O aroma intenso do café recém-coado pairava no ar da cozinha, misturando-se ao perfume adocicado das flores no vaso próximo à janela. Vânia, concentrada em despejar o líquido escuro nas xícaras, sentiu braços fortes a envolverem por trás. Um abraço aconchegante e familiar a fez sorrir.
— Bom dia, dorminhoco. — Murmurou ela, virando-se ligeiramente para encontrar os olhos de Jasper — Por que tanta alegria hoje?
Ele respondeu com um sorriso radiante:
— Estou sentindo que o dia promete grandes coisas... E espero que sejam boas.
Uma pausa, e então Vânia acrescentou:
— Bom, então eu acho que você começou do jeito certo.
Jasper a soltou e ela voltou à tarefa, respondendo à pergunta seguinte:
— Sim, mãe, sabe onde está Sofia?
— Ela deve estar no lago. Você vai atrás dela?"
— Sim.
— Bom, então não demore muito.
Raios de sol filtravam-se pelas folhas, pintando o bosque com manchas de luz e sombra enquanto Jasper caminhava pelo caminho conhecido. O ar fresco carregava o aroma de terra úmida e pinho, um perfume familiar que, no entanto, hoje parecia carregado de uma melancolia sutil. Ao se aproximar da árvore centenária, com as iniciais J e S, entalhadas no tronco áspero, ele a avistou sentada, uma figura solitária imersa em sua tristeza. Os ombros curvados, a cabeça baixa, o cabelo escuro caindo como um véu sobre o seu rosto. Mesmo à distância, a expressão em seu rosto era um retrato de melancolia profunda. Jasper aproximou-se cautelosamente, a grama macia silenciando seus passos, o som apenas de seus próprios batimentos cardíacos quebrando o silêncio do bosque.
— Olá — Disse ele, sua voz suave, quase um sussurro, quebrando a quietude — Será que tenho horário reservado para mim nesses pensamentos?
A brincadeira era um delicado fio de esperança, lançada para tentar romper a névoa da tristeza que envolvia Sofia, um gesto de carinho em meio à sombra. Um pequeno pássaro saltou de um ramo acima, como se respondesse ao silêncio quebrado, e voou para longe.
Sofia ergueu o olhar, seus olhos marejados até aquele momento, encontrando os de Jasper. O reconhecimento a invadiu como um raio de sol rompendo as nuvens de chumbo que a haviam envolvido, e um sorriso lento, hesitante a princípio, floresceu em seu rosto, varrendo a tristeza como o vento varre as folhas secas de outono. Era um sorriso que começava nos cantos dos olhos, um brilho que irradiava de dentro para fora, transformando completamente sua expressão.
— Jasper! — Exclamou ela, a alegria em sua voz tão inesperada quanto radiante, como uma melodia que rompia o silêncio quase doloroso do bosque.
As palavras pareciam vibrar com uma energia renovada, uma explosão de alívio e contentamento. Jasper aproximou-se, a preocupação genuína pintando suas feições em tons suaves, mas profundos. Ele parou a alguns passos, observando a transformação em seu rosto, sentindo o alívio misturar-se à sua preocupação.
— Como você está? — Perguntou ele, sua voz suave e atenciosa, carregada de um carinho que transparecia em cada sílaba — Só não tenta mentir para mim — Acrescentou, um sorriso leve e compreensivo em seus lábios, demonstrando a familiaridade e a intimidade profunda que compartilhavam, uma conexão que ia além das palavras.
— Eu te conheço muito bem.
A última frase foi dita com uma ternura que sugeria que ele entendia a complexidade das emoções de Sofia, e que estava ali para apoiá-la, seja qual fosse a verdade.
O sorriso que tentou florescer nos lábios de Sofia foi efêmero, um brilho fugaz que se apagou rapidamente, deixando para trás o reflexo da tristeza em seus olhos. Enquanto olhava para Jasper, um sorriso triste, quase imperceptível, se formou, mas logo seus olhos se encheram de lágrimas, cristalinas e brilhantes como gotas de orvalho matinal. Um soluço silencioso escapou, quebrando o silêncio do bosque, um som quase imperceptível que, no entanto, carregava um peso imenso de emoções reprimidas. As lágrimas escorriam por suas faces, como um rio de dor contida, deixando um rastro brilhante na pele. A voz embargada, quase um sussurro, quebrou o silêncio do bosque, um fio delicado que conectava a fragilidade de Sofia à profunda compreensão de Jasper.
— Não acordei bem hoje, Jasper — Ela confessou, as palavras carregadas de um peso que transparecia em cada sílaba, em cada tremor de sua voz — Minha mente está sobrecarregada, um turbilhão de preocupações que me sufocam... precisava de ar fresco, precisava fugir daquele turbilhão, precisava clarear meus pensamentos.
