situação, que eu acabei cochilando ali mesmo.

Quando acordei, ela havia colocado algumas almofadas debaixo da minha cabeça e estava ao lado da maca brincando com o Cauã, que parecia estar bem melhor. Eles estavam num tipo de jogo de palavras, algo assim.

Diálogo 💬

Cauã: Essa palavra não existe, Carol. Você está roubando. Kkkk

Carol: Kkkkk Estou mesmo, mas era só para ver se você é esperto o bastante kkkkkk

Cauã: Eu sabia! Kkkkkk

Rick: Que falação é essa?! Está melhor, filho?! - sorrio por vê-lo um pouco melhor

Cauã: Melhorei, pai. Já posso ir para casa agora.

Carol: Não senhor, mocinho. Pode se deitar aí, porque você teve um princípio de febre há uma hora atrás.

Rick: O que?! Por que não me chamou?

Cauã: Você está cansado, pai. A Carol chamou o médico e ele me deu um remédio e agora passou.

Rick: Obrigada, Carol. - Me aproximei e dei um selinho nela e ela me repreendeu com o olhar, mas não me importei.

Carol: Você não tem jeito.

Cauã: Eu não ligo, Carol. Eu também já beijei na boca.

Carol: Você não pode fazer isso, Cauã, ainda é um neném.

Rick: Kkkkkk é sim, um bebezinho que faz manha para não tomar remédio. - ele ficou muito bravo e nós demos risadas.

Do nada, uma lágrima escorreu vimos ele fungar, a Carol logo se apressou e o abraçou e deu um beijo nele.

Carol: Você está chorando, Cauã... Nós estamos só brincando.

Cauã: Vocês estão rindo de mim, na escola todos riem de mim e me chamam de bebezinho do papai porque um dia viram o meu pai dando um beijo no meu rosto. Eu não gosto disso e sei que não sou um bebê por isso, mas vocês falaram, então eu devo ser. - eu não sabia disso, fiquei surpreso.

Rick: Eu não sabia disso filho, me desculpe. Mas isso não torna você um bebê, quando falamos isso, é por brincadeira. Não é você mesmo quem diz que é um homem?! Quem me dera se eu pudesse deixar você pequeno para sempre.

Carol: Chorar faz bem, Cauã, mas não por esse motivo. Receber o carinho do seu pai ou de qualquer pessoa que seja, não faz de você um bebê. Isso é só inveja de quem não tem um pai incrível igual ao seu. - Ela me olha nos olhos e eu a abraço por trás.

Cauã: Eu não quero mais falar com ele, Carol, quero que só você fique comigo agora. - Meu coração parecia que iria explodir.

Rick: Você está me trocando por ela? Eu não acredito! - Viro ele para mim e o agarro. - Você não pode fazer isso comigo, filho.

Cauã: Está vendo?! Agora quem está chorando é você. Kkkkkkkk

Rick: Eu não acredito que isso foi uma armação e eu caí. Deixe só quando você estiver melhor, vou te dar um castigo por ter feito isso.

Sentei no sofá e fingi estar muito chateado com ele. Ele e a Carol ficaram rindo da minha cara. Me levantei, saí do quarto e fiquei do lado de fora. Logo a Carol abriu a porta e veio até mim, fechei a cara ainda fingindo estar bravo.

Carol: Não acredito que você ficou bravo de verdade... - Chega perto e tenta me dar um selinho, mas viro o rosto.

Rick: Vá lá ficar com ele, vou passar a noite naquela cadeira ali. Acho que estou incomodando vocês.

Carol: Pare de besteiras, nós já havíamos combinado tudo antes. Ele só queria brincar com você.

Rick: Eu sei, também estou brincando com ele… Ele costuma brincar assim com a avó e vou dar o troco.

Carol: Não acredito! Kkkkk

Rick: Vá lá e fale que estou muito chateado e triste e resolvi ir para casa. Volto depois de um tempinho.

Carol: Tem certeza?

Rick: Sim!

Ela sai rebolando aquela bundona dela e eu fiquei só olhando até ela entrar no quarto novamente. Resolvi ir até a lanchonete comprar algo para ela comer, não sei qual foi a última refeição que ela fez.

Fiquei ali por um tempo e senti meu celular vibrando no bolso, quando olhei, dei risadas. Era uma ligação de vídeo do Cauã. Fiz a minha melhor cara de bravo e atendi.

Diálogo 💬

Cauã: Eu não acredito que você me deixou aqui no hospital e foi embora...

