Capítulo 15

Nem Michael, nem Ivy comentaram a afirmação de Annete, ambos sabiam muito bem que ela tinha a mais absoluta razão, não é somente o amor que une um casal, e prova disso, era que os dois ali sentados enganando aquela doce senhora, entravam nas estatísticas de relacionamentos por conveniência.

— Mal posso esperar pelo meu aniversário de noventa e três anos. Tenho certeza que será uma grande festa, a família toda estará presente, mas para falar a verdade, quem mais me importa que esteja ao meu lado, é você, meu neto. Me deixa muito feliz estando presente numa data tão especial para mim, ainda mais...ah, deixe para lá, será surpresa! Fico ainda mais feliz ainda em saber que está tão bem acompanhado.

— Eu não perderia essa comemoração por nada, vovó! Tenho certeza que será um evento e tanto.

Três semanas depois, na penúltima semana que ficariam no litoral, pois a festa seria realizada na última semana, Michael e Ivy continuavam a manter uma boa relação entre eles, acabaram se conhecendo muito, e ambos gostavam da companhia um do outro. Michael se mostrou um homem engraçado e leve, fazia piadas bobas sobre os assuntos, e em muitas ocasiões olhava carinhosamente para Ivy.

Os dois pareciam velhos amigos, e durante o dia saíam pela praia e conversavam por longas horas, riam de histórias do passado que haviam vivido, quando chegava à noite, Michael e Ivy continuavam a conversar madrugada adentro, no quarto, os dois já não tinham mais receio de partilharem o mesmo ambiente, e se tornara algo natural.

Ele continuava a olhá-la com um certo desejo, mas sabia disfarçar muito bem. Ele se surpreendeu de estar abrindo seu coração para alguém depois de tanto tempo.

O estranho, era que se sentia confortável em se mostrar verdadeiramente para Ivy, gostava da sensação de que alguém o conhecesse como realmente era, sem o julgar. Pela primeira vez, depois de muitos anos, se sentia feliz em se abrir novamente para uma mulher, mas não era qualquer mulher, e sim, Ivy Garcia.

Podia até dizer, que gostava dela, aliás, era muito mais do que apenas gostar, sentia algo, diferente por ela. Adorava sua risada, sua companhia, seu olhar doce, sua voz macia, sua inteligência, seus olhos, seu cheiro, adorava o jeito meigo e até quando ela discordava dele, Michael achava sexy. Ivy era a mulher ideal, pena que ele não estava a procura de mulher alguma.

Quanto mais ficava perto dela, mais ele queria ficar. Nem mesmo aquelas roupas velhas e surradas faziam diferença, pois ele percebera o quanto era bonita e atraente, ao seu próprio modo, e que roupas, apesar de deixar uma mulher mais bonita, são somente uma embalagem, o que realmente conta, é o conteúdo. Se lembrava do que sua avó dizia: Por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento! Se lembrando das mulheres que já havia saído, podia ver que era exatamente aquilo. Entendera que uma mulher não precisava estar vestida com roupas de grife para atrair um homem, e sim, ser verdadeira, real e sincera.

O dia da festa de aniversário de Annete, chega. A casa havia sido preparada impecavelmente para receber os convidados, o que deixava Ivy ainda mais insegura e inquieta, iria conhecer os parentes e amigos mais próximos da família Wood. Annete estava agindo de forma estranha havia algum tempo, pois andava fazendo perguntas demais sobre o relacionamento dela e de Michael, além de pedir seus documentos, com a desculpa que era para um presente especial, para ela. Annete andava feliz demais, sorridente demais, como se estivesse aprontando alguma coisa.

Ivy se sentia cada vez mais ansiosa, pois sua estadia com Michael no litoral estava acabando, e quando retornassem à realidade, não precisariam representar o papel de noivos, já que Annete não estaria ao lado deles constantemente.

Sabia que naquela noite estariam presente Rebeca e seu noivo, os dois irmãos dela e seus pais, alguns amigos mais próximos da família, além de, possivelmente a mãe de Michael. Sabia da relação conturbada que ele mantinha com ela, mas em datas especiais, Vivian Wood sempre estava presente, pelo menos era o que haviam contado a ela.

