Depois que havia se deitado, Alejandro bateu de leve em sua porta e perguntara se ela estava bem instalada, o que ela prontamente confirmara. Ele ainda ficou um tempo em frente à sua porta com as mãos nos bolsos a olhando como se fosse um colegial, parecia querer dizer ou fazer alguma coisa, mas não sabia se deveria. Isadora em seu íntimo, desejava que ele se aproximasse e a abraçasse, ou então a beijasse.
Havia alguns dias que esse sentimento a consumia, não conseguia mais esconder que queria ter Alejandro cada vez mais próximo de sua vida, mas não sabia como dar o primeiro passo. Todas as noites falava com sua psicóloga, e ela dizia como se sentia, ficara orgulhosa de seus avanços, pois meses atrás seria impossível a fazer sair de casa, no entanto, agora estava simplesmente em Madri, e com um homem que não conhecia tão bem assim, mas que confiava.
Na manhã seguinte, todos tomavam um lindo café da manhã na varanda, Isadora, Alejandro e a mãe dele conversavam animadamente sobre os planos para os próximos dias, quando ouvem gritos de uma criança. Todos viram o rosto em direção ao som, e no mesmo instante as lembranças tomam conta de Isadora. Ela via o garotinho correndo de braços abertos até Alejandro, e gritando seu nome, no instante seguinte, o garoto pula em seu colo e Alejandro o coloca junto ao peito. Isadora parecia petrificada, era como se visse aquela cena se repetir em câmera lenta.
Olhava os dois à sua frente e nem sentia que lágrimas inundavam seu rosto, e que tremia descontroladamente, percebia vozes alteradas e mais algumas pessoas olhando para ela, atentamente. Sabia que Alejandro largara a criança e a sacudia, a chamava de volta à realidade, mas não adiantava, o que se seguiu, foi Isadora desfalecendo vagarosamente, seu corpo caía de lado, e seus olhos se fecharam lentamente, se não fosse os braços fortes de Alejandro a amparando, teria batido a cabeça no chão.
Alejandro observava Isadora deitada em sua cama, depois de ter tomado um forte sedativo, pois um médico havia sido chamado, e ele explicou o ocorrido. O médico havia dito que ela entrara em choque, certamente por algum trauma do passado, talvez, alguma coisa dentro dela ainda não havia sido resolvido. Alejandro agora entendera que o que Márcia não havia contado, era que Isadora não ficara somente viúva, mas talvez... Quando ela acorda, Alejandro prontamente se levanta da poltrona em que estava sentado a observando, e se aproxima dela. Se senta ao seu lado, e a enlaça pelo ombro, sem dizer absolutamente nada.
Com o gesto de carinho, ela não consegue conter as lágrimas, se deixa levar por um choro compulsivo, não sentia vergonha de se entregar às lembranças, precisava daquilo. Alejandro a mantinha ao seu lado apenas a confortando, afagava sua cabeça para que ela se acalmasse. Não sabiam quanto tempo ficaram ali, mas depois de muito tempo, ouvem uma batida à porta, e Dolores, entra.
- Oh, mi amor, como está se sentindo? Ficamos tão preocupados – pergunta Dolores.
- Estou melhor, obrigada – diz se desvencilhando do abraço de Alejandro.
- Você nos deu um susto e tanto, Alejandro não havia me dito que você tinha problemas com desmaios.
- Na verdade...eu não tenho, o caso é que...bem, a história é um pouco mais complicada do que parece. Acho que entrei em choque...
- Choque? Eu não entendo, Isadora.
- Mãe, é melhor não falarmos disso, Isadora não se sente bem, e todos temos nossas dores, não é? Talvez ela não se sinta preparada para dividir conosco o que aconteceu, devemos entende-la.
- Oh, por supuesto! (Oh, claro!)
Isadora sentia seu peito pesado, como se uma grande pressão a comprimisse, talvez chegara a hora de falar com alguém sobre o que havia acontecido. Confiava em Alejandro, e a mãe dele parecia igualmente confiável. Queria poder dizer as palavras que guardara por tantos anos.
- Vamos sair, e deixar Isadora descansar, mãe – diz Alejandro se afastando e se encaminhando com sua mãe até a porta.
- Esperem! – grita Isadora.
- Precisa de alguma coisa, corazón? – pergunta Alejandro.
- Eu...eu quero contar o que aconteceu...eu preciso tirar isso do peito, faz pouco mais de três anos, mas é como se tivesse acontecido ontem...
Alejandro para no meio do caminho e a olha. Finalmente iria ouvir da boca dela o que tanto a afligia, poderia finalmente a ajudar de uma forma mais concreta. Dolores olha para seu filho sem entender absolutamente nada, mas se aproxima da cama de Isadora e se senta na beirada, assim como Alejandro.
- Estamos ouvindo, corazón...mas se não se sentir bem, pode parar de falar, vamos entender.
- Sim, obrigada – fala Isadora com um fio de voz.
Ela fecha seus olhos e tenta se concentrar nos fatos, queria começar do início, sem esquecer nenhum detalhe. Isadora se senta na cama e agarra o lençol de encontro ao peito, e em questão se segundos, sua mente retorna ao dia em que tudo começara.
- Eu fui abandonada por minha mãe biológica quando era apenas um bebê de colo. Ela nunca veio atrás de mim, e eu sempre soube que Márcia não era minha mãe, desde o início ela fez questão de me contar, pois achava que algum dia minha mãe biológica voltaria, o que nunca aconteceu. Bem...eu cresci numa casa simples, minha tia me criou fazendo faxina, e apesar de termos passado por momentos difíceis, nunca faltou o básico.
- Sinto muito por você, Isadora – diz a mãe de Alejandro.
- Eu nunca me senti menos amada por minha tia, mas em contrapartida, a cada namorado que arrumava, ela deixava claro que eu era mais importante, e que quem quisesse ficar com ela, teria que me aceitar, mas infelizmente, nenhum homem aceitou, ninguém queria sustentar uma criança e assumir a responsabilidade de minha educação. Minha tia nunca se casou e nunca formou a família dela, e eu me sinto culpada por isso.
- Não diga isso, corazón...não é sua culpa – diz Alejandro pegando na mão dela.
- Infelizmente, eu sempre carreguei esse peso comigo, e quando eu tinha dezessete anos, quase terminando o colégio, conheci... um rapaz da mesma idade que eu, e começamos a namorar. Ele era alegre, muito bonito, todas as meninas se derretiam por ele, e eu boba, ingênua e muito carente de afeto, acabei me apaixonando. No final das contas, acabei juntando a fome com a vontade de comer, posso dizer assim, namoramos por três anos, e quando completamos vinte anos, decidimos nos casar.
- Casar? Tão jovens? E sua tia? – pergunta Dolores.
Isadora tinha seu olhar angustiado enquanto falava, pois se pudesse voltar no tempo, jamais teria se casado e presenciado a maior desgraça de sua vida. Ela então respira fundo, e continua a contar.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Janayna Santana
Deixa eu ir ali logo pegar o papel para as lágrimas
2025-02-03
0
MARIA RITA ARAUJO
com certeza é um sofrimento terrível
2025-04-07
0
Ameles
ela deve ter perdido um filho junto com o marido, e será que ele tem um filho
2024-12-03
2