Capítulo 6

Toda vez que Isadora saía das consultas com a psicóloga, se sentia melhor, era como se um enorme peso começasse a sair de suas costas, aos poucos. Ao chegar ao seu trabalho, o dia passa muito rápido, pois a rotina era sempre cheia, e a cada nova ligação que recebia, se alegrava, pois era sinal de mais dinheiro entrando no caixa, sem contar, que era sinal também, que suas funcionárias estavam fazendo um bom trabalho.

Se distraíra tanto, que não notou quando Alejandro batera na porta de sua sala. Ele batera e entrara, com um sorriso aberto nos lábios, e somente então, é que Isadora o viu realmente. Pela primeira vez, ela olhou para ele com olhos atentos. Seus olhos brilharam ao vê-lo entrar em sua sala, e seu perfume como sempre, inundava o ambiente. Alejandro com toda certeza era...bonito, na verdade, mais que isso, era incrivelmente bonito, como ela não havia reparado antes?

- Eu bati na porta, señorita, mas acho que não ouviu.

- Me desculpe, hoje tive um dia cheio, acabei me distraindo. Por favor, entre e sente-se aqui.

Alejandro caminha até a cadeira à frente dela e se senta. Ele era alto, quase dois metros de altura, tinha os ombros largos e o quadril estreito. Seus olhos eram de um tom de verde-cinzento que deixava qualquer pessoa hipnotizada. Pela primeira vez, Isadora realmente notou o homem à sua frente. Era lindo, sem dúvidas.

- Como tem passado, señorita?

- Bem, e o senhor?

- Não me chame de senhor, não sou tão velho assim, pode me chamar de Alejandro, afinal, não temos uma grande diferença de idade. Quantos anos você tem?

- Vinte e nove.

- Eu estou com quarenta e dois, isso quer dizer que apenas treze anos nos separam, não é tanto assim. Pode me chamar pelo nome.

- Está bem, como quiser!

- Bem, señorita, estou aqui porque recebi seu e-mail e vi que aceitou minha proposta. Quero discutir com você os termos da contratação, e saber quantas funcionárias pode disponibilizar para minha empresa, pois sei que conta com apenas dez colaboradoras, e que atualmente sua maior clientela, é em casas e apartamentos, não é? Mas a verdade também, é que...queria vê-la pessoalmente, senti saudade de ver esses belos olhos azuis!

– diz de forma muito natural.

Isadora não sabia como reagir àquele comentário. Em seu íntimo havia gostado daquele singelo elogio, pois ele havia reparado em seus olhos, e não em seu corpo, era um elogio muito bom de ouvir, mas, o que deveria responder?

- Bem...Isso mesmo, senh...quero dizer, Alejandro. A maior parte de meus clientes são de pessoas físicas, e não jurídicas. Às vezes fazemos uma limpeza ou outra em alguma empresa, mas nossa maior clientela, são de moradores dos prédios mais próximos.

- Entendo. A señorita acha que consegue contratar mais funcionárias para suprir as necessidades de minha empresa e de suas clientes?

- Sim. Na verdade, já andei estudando o caso, e sei que terei que contratar mais funcionárias, mas não se preocupe, tem muita gente que quer fazer parte de minha empresa, não me leve a mal, mas somos os melhores no mercado, e só não crescemos mais, devido a falta de recursos, mas com o contrato com a sua empresa, tenho certeza que as coisas entrarão nos eixos.

- Não tenho dúvidas, mi querida! Escolhi sua empresa justamente por prestar um serviço de qualidade. E falando nisso, já pensou em entrar no mercado digital? Minha empresa desenvolve softwares de todos os tipos, fazemos desde o planejamento, até a concepção, e depois damos suporte para as empresas, acho que seria muito bom. Você teria um controle muito maior sobre tudo o que acontece.

- Já andei pesquisando sobre o assunto, e realmente um aplicativo que selecionasse o tipo de limpeza solicitado, e o funcionário disponível naquele horário e naquele dia, seria uma maravilha, mas sei também que o custo disso tudo é muito alto, e no momento não posso dispor dessa quantia.

- Bom saber que tem interesse. Com certeza voltaremos a conversar a respeito, mi querida! Tudo tem a hora certa.

Os dois passam duas horas discutindo sobre os termos do acordo, a conversa era estritamente profissional, e nenhum dos dois adentrou o campo pessoal em momento nenhum, porém, os dois conversaram animadamente, e em nenhum momento Isadora se mostrou assustada ou com medo, como dias antes.

Horas mais tarde, quando Isadora chegara em seu apartamento, se olhava no espelho enquanto escovava seus dentes, e no momento em que vira seu reflexo diante de si, percebe que fazia algo que não fazia há muito tempo: Estava sorrindo. E pensava em...Alejandro!

Finalmente as coisas estavam entrando nos eixos. Havia três meses que a empresa de limpeza de Isadora começara a operar na empresa de Alejandro, e a quantia que estava entrando no caixa, fora mais do que suficiente para quitar a hipoteca, mudar a sede da agência de limpeza, e ainda contratar mais funcionárias. Isadora contratara também uma secretária para ela, além de dez funcionária, mais. As propostas de trabalho começavam a crescer ainda mais, e a cada dia que passava, sua empresa se destacava no mercado. Suas consultas com a psicóloga também surtiam efeito, pois agora ela entendera que era preciso sair do “esconderijo”, e voltar a fazer as atividades que antes lhe davam prazer. Aos poucos, ela começou a almoçar fora, ia ao cinema, ou então fazia uma caminhada tranquila pelo centro da cidade, apenas olhando as vitrines, coisas que havia deixado de fazer durante alguns anos.

Ao longo daqueles meses, conversava com Alejandro ao telefone, mas sempre eram conversas relacionadas ao trabalho, nada além disso, os dois tinham uma enorme sintonia em se tratando de negócios, e embora ele sempre se mostrasse alegre, simpático, tinha ainda a estranha mania de a chamar de “mi querida”. Descobrira que ele era espanhol, e que talvez em breve voltasse ao seu país, o que no fundo, a deixava...triste. Não tinha ideias românticas em relação a ele, mas no fundo, sabia que sentiria sua falta quando ele partisse.

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