capítulo 3

— Eu sei o que eu quero Jess.

         Antes que ela pudesse responder, o professor Gilbert entra na sala com o seu olhar sério e autoritário de sempre, tentando nos intimidar, o que de certa forma se tornava cômico com a sua altura abaixa da média, sua bola redonda que chamava de barriga e a sua cal vice, combinando isso tudo, ele me lembrava um gnomo de jardim (e muitas vezes me perguntei se realmente não era, porque não é muito raro ver outros seres vivendo em conjunto, mas foi comprovado que ele era lobo quando o vi se transformar) resumidamente isso não era nada assustador, porém ele conseguia parecer estar sempre de mau-humor.

A sua aula era a mais chata: Superstições e realidade para os humanos. Sua voz era monótona e cansativa, era como uma canção de ninar e em conjunto com a sua aparência, ele não era grande coisa.

           — Bom dia alunos, esse dia não é como um dia comum – começa com a sua voz chata de sempre e tenho vontade de enterrar minha cabeça no meio de meus braços e dormir. O problema não era apenas a sua voz chata, mas a repetição da mesma palavra toda hora, a cada aula era uma palavra nova a ser repetida, e pelo visto hoje a palavra era "dia"– esse dia é um dia que mudará as suas vidas. Essas provas são fundamentais para qualquer cargo que irão exercer, mesmo sendo um cargo da patrulha como o de um vigia, vocês devem ter consciência do que estudamos durante todos esses anos e, espera-se, que tenham aprendido algo conosco, seus professores e que coloquem tudo em prática no seu dia-a-dia, porque um dia... – sinto meus olhos fecharem e então a sua voz me chama novamente, fazendo com que volte a realidade – senhorita Katherine Rosemaire Stwart – ele me chama pelo meu nome completo, algo que eu odeio.

          — Sim, professor — respondo meio sonolenta e com cara de tédio. Estava prestes a bocejar, mas me segurei com medo de isso ser levado como uma provocação.

         — A senhorita sabe da importância dessas provas? –– ele pergunta e eu rolo meus olhos pela classe.

        — Sei e também sei da importância de termos tempo de fazê-la professor, poderia logo entregar as provas? Sabemos que elas vão mudar as nossas vidas e tudo o mais, mas temos outras para fazer além da sua.

       — Senhorita Stuart, se continuar com o seu comportamento serei obrigado a deixá-la sem fazer a prova! – diz irritadiço. Professor idiota, penso com raiva, não pode ser contrariado e já perde a cabeça! — Algo a dizer senhorita? — pergunta sarcástico e tento controlar a minha língua para não ser expulsa da sala — como pensei! Bem antes de fazerem as provas precisam saber que os que se saírem melhor em: Vigia, espionagem e rastreamento serão direcionados para a alcateia Luar de Prata e só para lembrar, ela fica na Itália, então se vocês forem podem começar a treinar o seu Italiano — ele diz com um certo humor na voz dando a ideia de ser uma piada, uma péssima piada só para constar, porem ninguém ri e ele fecha a cara novamente. Ninguém tem culpa se as piadas dele são sem graça, penso.

        Sem dizer mais nada, ele distribui as provas para nós e pega o seu relógio e coloca para tocar daqui a 40 minutos. Tento me apressar em responder às perguntas rapidamente para ter tempo de reler e as corrigir. Sem dúvidas odiava essa matéria! Por que eu teria que saber a origem do conde Drácula para os humanos? Ou da história das bruxas e como elas eram vistas por eles? Até onde saiba não vai mudar nada em minha vida!

                Enquanto estava finalizando o meu texto sobre a evolução das crenças dos humanos sobre nós, o maldito relógio tocou. Um desespero me subiu ao ver o professor se levantando e começando a recolher as provas. Apressei-me em terminar o último parágrafo, ele estava a três carteiras de distância da minha, o que me dava uma pequena vantagem. O professor parou em frente a minha carteira e retirou a folha sem nenhuma cerimônia.  Sorri aliviada por conseguir finalizar a prova com sucesso antes que ele a recolhesse, por questão de segundos, mas mesmo assim a finalizei!

             — Muito bem, alunos, irei corrigir as provas e espero que a tenham levado a sério, não é mesmo senhor Jackson — ele diz se referindo a um menino loiro e como resposta, Niall deu um sorriso maroto. Geralmente Niall fazia certas piadas na prova e o professor fazia sempre questão de lê-las em voz alta tentando ridicularizá-lo, mas mal ele sabia que era exatamente isso o que ele queria. Gilbert se retira da sala e logo em seguida a professora Elaine entra.

           As aulas ocorreram basicamente assim: discurso de professores, provas e entra e sai dos mesmos. Senti um alívio imenso quando o sinal tocou. Meus dedos estavam com câimbras e minhas costas doíam horrores, já a minha cabeça parecia explodir a qualquer momento de tanto me esforçar para relembrar os malditos conteúdos.

           Vou ao refeitório acompanhada das meninas que tentavam de alguma forma descobrir se acertaram algumas perguntas das quais se lembravam. E não era apenas elas, todos os alunos do último ano comentavam entre si sobre as provas e as possíveis respostas, geralmente eles sempre consultavam os alunos mais espertos ou até mesmo recorriam aos cadernos e as anotações, e às vezes ocorriam de alguns entrarem em uma discussão séria devido às respostas. Admito que me divertia muito ao observar esse caos.

