O Encontro Com O Mosteus

Na quarta-feira de manhã, Rony e Vânia aguardam ansiosos por Jasper na sala, suas expressões carregadas de preocupação e raiva. Assim que Jasper adentra o ambiente, depara-se com seus pais, sabendo instantaneamente que uma bronca está por vir. A tensão no ar é palpável, e Jasper se prepara para enfrentar mais uma reprimenda familiar.

A dinâmica familiar de conflitos e discussões já se tornou rotina naquela casa, com brigas recorrentes e as mesmas questões sendo levantadas repetidamente. Jasper já estava familiarizado com os sermões de seu pai e as palavras de preocupação de sua mãe, tendo decorado cada argumento e reação que esperava encontrar naquela situação.

Após a discussão, Jasper se retira para seu quarto e se depara com Sofia sentada em sua cama. Ele pergunta o que ela queria ali, e ela responde que queria conversar, pois os dois não faziam isso há muito tempo. Jasper responde que não tinha tempo, pois estava ocupado demais para conversar e já havia tido duas conversas ruins naquele dia. Sofia insiste, mencionando que as brigas com Rony e Vânia eram devido ao comportamento estranho de Jasper, como sair sem avisar, chegar quando queria, não se reunir mais com a família, não ajudar nas tarefas de casa e estar ausente na maior parte do tempo.

 Jasper larga o que estava fazendo naquele exato momento e se vira para Sofia. Ele afirma que sempre esteve presente e sempre estará, dizendo que não havia feito nada de errado. Jasper explica que apenas tinha novos planos e estava se divertindo um pouco mais, mas optou por não contar aos pais para evitar perguntas desnecessárias. Sofia ressalta que se os pais fizessem isso, estariam certos, pois Jasper sempre evitava fazer amizade com as pessoas da região, alegando que eram vândalos, e que sempre foi apenas ele e Sofia, questionando se isso iria mudar agora.

— Jasper, você nunca teve outros amigos... Não acredito que esteja falando a verdade.

— Por quê? Eu sou estranho demais para ter novos amigos ou sou incapaz de fazer novas amizades?

Sofia não diz uma palavra sequer, e Jasper fica furioso por entender apenas pelo olhar o que Sofia estava pensando. Ele sai do quarto com os olhos mais vermelhos do que a cor de seu cabelo. Sofia fica no quarto chorando, arrependida de suas palavras e da falta de reação, sentindo que estava perdendo seu único amigo. Sofia sai às pressas do quarto e passa pelos seus tios, que perguntavam para onde Jasper tinha ido daquela forma e para onde ela estava indo daquela forma. Sofia não responde, apenas diz que estava indo atrás do seu irmão. No entanto, ao chegar do lado de fora da casa, Sofia não encontra nenhum sinal de Jasper.

 Sofia sai correndo atrás de Jasper em direção à árvore, que era o lugar onde eles sempre iam para fugir da realidade. No entanto, Sofia não encontra Jasper lá também. Ela se senta no chão, abaixa a cabeça e começa a chorar com os olhos fechados, arrependendo-se de tudo. De repente, Sofia ouve um barulho, levanta a cabeça rapidamente e pergunta se era Jasper que estava ali, mas tudo fica novamente em silêncio.

Com os olhos inchados de tanto chorar, Sofia se arrasta até a beira do lago para molhar o rosto. Enquanto molha o rosto, ela vê algo refletindo na água e levanta a cabeça para ver o que era. Sofia começa a gritar e, de repente, tudo escurece e ela desmaia. Seu grito foi tão alto que seus tios, que estavam em casa, ouvem e deduzem que algo aconteceu com ela e com Jasper. Rony e Vânia correm ao encontro de Sofia e, ao chegarem, percebem algo estranho prestes a acontecer com ela. Parecia que algo estava querendo algo e talvez tenha encontrado o que procurava: Sofia.

