Luar De Prata

Luar De Prata

capítulo 1

Despertei com o ruído da chuva batendo na minha janela.O vento uivava, impiedoso e irredutível.As gotas grossas caem em grande quantidade criando poças largas e fundas, a terra úmida emitia um aroma incomparável.Ah!Como adorava aquele cheiro único.Era um verdadeiro calmante.

Eu observei da minha janela a tempestade cinzenta que se formou do lado de fora e vaguei o olhar para o relógio em cima da cabeceira.Eram malditas 7 horas da manhã.

Com muito custo, procurei minhas pantufas, acinzentadas como aquele dia chuvoso, e caminhei pelo chão frio.Apesar de meu corpo exalar o necessário calor para não sentir frio, não pude deixar de estremecer ao sentir a friagem me atingir quando retirei a roupa e me enfiei debaixo do chuveiro quente.Vapor embaçando o vidro.

Era um grande dia.Não poderia me dar ao luxo de falhar.Não mesmo.Me preparei por muitos anos, sonhei por um longo tempo e finalmente, meu sonho se realizaria.Iria entrar para a vaga de rastreadora.Isso se passa nas provas.

Por estar no meu último ano do ensino médio, as provas finais seriam aplicadas justamente com testes para definir qual carga assumiríamos na alcatéia, afinal todos nós tínhamos de contribuir para que nossa grande família permanecesse segura e bem, para issovamos mais do que tudo ser rastreadora.

Desde menina sempre por isso.Minha mãe também foi uma das melhores rastreadoras da nossa Alcateia.Diziam que poderia localizar alguém em menos de trinta minutos caso estivesse num raio de 30 milhas.Quando ela se foi, prometi a mim mesma que faria de tudo para orgulhá-la e nada melhor do que seguir sua profissão.

Especificamente hoje, a sua morte pesava em minha mente e coração.Pensar que deveria estar aqui comigo, me dando conselhos e me animando para o dia que se seguiria….Não fosse por um lobo renegado estupido, talvez estivesse comigo.Mas não estava e eu precisava ser forte.

Apesar de tudo, meu pai ainda estava vivo.Claro que nunca mais fomos os mesmos após a morte de minha mãe, ela era como o chiclete que nos unia, o nosso grude, por assim dizer.Meu pai sempre foi um tanto distante, sabia que era o jeito dele, mas assim não se tornou fácil a nossa convivência de conversas monossilábicas e encontros esparsos.

Quando terminar meu banho, coloquei uma roupa simples e leve que não me pesasse durante o dia e desci para comer alguma coisa.Meu estômago murmurava me lembrando da necessidade de alimentá-lo.

Assim que cheguei ao sopé da escada, avistei o meu pai, um homem alto, de cabelos quase grisalhos, tomando o seu café enquanto deslizava o dedo pelo celular.Sempre tão atarefado e atenado.

Com a morte de minha mãe ele desenvolveu um vínculo: Trabalhar.Passaria horas e mais horas em seu trabalho, sempre estressado, sério e cansado.

Com olhos bem profundos abaixo da pele, olhos vermelhos pela falta de uma boa noite de sono, meu pai parecia mais um zumbie do The Walking Dead do que o meu... Pai.

— Bom dia pai – o cumprimento enquanto desço as escadas, ele desvia o olhar do celular que vai para mim e abre um dos seus sorrisos de cumprimento cordial onde não deixava a mostra nem uma ponta de seus dentes.

— Bom dia — respondeu, os olhos não desviaram da tela — escola? 

— Não tenho muita escolha.Hoje tem as provas finais e avaliações práticas para entrar na patrulha da alcateia — comento, me sentando sob a mesa redonda e me operando de café - você pode me dar uma carona hoje?

— Sim — ele responde chamando a atenção para o celular.Ficou um momento de silêncio, nossas bocas mastigando o alimento, quando por fim ele volta sua atenção para mim, me olhando nos olhos — o que você acha de sairmos hoje?— no mesmo instante, engasgo com o meu café.Ele se levanta e tenta dar golpes nas minhas costas para me ajudar, assim que melhoro, levando um pouco a mão sinalizando que estou bem.Na verdade, algo inesperado.Fazia muito tempo desde que saímos juntos, esse era o tipo de programação que fazíamos juntos quando minha mãe estava viva e quando ela se nunca mais fez algo do tipo.

— Você está bem filha?— respondo com um aceno breve.Ele se sentou novamente e me encara — se você não estiver pronto, podemos adiar isso...

— Não, não é isso.Eu apenas achei inusitado, eu não estava esperando que você quisesse fazer algo do tipo tão de repente.

— Eu imagino que seria estranho.Acontece que o seu aniversário é daqui a uma semana, Kate, esse tempo em que ficamos longe um do outro foi um tempo perdido.Um dia você vai achar seu companheiro e quando isso acontecer eu estarei sozinho de novo.Quero aproveitar cada momento que tenho com você.Alias, a sua mãe iria querer isso, certo?— ah!Então era isso.Novamente a questão do companheiro.Sorri levemente.Mesmo estando afastado, ele ainda tinha suas preocupações de pai.

— Certo — eu me levanto e o abraço por trás enquanto ele permanece sentado — estou tão feliz que quase me esqueço que hoje terei uma tonelada de tentativas para fazer — brinco dando uma risadinha.

— Falando nisso, acho melhor irmos logo, caso contrário você vai se atrasar — ele diz com um meio sorriso.Ele tinha razão, quase havia me esquecido!Se eu perdesse essas provas… Olá terceiro ano de novo e adeus carga de rastreadora!

Terminamos o café da manhã e fomos para o carro, era um Gol 2010 preto e simples, não era grande coisa, mas em dias como esses faziam total diferença.A viagem demorou um tempo porque morávamos perto da estrada que dava fora da alcateia e a escola era logo no meio, o trajeto durava cerca de meia hora ao todo, felizmente eu tinha acordado cedo e como era tempo de chuva eles mantiveram uma tolerância consideravelmente maior.

Assim que paramos na porta da escola, me despeço do meu pai e sai correndo em busca de abrigo na escola.

Ao adentrar, logo avisto Laila e Jéssica no nosso cantinho de sempre, um dos bancos que ficaram no início da entrada.Ambas animadas, com certeza fofocando sobre algo.Sorrio ao me aproximar daquilo que logo interrompeu a conversa e vem ao meu encontro me abraçar.

— Bom dia, meninas.

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