A sinceridade em suas palavras era palpável, uma confissão íntima que revelava a vulnerabilidade de sua alma. Jasper, sentindo a fragilidade em sua voz, a dor profunda em seus olhos, moveu-se com uma gentileza quase sagrada, sentando-se ao seu lado na macia grama, o aroma fresco da terra úmida se misturando ao perfume das flores. Seu olhar era um mar de compreensão, um refúgio seguro em meio à tempestade emocional de Sofia, um porto calmo em meio à agitação de sua alma. Ele ofereceu seu ombro, não com um gesto brusco, mas com a delicadeza de quem cuida de algo precioso, um gesto silencioso de apoio e conforto. Juntos, permaneceram ali, sob a sombra protetora da velha árvore, as folhas sussurrando ao vento, o silêncio entre eles preenchido pela empatia silenciosa e pelo conforto reconfortante do contato, um bálsamo para as suas almas feridas. O ar fresco do bosque, que antes parecia carregado de angústia, agora oferecia um respiro de tranquilidade.
— Eu senti isso desde o momento em que acordei, uma sensação inefável de que este dia seria diferente, especial, um dia marcado por uma energia singular — Jasper disse, sua voz suave como o sussurro do vento nas folhas, carregada de uma ternura que transparecia em cada sílaba. Ele observava Sofia atentamente, seus olhos escuros e expressivos refletindo o brilho do sol que filtrava entre as folhas, um brilho que não era apenas externo, mas emanava de dentro dela, um reflexo da gratidão e do afeto que a inundavam. Era um brilho que iluminava seu rosto, suavizando as marcas da tristeza que ainda persistiam, mas que agora se diluíam em meio à felicidade que a envolvia. Era um brilho que vinha de dentro, um reflexo da gratidão e do afeto que emanava dela, um testemunho da força de sua alma.
— Jasper — Ela sussurrou, as palavras carregadas de emoção, de uma gratidão tão profunda que parecia transbordar, quase palpável no ar — Você é a pessoa que traz conforto para a minha alma, um bálsamo para as minhas feridas. Sua presença sempre traz luz aos meus dias, mesmo nos momentos mais difíceis, mesmo quando a escuridão parece me envolver por completo. É como se você tivesse o dom de acalmar a tempestade dentro de mim, de transformar a escuridão em luz, o caos em serenidade.
Um sorriso suave e genuíno tocou seus lábios, um sorriso que alcançava seus olhos, iluminando-os com uma gratidão sincera e profunda, um sorriso que refletia a verdadeira essência de seu coração. Era um sorriso que não era apenas um movimento físico, mas uma expressão autêntica de sua alma, uma manifestação da paz que sua presença lhe trazia.
Entre o sussurro do vento que balançava as folhas das árvores antigas e o canto melodioso dos pássaros no bosque, os olhos de Jasper e Sofia se encontraram. Um vínculo silencioso, tecido de cumplicidade, fortalecia a amizade que florescia na beleza serena da natureza, sob o sol da manhã que pintava o céu com tons de laranja e rosa.
Imersos em uma conversa animada, Jasper e Sofia perderam a noção do tempo. A realidade os atingiu somente quando Jasper se lembrou do café da manhã que o esperava em casa. A corrida de volta foi frenética, um contraste gritante com a calma que haviam desfrutado momentos antes. Chegando em casa, ofegantes, Sofia explicou à tia que a conversa havia distraído Jasper, fazendo-o esquecer completamente do aviso.
Jasper pediu mil desculpas pela distração, a culpa evidente em seus olhos. Sofia, tentando disfarçar um sorriso divertido, levou a mão à boca, mas a alegria em seus olhos a denunciava. O sorriso de Jasper espelhava o dela. Vânia, porém, interrompeu o momento de ternura, ordenando que os dois fossem lavar as mãos e se sentassem para o café. Obedientes, eles se juntaram à mesa, onde o amor, a felicidade e a paz reinavam naquele lar.
Enquanto Sofia tomava seu café, envolvida em conversas animadas, começou a sentir uma dor de cabeça lancinante, diferente de qualquer outra que já sentira. Era uma pressão intensa, como se seu cérebro estivesse sendo esmagado por dentro. Jasper, percebendo sua mudança de comportamento, perguntou preocupado:
— Sofia, você está bem?
Sofia teve um breve lampejo, uma imagem fugaz de uma figura sombria e ameaçadora. Não conseguia identificar quem era, mas a lembrança trouxe consigo um frio intenso, um medo visceral que a paralisou antes do grito. A dor de cabeça é real, mas é também um sintoma de algo mais profundo.