Sete dias haviam se passado. Sofia estava deitada em sua cama, delirando e repetindo os nomes de pessoas aleatórias, como Vitória, Diana, Gustav, e outros, repetindo as mesmas coisas o tempo todo. Jasper chega em casa e pergunta por Sofia. Sua mãe diz que ela estava da mesma maneira nos últimos sete dias. Jasper vai até o quarto de Sofia, abre a porta e ouve falando nomes até chegar ao dele. Quando Sofia menciona o nome de Jasper, ele se senta na beirada da cama, pega na mão dela, abaixa a cabeça e começa a chorar, pedindo desculpas, pois ele não queria que aquilo acontecesse com ela. Jasper expressa seu arrependimento por não ter ficado e conversado com ela quando ela pediu.

Depois que Jasper diz aquelas palavras, Sofia começa a acordar e chama mais uma vez pelo seu nome.

— Jasper.

— Sofia!

— Jasper é você?

— Sim! Sofia sou eu.

Sofia solta a mão de Jasper, senta-se e pergunta por Vânia. Antes que Jasper pudesse responder, ela chama por Vânia. Rony e Vânia aparecem rapidamente no quarto e abraçam Sofia, demonstrando a felicidade que sentiam por vê-la acordada. Lágrimas de alegria escorrem pelos rostos dos dois.

A pergunta de Sofia, inocente e um tanto confusa, pairou no ar, quebrando a atmosfera carregada de emoção.

— Por que estão chorando? — Ela indagou, os olhos ainda buscando compreender a intensidade do momento.

— Estamos felizes em ver nossa menina de olhinhos abertos — Respondeu Vânia, a voz embargada pela emoção, as lágrimas ainda escorrendo pelo rosto.

O relato de Sofia, em seguida, foi um fio tênue entre a realidade e o pesadelo. A lembrança vívida daquela imagem horrível flutuando sobre a água, a sensação iminente de perigo, a percepção de que seus piores medos estavam se tornando realidade. As palavras dela ecoaram no quarto, carregadas de um terror ainda presente, mesmo com a segurança do abraço familiar. A preocupação de Rony foi imediata, um toque de carinho em seu braço, a voz suave e firme, buscando acalmá-la.

Mas a teimosia de Sofia, porém, era compreensível. A confusão, a necessidade de entender o que havia acontecido, a luta contra a fragilidade física.

— Não, tio Rony, eu estava dormindo até ainda pouco, já descansei o suficiente — Ela insistiu.

— Sofia, você está um pouco fraca e como você mesma disse, você estava dormindo até pouco tempo. Você precisa de força. Vou preparar uma sopa de carne bem gostosa para você, está bem? — Ela disse, a voz carregada de carinho.

Ela bapenas balança a cabeça confirmando.

Vânia olha para Rony e com um simples olhar, ele entende que era hora de se retirar, de dar espaço para uma conversa que transcendia as palavras. Jasper, silencioso observador na penumbra junto à janela, aguardava pacientemente. A saída dos tios deixou o quarto envolto em um silêncio denso, carregado apenas pela expectativa. Os dois ficaram sozinhos, seus olhares se encontrando, uma conversa silenciosa iniciada antes mesmo das palavras.

O olhar de Sofia, direcionado a Jasper, era uma mistura complexa de dor, um espelho que refletia a angústia que o consumia.

— Desculpa...

Foi um sussurro perdido na imensidão do silêncio, a cabeça baixa, um sinal de sua culpa.

— Você se afastou de novo.

Ouvir aquilo foi um golpe direto, preciso, carregado de mágoa acumulada.

— É, eu sei — Suas palavras soou mais como uma constatação do que um pedido de perdão.

A dor de Sofia transbordou, um rio de lágrimas e palavras carregadas de uma tristeza profunda. A espera por um abraço, por uma palavra de consolo, por um reconhecimento da sua dor, que nunca chegou. A lembrança da solidão, da ausência de Jasper em seu momento de maior necessidade, a fez desabar. A menção de Catrina, uma personagem quase ausente em sua vida, tornou-se um ponto de referência, uma comparação dolorosa que destacou a ausência de Jasper, a sua falha em oferecer o apoio que ela precisava.

