Capítulo 13

Isadora olha para o lado e percebe um grande caminhão levantando a caçamba. Ele despejava algo...vermelho, e com cheiro de...tomate! Sim, eram tomates. Somente então, é que ela percebe de qual festa participaria. No mesmo instante olha para Alejandro com olhos arregalados.

- Você me trouxe para a Tomatina, Alejandro?

- Sí, corazón! Alguma objeção? Se não quiser participar, podemos ir embora, agora mesmo.

- Ir embora? Claro que não!

Ela olhava tudo muito animada, sabia que a Tomatina era um evento muito tradicional na Espanha, mas não tinha associado o evento, ao nome da cidade. A Tomatina consistia em uma grande diversão em que às 11h, o primeiro caminhão carregado de tomates chega, e os despeja pela rua, mas todos os tomates são impróprios para o consumo, ou seja, não há desperdício de comida, apenas diversão. Os tomates também precisam estar amassados, para não machucar ninguém quando fossem arremessados. Depois disso, o que se sucedia, era uma grande algazarra, e disputa para ver quem se sujava mais, a cidade ficava apinhada de turistas de todas as artes do mundo, e a única intenção, era que todos se divertissem.

A medida em que avançavam para perto da multidão que pegava os tomates, Isadora sentia um frio na barriga, pois não se divertia há anos, não sabia se iria gostar da sensação de tantas pessoas perto dela arremessando tomates em seu corpo, mas sabia também, que era mais um passo em seu tratamento. As pessoas se misturavam entre a multidão, por onde se olhava, via-se tomate voando, o cheiro era estranho, pois os tomates estavam passados, mas isso não diminuía a alegria das pessoas. Ela agarrava Alejandro pela mão de uma maneira forte, agora podia entender o motivo dele ter sugerido que a segurasse pela mão, pois poderia se perder dele facilmente.

Quando finalmente chegam até os tomates, a festa já acontecia, as pessoas já se enfrentavam em batalhas fervorosas com os tomates, eles param um de frente para o outro, como se ensaiassem quem tomaria a atitude de acertar o outro primeiro.

Sem que nenhum dos dois se movesse, um grande tomate atinge o rosto de Isadora primeiro, em seguida, ele escorrega até seu colo e suja sua blusa branca. Ela olha para o estrago, e abre um sorriso, ao que tudo indicava, estava na hora da brincadeira começar. Ela se abaixa e pega um tomate e arremessa na direção de onde ele havia vindo, acerta um garoto franzino, que em seguida retribui e a acerta em cheio.

A partir daí, era tomate para todo lado, ela se perdia entre risos, escorregões, e tomates, ria com vontade, ria de uma tradição tão diferente da sua, mas que tinha a sua beleza e significado. Alejandro também ria com vontade, e em certos momentos, seus olhares se encontravam demonstrando cumplicidade e talvez...desejo. Isadora sentia sua barriga doendo, de tanto rir, a sensação era inebriante, pouco tempo depois todos já estavam vermelhos de tomate, porém, iam chegando outros carregamentos de “munição”.

Já era tarde quando soou o primeiro alarme para o fim da Tomatina, mas não era exatamente o fim, já que agora os “combatentes” começavam a serem lavados de mangueira ali mesmo no meio da rua.

O tempo estava frio, e a água da mangueira mais ainda, mas isso não deixava nem Isadora, nem Alejandro desanimados, os dois deixavam que jogassem água neles e a cada pedaço de tomate que caía no chão, era uma lembrança de quanto haviam se divertido. Ao final, os dois continuavam sujos, mas felizes. Caminhavam lado a lado animadamente conversando sobre quantos haviam acertado, quando de repente, Isadora por livre e espontânea vontade, entrelaça seus dedos nos dedos de Alejandro.

Ela continuava a falar sem parar, como nunca havia falado antes, ele apenas sorria ao perceber o gesto espontâneo dela, ele aceita o contato e sente seu coração se aquecer ainda mais.

- Alejandro, vamos sujar o banco do seu carro, estamos imundos! – ela diz quando chegam até o carro estacionado longe da multidão.

- Não se preocupe, corazón! Depois mandarei limpar o carro. O que importa, é que nos divertimos muito, não é?

- Sim! Obrigada por isso...acho que nunca me diverti tanto em toda minha vida. Não sei como agradecê-lo – diz ela sorrindo.

- Já me agradeceu com esse lindo sorriso, corazón!

Isadora então solta a mão dele, percebendo que havia o tocado, não sabia em que momento havia entrelaçado seus dedos nos dele, mas havia gostado. Ela então abaixa seus olhos, ainda confusa com o que aquilo significava, e silenciosamente entra no carro e se senta. O interior do veículo fica molhado e cheirando a tomate, mas em pouco tempo iriam chegar ao hotel, e tudo seria limpo. A volta até o hotel fora rápida, parecia que depois de tanta energia gasta, havia acabado a bateria de ambos, a verdade é que haviam se divertido muito.

O corpo de Isadora estava todo dolorido, nunca havia se abaixado e levantado tantas vezes, nem mesmo fazendo faxina. Ao se deitar na cama, sentia uma felicidade sem igual, tinha participado de um evento tradicional de outro país, e nem todos os turistas gostavam da festa, mas ela havia adorado.

Depois que haviam chegado ao hotel, subiram direto e tomaram banho, depois se encontraram no saguão para jantarem, mas os dois estavam cansados, o que fez com que pouco falassem, depois, subiram e cada um se recolheu em seu quarto para descansarem, pois no dia seguinte, Alejandro tinha planos para os dois, mas se recusava em contar para Isadora, ao que tudo indicava, ele estava mesmo empenhado em fazê-la sorrir durante dez dias.

Isadora se deitou para dormir, naquela noite, se sentido muito feliz, havia passado um dos melhores dias de sua vida. O sono a alcançara quase que de imediato, e ao adormecer ainda sorria.

***OBS: Nesta história, a Tomatina acontece em novembro, para coincidir com a Hygienalia, porém, a verdadeira Tomatina, acontece anualmente em agosto, quando a temperatura está quente, e neste ano de 2023, a data da festa será em 30 de agosto, os ingressos custam a partir de 15 euros.

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