De repente, um grito agudo rasgou o ar, assustando todos ao redor. Sofia, o rosto contorcido pela dor e o terror, repetia desesperadamente:
— Me ajudem, me ajudem!
No momento do grito, uma estranha névoa escura se espalha brevemente pela casa, visível. Ron, próximo a Sofia, sente um arrepio inexplicável e uma sensação de opressão no peito. A névoa sugere uma presença sobrenatural, talvez algo que está influenciando a dor de cabeça de Sofia.
Jasper, em pânico, tenta ajudar Sofia, mas ela parece alheia à sua presença, focada apenas na dor e no terror. A névoa desaparece tão rápido quanto surgiu.
A casa normalmente perfumada pela manhã com o aroma de café recém-coado, agora estava pesado e metálico, carregado com o cheiro acre do medo. A xícara de porcelana de Sofia, tombada na mesa, estilhaçada, espelhava a fragilidade de seu corpo que tremia incontrolavelmente. Gotas escuras do líquido, como lágrimas derramadas. Um zumbido baixo, quase imperceptível, vibrava no ar, misturando-se à respiração ofegante de Sofia, que repetia em um sussurro rouco: "Me ajudem… me ajudem…"
Vânia, as mãos trêmulas e sem foco. Seus olhos, inchados e avermelhados, corriam de Sofia para Jasper. O tecido da camisa de Jasper, normalmente macio, agora parecia áspero e desconfortável contra sua pele. Ele apertava a mão de Sofia, os lábios comprimidos em uma linha fina, enquanto os músculos de seu rosto se contraíam em uma máscara de preocupação.
A voz de Rony, firme e rouca, cortou o momento de desespero:
— Jasper, vá para seu quarto — A palavra "quarto" ecoou, pequena e impotente, diante do turbilhão de emoções que dominava tudo ali. Jasper, sem tirar os olhos de Sofia, respondeu com a voz embargada:
— Não posso deixá-la sozinha, pai — A relutância em sua voz era palpável, como o suor que escorria pela sua testa.
Ele repetiu, com mais firmeza ainda:
— Jasper, vá para seu quarto. Agora! — O tom de comando, apesar da preocupação que brilhava em seus olhos, surpreendeu Jasper. Ele se viu forçado a obedecer, mas a relutância em seus passos hesitantes era uma evidência da angústia que o consumia. O silêncio que se seguiu foi ainda mais pesado, carregado de um medo silencioso.
Vânia interveio. A luz fraca da lâmpada a óleo lançava sombras longas sobre o rosto preocupado de Vânia, enquanto ela observava o filho, Jasper, agitado como uma folha ao vento. O ar estava denso, carregado pelo cheiro de café derramado. Sentindo-se perdida diante da situação, porém firme em sua sabedoria materna, Vânia dirigiu-se a Jasper com uma voz suave, mas firme, que cortava o silêncio como uma adaga:
— Jasper, meu filho, respire fundo. Sinto o tremor em suas mãos, vejo o medo em seus olhos. Mas você precisa manter a calma. Só assim, com a mente clara, você poderá ajudar Sofia da melhor forma. Confie em mim, confie em si mesmo. Ao se acalmar, encontrará a força que precisa para apoiá-la. Eu estou aqui.
As palavras tranquilizadoras de Vânia, embora carregadas de uma preocupação silenciosa que ela escondia atrás de uma máscara de serenidade, ecoaram no ambiente tenso, trazendo um breve momento de serenidade. Jasper, ainda preocupado com a palidez e agitação de Sofia, respirou fundo, sentindo o aperto no peito diminuir levemente. A imagem da garota o assombrava, misturando-se à culpa que o corroía. Ele tentou seguir as orientações de sua mãe, mas a imagem de Sofia o atormentava, e ele se perguntou se seria capaz de ajudá-la."
Enquanto os minutos se arrastavam como séculos, e a palidez de Sofia se tornava mais pronunciada, a urgência se instalou em Jasper como uma onda avassaladora. Seu coração batia forte contra as costelas, um tambor frenético anunciando a tempestade em seu interior. Ignorando a voz suave, mas firme, de seus pais que o chamavam do outro lado da porta, ele correu até Sofia, a imagem da amiga pálida e inerte o impulsionando como um motor. Ele agarrou a mão dela com uma força que surpreendeu a si mesmo, seus dedos se fechando em torno dos dedos finos e frágeis dela.