— Eu estou aqui — Foi um sussurro fraco, quase inaudível, cheio de arrependimento.

Mas as palavras de Sofia ecoaram no quarto, revelando uma desilusão profunda, um abismo criado pela ausência repetida de Jasper. O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de uma realidade que precisava ser enfrentada.

Jasper respirou fundo, o ar enchendo seus pulmões antes de soltar as palavras que mudariam tudo. A decisão, tomada em algum lugar profundo em seu coração, pesava sobre seus ombros como uma pedra.

— Eu acho que eu não sirvo para te servir — Ele disse, a voz resignada, carregada de um peso que transcendia as palavras.

A confusão e a mágoa em Sofia foram instantâneas, um olhar de incredulidade que refletia a dor da incompreensão.

— O quê? — Ela perguntou, a voz trêmula, o tom acusatório implícito. A explicação de Jasper foi um golpe certeiro, uma admissão de derrota, a constatação de sua própria incapacidade.

— É, é isso mesmo, Sofia. Eu vou embora... Agora você vai ter muito mais motivos para se questionar sobre a minha presença, ou melhor, a minha ausência — Ele disse, o tom pesaroso, a dor evidente em cada sílaba.

O silêncio que se seguiu foi um abismo, as palavras de Jasper ecoando na mente de Sofia, cada sílaba um prego cravado em seu coração. A tentativa de justificativa de Jasper, a menção de Catrina (novamente)e sua viagem iminente, foi uma tentativa vã de explicar o inexplicável. A promessa de infância, a passagem do tempo, a incapacidade de cumprir seu compromisso, tudo isso se misturou em um turbilhão de justificativas que não conseguiam disfarçar a verdade: ele estava desistindo.

— Eu só queria te dizer isso mesmo — Suou como um sussurro fraco, quase inaudível, a derrota evidente em sua voz. O nó na garganta, a dificuldade em articular as palavras, eram reflexos da dor, que parecia uma separação.

O olhar de Sofia, uma mistura de tristeza e resignação, refletia a aceitação da decisão de Jasper, mesmo que dolorosa.

— Será que você pode se retirar do meu quarto?

Foi uma frase curta, firme, mas com uma dor profunda. Não era um pedido, mas uma ordem silenciosa, um reconhecimento da realidade dolorosa. O quarto, agora, estava vazio, exceto pela dor que permanecia com ela.

  A realidade era inegável, a relação com Jasper estava mais uma vez abalada, e Sofia lutava contra a descrença, contra a impossibilidade da situação. A imagem de Jasper, suas palavras, o tom de sua voz, tudo confirmava a verdade: ele estava partindo.

Na cozinha, a animação da conversa foi interrompida pela presença de Jasper, seu rosto pálido e preocupado contrastando com a alegria do ambiente.

— Filho, está tudo bem? Aconteceu alguma coisa entre você e Sofia?

— Eu preciso falar com vocês.

— E nós precisamos te ouvir, filho, fala.

 Jasper revela sua decisão. A revelação da proposta de Catrina, a possibilidade de uma viagem, a mistura de ansiedade e expectativa em suas palavras, pintaram um quadro de transformação iminente.

A surpresa e a preocupação de Vânia foram evidentes.

— Você está falando sério, meu filho?

— Por mim, tudo bem.

— O quê? Como assim 'tudo bem'? Ele é nosso filho, ele está dizendo que está pensando em aceitar uma proposta de viagem, ele só tem 15 anos. Rony, você está pensando no que? Quero dizer, você está pensando em alguma coisa?!

— Ele é um menino livre, querida, tudo bem por mim... Meu filho, você pode fazer o que quiser.

A decisão de Rony, apesar de gerar conflitos com Vânia, revelou uma crença profunda na liberdade e na capacidade de seu filho em escolher seu próprio caminho.

— Filho, posso conversar com seu pai? — Uma tentativa de entender a postura do marido e de guiar Jasper com sabedoria.

— Claro.

Rony e Vânia, sozinhos, travavam uma batalha.

