Capítulo 14

O dia estava chuvoso, a pista escorregadia, dentro do carro uma tensão enorme se abatia. O veículo corria na estrada, uma discussão acalorada tomava conta do interior do automóvel, Isadora chorava e gritava para cessar as discussões, os gritos e choros eram angustiantes. Numa curva, o carro sai da estrada e acaba capotando muitas e muitas vezes, Isadora é arremessada para fora do veículo, e cai num grande barranco, o que se ouve em seguida, é uma grande explosão.

O clarão do fogo inundava o céu, fazendo com que uma espessa fumaça preta tomasse conta de tudo. Isadora abre os olhos tentando se mover, mas ao perceber o que havia acontecido, entra em estado de choque e começa a gritar, era um grito agudo, desesperado e cheio de dor, as lágrimas escorriam de seus olhos, ela sentia que estava em ponto de enlouquecer.

- Isadora!...corazón...acorde!

Isadora suava e se debatia na cama, sussurrava coisas ininteligíveis, outras, eram fáceis de entender. Alejandro já deitado em sua cama, percebe gritos do quarto interligado, imediatamente vai até Isadora e abre a porta, percebe que ela se debatia e chorava, estava tendo um pesadelo. Entendia que ela falava palavras desconexas, mas ainda assim, entendia que havia acontecido um grande acidente de carro. Ela falava algumas coisas como: Pare de gritar...Me solta...Por favor, vai nos matar...e outras palavras que eram impossíveis de entender.

Ela segurava seus braços e a chamava baixinho, para que ela não se assustasse, e quando ele a tocou no rosto, ela acorda como se estivesse levado um choque.

- Não! – ela grita.

- Ei, calma, sou eu, Alejandro...você estava tendo um pesadelo.

- Eu...nossa, me desculpe...não queria acordá-lo – ela dizia entre lágrimas e com a testa suada.

- Não precisa pedir desculpas. Você quer que eu traga água para você?

- Água? Oh, não! Eu...fazia tempo que esses pesadelos não me assombravam mais...eu não achei que justo hoje fosse ter um desses, eu me diverti tanto...sinto muito, Alejandro – diz entre lágrimas.

- Está tudo bem, corazón. Não tem com o que se desculpar. Quer que eu fique aqui com você, até dormir novamente?

- Eu...não vou te incomodar? Você ficaria mesmo, aqui comigo até eu me acalmar?

Ela tinha os olhos tão assustados que era impossível dizer, não. Era óbvio que ele ficaria velando o sono dela.

- Claro que eu fico, corazón. Vou me sentar ali naquela poltrona e esperar até que durma.

Ela pensa por um instante e percebe que ele ficaria muito desconfortável sentado a noite toda, e ele já demonstrara de todas as formas que não avançaria o sinal com ela, e na verdade, tudo o que ela mais queria, era ganhar um abraço dele. Queria se sentir protegida.

- Alejandro?

- Sí?

- Você pode se deitar aqui, ao meu lado? Eu...eu queria que você me abraçasse...- diz sem jeito.

Alejandro sente seu coração se derreter por inteiro, mais uma vez, Isadora demonstrava que confiava nele, seu coração se enchia de alegria em saber que para uma mulher tão machucada, poderia ser um porto seguro. Ele se aproxima da cama dela, e se deita ao seu lado, espera até que ela se aproxime e se aninhe ao seu corpo, por mais que quisesse tê-la nos braços de todas as formas possíveis, esperaria que ela tomasse a iniciativa.

Ela então se aproxima timidamente, e se encosta nele. Alejandro passa seu braço em torno dela, e a abraça. Lentamente a respiração dela se normaliza, e em questão de minutos, Alejandro percebe que ela dormia tranquilamente. Ele sentia uma vontade imensa de entrar na mente e no coração dela e arrancar com as próprias mãos, a dor que ela sentia, tinha vontade de protege-la de tudo e todos, e fazer com que seus dias fossem somente de alegria. Sabia que estava se apaixonando por Isadora aos poucos, era quase impossível a conhecer e não a amar.

Ela era uma mistura de mulher forte e menina amedrontada, era tímida, mas tinha um olhar de mulher sensual, era decidida e habilidosa nos negócios, mas era também insegura e fechada. Isadora era simplesmente fascinante.

Pela primeira vez, Alejandro teria que ser habilidoso com uma mulher, pois pelo seu jeito carismático e galante, jamais tivera dificuldade em se aproximar e conquistar qualquer mulher que fosse. Sempre que se interessava por alguma mulher, ele conseguia o que queria, mas com Isadora...não tinha intenção alguma de brincar com os sentimentos dela, tampouco queria um romance passageiro, mas ao mesmo tempo, não sabia se algum dia ela confiaria nele totalmente, a ponto de se abrir e contar tudo o que passara. Ele passa muito tempo durante a noite e madrugada velando o sono dela, e somente adormece, quando o sol já nascia.

Isadora abre seus olhos e nota que estava agarrada à Alejandro.

Se lembra do pesadelo que tivera na noite anterior, e da angustia que sentira ao se lembrar de tudo. Não queria ter tido aquele sonho de novo, ainda mais num dia tão feliz com Alejandro. Ela o olhava dormindo e sentia seu coração pulsando forte no peito. Não sabia em que momento havia começado a gostar dele, não como amigo, mas...o desejava. Não queria ter aquele sentimento crescendo dentro dela, já havia sentido aquilo uma vez, e acabara tudo de forma muito trágica, não podia permitir que a história se repetisse.

Ela se levanta da cama e vai até o banheiro, queria tomar um banho e deixar aquele sentimento ruim da noite passada ir embora junto com a água. Queria poder se divertir, ser uma mulher normal, queria poder ser livre novamente. Ao sair do banheiro, nota que Alejandro não estava mais no quarto, e que certamente ele já tinha ido para o seu. Enquanto se vestia, ouve uma batida à sua porta, era ele.

- Corazón?

- Sim?

- Buenos dias! Está se sentindo melhor?

- Sim, obrigada por ter ficado comigo a noite toda.

- Não tem que me agradecer, fico feliz que tenha confiado em mim. Isso significa muito para mim, Isadora.

- Eu...mesmo não o conhecendo muito bem, sinto que posso confiar em você.

- Siempre, corazón! Siempre pode confiar em mim. Mas...os planos mudaram, não vamos mais ficar em Valência, depois do que aconteceu, acho melhor irmos embora. Está pronta para partir?

O coração de Isadora para de bater por alguns segundos. Embora? Será que ele havia desistido de passar os dias seguintes com ela? Será que depois da noite ruim que tiveram por conta do pesadelo, ele havia se arrependido?

- Ir...embora? Você quer voltar ao Brasil antes do prazo? – pergunta com voz trêmula.

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