Enquanto retornava para casa, um pensamento me ocorreu: meu pai.Como será que ele reagiria?É justo agora que estávamos começando a nos reaproximar.Que injustiça!Meus olhos ficaram a arder e estava difícil de lutar contra as lágrimas que teimavam em sair.
Cheguei em casa e me lancei na cama.Estava deprimida, não tinha a mínima vontade de sair das cobertas, ficar em meio a elas era como um refúgio para mim, como se ali o tempo parasse e não existisse nenhum problema a resolver, como minha mudança repentinamente e dizer adeus ao meu pai.
Será que de alguma forma isso atrapalharia nossa reaproximação?Provavelmente, sim, não teríamos tempo para conversar e aos poucos nos afastaríamos de novo.
Enfiei o rosto no travesseiro e deixei as lágrimas rolarem.Não queria ir.Aqui era o meu lar, meus amigos, minha família, minhas lembranças estavam aqui, como poderia partir?E para uma alcateia muito maior do que a minha, como conseguiria sozinha?Eu realmente não me importava se a minha mudança de certa forma interferisse ao encontrar o meu companheiro, eu realmente não me ligava, mas sim em ficar longe das pessoas que amava e dizer adeus a uma vida que eu já tinha planejada.Tudo devido a um plano mal sucedido, se não fosse por aquele lobo...
Agora não adiantaria fazer mais nada, eu deveria aprontar as minhas malas e me preparar para amanhã e tentar de alguma forma contar a meu pai sobre minha mudança.Talvez ele achasse que eu estava fazendo tudo isso de propósito, para fugir dele.Soltei um suspiro.Me levantei da cama e comecei a organizar minhas roupas.
A minha tarde se resumiu a isso, prepare as minhas coisas para a viagem e simule uma conversa com o meu pai onde eu joguei a bomba.Quando deram 17:30 comecei a me arrumar.
Desci as escadas e o avistei, os olhos grudados na tela luminosa.Pigarreou, para atrair sua atenção.Ele se vira e eu olha:
— Desculpa Kate, não tinha te visto — seus olhos se demoraram por um longo tempo em minha figura — está linda — corei pelo elogio.Uma sensação agradável me preencheu.Há muito tempo ele não olhava para mim e me elogiava daquela maneira.
— Muito obrigada, achei que devesse caprichar um pouco hoje, jantaremos fora pela primeira vez após muito tempo — comentando, alisando a saia do meu vestido azul.
O caminho percorrido até o restaurante foi rápido e acompanhado de conversas conhecidas, nada que pesasse o clima.O carro estacionou em frente a um restaurante italiano.Que maldita coincidência!E era o mesmo que frequentávamos quando minha mãe estava viva.
Um lampejo de memória se desenrolou em minha mente, como uma tela de cinema.Meus pais batendo palmas para mim, arrastando todo o restaurante, me deixando envergonhada, a comemoração da promoção de meu pai, quando tirei dez em aritmética e, por fim, quando minha mãe subiu de nível.Tragicamente, duas semanas antes de ser morto.
Adentramos no restaurante e tomamos um assento qualquer.Felizmente, não estava lotado, permitindo que tivéssemos uma conversa agradável sem ter de levantar o tom de voz.Assim que tomei o meu lugar, senti o aroma da comida sendo preparada e por mais que me incomodasse ser comida italiana, não pude conter o meu estomago murmurar, relembrando que já fazia algumas horas desde que fui alimentado.
— Então, filha, o que você vai fazer depois da escola?— meu pai pergunta enquanto nos acomodamos na mesa.Nesse mesmo momento, meu corpo gelou.Estava chegando a hora de contar, se ao menos eu pudesse adiar um pouco mais…
— Eu estava pensando em ser uma rastreadora, mas no caso seria de linha de frente, uma patente um pouco mais elevada que a de um rastreador.
— Interessante, mas você não pretende fazer faculdade?Você sabe que eu e sua mãe fizemos uma poupança para isso.