— Permitir que Jasper viaje com Catrina com essa ideia é loucura, Rony! — Explodiu Vânia, a voz cheia de indignação. Seus olhos, brilhantes, faiscavam com a preocupação.

Rony suspirou, um gesto de impaciência que não conseguiu disfarçar.

— Vânia, você está sendo dramática. Ele já é um homem, precisa aprender a voar sozinho — Seu sorriso era superficial, um véu tênue sobre a preocupação que ele, na verdade, nutria.

— Voar sozinho? — Vânia repetiu, incrédula — Você está dizendo isso enquanto sabe que ele não irá realmente viajar. Você nunca deixaria Jasper partir em uma jornada tão imprudente.

Rony se aproximou, a voz baixa e conciliadora.

— Eu estou apenas tentando protegê-lo à minha maneira, Vânia. Se eu disser que não pode ir, ele vai se revoltar. Se eu disser que pode, você vai se revoltar. Qual a diferença?

Vânia limpou uma lágrima rebelde que teimava em rolar pela sua face.

— A diferença, Rony, é a honestidade! Você está mentindo para ele, criando uma ilusão que pode se desfazer a qualquer momento. E se ele descobrir a verdade e se voltar contra nós?

Enquanto a tempestade emocional se abatia sobre Rony e Vânia, a situação de Jasper e Sofia era um reflexo doloroso dessa mesma tormenta. Sofia, em seu quarto, afogava-se em lembranças amargas, lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto enquanto revivia cada momento compartilhado com Jasper. Cada lembrança era uma facada, um lembrete da dor que a separação impunha.

Ao mesmo tempo, Jasper buscava refúgio. A água calma refletia o céu nublado, um espelho de sua própria alma inquieta. A solidão, porém, era um fardo pesado, incapaz de aliviar o peso da decisão que o esmagava. A tranquilidade do lago era apenas um breve alívio.

O lago, momentos antes um refúgio de paz, transformou-se em palco de um terror silencioso. Jasper, distraído pela busca de pequenas pedras lisas, sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Do canto do olho, notou sombras se aproximando, rápidas e ameaçadoras, como predadores famintos. Tentando escapar, suas pernas vacilaram, tropeçando numa raiz traiçoeira que o lançou ao chão com um baque surdo.

A terra úmida grudou em seus joelhos enquanto ele tentava se levantar, a respiração entrecortada. Mas a fuga era impossível. O que se movia como a sombras o cercavam, emanando uma aura gélida que paralisou seus músculos, aprisionando-o num casulo de pânico. Uma voz, grave e rouca como o raspar de pedras, cortou o silêncio:

— Pare.

A ordem, emanada das "sombras", foi como um golpe físico. Jasper congelou, cada célula do seu corpo vibrando com o medo. Seus olhos, arregalados, buscavam em vão uma forma de escapar, mas encontraram apenas a escuridão opressiva que o envolvia. A figura sombria, ainda indefinida, pairava sobre ele, uma presença ameaçadora que sugava o ar de seus pulmões.

O silêncio que se seguiu foi mais aterrador que qualquer grito. A tensão era palpável, uma corda esticada à beira do rompimento. O ar estava pesado, carregado de expectativa, de presságio. A única coisa audível era o bater frenético do coração de Jasper, ecoando em seus ouvidos como um tambor de guerra. A qualquer momento, a sombra poderia se materializar, revelando sua verdadeira forma, e o destino de Jasper seria selado. O diálogo, quando finalmente começou, seria uma dança mortal entre a esperança e o desespero, entre a vida e a morte.

O céu, antes azul e brilhante, estava escuro naquele instante. Uma névoa espessa, carregada de uma escuridão, desceu sobre a cidade. No centro da névoa, uma figura começou a se materializar, um espectro alto e esguio, envolto em um manto negro e rasgado que flutuava como se movido por uma brisa invisível. O tecido parecia antigo, desfeito em alguns pontos, revelando ossos finos e escuros sob a superfície desbotada.

— O que você é? O que quer? — A voz de Jasper, apesar do tremor, era firme.

