Capítulo 14

A manhã chegou como uma surpresa. Eu acordei em um lugar que parecia familiar, mas agora tudo estava diferente. O que antes parecia uma simples rotina, agora era um mar de incertezas. Sentei-me na beira da cama e, por um momento, só consegui ouvir o som da minha respiração, tentando organizar os pensamentos que fervilhavam na minha mente. O jogo... O que exatamente estava acontecendo? O que tinha acontecido comigo?

Fechei os olhos e, involuntariamente, uma lembrança da minha infância veio à tona. Eu tinha apenas sete anos quando ouvi os tiros. A imagem ainda estava tão vívida na minha mente, como uma película que nunca se apagava. Eu me escondia debaixo da escada da casa dos meus pais, tentando ser invisível, temendo que o que acontecesse lá em cima me consumisse.

Os gritos ainda ecoavam na minha mente. Meu pai e minha mãe, tão fortes e confiantes na frente dos outros, mas tão frágiles naquele momento. Eles estavam sendo mortos. Não sabia quem eram os assassinos, nem o que realmente tinha acontecido, mas podia ver seus corpos caindo, suas expressões de medo antes do fim. As memórias eram nítidas e cruéis, como se eu ainda estivesse ali, ouvindo os tiros e sentindo o cheiro do sangue.

Fiquei em silêncio por tanto tempo que o medo se transformou em uma ausência completa de emoções. O que eu sabia, naquele momento, era que não poderia contar a ninguém. Estava sozinha.

Foi ali que tudo começou, naquela casa, no calor daquela lembrança.

Eu tinha apenas sete anos, mas sabia o que era o medo. Sabia que o mundo estava prestes a se desmoronar. Quando os corpos foram levados, a vida que eu conhecia se desfez em pedaços. Mas foi a chegada da minha família adotiva que, de algum modo, trouxe uma sensação de segurança. Eles me ofereceram um lar onde as paredes nunca gritaram, onde o teto nunca tremia com os sons da morte. Tudo parecia perfeito. Eles me acolheram, me trataram com carinho, e eu acreditei por muito tempo que, enfim, encontrara um lugar para ser feliz.

Mas agora, olhando para trás, eu via com clareza o que não conseguia perceber na época: havia algo dissonante naquele lar. Algo que não se encaixava. As conversas à porta fechada, os olhares furtivos trocados entre meus pais adotivos. Pequenos detalhes que passavam despercebidos, mas que agora se tornavam claros como o dia. Eu havia sido envolvida em uma mentira, em uma teia de segredos que me enganou por anos.

O calor do abraço deles, a segurança que me deram, agora me parecia uma fachada. Talvez eles soubessem o que meus pais biológicos realmente faziam. Talvez, em algum lugar de suas mentes, houvesse uma conexão com aquela vida que eu achava que havia deixado para trás. Mas foi com o tempo que percebi: tudo o que aconteceu comigo, toda a minha existência, foi moldada por aqueles segredos.

E agora, tudo se conectava. O jogo, o que estava acontecendo, a sensação de estar sendo observada. Era como se minha vida fosse uma peça de xadrez em um tabuleiro muito maior, e tudo aquilo fosse parte de um plano. Eu não podia mais fugir. As escolhas que fiz, as pessoas que encontrei, todos os caminhos que tomei estavam, de alguma forma, conectados a esse momento, esse jogo. E o que eu sentia agora, na minha alma, era que era tarde demais para voltar atrás. Eu estava presa, não apenas no presente, mas também no passado que nunca pude realmente compreender.

E a razão pela qual eu aceitaria jogar esse jogo? Pela mesma razão que aceitei a vida que me foi dada. Porque não havia outra escolha. Eu estava cansada de ser uma espectadora. De ser observada. Eu queria controle. Eu queria entender, finalmente, o que aconteceu comigo, o que aconteceu com meus pais. O que aconteceu com a minha vida. Esse jogo era o único caminho para as respostas.

Eu não sabia o que aconteceria depois, mas agora eu entendia: o jogo já havia começado há muito tempo. Eu só não sabia até onde ele iria me levar.

A sensação de estar sendo observada não me deixou em paz. Eu sabia que havia algo maior por trás de tudo isso. E, embora o medo ainda estivesse ali, agora ele se misturava com uma sensação mais profunda. O medo de descobrir o que realmente aconteceria e, ao mesmo tempo, a vontade de finalmente colocar as peças no lugar.

Com uma respiração profunda, me levantei da cama e olhei para o espelho. O que quer que estivesse à minha frente, eu estava pronta para encarar. Não mais como uma vítima, mas como uma jogadora.

Eu não sabia o que o futuro me reservava, mas algo dentro de mim dizia que eu estava prestes a descobrir. E dessa vez, eu não estava fugindo.

Eu não estava mais escondida debaixo da escada. Eu estava pronta para sair à luz.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!