— Sofia, sou eu, Jasper — Sua voz saiu rouca, um sussurro carregado de emoção. — Escute a minha voz. Estou aqui, segurando sua mão, e não vou soltar. Eu fiz uma promessa, uma promessa sagrada de que estaria ao seu lado, não importa o que acontecesse, e vou cumpri-la. Lembre-se... Lembre-se do que nós dois prometemos... — A lembrança da promessa o confortava, enquanto ele lutava contra a onda de pânico que ameaçava o submergir.
Lá fora, o dia era uma explosão de cores. O sol lançava raios dourados sobre as árvores, pintando o céu de um azul intenso. O canto melodioso dos pardais, normalmente tão alegre, soava agora irônico, uma zombaria da angústia que o invadia. Ele se lembrou dos vestidos de Sofia, leves como a brisa da manhã, com cores tão vibrantes quanto as flores do jardim. Ele queria vê-la sorrir novamente, queria ouvir sua doce voz, tão suave quanto o sussurro do vento nas folhas. Queria vê-la bem, mais do que qualquer coisa no mundo. Mas o silêncio persistente de Sofia o deixava afundar cada vez mais na escuridão, em um mar de impotência e angústia.
Sofia, aos poucos, foi se acalmando. A tensão em seus músculos diminuiu, sua respiração se tornou mais regular, e um leve suspiro escapou de seus lábios antes que ela mergulhasse em um sono profundo. Jasper observou tudo, sentindo uma pontada de alívio, mas a imagem de sua mãe, com o rosto molhado pelas lágrimas, o atingiu como um golpe. Vânia chorava silenciosamente, soluços abafados que quebravam o silêncio da noite (a manhã já havia se tornado noite), lágrimas que falavam de uma impotência que o deixava perplexo. Não era apenas preocupação com Sofia; era algo mais profundo, algo que ele não conseguia decifrar.
Ele se aproximou do pai, cujo semblante pálido refletia a mesma angústia que ele via nos olhos da mãe. Observou, com um aperto no coração, seus pais se abraçarem em um abraço silencioso, repleto de uma tristeza que o invadia como uma onda gélida. Eles saíram, deixando-o sozinhos, imerso em um silêncio carregado de tensão. Uma sensação estranha, um pressentimento de algo ruim pairando no ar, como uma névoa densa e opressora, o envolveu. Era como se uma rachadura invisível estivesse se formando no alicerce da sua família, ameaçando desestruturar tudo o que ele conhecia.
Passou-se meia hora. Meia hora de silêncio tenso, quebrada apenas pelo tique-taque do relógio antigo na parede, um ritmo que parecia ecoar o bater frenético de seu próprio coração. Ele imaginou o que seus pais estariam conversando lá fora, sob o manto da noite. Qual segredo pesado os unia em um abraço tão carregado de tristeza? Quando eles voltaram, seus rostos continuavam sérios, mas uma estranha aura de decisão emanava deles, deixando Jasper ainda mais intrigado, e com a certeza de que algo estava prestes a mudar para sempre em suas vidas."
Rony aproximou-se com passos cautelosos, seus movimentos suaves e gentis como se temesse quebrar algo frágil. Com cuidado extremo, ele pegou Sofia no colo, seus dedos envolvendo-a com uma ternura que beirara a reverência. O peso dela em seus braços era familiar, mas também diferente, mais leve do que ele esperava. Ele a levou para seu quarto, seus passos lentos e medidos, como se estivesse conduzindo uma relíquia sagrada. Delicadamente, ele a colocou na cama, o tecido macio da colcha roçando levemente contra sua pele.
O quarto de Sofia era um reflexo de sua personalidade: uma mistura encantadora de organização e criatividade. Livros empilhados em uma estante, alguns abertos em páginas marcadas, brinquedos cuidadosamente arrumados em uma caixa, desenhos coloridos pendurados na parede.
Mas Rony não via apenas os objetos. Ele via a Sofia em cada detalhe, a menina que havia chegado pequena e meio tímida e agora, deitada em sua cama, parecia tão mais madura, tão mais... distante. Uma onda de apreensão, um misto de medo e nostalgia, percorreu seu corpo. Era uma sensação amarga, uma mistura de saudade do passado e temor pelo futuro.
Enquanto observava o quarto, as lembranças do passado invadiram sua mente como ondas implacáveis. Lembranças de momentos compartilhados, risadas, brincadeiras, conselhos. Mas entrelaçadas a essas lembranças estavam as dúvidas que o assombravam, como uma sombra sinistra que se esgueirava em seu coração. Ele sabia, lá no fundo, que algo estava errado, uma verdade incômoda que se recusava a ser ignorada. Uma verdade que ele relutava em encarar, um fardo pesado demais para ser carregado sozinho. Mas ali estava ele, ao lado de Sofia, pronto para protegê-la, para amortecer o impacto do que quer que estivesse por vir, mesmo que não soubesse exatamente o que era.