O espectro se aproximou, e Jasper pôde ver melhor o rosto. Era um crânio, ossos brancos e secos sob um capuz que cobria a cabeça, mas com uma expressão quase humana de crueldade e malícia.

Do crânio, uma fumaça fina e cinzenta escapava, como um sussurro visualizado. As mãos, ossudas e finas, emergiam do manto, com dedos longos e afiados que pareciam se agitar com uma energia sinistra.

— Sou a personificação do seu maior medo, e desejo algo que não lhe diz respeito... ainda. Mas sinto seu cheiro, e o dela. — A voz, rouca e sibilante, ecoou na névoa, um sussurro que parecia raspar contra os tímpanos de Jasper. A figura flutuou mais perto, e Jasper notou que o manto não era apenas rasgado, mas também coberto por um pó fino e escuro que parecia se mover por vontade própria.

Jasper tentou protestar, mas o espectro o interrompeu com um gesto. Os olhos vazios do crânio pareciam queimar com uma luz interna, fixando-se em Jasper com uma intensidade que o gelou até os ossos. — Silêncio! Quero Sofia Black.

O nome da amiga gelou o sangue de Jasper. Ele percebeu que a figura não era apenas um espectro, mas algo... mais. O manto, agora, parecia se contorcer, como se algo estivesse se movendo por baixo. A fumaça que saía do crânio se intensificou, formando um vórtice que girava lentamente em torno do espectro.

— Sofia!? — A voz de Jasper era um fio de voz.

— Sim. Não posso tocá-la diretamente, nem a você. Mas seus pais... eles são vulneráveis. — A voz do espectro era agora um rosnado, acompanhado pelo som de algo se arrastando na névoa. Os dedos ossudos se esticaram, quase tocando Jasper.

— Não se atreva. — A determinação de Jasper, apesar do terror, era inabalável.

— Traga-me Sofia Black. — O espectro se aproximou, o vórtice de fumaça crescendo em intensidade. A figura parecia se fundir com a névoa, tornando-se mais ameaçadora e imponente.

— Nunca. — A resposta de Jasper ecoou, fraca mas firme, desafiando o espectro que se materializava completamente diante dele, revelando sua verdadeira natureza monstruosa.

A tensão esticava-se como um fio fino prestes a arrebentar. O coração de Jasper martelou contra as costelas enquanto ele corria, a imagem do espectro pairando em sua mente, a urgência de proteger sua família o impulsionando. Ao longe, ele avistou sua casa, um pequeno refúgio de madeira encravado numa clareira na floresta. A cabana, de madeira escura e telhado de ardósia, parecia aconchegante e segura, cercada por um jardim cuidadosamente cultivado.

Hortaliças verdes e vibrantes contrastavam com as flores coloridas que se espalhavam em canteiros bem definidos, um caminho de terra batida conduzindo até a porta. A floresta, densa e sombria, formava uma muralha protetora ao redor da pequena clareira, mas agora, sob o céu enegrecido, parecia ameaçadora, um cenário apropriado para o terror que se aproximava. A imagem bucólica da casa, que antes representava paz e segurança, agora era um alvo, um ponto final na corrida desesperada de Jasper contra o tempo. E a criatura, rápida e implacável, acompanhava-o, um presságio negro que se aproximava.

O cheiro, mais forte agora, guiava a criatura até a casa. Ela invadiu o lar de Jasper como uma onda de escuridão, materializando-se em sua forma horrível: a figura esquelética, o manto rasgado, a fumaça cinzenta. Rony (ele estava na porta em pé, tomando um café), sem reação, foi agarrado pelo pescoço, erguido no ar, seu rosto contorcido em horror silencioso.

Vânia e Sofia, no quarto, foram atingidas pelo grito silencioso do terror. O pânico as lançou em direção à cozinha, onde a cena de pesadelo se desenrolava. Sofia, petrificada, sentiu as pernas falharem, a impotência a aprisionando em um torpor de medo. Vânia gritou, um som rasgado de desespero, enquanto assistia ao marido sendo sufocado pela criatura.

