A Fuga

Assim que terminou de conversar com o seu sobrinho, Tez se despediu dele, o acompanhando até a rua.

Tez: Volte amanhã com tudo o que precisa. Preciso ir o mais cedo possível, dependo de você.

Rodrigo: Não se preocupe Chefe, pela manhã estarei aqui.

Tez: Obrigada, se cuide.

O carro seguia desaparecendo no fim da rua. Tez respirou fundo, deu meia volta e entrou em casa.

Leyne: Ele já foi?

Tez: Sim.

Leyne: Ele é muito educado. E também admira muito você.

Tez: É sim... Está com fome?

Leyne: Sim, e a propósito já separei todos os seus temperos.

O homem sorriu olhando para Leyne

Tez: Ótimo, então tenho que caprichar para compensar o seu trabalho. O que quer comer?

Leyne: Sério? Eu vou escolher o cardápio. Que ótimo... Bem... Não sei, me deixe pensar. Olha tem uma coisa que eu não como faz muito tempo. Muito mais tempo do que eu fiquei assim como fugitivo comendo o que aparecia... Torta de Frango.

Tez: Pois bem, farei uma torta de frango.

Leyne: Será que eu posso ajudar você?

Tez: Eu não gosto muito de...

Leyne: Por favor! Mesmo que seja só para ir lavando a louça, jogando o lixo, ou até descascando alguma coisa.

Tez: Tudo bem. Então vamos começar com cebolas, pode descascar.

Leyne: Sim Chefe!

...

Em uma bacia, cinco cebolas descascadas esperavam para serem cortadas. Leyne impaciente, pegou a faca e foi cortando elas, para adiantar o serviço.

Leyne: Assim nesse tamanho está bom?

Tez: Sim. Está bom...

Os olhos de Leyne estavam vermelhos, e lagrimas escorriam sem parar. Tez riu.

Tez: Você fica engraçado vermelho assim.

Leyne: Eu vou te mostrar o que é engraçado!

Leyne arremessou uma cebola na direção de Tez, mas ele a segurou no ar.

Leyne: Chato! :( Você tem que ser assim tão habilidoso?

Tez: Eu só peguei uma cebola garoto, não exagera.

Leyne: Garoto? Ta de brincadeira? Eu sou um homem!

Tez: Tá bom Garoto.

Pouco tempo depois, os dois se sentaram a mesa para comer. Tez novamente ficou observando o Garoto a sua frente comer animado.

Leyne: Não vai comer? Está ótimo mesmo!

Tez: Estou comendo, mas é para você, então aproveite.

Tez abriu uma garrafa de vinho.

Tez: Você bebe?

Leyne: Eu só bebo em festas e nos finas de ano. Mas quer saber, pode me servir. Me sinto em festa com essa torta maravilhosa.

Os dois beberam no mesmo instante, e os olhos se conectaram, o que deixou Leyne envergonhado.

Tez: Você está vermelho de novo, não aguenta mesmo beber não é?

Leyne: Como assim? Não é nada disso... É que eu me lembrei de uma coisa engraçada... Pode por mais.

...

Após duas taças de vinho, Leyne se sentiu mais alegre e embalado.

Leyne: Tez... Sabe que você é maluco né?

Tez: Maluco? Porque diz isso?

Leyne: Quem deixaria um invasor dormir na sua casa e ainda por cima servir comida para ele? Você não teve medo de que eu fosse roubar, você só queria saber se eu tinha sido enviado por alguém não é? ... Isso é loucura.

Tez: Talvez não seja por acaso.

Tez se levantou e foi tirando as coisas da mesa.

Leyne: Não é por acaso? Está querendo dizer que... O destino quiz isso?

O silencio predominou por segundos.

Tez voltou e pegou a garrafa de vinho, unico item que ainda estava na mesa, além da taça nas mãos de Leyne.

Leyne: Não! Não guarda, ainda estou bebendo.

Tez: Não, Me dê sua taça. Você já bebeu demais.

Leyne: Ah, me deixa ao menos beber o que ficou na taça...

Leyne foi virando a taça, enquanto Tez foi tomar ela de suas mãos. Ele ergueu a mão que segurava a taça para tirar, e um pouco do vinho escorreu pelo canto da boca de Leyne.

Tez: ...

Leyne viu sua mão presa pelas mão de Tez, e seus rostos próximos. Em um impulso ele se jogou para frente, colando seus lábios nos lábios de Tez. Tez o apoiou ao ver que perdeu o equilibrio, e o beijo continuou.

Tez se viu envolto aqueles lábios quentes e com sabor de vinho, colocou a taça na mesa e abraçou Leyne, dando continuação aquele momento envolvente.

A taça bambeou na mesa e se partiu ao cair no chão, Tez se afastou de Leyne.

Tez: É... melhor você ir dormir. Eu vou limpar isso aqui.

Leyne ficou parado no mesmo lugar.

Leyne: {Porque paramos? Ele vai voltar? Eu... Tenho que ir dormir?}

...

Após limpar os cacos e levar o lixo para fora, Tez voltou a cozinha e viu que Leyne já não estava mais ali. Ele abriu a geladeira e pegou um copo de água gelada.

Tez: {Céus. O que estou fazendo? Não posso me apegar a ele. Ele não vai ficar aqui...}

O homem atordoado, subiu as escadas para o seu quarto, mas antes de entrar, quis ver se Leyne tinha conseguido chegar a cama. Para sua surpresa, não havia ninguém no quarto.

Tez: LEYNE!

Correndo para janela, Tez olhou o quintal.

Tez: LEYNE! O que está fazendo?

Leyne estava em cima de uma cadeira encostado no muro tentando subir.

Assim que viu, Tez correu para fora, chegando a tempo de o puxar Leyne de volta para dentro.

Tez: O QUE ESTAVA PENSANDO? Quem disse que você podia fugir? Eu não te dei permissão!

O Garoto manteve seus olhos na direção do chão. Não ergueu a cabeça nenhum momento, evitando olhar para Tez.

Leyne: Você... Não gostou do beijo?

Perplexo, Tez arregalou os olhos.

Tez: O que disse?

Leyne: O Beijo... Eu não pude me segurar. Acho que o vinho me deu coragem mas... Eu pensei que tinha gostado... Agora eu... Eu não consigo encarar você depois disso.

Tez: Está brincando comigo? Está tentando fugir por não conseguir me encarar? Você tem tanta vergonha assim? Nunca beijou ninguém não?

Leyne: ... Não.

Por um breve momento, Tez se sentiu mal. Então mudou seu tom de voz para falar.

Tez: Olha... Vamos apenas esquecer isso. E se ainda sim não conseguir me olhar não tem problema... Eu vou viajar amanhã.

Leyne: Então... Vai me deixar ir embora?

Tez: Não. Você vai ter que ficar aqui, até eu voltar. Vai ser somente um dia, se tudo der certo.

Leyne: Entendi

Leyne se afastou de Tez, e seguiu rapidamente para dentro da casa, e por todo caminho, não ergueu a cabeça.

Tez: {Droga! O que foi isso? Ele ficou triste!?}

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