No dia seguinte, Sofia acordou sob uma fina camada de suor frio. Resquícios de um sonho perturbador, repleto de sombras e sussurros ameaçadores, ainda ecoavam em sua mente. Um pesadelo tão vívido que a deixou com uma sensação estranha de opressão no peito. Ao sair do quarto, ainda cambaleante e confusa, foi recebida por Jasper, que correu em sua direção com a preocupação estampada no rosto. Seus olhos, cheios de carinho, analisavam cada detalhe de sua expressão.
— Dormiu bem? — Ele perguntou com um tom suave, sua voz carregada de preocupação. — Quer que eu prepare algo para você comer? Quer se sentar? — Ele se abaixou, oferecendo-lhe o braço com um gesto gentil.
Antes que Sofia pudesse responder, Vânia apareceu na sala, seu sorriso leve quebrando a tensão que pairava no ar.
— Acho melhor perguntar se ela quer respirar primeiro, Jasper... — Ela brincou, com um toque de humor e compreensão. — Vamos deixar Sofia acordar completamente antes de bombardeá-la com perguntas.
Sofia, ainda sonolenta, passou a mão pelos cabelos enrolados que estavam molhados de suor, a confusão pairando em seus olhos castanhos claros.
— Eu... Eu dormi por quanto tempo? (Na verdade ela havia ficado inconsciente, mas para Sofia tudo não passou de um sono um pouco logo) — Ela perguntou, sua voz fraca.
Jasper hesitou por um instante, seu olhar talvez de compaixão, talvez de culpa, pousando sobre ela.
— Dois dias consecutivos, Sofia. — respondeu ele, a gravidade da situação pairando entre eles, apesar do tom leve de Vânia. A expressão em seu rosto era um misto de preocupação e culpa; seus olhos, geralmente brilhantes e cheios de vida, estavam agora carregados de uma tristeza profunda, como se ele carregasse o peso do tempo perdido e do sofrimento silencioso que Sofia havia atravessado. A dimensão daquela afirmação pesava no ar, como uma névoa densa que obscurecia a leveza do humor de Vânia.
Um choque percorreu o corpo de Sofia. A informação atingiu-a como um golpe, deixando-a tonta e fraca. Ela sentiu uma onda de náusea a invadir, e teve que se apoiar em Jasper para não cair. Seus olhos, arregalados, refletiam uma mistura de surpresa e confusão. Ela tentou processar a informação, mas sua mente se recusava a cooperar, como se estivesse ainda presa em um nevoeiro. Dois dias... Dois dias perdidos no tempo, dois dias de sonhos e pesadelos, dois dias de um silêncio profundo que agora a assombrava.
A atmosfera na sala era uma curiosa mistura de tensões contraditórias. A luz do sol da manhã, que entrava pela janela, criava um ambiente acolhedor e luminoso, mas a gravidade da situação pairava no ar, como uma sombra silenciosa. O canto dos pássaros lá fora parecia quase irônico, uma melodia suave que contrastava com a gravidade da revelação. Vânia observava tudo com um olhar compreensivo, seu sorriso leve agora substituído por uma expressão mais séria, enquanto Sofia lutava para encontrar um fio de compreensão em meio à confusão que a dominava.
Rony, com um sorriso travesso que enrugava os cantos de seus olhos castanhos, comentou de forma descontraída, sua voz rouca e divertida quebrando a tensão que pairava no ar:
— Nossa, Sofia, você está muito suada. Deve estar fedendo a quilômetros de distância! — Ele fez uma pausa, observando a reação de Sofia com um brilho divertido nos olhos, antes de se aproximar para abraçá-la.
Jasper, porém, interveio com um sorriso divertido, demonstrando sua educação refinada e seu respeito pela amiga:
— Pai! — Exclamou ele, com um tom divertido, mas firme ao mesmo tempo — Não foi assim que o senhor me ensinou a tratar uma dama. Mesmo que ela esteja suada!
Sofia, que estava tentando processar a informação dos dois dias perdidos, soltou uma risada leve, aliviada pela descontração que a brincadeira de Rony e a repreensão de Jasper trouxeram.
— Deixa, Jasper, o tio Rony só está brincando — Disse ela, um sorriso surgindo em seus lábios. — E a tia Vânia está certa, eu preciso de um pouco de espaço para respirar.
Rony, ao ver a reação de Sofia, se aproximou e a abraçou com carinho, seu sorriso travesso se transformando em um gesto de afeição genuína:
— Desculpa, meu bem, eu só estava preocupado. — Disse ele, seu tom agora mais suave.
