Depois que Márcia saiu da sala, Isadora ainda analisava as contas à pagar, porém, não demorou muito, até que o telefone começasse a tocar insistentemente, sabia que era trabalho, tudo o que ela mais precisava, tanto para não pensar em seu passado, como para se livrar das dívidas.
Fazia tempo que Isadora não saía a campo para realizar faxinas, pois desde que a demanda de trabalho crescera, ela se restringia apenas ao trabalho burocrático, mas era gostoso relembrar o início de tudo, mesmo ao longo do caminho encontrando alguns clientes mal-educados. Nem todo mundo dá valor ao trabalho das diaristas e ao pessoal da limpeza no geral, julgam como algo sem valor, ou como inferior, mas Isadora nunca pensara assim, já que havia sido criada por uma mulher trabalhadora, e com o dinheiro das faxinas que sua tia fazia.
Aprendera a respeitar e a gostar do ofício, mesmo sabendo que não era nada fácil, pois algumas “dondocas” sempre colocavam defeito e diziam que não estava bom o bastante, o que poderiam facilmente resolver, se elas próprias fizessem a limpeza, até porque, você só pode reclamar de algo se sabe fazer melhor, ou igual, do contrário, deve-se respeito ao trabalho alheio, seja ele qual for.
Naquele dia, Isadora limparia uma sala comercial, num grande edifício, não sabia ao certo que tipo de negócio era ali, mas haviam pedido que ela limpasse o ambiente, pois dentro de três dias, uma empresa espanhola se instalaria no local. O prédio era um dos mais altos da cidade, e ela sabia que quem se instalasse ali, deveria ser algum grande empresário. Nesse momento, desejou que algum dia chegasse tão alto profissionalmente, quanto o dono ou dona, daquele escritório que ela estava limpando.
O dia passou muito rápido, Isadora limpou tudo com muito capricho e muita atenção, tirou o pó de cada canto do bonito carpete do chão, limpou as vidraças, lustrou a bonita mesa de carvalho e limpou a estante que certamente teria muitos livros, o que a deixou curiosa para saber de que tipo seriam. Ao final da tarde, retornara ao seu escritório e faz algumas anotações, antes de ir para seu apartamento, se sentia muito cansada, trabalhar com limpeza estava longe de ser tranquilo, valia como um dia intenso de academia, tamanho era o esforço físico, ainda mais, sendo em prédios comerciais, pois exigiam muito.
Ao chegar em seu apartamento, vai direto ao banheiro e tira sua roupa, precisava muito de um banho quente para aliviar as dores que sentia. Se sentia cansada física e emocionalmente, não se lembrava da última vez que havia tirado férias, muito menos, quando sorrira pela última vez. Ao sair do banho, veste um largo pijama e prepara um sanduíche para comer, ultimamente vivia a base de comidas rápidas, e sabia que não era nada bom.
Enquanto comia, liga a televisão e fica passando de canal em canal, não era grande apreciadora de TV, mas era o que fazia companhia. Seus dias eram silenciosos quando estava em casa, não sorria, não se alegrava, e em seus olhos, havia a sombra de alguém que jamais se recuperaria.
Minutos depois, ela volta ao quarto, escova seus dentes e se deita, pois no dia seguinte, trabalharia ainda mais, já que havia sido contratada para limpar novamente mais algumas salas do grande edifício que limpara naquele dia, sinal de que haviam gostado de seu trabalho.
A secretária do contratante havia ligado, e elogiado o trabalho, dissera que quem tinha limpado havia superado todas as expectativas e que o contratante havia ficado muito satisfeito, por conta disso, havia oferecido uma grande quantia em dinheiro para que limpassem todas as salas do edifício. Ao olhar o e-mail com a proposta e o contrato, Isadora achara que havia lido errado, pois a quantia era exorbitante, e aceitara na mesma hora.
Na manhã seguinte, Isadora se identifica na recepção do prédio comercial, e se dirige ao elevador de serviço, já estava acostumada com as pessoas esnobes que faziam separação, como se os trabalhadores não fossem dignos de dividir o mesmo ambiente com as outras pessoas. Ela aperta o botão e desce no andar que limparia. Ouve vozes de algumas pessoas conversando, mas não presta atenção em nada, afinal, não estava li para conversar, e sim, trabalhar.
Naquela manhã, conseguira limpar duas salas, já que sabia exatamente como era o local, e quais produtos deveria usar. Trabalhava com afinco e quando o relógio marcou meio-dia, se sentou no chão, num canto ainda não limpo, e pegou seu sanduíche e uma garrafinha de suco natural em sua bolsa térmica, e se pôs a comer. Estava realmente faminta, trabalhar tanto havia aberto seu apetite, coisa que não acontecia há muito tempo.
Enquanto mastigava seu sanduíche, olhava ao redor e decorava mentalmente o local, era divertido imaginar onde os móveis seriam colocados, e que cores teriam aquela sala. Se distraíra em seus pensamentos, e não percebera um homem parado à porta a observando, ele tinha as mãos nos bolsos e a olhava intrigado.
Isadora percebe que alguém a observava, pois, um cheiro de perfume marcante se contrastava com o cheiro dos produtos de limpeza, a fazendo despertar de seu devaneio decorativo.
- Deseja alguma coisa, senhor? – ela pergunta com voz firme.
- Não. Só estava observando o que você fazia aí sentada no chão, quando esta empresa possui um refeitório, você poderia ter ido comer lá.
Isadora percebe que ele tinha um sotaque diferente, certamente não era brasileiro, mas não conseguia identificar ao certo de onde era.
- Me desculpe, eu parei apenas alguns minutos, vou comer este sanduíche e retornar ao trabalho.
- O que você estava fazendo?
- Eu sou a faxineira, senhor. Estava limpando a sala.
Isadora nota que ele se surpreende com a informação, mas estava acostumada com as reações, pois sempre que ela dizia que era faxineira, ou que tinha uma agência de limpeza, as pessoas se surpreendiam, pois julgavam que não tinha a aparência de que quem trabalhasse com isso, como se tivesse algum padrão estabelecido da aparência dos trabalhadores da limpeza. Ela sabia que era uma mulher bonita, mesmo se descuidando um pouco da aparência, depois de tantas coisas ruins que haviam acontecido com ela, mas ainda conservava os traços delicados e atraentes de antes.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Janayna Santana
o amor da sua vida chegou
2025-02-01
0
Lu e a Estante de Sonhos
É!! Não dão valor, mas ninguém fica sem!!
2024-12-05
2
Ingrid Marliese Tiepner
Concordo,mas também além de não saberem ou não quererem fazer o serviço não sabem viver sem as diarista e faxineira,digo isso da maioria dos de alta classe...
2024-09-29
2