Capítulo 4

Ela tinha os pensamentos longes, como se revisitasse o passado e sentisse a mesma dor pela escolha de sua mãe. Sua dor maior, era saber que sua mãe ficara do lado do homem que a cercava de todas as formas. Tentara fazer sua mãe perceber a forma repugnante que seu “padrasto” a olhava, mas a mulher parecia não querer enxergar, estava encantada com o rapaz mais jovem, e se sentia envaidecida por ter a escolhido, dizia que tudo não passava de intrigas, e que ela queria separá-la de seu marido.

Não demorou muito até que sua mãe “sugerisse” que estava na hora de Ivy ir em busca de seus sonhos, fora uma forma educada de a mandar embora de casa. Em questão de poucos dias, havia sido exatamente o que fizera, assim que seu estágio e sua faculdade terminaram, pegara suas coisas, e partira, sem olhar para trás, sem nem ao menos se despedir. A princípio não deixaria o país, mas ao falar por telefone com Clara, sua prima, ela a encorajara a tentar a vida em Londres.

No começo a ideia se mostrou absurda, não sabia se conseguiria mudar radicalmente sua vida, mas ao perceber que não tinha nada a perder, acabara aceitando a oferta, e embarcou rumo à outra vida. Ao chegar à Londres, sua prima a ajudara a se instalar num lugar bem modesto, pois ainda não tinha trabalho algum, e suas economias eram reduzidas, Clara havia oferecido para Ivy passar um tempo com ela, mas a jovem mulher tinha uma casa pequena e três filhos, além do marido, não queria interferir na rotina deles, queria começar uma nova vida por conta própria, queria mostrar para si mesma, que era perfeitamente capaz de se estabelecer sozinha, ainda que fosse difícil.

Assim que sua validação do diploma de arquitetura havia saído, Clara avisara que tentaria a ajudar ser entrevistada nos escritórios de arquitetura Wood, onde era secretária, mas enquanto não conseguisse, Ivy teria que se virar com outros trabalhos. Meses depois, quase perdendo as esperanças, finalmente, Clara havia a avisado de que haveria uma seleção para novos arquitetos, e conversando com as pessoas certas, conseguira colocar seu nome na lista de entrevistados, só não sabia que mais uma vez, o destino parecia estar contra ela.

— Pelo jeito, andou mesmo investigando tudo a meu respeito, não é? — Tinha o olhar distante enquanto falava, pois havia revivido coisas que queria esquecer.

— Sim, mas foi necessário, afinal, se aceitar minha oferta, passará muito tempo ao meu lado, então preciso saber exatamente tudo a seu respeito. Não posso correr nenhum risco.

— E se eu não aceitar?

— Não acha que é muito cedo para recusar? Eu ainda nem expliquei os termos em que a contratarei.

— Não me leve a mal, mas o senhor poderia contratar qualquer mulher para esse “trabalho”, não entendo o motivo de ter me escolhido. Obviamente trabalhar aqui como arquiteta é um verdadeiro sonho, mas sobre a outra parte...Por que não escolheu uma supermodelo ou então alguma amiga próxima? Eu sou apenas, uma mulher comum. Já olhou para mim?

— E é exatamente de uma mulher “comum” que eu preciso. A escolhi justamente porque olhei muito bem para você. Estou cansado de mulheres interesseiras, e que acham que vão conquistar meu coração, e em seguida me arrancar milhões, não me leve a mal falando assim, mas sei que sou um homem cobiçado, e muito disso se deve a minha posição social. E sobre minhas “amigas”, como mencionou, não servem para este papel, pois seriam descobertas em poucos dias, ou então acabariam misturando as coisas e criando uma intimidade que eu não quero. Você é perfeita para isso, já que, não é nem de longe o tipo de mulher que me interessa. Você não me atrai fisicamente. Estaríamos seguros quanto a sentimentos, ou a qualquer tipo de envolvimento.

Ela não poderia ter se sentido mais humilhada, pois de certa forma acabara de ouvir que não era atraente, ou bonita. O homem à sua frente estava lhe pedindo ajuda, mas deixara claro que jamais olharia para alguém como ela, não era nada agradável ouvir aquilo, pois seu orgulho havia sido ferido. Sabia que não era uma mulher que atraía muito a atenção masculina, ela mesma se sentia mais confortável em parecer “invisível”, aderira a um estilo básico, o que era facilmente confundido com sem graça, ou até mesmo feia, de certa forma não podia discordar, ele apenas estava sendo sincero.

— Acho que foi a forma mais educada de alguém dizer que eu não tenho encantos! — Dizia, com expressão magoada. — Mas, ainda assim, isso tudo me parece loucura! Não tem a menor chance de dar certo. Vim até aqui pensando que finalmente conseguiria uma chance de mostrar meu trabalho, e não para ser noiva de aluguel! Eu estudei arquitetura, senhor Wood, e quero ser reconhecida como tal! — Seu olhar era obstinado ao dizer aquelas palavras.

— Senhorita, Garcia, não tive intenção de ofendê-la, mas sou um homem direto, e muito franco! Você trabalhará neste escritório, será uma de minhas arquitetas, terá tempo de sobra para mostrar seu trabalho e obter reconhecimento, se assim o merecer, mas o que eu quero realmente, é que aceite esse “trabalho” extra! Sei que sua situação financeira é péssima, sei também que é seu sonho trabalhar aqui, então minha oferta será muito generosa. Para conseguir o que quero, estou disposto a tudo. Além de lhe pagar um bom salário, ainda vou lhe oferecer 5% das ações desta empresa, poderá desenvolver o projeto que quiser, e seu futuro financeiro estará garantido para sempre. Minha oferta é irrecusável!

Nesse momento, ela acaba se contorcendo na poltrona, não podia acreditar que aquilo fosse real, nem em seus melhores sonhos, havia imaginado que um dia teria parte no maior escritório de arquitetura do país. Só podia ser brincadeira, ou então o motivo daquela proposta era muito sério, não é todo dia que um grande empresário resolve barganhar 5% de suas ações, em troca de um noivado falso.

Mas pensando bem, um noivado não era um casamento, quantas pessoas não ficavam noivas por anos, e depois não se separavam? Por que ela não considerava a proposta? Se pensasse bem, não era tão absurdo assim, ou era? Mas...o que estava acontecendo, afinal?

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