Voltaram para o "refúgio ", é assim que chamam o novo lar, ao anoitecer Bela e Vagalume se arrumam para sair, Toc nunca perguntou o que fazem quando saem a noite, mais imagina, fica a tomar conta de Grilo ambos ajudando Tia a arrumar um canto onde será sua cozinha e lavanderia. Toc observa Tia, uma mulher maltratada pelo tempo e pela vida nas ruas, deve ter uns quarenta anos, cabelos meio encaracolados sempre amarrados num rabo de cavalo baixo, pele morena, alta e magra, devia ser muito bonita quando jovem, se recebesse alguns cuidados e roupas que lhe valorizassem pareceria bem mais jovem. Ela suspira por um fogão a gás e utensílios de uma cozinha moderna.
Tia: — Eu já fui uma excelente cozinheira!
Toc não segura a curiosidade e pergunta a Tia sobre o seu passado.
Toc: - Foi é? E o que fazia? Poderia cozinhar pra gente um dia. Seus pratos eram gostosos?
Tia se senta, os seus olhos estão perdidos em algum lugar do passado "Eu fazia de tudo, doces e salgados. E modéstia a parte eram deliciosos. Vim do Nordeste ainda menina, com meus pais, e comecei a trabalhar para uma família rica, no início eu ajudava na cozinha, observava e aprendia só de olhar, depois comecei a fazer umas receita sozinha, inventada pratos... E todos gostavam do que eu fazia. Eu gostava muito de cozinhar! - De repente a sua fisionomia muda, fica triste — Eu era ingênua, não entendia nada de leis ou direitos... Ficava feliz com as roupas e bugigangas que me davam em troca do meu trabalho...e assim foi durante anos. Mais eu me sentia feliz, estava muito melhor do que onde morava antes em minha terra, tinha um teto e uma cama quentinha. Quando fiquei moça, e eu era bonita, o meu patrão quis mais de mim... E eu ingênua cedi. Eu acreditei que ele gostava de mim...— uma lágrima desce pela face de Tia — Quando a patroa descobriu colocou-me na rua, e ele não fez nada para me ajudar, fui jogada fora como um objeto sem nada, nada a não ser…
Toc: - Não precisa contar-me se não quiser...
As lágrimas agora descem sem parar. Tia as seca com as costas das mãos. Toc acaricia-lhe os ombros e cabelos.
Tia: — Eu preciso terminar... Meus pais já haviam falecido. Quando fui colocada na rua eu não estava sozinha, tinha uma criança no meu ventre - segura em sua barriga - uma criança que não pude conhecer, a tiraram de mim assim que nasceu…
Toc a abraça: - Eu sinto muito...- chora com ela.
Tia se solta do abraço e se levanta: - Foi melhor assim, que vida eu daria a ela? Eu não tinha nada, eu não tenho nada!
Toc: — Tem sim, Tia, tem a nós, somos sua família, amamos você.
Agora é Tia que abraça Toc, Grilo as vendo abraçadas se junta a elas.
Paizão fica num canto as observando, ele lembra-se de quando conheceu Tia, a muitos anos, a encontrou quando perambulava pelas ruas a procura de um lugar seguro para passar a noite, ela estava sentada na beira de um viaduto com os olhos perdidos nos carros que passavam lá em baixo, ele sabia o que se passava na cabeça dela, pois também já tivera os mesmos pensamentos, se aproximou dela de mansinho, não disse nada, apenas lhe estendeu a sua mão. Após olhar para elas por alguns segundos, indecisa, levantou o olhar e o olhou no fundo dos seus olhos, encontrou neles um amigo, resolveu segurar sua mão. Um coração sofrido entende o outro, ele ajudou-a a descer e até hoje estão juntos, ela contou-lhe a sua vida dizendo que já estava nas ruas há anos, se prostituindo e usando tudo que encontrava, estava cansada, desiludida, destruída… e só, muito só. Ele também estava assim, e um ajudou o outro, tornou a vida do outro menos solitária.
Paizão a ajudou a se livrar das drogas, a protegeu, e ela tornou-o menos amargo, mais humano.
Durante muito tempo foram só os dois, Tia se sente grata a ele, que com todo o seu tamanho, sua seriedade e as suas poucas palavras é muito melhor que muita gente, tem um coração tão grande como ele.
Vagalume passou a fazer parte do grupo a uns anos, Paizão e Tia o ajudaram quando um grupo de homofóbicos o cercaram num beco e por pouco não o lixam, bando de covardes! Tia os viu e foi em defesa de Vagalume, já iam a machucar também quando Paizão se aproximou, até tentaram o acertar, mais não conseguiram e correram quando observaram o seu tamanho e agilidade.
Vagalume havia sido expulso de casa devido ao seu jeito e opção sexual, o seu pai não aceitou, deu-lhe uma surra lhe dizendo para virar homem e o colocou na rua. A sua mãe o chamava de aberração, não o defendeu um só minuto. Vagalume encontrou em Tia e Paizão o que não tinha em casa, respeito e carinho.
Bela e Grilo foram trazidos por Vagalume numa noite, mais recentemente, Bela disse quererem tirar-lhe o filho, que não tinha para aonde ir, não conhecia as ruas e precisava de ajuda e proteção. Tia apaixonou-se por Grilo, cuida dele como se fosse seu filho, Bela e Vagalume os ajudam ganhando uns trocados na rua, Paizão os protege e Tia cuida deles.
E enfim Toc, uma bela moça, gentil, carinhosa e sem memória, com medo de se lembrar o que aconteceu, um grupo em nada comum, formado pelo destino e dificuldades da vida.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Joicy Angelossi
Espero que esse grupo permaneça unido sempre autora não destrua essa união deles por favor tão lindo ver eles cuidando um dos outros
2024-12-19
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Elsa Maria Rego
estou gostando já li o q o título e . minha menina
2025-01-22
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Sandra Maria de Oliveira Costa
triste realidade infelizmente 😔🥺
2024-10-25
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