Capítulo 4

Pelo jeito, seu veículo a deixou “na mão”! Se quiser, posso te dar uma carona, señorita!

- Não precisa se incomodar, eu posso chamar um taxi, amanhã peço para alguém vir até aqui e levar a kombi para o conserto – diz em tom firme, não iria de forma alguma aceitar a carona de um estranho, e ainda por cima, UM HOMEM!

- Não é mais fácil aceitar minha carona? Prometo que me manterei em silêncio, já que percebi que não gosta de conversas – insiste, ele.

Ela pensa por alguns instantes, não queria ser indelicada com ele, afinal, até aquele momento, ele se mostrara educado. O problema era ela. Ela é que não estava disposta a deixar ninguém se aproximar, estava acostumada a ser somente ela, por ela mesma. Porém...sentia um cansaço enorme, pois havia trabalhado muito durante a tarde.

- Está bem, eu aceito sua carona.

Ela pega sua bolsa, e alguns itens pessoais, tranca sua velha kombi, e em seguida começa a caminhar ao lado do homem que oferecera ajuda, somente quando estava andando ao lado dele, é que percebe que não sabia seu nome, não se dera nem ao trabalho de saber como se chamava. Ele andava calmamente pelo estacionamento e parecia tranquilo.

Àquela hora, havia somente sua kombi, e um carro esporte luxuoso no estacionamento, ela não pode deixar de notar que ele não era um simples funcionário daquele lugar, certamente tinha um alto cargo na empresa.

Alejandro abriu a porta do luxuoso carro para que ela entrasse, em seguida, contornou o carro e se acomodou no interior do veículo.

- Agora é só me dar seu endereço, que prometo que a levo em segurança para casa.

O trajeto até o apartamento de Isadora havia sido feito em silêncio, ela não se sentia confortável na presença de um homem, e nem mesmo tinha a noção de que reagiria daquela forma. Ao chegar em frente ao prédio dela, Alejandro desliga o carro e a olha carinhosamente.

- Pronto, mi querida! Chegou sã, e salva!

- Obrigada, senhor...acho que não perguntei seu nome.

- Alejandro! Me chamo, Alejandro González. E a señorita, como se chama?

Alejandro González? Então ele era o dono de tudo? Isadora sabia muito bem quem era o dono, pois lera o contrato minunciosamente, apesar de ter sido contratada por uma secretária, o documento estava com o nome do dono e presidente da empresa: Alejandro González!

- Me chamo, Isadora! – falou por fim.

- Encantado em conhece-la señorita!

- Bem...mais uma vez, obrigada pela ajuda, e me desculpe pelo transtorno, amanhã mesmo vou dar um jeito de tirar minha kombi de lá, afinal, ela é meu instrumento de trabalho e preciso dela.

Isadora ia saindo do carro, quando sentiu que a mão de Alejandro a segurava pelo pulso, não era um toque possessivo ou agressivo, era suave, mas que fez com que o coração de Isadora quase saltasse do peito.

Imediatamente seus olhos se arregalaram, e ela se viu a ponto de deixar escapar uma lágrima dos olhos. Alejandro percebera no mesmo instante que aquela mulher à sua frente, não era como as outras, ela escondia mais segredos do que podia supor, e que a dor que carregava, era insuportável até mesmo para ela. Sentiu vontade de abraça-la até que toda a dor de seu coração desaparecesse, a olhava profundamente, e era como se conseguisse enxergar sua alma, e toda a dor que ela sentia.

- Eu preciso ir, me desculpe.

Isadora saiu correndo de dentro do carro, e entrou apressadamente em seu prédio. Estava tão acostumada a passar os dias dentro de sua sala, na agência, que achara que estava curada de certos traumas, mas no momento em que se deparara com um homem gentil, seu coração a alertara que deveria sair correndo. Sabia que Alejandro não estava entendendo nada, mas isso não importava, e sim, que ela se mantivesse em segurança.

Alejandro levou alguns minutos até ligar seu carro novamente e sair dali. Não entendia o que um simples tocar no pulso dela havia lhe proporcionado. Milhares de suposições lhe passavam pela cabeça, e nenhuma delas eram boas. Sentia uma crescente angústia, pois aprendera com sua adorada madre (mãe), que as mulheres são a mais bonita das criações, e que merecem serem amadas e respeitadas, não entendia como uma mulher como Isadora, pudesse ter sido tratada de outra forma. Naquele momento, toma a decisão de tentar descobrir tudo o que podia sobre ela, pois se pudesse ajuda-la em algo, faria com prazer.

Uma semana se passa, e Isadora finalmente terminara seu trabalho no edifício de Alejandro, e retornara com sua rotina normalmente. A kombi também havia sido consertada, pois no dia seguinte ao incidente, ela chamara um mecânico no estacionamento da empresa de Alejandro, e rebocara o veículo até uma oficina, não custaria nada barato, mas era preciso, já que era um instrumento de trabalho. Havia demorado mais do que o esperado naquele trabalho, pois solicitaram serviços extra, e obviamente, ela não recusara, já que precisava de dinheiro.

Ela trabalhava em sua sala, quando sua tia, Márcia, bate à porta, e entra com o sorriso e simpatia de sempre.

- Oi tia, algum problema?

- Não, minha querida! Passei apenas para perguntar como você está. Faz tempo que não sentamos e batemos um papo. Desde que você foi limpar aquele edifício, tem se mantido distante, aconteceu alguma coisa?

- Sim, e não!

- O que quer dizer com isso?

- É que...na verdade, não aconteceu nada demais, mas me surpreendi com uma reação que tive. Não imaginei que ainda me afetasse tanto, o fato de ter um homem ao meu lado.

- Homem? Do que está falando, minha filha?

Isadora parecia com os pensamentos longe, se lembrava da reação desproporcional que tivera ao sentir Alejandro a tocando levemente no braço, não sentira nada além de medo, e sabia que aquele fora a gota d’água, pois não podia se amedrontar toda vez que tivesse que tratar de negócios com algum cliente. Ela então respira fundo, e conta para Márcia o que havia acontecido, pois de certa forma, queria que aquele sentimento desaparecesse para sempre.

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