           Enquanto as meninas conversavam, me sentei em um dos bancos do pátio coberto e comecei a comer o meu lanche. Havia a outra parte que era totalmente descoberta e havia alguns alunos nela, mesmo que a chuva tivesse cessado os bancos da parte de fora estavam molhados, sendo assim, muitos estavam de pé. Muitos iam lá fora apenas para aproveitar o vento fresco que soprava e sentir o cheiro da terra molhada que emanava do solo, aquilo servia como um calmante para nós.

            — Nossa, agora vai ter aquelas avaliações né? – pergunta Laila atraindo a minha atenção.

           — É, eu não estou a fim de fazê-las, mesmo que isso signifique morar em uma alcateia maior que a nossa, quero ser curandeira, não fazer parte da patrulha... — Jessica comenta, eu sabia que tanto ela como Laila tinham o grande sonho de se mudar para um lugar maior, eu não. Gostava daqui. Não estava a fim de ficar perdida e sofrer por não saber falar a língua do lugar.

            — E eu quero se jornalista – Laila comenta. Desde que nos conhecemos, ela tinha um talento natural para descobrir coisas e sempre ia a fundo. Com certeza ela se tornaria uma grande Jornalista.

           — Às vezes durante o ano o alfa transfere alguns de nós para outras alcateias conforme a necessidade, já você Laila pode tentar uma vaga em um jornal pequeno, como o da alcateia, talvez consiga como estagiaria e com o tempo você se torna uma jornalista de sucesso e vai poder viajar para onde quiser! — disse em um tom animador.

           — Tem razão Kate, sabe acho que se você se esforçar você consegue uma vaga entre os escolhidos e... – começa Laila e antes que continua eu a interrompo.

          — Não! Gente eu realmente não quero me mudar de alcateia, qual a dificuldade de vocês entenderem?

          — Muita! Kate é um privilégio ir para lá e poucos conseguiram, imagina o orgulho que sua mãe sentiria... – Laila diz, mas antes que complete recebe uma cotovelada de Jessica e então se cala. Laila não tinha filtro, isso era algo do qual eu tinha certeza. Às vezes ela perdia o controle da língua e acabava cometendo alguns erros, como, por exemplo, tocar no assunto de minha mãe.

 Era algo pessoal que eu queria deixar bem no fundo de minha consciência, como se isso me fizesse esquecer-se dela, pelo menos o suficiente para que continuasse a seguir minha vida normalmente. Eu sabia que não adiantaria muito, pois aquilo era como uma cicatriz, a maior dor já havia passado, porem ela ficava ali para que você sempre se lembrasse dela.

Talvez me mudar de alcateia faria bem para mim, mas isso significaria dizer adeus ao meu pai e tudo o que vivi, porque quando se muda de alcateia e começa a exercer um cargo, demora até conseguir tirar uma folga, pelo menos para visitar os seus familiares novamente e isso podia requerer questão de meses...

           - Tudo bem, gente, eu... Vou dar uma passeada lá fora, preciso de um pouco de ar – digo e elas assentem. Precisava de ar puro para pensar um pouco e até mesmo de silêncio, algo que o refeitório e o pátio coberto não forneciam, a não ser gritos e pessoas correndo quase te atropelando.

          O pátio do lado de fora era bonito, muito bem cuidado, mas com a chuva de hoje de manha e ontem à noite o lugar precisaria de alguns cuidados. Peck's era um lugar calmo e tranquilo, nublado nas transições de outono para inverno e durante o ano uma temperatura amena, a floresta que rodeava a alcateia era extensa e as montanhas que se seguiam de árvores verdejantes tornavam o cenário encantador, era ainda mais belo quando se via o sol nascendo e os seus raios surgiam pelas montanhas iluminando toda a alcateia. Gostava daqui. E tinha outro detalhe importante, a lua de sangue. Uma noite em que poderia encontrar o meu companheiro, onde poderia finalmente me sentir completa.

Se me mudasse de continente poderia correr o risco de nunca encontrá-lo, e não era algo que quisesse. Mas ele também poderia estar lá e se eu ficasse poderia não encontrá-lo... Eram riscos que eu corria e qualquer decisão poderia me afetar profundamente, não é como se por caso me chateasse por lá, eu poderia voltar. Não. Eu teria de recorrer a quatro alfas, dois sendo cardeais, e eu também deveria recorrer ao conselho e ao supremo... Tudo isso se quisesse mudar de alcateia, era muita democracia. Mas diante disso tudo, algo em mim se intrigava em ir para essa alcateia, algo em mim dizia que eu devia tentar ir para lá. Então estava em um impasse, ir ou não ir?

           O sinal finalmente toca, anunciando o fim do recreio e o começo das avaliações. Estava nervosa. Meu coração palpitava e aposto que qualquer um poderia ouvi-lo. Os alunos começaram a se retirar pouco a pouco e os supervisores começavam a apitar para que saíssemos.

           – Hora da prova – murmuro para mim mesma e me dirijo para onde ocorreriam as avaliações praticas.

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