12. Destilando veneno

A festa tinha sido bem divertida para Kai, o problema foi ter que sair depois para continuar a sua investigação sem levantar suspeitas em Pérola e Stephen, que insistiram que ele deveria ficar com eles até amanhecer. Já eram por volta das sete da manhã quando ele saiu do local de armazenamento do porto para voltar ao hotel. Como ele sabia que Pérola dormiria até tarde, ele decidiu parar em uma loja de conveniência para comer alguma coisa.

O oriental estava tranquilo comendo um lanche em uma mesa quando ouviu o ronco do motor de carros esportivos. Logo um grupo barulhento desceu dos carros e entrou na loja, tirando a sua paz. De repente, ele viu a cadeira que estava a sua frente ser arrastada e ao levantar a cabeça, ele encontrou os olhos claros de Marcus, que tinha um sorriso afetado no rosto:

— Ora, o que temos aqui. - Marcus sentou na cadeira sem cerimônia. - Vi que saiu da festa mais cedo e deixou a Pérola para trás. Me responda, quanto estão te pagando para você fingir estar com ela.

Kai deixou o lanche que comia de lado e levantou a cabeça irritado:

— Eu não preciso ser pago para estar com a Pérola. - O oriental respondeu sério.

— Pode ser sincero, todo mundo da cidade sabe que ela é sapatão.

— Não sei o porquê acham isso dela.

— Eu não acho, eu tenho certeza, meu caro. - O surfista quis passar seriedade. - Ou você acha que ela se veste daquela forma à toa.

— O que uma roupa quer dizer sobre uma pessoa?

— Ora, ela se veste como um homem!

— Isso não muda o fato biológico dela ser uma mulher, e muito bonita, por sinal.

— Eu estou te falando cara, ela só esta te usando para esconder que ela gosta de mulher.

— Como pode ter tanta certeza?

— Óbvio, ela e eu somos colegas de equipe a muitos anos e até hoje ela nunca demonstrou interesse por homem comigo, mas sempre ficava mostrando as garotas ao nosso redor para mim.

Foi então que Kai entendeu o que Pérola havia passado com aquele babaca que estava sentado à frente dele. Provavelmente, na esperança de saber que tipo de garota ele gostava, ela mostrava outras mulheres para entender o gosto do colega de equipe, isso fez com que todos pensassem que ela fosse homossexual, o que não era verdade:

— Já que a conhece há muito tempo, deve saber que ela cresceu sem uma presença feminina em sua vida, por esse motivo ela não sabe muito bem como se posicionar como mulher, mas não se preocupe, eu vou cuidar para que ela se torne uma mulher incrível. - Kai pegou a garrafa com suco que havia comprado e bebeu o líquido.

— Você quer mesmo insistir com uma mulher que nunca vai levar para cama? - Marcus desafiou.

— Acho que é uma coisa que só condiz a mim e ela.

— Se quiser, tem umas amigas minhas ali fora que podem te servir bem.

— Agradeço a oferta, mas a Pérola é mais que suficiente para mim. - Kai se levantou para sair.

— Ô, é sério, não fica com ela não, pega mal demais, todo mundo sabe que ela é sapatão e o pessoal tá falando que você esta sendo pago para ficar com ela. Estou te falando porque sou homem e não quero que um parceiro que não sabe do que rola aqui fique mal falado.

— Entendi. - Kai sorriu. - Sabe, eu gosto bastante da Pérola e não ligo para nada do que você, seus amigos ou qualquer pessoa desse local pensa dela. Ela é minha e isso é o que importa.

Kai terminou a bebida, colocou a garrafa sobre a mesa e saiu da loja. Ele subiu na moto e acionou o veículo, dando uma acelerada para chamar a atenção do grupo que estava no caminho. Ele pode ver Marcus saindo da loja com um ar de irritação, o que fez ele querer se mostrar mais ainda. O oriental saiu do local cantando pneus sob os gritos animados do grupo de amigos de Marcus.

Marcus saiu do local em seguida, podendo ver Kai se afastando cada vez mais do local. Nada lhe tirava da cabeça que aquele cara estava sendo pago para se envolver com Pérola, e ela também havia mudado muito desde que havia conhecido aquele cara, talvez fosse melhor ele agir logo, pelo bem dos troféus de campeonato que a equipe deles tinha que ganhar pela frente.

Pérola acordou sentindo sua cabeça latejar. Há muito tempo ela não bebia tanto, ainda bem que Kai a convenceu não ficar tanto tempo depois da saída dele. Ela acabou voltando cedo para casa com Stephen e Gael, o que lhe deu um pouco mais de tempo para descansar. A morena se levantou, tomou um banho rápido e se arrumou para ir ao encontro do pai, para verificar se ele precisava de alguma coisa. Com sorte, encontraria Kai no caminho.

Como já estava próximo do horário do almoço, ela pegou uma maçã para comer e seguiu o caminho que levava até a parte administrativa do hotel. Ao passar pela cozinha, um funcionário informou que Netuno estava no depósito fazendo o levantamento semanal. Como o depósito ficava no estacionamento, Pérola optou por sair pela porta principal e caminhar até a lateral, assim ela poderia cumprimentar Marin.

Após trocar algumas palavras com Marin sobre a festa do dia anterior, a morena saiu do hotel, cumprimentando alguns hóspedes no caminho, até alcançar a entrada. Como sempre, o céu estava azul e o Sol brilhante. Ao fundo, era possível ouvir o som das ondas do mar. O dia estava lindo.

Pérola desceu os degraus da frente do hotel rapidamente e passou a andar pela calçada que levava até o portão do estacionamento, quando de repente uma pickup vermelha parou ao seu lado, e logo ela reconheceu a voz de Marcus:

— O que quer? - Ela perguntou de mau-humor.

— Quando vamos voltar a treinar? - Marcus perguntou sério.

— Não sei.

— Temos um campeonato dentro de dois meses, você tem que começar a treinar.

— Não, eu não tenho. - Pérola olhou para ele, séria. - Não pretendo participar de mais nenhum campeonato com você. Procure outra pessoa para me substituir.

— O quê? - Marcus desembarcou do carro apressado. - Esta ficando louca? Nós somos uma equipe, uma dupla, como você pode querer me deixar agora?

— Se te deixa feliz, procure entre as suas amiguinhas, certeza que uma delas vai adorar ser sua companheira de equipe.

— É por causa daquele cara? É por isso que não quer competir? Ele está fazendo a sua cabeça para não se aproximar de mim?

— O Kai não tem nada a ver com isso. Eu apenas não quero mais o estresse de uma competição, já chega para mim. - Pérola se afastou de Marcus e entrou no estacionamento. Onde encontrou o pai, que a abraçou com carinho.

— Parabéns por se defender, minha menina. - Netuno falou orgulhoso.

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