Capítulo 10

Ao entrar no banheiro, Isadora não resiste e enche a banheira, pois ela parecia muito mais convidativa do que o chuveiro. Sabia que ainda teria algum tempo até que descesse para comer, e aquela banheira parecia chama-la desesperadamente. Nunca havia entrado em uma, e ao sentir tanta espuma em seu corpo, desejou poder viver aquela experiência muitas vezes mais. Não percebeu quanto tempo passou naquela banheira, somente se deu conta, quando ouviu Alejandro entrando em seu quarto e a chamando.

- Corazón! (Coração!)

- Estou no banheiro...já vou...só um minuto, por favor!

Isadora se levanta apressada e procura por um roupão, o encontra no armário, no canto do imenso banheiro, e o veste. Se olha no espelho, e percebe que estava segura, pois o roupão era enorme, e não demonstrava sensualidade nenhuma. Envolve seus cabelos numa toalha, e sai, ela o encontra sentado calmamente numa poltrona no fundo do quarto, não parecia estar com pressa.

- Me desculpe, Alejandro...eu vi a banheira, e não resisti. Acho que perdi a noção do tempo.

- Não se preocupe, Corazón! Fiquei preocupado, pensei que talvez tivesse dormido, ou que tivesse se sentindo indisposta.

- Não, não! Depois desse banho, me sinto nova em folha. Me desculpe...vou me vestir num minuto, e desço para comer.

- Por supuesto! (Claro!)

Ele saiu do quarto e a deixou sozinha, mas ao chegar ao corredor, tinha um brilho diferente em seus olhos, como se de repente, percebesse que ela era uma mulher que além de merecer feliz, era também uma mulher que era capaz de despertar o desejo de um homem, porém, devido ao passado doloroso dela, Alejandro teria que ir com muito cuidado.

A primeira noite de sono na casa de Alejandro fora um verdadeiro bálsamo. Isadora dormira como nunca. Havia três anos que passava as noites em claro, revirando de um lado para o outro, algumas vezes acordava gritando no meio da noite por causa de algum pesadelo, mas estranhamente, não sentira dificuldade nenhuma em dormir num lugar estranho. Ela acorda bem cedo, toma um banho para despertar, e escolhe uma roupa quente, pois estavam no inverno, e embora novembro seja o mês mais frio do ano, ainda podiam desfrutar de dias ensolarados, e sem muita chuva.

As temperaturas ficavam em torno de 13° / 6°C. Isadora escolhera uma calça branca e uma blusa preta de gola alta que moldava seu corpo e evidenciava suas curvas. Estava bonita e elegante. Ao sair de seu quarto, nota a quantidade de quadros que tinha na parede, eram todos do mesmo autor, certamente eram reproduções fiéis, pois os verdadeiros estavam em museus em exposição. Mesmo assim, ela sabia muito bem que haviam custado uma verdadeira fortuna.

Eram de Francisco de Goya, um artista reconhecido por suas obras de temática religiosa, seus retratos e, também pelas pinturas em que imortaliza momentos históricos. Algumas de suas obras mais emblemáticas são El 3 de mayo em Madri, Saturno devorando seu filho e La Maja Nude.

Ela observava as pinturas com muita atenção, e chegava a ficar emocionada, pois eram de uma delicadeza e de uma força, que os sentimentos se misturavam dentro dela.

Alejandro a observava calado, não podia deixar de apreciar o quanto era bonita, seus lindos olhos azuis, seu cabelo claro, e o contorno de seu corpo eram adoráveis, na verdade, muito mais do que adoráveis, ele diria...desejáveis.

- Buenos dias, corazón! (Bom dia, coração!)

- Bom dia! – diz ela se virando e o encarando.

- Dormiu bem?

- Sim, como não dormia há anos! Faz pouco mais de três anos que minhas noites são verdadeiros pesadelos, e...

Isadora quase deixara escapar mais do que devia. Não estava preparada para falar sobre aquele assunto, ainda, mas com Alejandro era sempre assim...natural.

- Você dizia?

- Não era nada! Eu não...durmo bem por conta de...muito trabalho, preocupação.

- Entendo! Mas espero que o tempo que passe aqui, seja um regulador de seu sono. Espero que descanse bastante.

- Sim, tenho certeza que longe de tudo por um tempo, eu posso relaxar um pouco.

- O que acha de descermos e tomarmos um delicioso café da manhã?

- Eu adoraria!

- Vamos?

- Sí, señor!

Os dois desceram as escadas ainda conversando animadamente. Alejandro sabia que a hora de ela se abrir com ele, chegaria, mas não ia forçar nada, até porque, pelo que a tia dela, Márcia, havia contado, alguns detalhes eram dolorosos demais. Tomavam o café da manhã sentados na varanda, de onde tinham uma visão privilegiada do vale que rodeava a imensa casa de Alejandro. No céu, muitos pássaros voavam de um lugar para o outro, o tímido sol do inverno, os aquecia, mas não o suficiente.

- Animada para irmos à feira, amanhã?

- Sim, estou muito ansiosa.

- Corazón, depois que formos à feira, quero leva-la para conhecer meu país. Quero mostrar mais sobre minha cultura, e meu povo, se você quiser, é claro!

- Oh, sim! Eu adoraria conhecer tudo. Você acha que em apenas um dia, é suficiente para eu ver tudo na feira? Será que terei que voltar os outros dois dias?

- Acho que se chegarmos bem cedo, conseguiremos ver muita coisa, mas prometo que te apresentarei às pessoas certas, o que vai adiantar muito nosso trabalho. Não se preocupe, corazón, teremos um dia de trabalho, e nove de diversão! – diz sorrindo e piscando para ela.

Isadora não conseguia entender muito bem o que sentia, pois Alejandro era sempre tão carismático, e tinha o poder de fazer seu coração bater mais forte, não que ela estivesse interessada nele como homem, isso nunca, mas era como se finalmente conseguisse se abrir para uma nova amizade. Era isso! Gostava dele como amigo! Pelo menos, era isso que ela repetia para si mesma há alguns meses.

***OBS: A Hygienalia realmente existe e acontece anualmente em Madri, Espanha, no mês de novembro, e em 2023 será nos dias 7,8 e 9, no recinto ferial/ parque de exposições – IFEMA - Av. del Partenón, 5, 28042 Madri.

As inscrições são no valor de € 15 (impostos incluídos).

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