Capítulo 5

Bem...se lembra que eu disse que a kombi havia pifado? Pois bem, no dia que isso aconteceu, simplesmente o dono do edifício inteiro, Alejandro González, me ajudou, ele me deu uma carona até meu apartamento e na hora que eu ia saindo do carro, ele segurou de leve em meu pulso, acho que ia me dizer alguma coisa, mas eu me assustei tanto, que olhei para ele com os olhos cheios de medo, acho que ele não entendeu nada, até agora.

- Ah, minha querida! Sinto tanto por ter acontecido isso. Então você ainda sente medo de...

- Sim, tia. Infelizmente me apavorei. Acho que preciso de ajuda, não posso reagir assim cada vez que eu falar com um cliente, pois é somente isso que ele é, um cliente como qualquer outro. Eu tenho me mantido dentro desse escritório como se fosse minha tábua de salvação, e agora que tive que encarar a rua, me deparo com esse tipo de reação de minha parte. Passou da hora de eu aceitar que preciso de ajuda.

- Me alegra ouvi-la falando assim, minha filha. Você sabe que eu te pedi que procurasse por um psicólogo há tempos, mas na época você foi relutante e não quis ir.

- Sim, eu achava que ia passar, mas isso já faz três anos, e eu sinto como se tivesse acontecido ontem...

Sem conseguir controlar mais o choro, Isadora acaba se deixando levar pelas lágrimas, sua tia, Márcia, era a única que sabia de tudo o que havia enfrentado, e era também a única que sabia de suas fragilidades, mas para o resto do mundo, Isadora era uma mulher forte e decidida, as pessoas mal sabiam o quanto ela precisava de amor e cuidado.

- Amanhã mesmo vou procurar ajuda, tia. Cansei de me fingir de forte o tempo todo, não posso deixar que isso me destrua dessa forma. Me olho no espelho, e não me reconheço como a mulher alegre e bonita de antes. Eu apenas não aguento mais, quero voltar a sorrir...Ser forte o tempo todo é doloroso demais.

- Até que enfim você entendeu, minha filha. Fico feliz que esteja decidida a procurar ajuda.

Isadora ainda chorava também de alívio, por finalmente entender e aceitar que nem tudo se cura sozinha, às vezes, é necessário buscar por alguém que te direcione ao caminho certo, e que te ajude a perceber coisas que não se percebe sozinho. Chegou a hora de curar suas feridas.

Alejandro passara uma semana sem ver Isadora pelo edifício, estivera tão ocupado com a inauguração que se daria em breve, que não conseguira se encontrar com ela. Descobrira que ela era a dona da agência de limpeza, a ISA'S CLEANING (Limpeza da Isa). Se surpreendera ao ler o relatório, pois a bela señorita havia começado seu empreendimento há quase três anos e se mantivera muito bem no mercado, possuía dez empregadas e crescia cada vez mais, porém, descobrira também que tinha uma grande dívida, seu apartamento estava hipotecado e as contas se acumulavam. A respeito de sua vida pessoal, era praticamente impossível saber, já que ela nascera em outra cidade, e residia há pouco tempo naquele lugar.

Ele decidira ir até a pequena empresa de Isadora, afim de fazer uma nova proposta de trabalho, queria oferecer a ela, que cuidasse da limpeza de sua empresa, permanentemente. Realmente havia gostado de seu trabalho, mas não era somente isso, ele havia ficado muito intrigado com o fato dela ter reagido de forma assustada quando ele a tocara levemente.

Ao chegar à recepção, não encontrou ninguém, o que o fez sair caminhando pelos corredores, ouvira vozes vinda de uma sala no final do corredor, o que ele julgava ser a sala de Isadora, e em questão de segundos, percebe a voz de Isadora falando com uma certa angústia, o que o fez ficar alerta. Alejandro se aproxima vagarosamente da sala com a porta entreaberta, e fica em pé, em silêncio, apenas ouvindo.

Ele ouvira tudo o que Isadora falara, naquela conversa, ela não revelara exatamente qual era o seu problema, mas ficara bem claro que ela fora seriamente traumatizada. Precisaria ter paciência com ela, pois Isadora não passava de uma jovem mulher assustada, e que merecia ser tratada com carinho e cuidado. Sem ouvir mais nada, vira as costas e vai embora, não era a hora de falar com ela, precisaria pensar muito bem como fazer a proposta de trabalho, ou então, ela se afastaria dele, e isso, ele não queria, não sabia bem o motivo, mas ele não queria.

Vinte dias depois, um e-mail chama a atenção de Isadora. O nome Alejandro González aparece imediatamente no corpo do e-mail fazendo a se lembrar do dia em que fugira assustada dele. Ela o abre, e se depara com uma proposta muito vantajosa. Realmente conseguir um contrato fixo com uma empresa daquele porte, era muito animador. Ao analisar o contrato minunciosamente, acaba se decidindo por aceitar, pois a soma oferecida, daria para quitar as dívidas da hipoteca, e ainda finalmente poderia dar de caução para alugar um novo local para a agência, mais barato. Resolve responder imediatamente o e-mail, agradecendo a preferência, e aceitando a proposta. Disponibilizara o telefone de sua empresa, caso o advogado de Alejandro González, quisesse entrar em contato.

Enquanto arrumava sua gaveta, para sair e ir à psicóloga, já que fazia duas semanas que começara o tratamento, seu telefone começa a tocar. Dividida entre ignorar e atender, ela se decide por atender.

- Isa’s cleaning, bom dia!

- Señorita!? Atrapalho?

Ela não precisava perguntar quem era para saber de quem se tratava aquela voz inconfundível.

- Não, senhor! Na verdade, acabei de mandar um e-mail aceitando a proposta de trabalho. Obrigada por ter escolhido minha empresa, não sabe como isso vai me ajudar.

Alejandro não consegue deixar de se sentir feliz, pois pela primeira vez, ouvira a voz de Isadora mais suave, parecia que alguma coisa estava mudando.

- Eu é que agradeço pelo serviço impecável que você fez aqui, mi querida. Podemos nos encontrar para discutir alguns detalhes?

- Claro, mas podemos marcar para outra hora? Eu estou de saída, e atrasada, inclusive.

- Por supuesto! (Claro!)

- Ótimo. Que tal hoje, às 17h?

- Perfeito. Eu passo até sua agência e conversamos. Até mais, mi querida!

- Até mais, senhor Alejandro!

Isadora desliga o telefone se sentindo satisfeita consigo mesma. Sabia que tinha que enfrentar o fato de fazer negócios com homens, e se sentia uma vencedora por enfrentar seus medos. Em apenas duas semanas com a psicóloga, já entendera que se esconder não era o caminho, e que por mais doloroso que fosse, teria que seguir em frente. Até mesmo pessoas fortes, precisam ser cuidadas de vez em quando.

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