A noite já caiu, e a rua, agora iluminada apenas pelos postes, parece mais fria e distante. O homem ainda está à minha frente, sem dizer nada. Eu não posso vê-lo, mas posso sentir sua presença, pesada e imutável. Meu corpo está tenso, os pulsos doloridos com as cordas que me prendem, a venda nos olhos me deixando completamente no escuro sobre o que vai acontecer a seguir.
Sinto o ar gelado tocando meu rosto, uma brisa que parece querer me lembrar da realidade. Cada segundo é um peso em minha alma. Cada movimento parece me levar mais para uma escuridão da qual não posso escapar. Tento respirar fundo, mas o medo e a ansiedade apertam meu peito como uma garra invisível. Ele ainda não fala, apenas observa, esperando algo que eu não sei o que é.
— Aceito — minha voz sai arrastada, quebrada, mas firme. Eu mesma me surpreendo com a certeza que parece surgir no fundo da minha mente. Não sei mais quem sou ou o que estou me tornando, mas sei que não há volta.
O silêncio que se segue é absoluto. Nenhum som, nenhuma palavra. O homem não responde, mas posso sentir que ele está satisfeito com minha decisão. Ele começa a andar ao meu redor, e o som de seus passos ecoa na minha mente. A venda me impede de ver, mas consigo imaginar tudo em minha cabeça, como se eu já tivesse vivido aquela cena antes, como se fosse apenas mais uma peça nesse jogo que não escolhi.
De repente, ele se aproxima. O som dos seus passos fica mais próximo, e algo gelado toca meu rosto: a venda sendo retirada. Eu mordo o lábio, meus olhos lacrimejam com a súbita exposição à luz. Ele me desamarra, o toque firme em meus pulsos, mas ainda não me fala. Apenas observa. A venda cai no chão com um som abafado, e o que vejo à minha frente é um homem de rosto impassível, um vulto ameaçador, mas que agora, de alguma forma, parece já ter cumprido seu papel. Ele se afasta lentamente, como se tivesse me dado liberdade, mas a sensação que tenho é que tudo isso faz parte de um plano ainda maior.
Antes que eu tenha tempo de questionar ou reagir, ele se vira e começa a andar para longe. Seus passos se distanciam, e eu fico ali, parada, ainda tentando processar tudo o que acabou de acontecer. Cada segundo é como uma eternidade, mas, antes que eu consiga tomar uma decisão, o som distante de sirenes começa a cortar o ar. O carro da polícia se aproxima, e o pânico sobe pela minha garganta.
O homem desaparece na escuridão, como se fosse uma sombra, e eu fico ali, sozinha, sem entender nada. O medo aperta meu peito, e meus pensamentos estão confusos. Mas não tenho tempo para mais nada. A porta se abre com um estalo, e logo a polícia invade o local.
— Você está presa por uma série de crimes. — A voz do policial é grave e direta. Não há espaço para discussões.
Eu não consigo reagir. A venda foi retirada, mas agora o peso da prisão é mais real do que nunca. As algemas me são colocadas com força, e sou empurrada para fora do lugar, sem nenhuma explicação. Apenas sigo, sem poder me defender, sem saber como ou por que minha vida virou isso.
O caminho até o carro da polícia é um borrão. As sirenes tocam alto, e as pessoas nas calçadas olham para mim com uma mistura de curiosidade e julgamento. Meu corpo parece alheio ao que está acontecendo, mas minha mente está em turbilhão. A venda foi retirada, mas a cegueira em relação à minha situação continua.
No carro, eu fico em silêncio, a ansiedade corroendo cada célula do meu ser. Chegamos à delegacia, e, à medida que passo pelos corredores, sinto os olhares pesados sobre mim. A polícia me conduz para dentro de uma cela fria, e o som da porta se fechando ecoa na minha mente. A escuridão me envolve novamente, e, por um momento, eu não sei mais o que é real.
Mas o que sei é que agora eu sou uma ré, e o julgamento está prestes a começar.
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Atualizado até capítulo 21
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