— Sim, eu sei, mas é que eu sempre quis trabalhar com isso, participar da patrulha da alcateia é uma grande honra.Minha Mãe também fez parte disso, e o pai dela fez, e etc. É o meu sonho, entende?- ele se remexeu inquieto.Sabia que era um assunto delicado para ele.
– Entendo.Você tem os olhos brilhando quando fala sobre isso, sua mãe também tinha — ele estava com uma expressão perdida.Fiquei por um tempo aguardando que transferisse, mas ele não disse mais nada.Resolvi estender um pouco a conversa:
— Eu me preparei a vida inteira para isso.É o meu sonho!É uma honra ser rastreador, nós fazemos rondas pelo território a procura de algum perigo.Quando há alguma ameaça, são um dos primeiros a serem recrutados pelo alfa para fazer o perímetro.São muito essenciais na Alcateia.Além de ser algo que eu gosto muito de fazer, os membros têm várias vantagens e recebem uma moradia também...
- Isso significa que você vai precisar mudar de casa?- ele perguntou alarmado.Ops, falei demais.Tento puxar um pouco de ar e o solto, tentando sorrir as batidas de meu coração.Estava na hora.Mas como dizer?
— Bem, no meu caso eu não vou ter escolha... — começo sem jeito, porém ele presta total atenção em mim e eu continuo, ou pelo menos tento — acontece que eu vou ter que mudar de alcateia e ela fica um tanto quanto longe daqui...
—Tipo?
— Tipo na Itália...
— Na Itália?Você vai se mudar para a Itália?— pergunta exasperada e eu apenas respondo com um breve aceno — como isso foi acontecer?Você não pode escolher não ir?
— Eu conversei com o alfa e ele disse que minha ficha já tinha sido enviada para a nova alcateia, agora sou integrante de lá e não há nada que eu possa fazer.Pai, eu juro que tudo isso foi um acidente, eu não planejava me mudar, não agora que estamos nos entendendo — começo a falar tudo de uma vez, decidido narrar sobre a avaliação, do incidente com o outro lobo e como isso não faz parte dos meus planos.
— Chega a ser engraçado se de certa forma não fosse trágico — ele apoia a cabeça em ambas as mãos, tentando se recuperar da informação, em seguida, ergue a cabeça e me encara — mas eu entendo você e saiba que vou te apoiar nessa mudança , mesmo que isso me faça.
— Mas eu nem queria isso, o que faço agora?— por um momento ele fica calado e então de forma serena me responde:
— Agora você vai ter que enfrentar tudo isso com a coragem e obstinação que você sempre teve, minha filha.Eu acredito em você, Kate, assim como sua mãe acreditou, você vai conseguir passar por tudo isso e saber que o seu pai sempre estará aqui com você e para você — ao dizer essas palavras sinto meus olhos arderem com as lágrimas que lutam para sair e abra um sorriso cheio de emoção.
— Obrigada pai... Eu vou sentir tanta a sua falta... — ele pega na minha com gentileza e carinho e abre um sorriso daqueles paternais onde transmite uma calma onde diz que tudo vai ficar bem.
— Eu também, mas para a nossa espécie temos celulares e internet para conseguirmos conversar um com o outro apesar da distância.Eu vou te ligar todos os dias para te perturbar!— nós dois rimos e bem nessa hora o garanto chega para anotar nossos pedidos.
Apesar da notícia que pairava no ar como uma nuvem cinza que ameaça com um temporal que pode cair a qualquer instante, a noite foi maravilhosa.Nós rimos e nos divertimos bastante, sem contar que a comida estava espetacular.Naquele momento nem me passou que seria nossa última noite juntos e aquilo poderia ser considerado como uma despedida.
Assim que terminamos, voltamos para casa e mal cheguei e já me joguei na minha cama satisfeita e com um sentimento de felicidade que não senti ha um bom tempo e quando dormi, não pensei na viagem do dia seguinte, ou na despedida que daria ao meu lar, a única coisa que me veio foi a minha mãe sorrir.
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Atualizado até capítulo 33
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