— É, disso eu sei — respondeu Sofia, sentindo-se reconfortada pelo carinho do tio e pela proteção de Jasper.
Logo à tarde, Sofia se aproximou do lago, o som suave das ondas quebrando na margem criando uma melodia serena. Jasper estava sentado na beira do lago, lançando pequenas pedras planas na superfície da água, criando círculos concêntricos que se espalhavam como ondas de emoção. Sem precisar olhar para trás, ele perguntou, sua voz suave quebrando o silêncio:
— Como você me encontrou aqui, Sofia? Sabia que eu estaria aqui?
Sofia sorriu, seu olhar compreensivo pousando sobre ele.
— Seria tolice não procurar você aqui, Jasper. Este é o seu lugar, o seu refúgio.
Um sorriso suave tocou os lábios de Jasper.
— Eu acho que está mais para SEU lugar de refúgio...
Logo o sorriso se desfez, dando lugar a uma expressão de profunda angústia. Ele se virou, revelando seus olhos cheios de lágrimas, lágrimas que brilhavam como pequenos diamantes sob a luz do sol. Eram lágrimas de alívio, sim, mas também lágrimas de medo, de culpa, de uma angústia profunda que ele havia carregado consigo por dois, logo e até terríveis dias.
Sofia se aproximou e o abraçou, seu abraço reconfortante envolvendo-o como um manto protetor. No abraço silencioso, o peso do medo e do desespero que Jasper havia carregado começou a se dissipar.
— Eu senti tanto medo, Sofia — Ele confessou, sua voz embargada pela emoção. — Quando ouvi seus gritos... Não sabia o que fazer. E os rostos dos meus pais... Eu vi o desespero nos seus olhos, a impotência, a incerteza... Foi horrível... Todos tiveram medo, Sofia. — Disse Jasper, sua voz baixa e rouca, refletindo o peso da experiência compartilhada.
Sofia, sem proferir uma única palavra, se afastou lentamente do abraço de Jasper, seu movimento hesitante, como se estivesse quebrando um elo invisível que os unia. Um olhar de compreensão, mas também de determinação, passou por seus olhos. Seu rosto, pálido, refletia a gravidade da situação.
— Preciso ir ao hospital com meus tios — Anunciou ela, sua voz firme, apesar do tremor sutil que a traía. — Talvez eu o procure quando retornar... — A frase ficou pendurada no ar, uma promessa incerta, um adeus silencioso.
Jasper, compreendendo o momento, apenas balançou a cabeça em silêncio, seu olhar seguindo Sofia enquanto ela se afastava, deixando-o sozinho à beira do lago, imerso em um mar de perguntas sem respostas. Ele sentia um aperto no peito, uma mistura de apreensão e incerteza que o deixava inquieto.
Naquela mesma noite, o silêncio na casa era pesado, carregado de uma tensão palpável que se instalou como uma névoa densa e opressora. O tique-taque do relógio na sala parecia ecoar o bater frenético dos corações. Rony, Vânia e Sofia retornaram, mas o clima era diferente, muito diferente. A demora no hospital havia sido longa, muito longa, e o silêncio pesado que os envolveu era uma sinfonia de preocupações e pressentimentos. Jasper, observando sua família entrar, notou a palidez de Sofia, quase translúcida sob a luz fraca, e a preocupação profunda nos rostos dos pais, como se eles carregassem o peso do mundo sobre seus ombros. Vânia estava visivelmente trêmula, com as mãos tremendo ao tentar acender a luz da cozinha.
— Por que demoraram tanto? — Ele perguntou, sua voz carregada de uma ansiedade que cortava o silêncio como uma faca.
Rony, carregando Sofia nos braços como se ela fosse algo precioso e frágil, respondeu apenas com um olhar grave, seus olhos escuros e profundos como poços sem fundo, enquanto a levava para o quarto com passos lentos e hesitantes. Vânia, com um gesto rápido e nervoso, preparou uma água com açúcar, suas mãos tremendo tanto que quase deixou cair a colher. O açúcar se espalhou pela mesa, criando um pequeno monte branco que parecia simbolizar a fragilidade da situação.
Na cozinha, o silêncio era ensurdecedor, quebrado apenas pelo som da respiração ofegante de Vânia e pelo barulho quase imperceptível do tremor nas mãos de Jasper. Vânia tomava a água com açúcar em goles hesitantes, cada gole se prolongando como se ela estivesse medindo o tempo, esperando por algo. Jasper, sentado à mesa, rígido em sua cadeira, com as mãos no rosto, estava preso em um turbilhão de pensamentos, imaginando o pior. Ele via, em sua mente, a imagem da palidez de Sofia, e a lembrança dos gritos ecoava em seus ouvidos. Rony juntou-se a eles, seu semblante sério como uma máscara de pedra, evidenciando a gravidade da situação. A atmosfera era carregada de expectativa, um silêncio pesado e sufocante que prometia uma revelação iminente, uma revelação que poderia mudar suas vidas para sempre.