Ivy havia escolhido para a noite um vestido nada simples, pois em um de seus passeios pelo centro da cidade com Michael, acabara comprando um vestido ousado e muito caro, que certamente levaria alguns meses para pagar. Naquela noite, resolvera ousar, e já que representaria o papel da noiva apaixonada, queria se sentir bonita e confiante. O vestido era de um vermelho vivo, tinha um tecido sofisticado e bem estruturado. Na lateral possuía uma grande fenda que deixava sua perna de fora, na parte de cima o vestido era sustentado por uma estrutura justa, decote em formato de coração. Seus cabelos estavam presos apenas de um lado, o que deixava sua delicada orelha e seu pescoço à mostra, estava deslumbrante.

Seu corpo era insinuante dentro daquele vestido, mas de uma forma elegante e sexy. Sua maquiagem era delicada, apenas realçando sua beleza natural, com destaque em seu batom, da mesma cor do vestido. Ao terminar de se arrumar, Ivy se admirava no espelho, não conseguia entender como uma roupa podia mudar tanto uma pessoa, ela que era acostumada a usar roupas simples e gastas, agora parecia uma mulher sofisticada e de classe. Michael não se encontrava no quarto, havia a deixado sozinha e decidira se arrumar no quarto de hóspedes, não queria constrange-la, e questionado por sua avó, apenas respondera que Ivy estava nervosa em ser apresentada à família, por isso era melhor deixa-la sozinha.

Às oito horas, Michael bate à porta, Ivy ainda parada em frente ao espelho, terminando de borrifar perfume em sua pele, apenas responde para ele entrar, mas sua voz estava vacilante, um frio na barriga se apossava dela, suas mãos estavam trêmulas e não sabia se seus joelhos aguentariam por muito tempo.

A visão que Michael teve ao entrar no quarto foi de tirar o fôlego. Ivy estava mais do que maravilhosa, estava simplesmente esplêndida, incrivelmente sexy, adorável, desejável ao extremo, era difícil encontrar palavras que descrevessem verdadeiramente aquela mulher parada à sua frente.

Seu desejo por ela aumentava a cada segundo que respirava, olhava aquele corpo cheio de curvas insinuantes e aqueles doces olhos e aquela boca carnuda, e precisou se esforçar muito para manter a sanidade, era impossível ficar apenas olhando Ivy Garcia e não fazer nada. Sentia vontade de pegá-la em seus braços e beijá-la até que ficassem sem ar, se imaginava a despindo vagarosamente e a levando para a cama, queria a ensinar como se dava prazer a uma mulher. Aqueles pensamentos o deixavam desnorteado, engolia em seco, sentia uma vontade louca de tê-la só para ele. Recobrando os sentidos, Michael resolve quebrar o encantamento, sabia que estava pisando num terreno perigoso.

— Podemos descer, Ivy? Já estão todos lá embaixo, minha família é bem pontual.

— Oh! Claro! Estou um pouco nervosa, mas podemos descer.

Ivy não escondia sua decepção, esperava que ele pelo menos dissesse algo a respeito de sua roupa. Naquela noite até ela mesma se achava bonita, tão bonita como nunca havia se visto antes. Michael também estava maravilhoso com seu terno impecavelmente cortado, sua postura elegante e forte. Seus cabelos penteados sem nenhum fio escapando, seu rosto era anguloso e lhe conferiam um ar másculo, seus olhos estavam mais profundos do que nos dias anteriores, e seu perfume inundava o quarto, ele com certeza era o homem mais bonito que Ivy já vira em toda sua vida.

Caminha até ele a passos lentos, a medida em que se movia a fenda de seu vestido se abria ainda mais e revelava sua coxa torneada e firme. Podia notar os olhos de Michael sobre ela, notava também, quase que imperceptivelmente ele contrair seu maxilar, parecia estar se controlando ao máximo, mas não sabia o motivo. Será que ele também estava nervoso por conta do falso noivado?

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