A passeata pela cidade.

Assim que giro uma das maçanetas da grande porta, me viro com cuidado, assegurando de que não estou sendo seguida. Entretanto, ao me vira para sair, me deparo com um verdadeiro gigante de músculos. Por pouco não escorrego, salvo apenas pela firmeza de suas mãos que me segurou pelo braço.

— A cerimônia é do outro lado, senhora.

— Eu me perdi. Tudo aqui parece um grande labirinto. — Desperto um sorriso forçado, sentindo um misto de frustração e autodesprezo, pois deveria ter previsto que as portas estariam sob a vigilância de seguranças.

Recomponho-me e inicio uma caminhada lenta. Cada passo parece representar um dia a menos da minha vida, pois estou ciente de que, uma vez que este casamento se concretize, minha vida será coisa do passado.

Neste momento, uma saudade da minha mãe me invade, e a ânsia de chorar toma conta de mim. Ela era como uma leoa protetora, pronta para me defender a todo custo. Não importava quem estava certo ou errado, ela jamais permitiria que alguém me machucasse ou me ofendesse.

Finalmente, chego à porta que selará meu destino como prisioneira. Lanço um olhar pelo corredor, avistando alguns seguranças, o que aumenta ainda mais minha aflição.

Meu coração pesa mais do que as pedras precisas que adorna meu traje. A cerimônia árabe se desenrola diante de mim, mas minha mente está imersa em uma luta interna. Eu não quero me casar. Não daquela maneira, não com aquele homem.

— Por que, Deus? Por que me deixou vim para cá, para ter essa vida? — Murmuro enquanto deixo as lágrimas rolarem pelo meu rosto.

A porta se abre, e as lágrimas continuam a rolar. Neste momento, não pretendo disfarçar minha tristeza, nem fingir que este é o casamento dos meus sonhos. Pelo contrário, este é o pior dia da minha vida. Meu pai se aproxima e estende o braço para que eu o segure. Ele me guia suavemente.

— Me perdoe por isso, filha, mas não tive escolha. Quando o Emir ou o Sheik fixam os olhos em uma mulher e a desejam, ninguém pode impedir, e desobedecer a uma ordem deles levaria à traição e eu seria condenado à morte.

— Se eu soubesse, teria permanecido no Brasil, mesmo que tivesse que trabalhar. Ao menos lá teria minha liberdade. Mas não se preocupe, pai, espero que a sua consciência não seja atormentada por vender sua própria filha. Afinal, ele pagou o dote, não é verdade?

Eu sei que aqui existe essa prática de pagar pelo dote da filha, ele mesmo fez questão de que eu aprendesse seus costumes. Ele permanece em silêncio, e a cada passo que dou, uma lágrima escorre dos meus olhos. Vejo minha irmã, que chora assim como eu. E, se pudesse, trocaria de lugar com ela neste momento.

Os sons do oud e do derbake ecoavam pela tenda, criando uma trilha sonora para a minha angústia. Enquanto os convidados se reuniam e celebravam a nossa união, eu me sentia aprisionada em um mundo de expectativas e tradições que não me pertenciam.

Meu olhar se cruza com o de meu pai, seus olhos repletos de lágrimas de alegria. Ele acreditava estar fazendo o melhor para mim, afinal, sua filha estava prestes a se casar com o homem mais importante da Arábia. No entanto, ele não compreendia que meu coração ansiava por liberdade.

Eu desejava intensamente gritar "não", ansiava por escapar do destino que estava traçado para mim. Contudo, naquele momento, tudo o que pude fazer foi sorrir falsamente para Hassan e aguardar o dia em que, de alguma maneira, ele pudesse se cansar de mim, e me dar o divórcio.

À medida que os rituais avançavam, minha mente continuava divagando, em busca de uma saída para aquela situação indesejada. Enquanto as palavras do imã ecoavam pelo ar, recordava as histórias que minha mãe costumava contar sobre mulheres destemidas que desafiaram as convenções para perseguir a liberdade das mulheres. Eu sabia que não poderia escapar naquele momento, mas sonhava com a coragem de fugir.

A cerimônia continuou, e eu segui os passos tradicionais, cumprindo meu papel como noiva. Recebendo ouros, pedras preciosas, e outros presentes caríssimos, tudo para deixar a noiva feliz, mas, não via felicidade nenhuma nisso tudo.

Enquanto o véu era erguido, meus olhos se encontraram com os dele, e pela primeira vez, vi uma faísca de pena em seu olhar. Mas ele não recuou em nenhum momento, não permitiu que eu fosse embora.

Conforme a noite caía e a festa se desenrolava, eu me esforçava para esconder minha tristeza atrás de sorrisos falsos e danças ensaiadas. Isso porque, ele pediu no meu ouvido para que eu parasse de chorar, pois todos iriam comentar e o Emir poderia se zangar.

A cerimônia árabe tinha chegado ao seu fim, e agora eu estava unida a um estranho pelo destino e pela tradição. Mas, em meu íntimo, eu prometi a mim mesma que um dia, encontraria um jeito de escapar dele, e de toda essa prisão.

Depois da festa de casamento, saímos em uma procissão luxuosa pelas ruas de Dubai para celebrar o nosso casamento. Enquanto o carro dourado nos transportava, escoltado por uma frota de veículos de alto padrão.

Eu me sentia como uma princesa de conto de fadas. Que estava preste a entrar na torre da prisão. A multidão se aglomerava para nos ver, e as pétalas de rosas que eram jogadas em nosso caminho criavam um tapete de cor e perfume, tornando tudo ainda mais romântico.

Os músicos tocavam melodias tradicionais árabes, e os dançarinos nos envolviam em suas graças e movimentos. Enquanto ele segurava na minha mão, e a outra ele acenava para todos. A multidão nos aplaudia, e abençoava a nossa união.

Via-se que ele era bem querido no meio da população, pois todos sorriam alegremente para ele. E não era aquele sorriso forçado só porque ele era o Príncipe, mas, porque tinham carinho mesmo por ele.

Chegamos em um local onde tem uma festa para toda a população. O carro parou, e ele pegou na minha mão. Fomos cumprimentando todos com um toque de mão, já que os seguranças dele, não deixava a população se aproximar. Assim que ficando na parte da frente, ele segura a minha mão, e deposita um beijo e chama a atenção de todos, e começa a falar, enquanto eu miro a minha chance de fulga...

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