Jasper chegou, a visão do pai flutuando no ar o atingindo como um golpe físico. Sem hesitar, colocou-se diante de sua mãe, um escudo humano contra a ameaça. — Sofia! Levante-se! — Ele gritou, a voz firme apesar do terror que o envolvia. Mas Sofia, dominada pelo medo paralisante, apenas sussurrou, a voz abafada pelo pavor: — Eu... eu não consigo, Jasper é ele, é ele, que eu vi no lago.

Jasper sabia que a criatura não podia tocá-la diretamente. A chave era o controle, o domínio sobre o pânico.

— Sofia! — sua voz era um fio de esperança cortando o desespero. — A vida de todos depende de você! Faça um esforço!

As lágrimas escorriam pelo rosto de Sofia, mas em seus olhos, um brilho de determinação começou a brilhar. Suas pernas, pesadas como chumbo, pareciam desafiá-la, mas o amor e a lealdade a Jasper a impulsionavam. Ele estendeu a mão, um gesto simples mas carregado de força e afeto. Com um esforço sobre-humano, com a ajuda de Jasper, Sofia se levantou, cambaleando, mas de pé. Seu rosto refletia uma mistura de medo, coragem e uma resolução inabalável.

— O que você quer conosco? — Sofia perguntou, sua voz ainda trêmula, mas firme.

A criatura gargalhou, um som gélido e cruel. — Oh, vocês são tão inocentes, Sofia Black!… Será que eu conto... ou vocês contam, Sr. e Sra. Davis?

— Do que ele está falando, mãe? — Jasper perguntou, o medo em sua voz.

— Eu acho que o Sr. Rony Davis não vai sobreviver para contar histórias... — A criatura sibilou. — É melhor você contar sozinha, Vânia.

O rosto de Rony estavam ficando roxo, seus olhos arregalados. Jasper agiu instintivamente, puxando o pé de seu pai. A sombra se contorceu, uma massa escura que se dissipou em fumaça, deixando para trás um silêncio ensurdecedor. O alívio foi imediato, uma onda quente que percorreu o corpo de Jasper. Ele percebeu, naquele instante, a ligação única que o unia a Sofia, uma força invisível que os protegia.

Mas a sombra, enfurecida, voltou a atacar. Jasper, porém, estava pronto. Segurou firme a mão de Sofia, e juntos, enfrentaram a criatura. Rony, fraco mas lúcido, sussurrou: — Se unam... se abracem...

Jasper compreendeu. Todos se abraçaram, formando um círculo de proteção.

Sofia por sua vez olhou para a situação, fechou os olhos e começou a citar fazer, talvez não ouvista antes por ela, porém família.

— Espiral do Caos — Assim ela criou um espiral de vento caótico que desorientou e arremessou o inimigo.

A sombra se contorceu novamente, transformando-se em uma nuvem de fumaça negra que se condensou numa caveira flutuante antes de se despedaçar e seus ossos serem arremessando no ar. O silêncio que se seguiu foi carregado de emoção, de alívio e gratidão. Eles haviam sobrevivido. Juntos.

Rony e Vânia se entreolharam, o peso da verdade pairando entre eles. Os anos de segredos, de omissões, pareciam pesar toneladas, mas agora, diante do perigo compartilhado, a necessidade de transparência se impunha. Eles tinham muito a explicar, muito a compartilhar com Jasper e Sofia. A experiência traumática havia quebrado as barreiras. Antes apenas uma ideia, agora era uma realidade palpável, um escudo contra os medos e incertezas do futuro. A confiança, antes abalada, podia voltar a ser forte ou ficar pior. Eles já eram grandes o suficiente para entender, para carregar o fardo da verdade. E a verdade, por mais dolorosa que fosse, era preferível à mentira, à ignorância. Não havia mais tempo para esperar; o que quer que viesse a seguir, enfrentariam juntos, como uma família verdadeiramente unida.

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Comments

·Laius Wytte🔮·

·Laius Wytte🔮·

Vou reler com certeza!

2023-09-28

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