Rick: Você já tem companhia o suficiente.

Cauã: Eu estava só brincando, pai. Vem ficar comigo, por favor.

Rick: Peça a Carol para ficar, estou cansado, preciso dormir, estou a caminho de casa.

Cauã: Eu não vou ficar sem você aqui, não me deixe aqui, por favor.

Rick: Vou pensar, mas não prometo nada. - Desligo e dou risadas dele.

Peguei o lanche da Carol e fui em direção ao quarto, mas quando estava no caminho o médico me chamou na sala dele e eu entrei, me sentei e ele começou a falar.

Dr.: Ricardo, eu vou fazer a cirurgia do Cauã amanhã pela manhã. Os exames dele estão um pouco melhores e não posso deixar passar muito tempo para a cirurgia. Por isso, preciso que você converse com ele para prepará-lo. Ele precisa entender a gravidade da situação.

Rick: Tem alguém que vai conseguir convencê-lo a fazer a cirurgia, pode ficar tranquilo, Dr. Eu agradeço pela informação.

Dr.: Não há de quê. A cirurgia está marcada para às 8h da manhã. Eu e a equipe iremos conversar com ele e prepará-lo às 7:30.

Rick: Ok, estaremos esperando.

Quando entro no quarto, vejo o Cauã chorando e a Carol consolando ele, ela me vê e sorri para mim e fala para ele olhar para trás.

Carol: Olhe para trás, meu amor!

Cauã: Papai, você voltou!

Rick: Eu não fui embora, meu amor. Estava na lanchonete comprando um lanche para essa teimosa comer alguma coisa. - Me olhou bravinha e eu cheguei perto e mordi o biquinho dela.

Carol: Ricardo! - Passa a mão na boca.

Rick: Dramática! - olho para o meu filho - Meu amor, vamos conversar.

Cauã: O que houve, papai?

Rick: O médico disse-me que eles precisaram marcar a sua cirurgia para amanhã de manhã e ele virá conversar com você antes.

Cauã: Eu não quero fazer, pai! Eu estou com medo, por favor, não deixe!

Carol: Meu lindo, não tem outro jeito de melhorar a sua dor se eles não tirarem o que está causando. Eu prometo que você não vai sentir nada e nós vamos estar bem aqui esperando você voltar. Acredita na gente?!

Cauã: Acredito, vocês estão prometendo, hein.

Rick: E vamos cumprir!

Ele ficou um pouco mais calmo e nós conversamos sobre outros assuntos para que ele se distraísse. De repente, alguém bate na porta e quando abrimos, a Bianca passa por ela com uma cara muito preocupada, mas ao olhar para o Cauã bem e conversando, o seu semblante suaviza.

Bianca: Ai, graças a Deus, pensei que estava em estado grave. Que bom ver que está um pouco melhor. - Aproxima-se, beija e abraça o Cauã.

Cauã: Estou tomando os remédios direitinho agora, aí eu fico sem dor. Mas vou fazer a cirurgia amanhã de manhã. - estava abraçado à Carol e ela nos olha com curiosidade e dá um sorrisinho para a amiga, um sorriso que dizia muitas coisas ao mesmo tempo.

Bianca: Que bom! Isso mesmo... - Dá um sorriso para o Cauã.

Carol: Oi, amiga! Como ficaram as coisas lá na loja? - ela reveza o olhar entre mim e a Carol e desconversa.

Bianca: Oi, amiga! Ah, ficou tudo bem… - fala sem graça e eu entendi que alguma coisa aconteceu.

Carol: Ok, amanhã eu passo lá. - faz uma cara estranha.

De repente a porta é aberta novamente e o Paulo passa por ela. Foi até engraçado ver as caras de surpresa dele e da Bianca. Ela chegou a ficar pálida.

Paulo: E aí, campeão?! - Vai até o Cauã e o cumprimenta fazendo um toque.

Cauã: Vou operar amanhã de manhã, tio Paulo.

Paulo: Aceitou? - Me olha e eu confirmo com a cabeça e então ele olha para a Carol.- Ah, entendi. O remédio dos dois chegou.

Ele anda até nós e faz um toque comigo, se apresenta para a Carol que o cumprimenta com um aperto de mãos e anda até à Bianca, que estava mais vermelha que um tomate, totalmente nervosa e sem graça. Agora eu entendi tudo e sei quem é o motivo da sua falta de sono. Ela não ousa levantar a cabeça.

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