O cenário era complexo, um labirinto de problemas que pareciam se multiplicar a cada dia. Não era apenas a condição de Sofia; eram os problemas financeiros que se acumulavam, a pressão dos compromissos médicos e a angústia constante de não saber o que fazer. Nunca haviam vivido algo assim antes, e a incerteza pairava no ar como uma névoa densa, obscurecendo o futuro e alimentando o medo. Todos estavam buscando maneiras de lidar com a situação, mas o desespero por respostas só aumentava, criando uma tensão palpável que vibrava no ar como uma corda esticada prestes a arrebentar.
Os dias se sucediam, longos e arrastados como se o tempo estivesse parado, com Sofia continuando a dormir por dois dias consecutivos sempre que a condição a atingia. A rotina havia se tornado uma sucessão de esperas angustiantes, de momentos de silêncio pesado, de tentativas frustradas de comunicação com Sofia, que, mesmo acordada, parecia distante, perdida em um mundo que eles não conseguiam alcançar. O distanciamento entre Jasper e Sofia se tornou evidente, um abismo silencioso que se abria entre eles. Eles evitavam o contato visual, suas conversas eram curtas e superficiais, como se estivessem evitando o peso do que não conseguiam entender.
Jasper, imerso em sua própria angústia, mal permanecia em casa. Passava horas procurando por respostas, por alguma explicação, por um fio de esperança que o tirasse daquele mar de incertezas. A insônia o assombrava, o deixando esgotado e irritado, enquanto a sensação de impotência diante da situação era avassaladora, um peso insuportável que o esmagava a cada dia. Rony e Vânia, por sua vez, corriam incansavelmente atrás de soluções, buscando ajuda médica, explorando tratamentos alternativos, mas o tempo parecia escapar de seu controle, levando tudo a sair do eixo, como um barco à deriva em um mar tempestuoso.
Até sugestões de interna Sofia lhe deram, mas é claro que os Davis nunca riam isso.
A tensão na casa se intensifica com o diálogo entre Rony e Jasper:
— Onde você estava? — Questiona Rony, visivelmente preocupado com a situação.
— Estava dando uma volta por aí — Responde Jasper de forma tranquila.
— Estamos passando por uma crise e você me diz que estava dando uma volta por aí, — Repreende Rony, expressando sua frustração.
Jasper responde com sinceridade:
— Sim, pai, é exatamente isso. Ficar em casa não vai resolver nada, então prefiro não resolver nada, fora daqui.
Rony, visivelmente incomodado, chama Jasper de garoto mimado, refletindo sua preocupação e descontentamento com a atitude do filho.
Vânia intervém, tentando acalmar a situação:
— Rony, deixa ele... Está sendo difícil para ele também.
Rony, ainda exasperado, questiona se Jasper realmente está enfrentando dificuldades, mencionando a promessa anterior do filho de nunca abandonar o barco.
Jasper, sentindo-se incompreendido, decide deixar a discussão e sai, deixando seu pai falando sozinho.
— Eu não vou permitir que você fale isso dele. Você deu a sua palavra, ele não. Ele só era um bebê naquela época. Não culpe o nosso filho em nada, pois ele não tem culpa — Vânia defende Jasper com sangue nos olhos, protegendo-o do julgamento de Rony.
A súbita pergunta de Sofia interrompe a discussão:
— Do que vocês estão falando? — Sua presença repentina pega Rony e Vânia de surpresa, levando-os a tentar disfarçar e mentir para Sofia, dizendo que estavam tratando de outro assunto irrelevante. Sofia, exausta demais para lidar com mais conflitos, finge acreditar na mentira, evitando entrar em um debate que poderia ser desgastante.
Enquanto o sol brilhava suavemente através das folhas da árvore, criando padrões de luz e sombra no chão, Sofia estava sentada debaixo da árvore, no bosque. O ambiente tranquilo foi interrompido pela chegada repentina de uma amiga de Sofia.
A garota tinha a pele bronzeada, cabelos longos e lisos que dançavam suavemente ao vento. Sua energia era contagiante, e sua expressão sempre parecia transmitir uma sensação de urgência e movimento. Diferente da calma e serenidade de Sofia, a amiga era espontânea e cheia de vida
Sem fazer barulho, a garota se aproximou sorrateiramente e deu um susto em Sofia, que se virou com um sobressalto, mas logo relaxou ao reconhecer a amiga. Com um sorriso, Sofia perguntou o que a trouxe até ali, e a garota respondeu com um brilho nos olhos, dizendo que estava com saudades.
