Capítulo 18

Isadora entre choro, continuava a relembrar seu passado, falava calmamente, como se cada detalhe passasse diante de seus olhos.

- Quando estávamos voltando para casa, depois do almoço, novamente Pedro mudou comigo, começou a me falar coisas absurdas, dizia que nunca me deixaria livre, que eu era dele, e que...oh, Deus!...Ele disse que preferia que morrêssemos todos, ao invés de me deixar e o nosso filho. Ele gritava comigo dentro do carro, dirigia sem prestar atenção na estrada, e estava chovendo, a pista estava escorregadia...Àquela altura meu filho estava na chorando muito e...

Isadora para de falar por um instante e sente que Dolores a abraçava. Ela dizia palavras em espanhol que Isadora não entendia, mas sabia que eram palavras de carinho e conforto.

- Chore, minha filha, coloque pra fora tudo o que está aí dentro.

Alejandro sentia seu coração apertado. Era como se ele estivesse sentindo a dor que Isadora sentia. Queria poder voltar no tempo e fazer com que ela jamais tivesse passado por tudo aquilo. Depois de alguns minutos, Isadora continua a falar.

- Somente quando Pedro começou a agir daquela forma, é que eu entendi que ele havia premeditado tudo. Ele fingiu que me daria o divórcio, e aquele almoço era na verdade uma despedida...ele realmente queria nos matar. Dentro do carro, eu entrei em desespero, me preocupava somente com meu filho, ele tinha pouco mais de seis meses, e estava na cadeirinha, no banco traseiro, mas não parava de chorar, eu não queria que nada de ruim acontecesse com ele. Eu não sei como tudo aconteceu, só sei que derrapamos na pista, e o carro capotou muitas vezes, eu fui arremessada para fora do carro, um pouco longe de onde o veículo estava. Quando eu consegui me levantar e ir em direção ao carro, houve uma explosão e...

- Dios mio! – diz Dolores cobrindo a boca com as mãos, seus olhos já estavam cheios de lágrimas, pois não conseguia imaginar a dor de perder um filho.

- Eu vi o carro explodir com meu filho lá dentro. Não pude fazer nada, absolutamente nada...e tudo...e tudo por culpa minha!

Alejandro se aproxima dela novamente e a abraça, ela chorava copiosamente e soluçava. Não podia deixar que ela acreditasse que havia sido culpa dela, nem mais um segundo, pois o único culpado daquela tragédia, havia sido o ex-marido dela.

- Não foi sua culpa, corazón.

- Foi sim...se eu não tivesse pedido o divórcio...

- No digas eso! (Não diga isso!)

Dolores se levanta da cama, enxuga seus olhos e sai do quarto, naquele momento conseguiu entender o motivo de Isadora ter desmaiado ao ver seu neto, filho de sua filha. Certamente, Isadora havia comparado o menino sorridente e alegre, com seu filho, certamente ela sentia a dor de não poder acompanhar o crescimento de seu menino. Dolores tinha que fazer alguma coisa para a ajudar, mas o quê?

Horas mais tarde, Alejandro repousava ao lado de Isadora. Ela havia adormecido de tanto chorar, falar sobre seu filho ainda era doloroso, e ele podia entender. Ela era tão jovem e passara por tantas coisas desde que nascera, que ele a admirava ainda mais, Isadora havia sido forte por muito tempo, estava na hora de dividir a dor que carregava, e ele ficava feliz que ela estava conseguindo se livrar de certas coisas. Era quase duas da manhã quando ela abre os olhos e se desprende dele. Alejandro não estava dormindo, mantinha os olhos abertos e fitava o teto do quarto com muita concentração.

- Achei que estivesse dormindo – diz, ela se o observando.

- Não consegui, corazón.

- Alejandro, eu...agradeço por ter me ouvido e cuidado de mim...você tem sido incrível comigo.

- Eu é que tenho que te agradecer por ter confiado a mim e a minha mãe, sua história, corazón. Sei o quanto deve ter sido doloroso ter visto meu sobrinho correndo e me abraçando daquele jeito. Seu filho teria a mesma idade dele, não é?

- Sim.

- Como ele se chamava?

- Miguel.

- Miguel, bonito nome.

- Sim. Eu soube que era o nome do meu avô. Minha tia disse que ele foi um pai maravilhoso, mas que morreu ainda muito cedo, então quis que meu filho tivesse o mesmo nome que ele, mesmo não o conhecendo.

- Eu sinto tanto pelo que você passou, corazón.

- Você consegue entender agora porque não consigo deixar que nenhum homem se aproxime de mim? Naquela vez que tocou meu pulso de leve, eu me lembrei do Pedro segurando meus braços enquanto discutia, me ameaçava e...depois disso, sempre vinha um empurrão, ou um tapa, eu tenho medo de que aconteça tudo de novo. Certos comportamentos despertam gatilhos em mim, não consigo evitar.

- Eu entendo. Mas quero que saiba que eu jamais, repito, jamais, vou te machucar. Você é preciosa demais para mim, para te fazer algum mal.

- Eu sei, Alejandro, se eu não sentisse isso, acha mesmo que te contaria tudo? É a primeira vez que eu consigo confiar em alguém novamente.

- Pois eu não vou decepcioná-la. Pode confiar em mim de olhos fechados, corazón.

- De certa forma, me fez muito bem contar tudo isso para alguém, o fardo estava pesado demais. Somente minha tia é que sabe de tudo.

- Isadora...uma coisa que você não contou, é o que aconteceu com os pais de seu ex-marido, depois da morte dele.

- Acho que você já deve imaginar que a mãe dele me culpou. Eles não sabiam que a intenção do Pedro era nos matar, e eu também nunca contei o que aconteceu, mas mesmo assim, ela passou a me infernizar e a dizer que eu é que deveria ter morrido no lugar do filho dela. Eu não consegui suportar tudo aquilo e me mudei de cidade, simplesmente larguei tudo e fui embora. Eu esperei até que minha tia vendesse a casa simples que ela tinha, pegamos o dinheiro e partimos, depois, com o tempo, ela conseguiu comprar uma casa bem simples, e eu dei entrada em meu apartamento, o mesmo que estava hipotecado, conquistamos tudo a troco de muito suor, trabalhávamos dia e noite, até a exaustão. Trabalhávamos com limpeza, já que ela era diarista e entendia de tudo. Eu me mudei sem dizer nada a ninguém, e tenho me mantido em segurança do resto do mundo, dentro do meu apartamento. Vivo apenas para o trabalho, até agora...até...encontrar você...

Alejandro abre um sorriso imenso, pois Isadora acabara de falar que ele se tornara importante para ela, pois agora, não somente seu trabalho e sua tia eram importantes, mas ele também.

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