Capítulo 17

Minha tia não gostava muito dele, mas também não foi contra. Eu decidi me casar porque gostava mesmo dele, e também porque queria que minha tia tivesse a chance de encontrar alguém que finalmente quisesse formar uma família com ela. O Pedro, meu ex-marido, trabalhava com o pai dele, numa imobiliária, e eu, consegui um trabalho numa lanchonete como atendente, mas não durou nada, em uma semana, ele me fez deixar o emprego, dizia que mulher dele não trabalhava fora. Morávamos na casa dos pais dele, e minha relação com minha sogra era péssima. Ela era daquele tipo que superprotege o filho, e sempre acha que os outros estão errados, nada do que eu fazia estava bom, ela dizia que eu era péssima esposa e que o filho dela não era bem cuidado por mim.

- Dios mio! (Meu Deus!) – exclama Dolores

- Nossas brigas só aumentavam, ele sempre ia a favor da mãe dele, era um homem fraco, um menino mimado. Pedro começou a chegar tarde em casa, e eu posso dizer que depois que nos casamos, ele se transformou em alguém muito diferente do que era. No namoro, ele era atencioso, carinhoso, e sempre me respeitava, nunca levantou a voz comigo, mas quando nos casamos, nossa...eu comecei a viver um inferno. Parecia que eu era um objeto e que ele tinha a minha posse, mas grande parte daquele comportamento, era por causa das coisas que a mãe dele falava para ele, Pedro era extremamente influenciável.

- Sinto muito, corazón...você não merecia isso – fala Alejandro baixinho.

- Bem, depois de um ano morando com os pais dele, eu implorei que fossemos morar sozinhos, afinal, ele estava bem no trabalho, e as despesas de duas pessoas não eram tão altas assim. Ele acabou concordando e saímos da casa de seus pais. A mãe dele não gostou nada, e passou a me detestar ainda mais. Nos primeiros seis meses em que estávamos morando sozinhos, foi maravilhoso, parecia que eu tinha o mesmo Pedro de antes, mas aí...tudo mudou quando ele começou a beber e sair com alguns amigos...ele voltou a chegar tarde e se tornou agressivo, até que...ele me bateu a primeira vez.

Alejandro se levanta da cama num salto. Como que alguém podia ser tão covarde e bater numa mulher? Isadora era uma mulher doce e que merecia ser amada e respeitada. Se aquele sujeito não tivesse morrido, como Márcia havia contado a ele, Alejandro mesmo seria capaz de o esganar com as próprias mãos.

- Como ele pode, meu bem? – pergunta Dolores.

- Eu não sei. O comportamento dele se transformou demais. Eu era uma menina sem experiência nenhuma, Pedro foi meu primeiro homem, em todos os sentidos, e eu achava que nosso casamento seria para a vida toda. Depois de me dar um tapa a primeira vez, ele chorou muito, pediu desculpas e eu acreditei nele, por pura ingenuidade. Minha tia não ficou sabendo quando ele me machucou a primeira vez, eu tinha certeza que se ela soubesse, me tiraria do lado dele imediatamente.

- Sua tia é uma mulher sábia, corazón! – elogia, Alejandro.

- Sim. Bem...o tempo foi passando, e ele sempre dizia que eu tinha que dar um filho pra ele, pois só assim, ele ia provar sua virilidade.

- Babaca! – grita, Alejandro.

- Ele começou a me pressionar, e eu ficava ansiosa, por isso não consegui engravidar. As agressões verbais aumentaram por conta da raiva dele, e algumas vezes ele chegava em casa bêbado e me batia ou empurrava, mas eu relevava, não sabia lidar com aquilo, eu era só uma menina assustada. Passamos cinco anos assim, até que com vinte e cinco anos eu engravidei.

- Você tem um filho, Isadora? – pergunta Dolores.

Nessa hora, Isadora não consegue segurar as lágrimas e acaba chorando abertamente. Ela se lembrava de como tudo havia acontecido e não conseguia se libertar da dor. Enxugando os olhos, ela os levanta novamente, e continua falando.

- Não, não tenho. Quando descobri que estava grávida, Pedro começou a me tratar bem, novamente, mas eu sabia que não duraria nada, homens como ele mudam de acordo com seus interesses. Confesso que passei a gravidez ao lado dele, pois o plano de saúde que ele tinha era muito bom, e eu tinha um acompanhamento mais detalhado, ele também não economizou com as coisinhas para nosso filho, mas quando nosso filho nasceu, eu decidi contar como estava meu casamento à minha tia. Ela me fez ver que se eu ficasse mais tempo casada e com uma criança, meu filho sofreria muito com as brigas e as agressões, e a verdade, é que nesse meio tempo eu acabei descobrindo que nunca amei o Pedro de verdade. Eu tomei coragem e pedi o divórcio assim que o bebê nasceu, não queria que meu bebezinho sofresse vivendo numa família desestruturada.

- Sua tia é seu, Ángel de la guarda. (Anjo da guarda).

- Também acho, Alejandro. Bem... eu pedi o divórcio, mas o Pedro se recusou, disse que não me daria de jeito nenhum, me falou que não ia passar a imagem de homem fracassado perante os amigos, e que ninguém o separaria do filho dele. Minha sogra entrou no meio e fez o Pedro acreditar que havia um outro homem, o que obviamente não fazia o menor sentido, pois eu nem saia de casa, vivia trancada apenas cuidando da casa e do bebê.

- Que sogra horrível, você teve, Isadora!

- Sim, ela era horrível. Bem...depois de muitas brigas, discussões e agressões verbais, e algumas físicas, Pedro disse que concordava com o divórcio, mas antes, deveríamos ter um almoço em família na casa dos pais dele. Eu achei aquilo tudo muito estranho, mas se aquela era a condição para ele me deixar em paz, eu aceitaria. Chegando à casa dos pais dele, realmente tivemos um almoço maravilhoso, parecia que nunca tínhamos discutido antes, parecia que tínhamos uma família perfeita. Os pais dele não sabiam que ele havia concordado com a separação, pois nos vendo alegres, acharam que nós tínhamos resolvido nossos problemas.

- Acho que sei o que vem a seguir, e não consigo acreditar...Desgraçado! – grita Alejandro.

Ele não conseguia entender como podiam existir tantos homens que se afirmavam em cima de agressões e desrespeitos, enquanto que para ele, ser homem, era o contrário, era cuidar e proteger um ser tão bonito quanto a mulher é.

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