Sofia, ainda um pouco surpresa com a chegada inesperada, olhou para a amiga com um misto de curiosidade e desconfiança.
— Tá bom, eu vim acompanhar meu tio, ele veio fazer uma visita a senhora Nervilha.
— Estão em outra "aventura"?
— Sim! Agora vamos conhecer todas as cidades que meu tio queria conhecer quando tinha nossa idade.
— Uau, devem ser muitas!?
— Nem tantas, mas enfim me fala.
— O quê?
— E Jasper, como ele está? Continua lindo?
— Sabia que você não estava querendo me ver.
— Não, isso não é verdade, eu vim sim te ver, mas também vim ver ele... Então como ele está?
— Não sei... Não estamos nos falando tanto, mas sim, ele está da mesma forma de quando você se apaixonou por ele, ainda está mais alto que você, está com o mesmo cabelo ruivo, com as mesmas sardas.
— Nossa! para quem falou que não tinha nenhum interesse nele você presta bastante atenção.
— O quê? Do que você tá falando? Espero que não esteja falando o que eu estou pensando.
— Eu estou falando, que você presta muita atenção nele para quem se diz ser uma "irmã".
— Talvez seja porque eu convivo com ele e moro com ele a 10 ANOS.
— Mas você fala de um jeito que...
— Que, o que Catrina? Não acredito que você está falando isso, ele é como um irmão para mim e pronto.
— Desculpa... Estou brincando. E outra você sabe que eu acho ele mó gatinho, e não posso ficar por muito tempo, já você pode, e você é linda, você é tipo uma princesa que a Disney não tem, é difícil competir.
— Para de falar besteira, você é linda... Tá vamos parar de falar de garoto, e me diz, o quê é Disney?
— Não sei… Tá, então o que você acha de falarmos do que se passa nessa cabecinha? Fiquei sabendo que ela não anda nada bem... Quer me falar sobre?
— Eu não faço a mínima ideia do que se passa aqui dentro, eu... Sinto muito dor e desmaio... Eu não falei para ninguém mas eu sinto essas dores e vejo coisas, não sei se são apenas coisas aleatórias, lembranças ou algo assim... Eu acho que estou endoidando, amiga, o que você acha?
— Eu acho que você está biruta, está louquinha, mas assim como um pai falou para sua filha e ela falou para o seu melhor amigo... As melhores pessoas são assim...
Após a partida de Catrina, Sofia permanece sentada, deixando de lado o livro e mergulhando em seus pensamentos mais profundos.
Enquanto navega por suas reflexões, Sofia sente uma dor aguda em sua cabeça, mas desta vez consegue conter seu grito, como se já estivesse habituada a suportar a dor sem demonstrar. No entanto, a intensidade da sensação a faz desfalecer, mas antes que caia no chão, Jasper surge sob a árvore em busca de ar fresco e tranquilidade. Ao se deparar com Sofia em uma situação estranha, Jasper se aproxima e a chama pelo nome, interrompendo momentaneamente o que quer que estivesse acontecendo em sua mente.
Subitamente, Sofia para e desaba, mas antes que atinja o chão, Jasper a ampara em seus braços, preocupado com a situação e sem compreender totalmente o que está ocorrendo com ela. Em meio à preocupação e à confusão, Jasper se questiona internamente sobre o que poderia estar acontecendo com Sofia, temendo que ela não consiga escutar ou responder.
— O quê está acontecendo com você garota?
— A garota aqui está ficando maluca, mas eu fiquei sabendo que as melhores pessoas são assim.–Diz Sofia quase sussurrando.
— Sofia!
— Oi Jasper, Acredita que eu e Catrina estávamos falando de você.
Sofia se levanta, sorrindo e agradecendo por Jasper estar presente aqui. Ela revela a Jasper o motivo pelo qual Catrina pensava que ela estava apaixonada por ele: era porque, de fato, ela era apaixonada por ele, mas não da maneira que Catrina interpretou. Sofia estava apaixonada pelo incrível irmão que Jasper era, admirando suas qualidades e bondades e lealdade.
Jasper e Sofia começam a sorrir e se abraçam, sentindo a conexão e a importância um do outro em suas vidas. mostrando que, mesmo em meio às dificuldades e confusões, eles podem contar um com o outro. Esse momento de união e compreensão era exatamente o que eles precisavam, reforçando o vínculo especial que compartilham e a importância de estarem juntos nos momentos de necessidade.
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Atualizado até capítulo 21
Comments
LalyGamer 590
Emocionante ❤️
2023-09-22
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