Capítulo 6

No dia seguinte, Aron acordou bastante inquieto pois hoje a criança chegaria a sua casa. Saiu de casa cedinho para trabalhar, mas estava difícil se concentrar nas suas atividades na empresa. Ficou se perguntando durante todo o dia se estava fazendo a coisa certa, pois não queria jamais substituir seu filho que veio a falecer ainda no ventre de sua finada esposa.

A pergunta era: por que adotar? Já que poderia muito bem fazer um filho de modo convencional. A realidade é que a Frida se precipitou e deu ouvidos a um homem ferido por dentro no meio do seu luto contínuo.

No final do dia saiu de mansinho, não queria o Edgar falando no seu ouvido tudo que ele já sabia e não queria ouvir. Dirigiu para sua mansão em alta velocidade, quando chegou viu o carro da Frida no jardim.

Ao entrar em casa tudo estava quieto e melancólico, mirou o olhar na escada e subiu para o andar de cima. Ao entrar no largo corredor da ala dos quartos seu corpo quase fraquejou não aguentando dar um passada adiante, pois viu a luz do quarto do seu filho acesa através das frestas da porta.

Aron - Ela não fez isso!

Naquele quarto ninguém entrava sem sua autorização, estava amavelmente decorado para receber seu filho que nunca chegou em casa. Ele cria forças através da raiva e se aproxima, estava pronto para despedir todas as empregadas que permitiram tal ação, e colocar a Frida no seu devido lugar. Mas ao abrir a porta, se depara com uma cena que lhe quebrou por inteiro.

Frida - Oi, primo!

Ela abriu um sorriso de orelha a orelha, assim como duas funcionárias que estavam no quarto admirando aquele anjinho mamando na mamadeira deitado no colo da Frida, na poltrona branca que a Aurora usaria caso tivesse voltado para casa naquele fatídico dia.

Aron - Você...

A voz até faltou, ele olha para as empregadas e só com um gesto elas entenderam que o patrão queria privacidade e saíram do quarto.

Aron - O quê você fez Frida? Onde conseguiu essa criança.

Frida - Calma primo, uma pergunta de cada vez.

Ele leva as mãos à cabeça e começa a andar de um lado para o outro.

Frida - Seu desejo não era ser pai?

Aron - Mas não assim, sua louca!

O bebê resmunga enquanto toma o leite.

Frida - Shhh... Para de gritar, você quer assustar ele?

Aron revira os olhos e cruza os braços na frente do corpo.

- Onde você conseguiu essa criança?

Frida - No orfanato, ora! Ou você acha que roubei?

Aron - Não me espantaria, já que você é completamente sem juízo.

Ela deu uma risada de lábios fechados.

Frida - Minha mãe tem uma amiga que é diretora de um orfanato e tudo acabou sendo mais fácil, dei uma bela bagatela em dinheiro para ela e simplesmente ela resolveu tudo da maneira mais fácil.

Aron - Não quero ilegalidade, Frida! Sabe que eu prezo pelo meu sobrenome.

Frida - Não tem nada de ilegalidade, esse bebê não tem pai nem mãe, por isso estava no orfanato para adoção. E outra coisa, essa é a criança mais sortuda do mundo por ter um pai como você.

Ele não respondeu, apenas ficou calado olhando para o berço vazio, lembrando do dia que chegou em casa e sua esposa lhe fez uma surpresa mostrando o quartinho do bebê todo pronto. Seus olhos se lubrificam, mas Aron engole a emoção não deixando uma lágrima cair.

Sua expressão facial continuava dura, não tinha traços de um possível sorriso sequer, e isso não passou despercebido pelo olhar de Frida que apenas lamentava a dor do primo com empatia.

Seus pensamentos são interrompidos por grunhidos do bebê, ele tinha tomado a mamadeira inteira e estava sorrindo, brincando com os brincos chamativos da Frida.

Frida - Gostou, Liam?

Aron franze a testa.

- Não gostei desse nome, é ridículo!

Frida - Mas é o nome dele, ele já atende por Liam. Não é mesmo bebê?

O pequeno dá um sopapo para trás e sorri.

Frida - Ele é lindo, não acha?

Aron não responde, apenas continua a observar a cena.

Frida - Ele tem seis meses, eu acho, depois você olha nos documentos.

Ela falou enquanto brincava com o pequeno, de repente ela recebe uma tremenda de uma golfada no rosto, Frida deu um grito e esticou os braços entregando o bebê para o Aron, mas ele se recusa no primeiro momento.

Frida - Pega, segura o teu filho!

Ele se afasta, mas como Frida estava prestes a dar um chilique por está com leite azedo no olho, Aron não teve outra alternativa e o segurou.

Frida - Ai que fedor!

Ela entrou correndo no banheiro e bateu a porta. O bebê ficou olhando sério para o Aron que também estava de cara fechada o olhando nos olhos com a mesma intensidade de expressão.

Aron - O quê foi?

Liam deu uma risadinha e olhou para o colar dele que continha um pingente de âncora. Aron se aproximou de uma bolsa branca que deduziu ser do bebê e tirou uma fralda bordada com o nome da criança.

Aron - Vamos limpar isso, certo?

Ele limpou a boquinha do bebê e o pescoço que estavam sujos de leite golfado. A porta do banheiro é aberta e Frida sai com o braço erguido próximo ao seu rosto, cheirando e tentando achar algum vestígio do azedo.

Frida - Já vou indo, eu preciso de um banho urgente!

Aron - Como assim já vai indo? Você não vai deixar ele aqui, vai?

Ela sorriu e pegou a bolsa colocando no ombro.

Frida - Vou, é sua responsabilidade, não minha!

Ela sai do quarto antes de Aron ter tempo de respondê-la.

Aron - Eu não tô acreditando nisso!

Totalmente perdido, Aron sai do quarto à procura de suas funcionárias que trabalhavam na casa, desceu para o andar de baixo e entrou na cozinha. As duas estavam jantando e tomaram um susto com a entrada dele, pois geralmente ele nunca vai naquele ambiente, era raridade.

Aron - Vocês!

As duas o olham segurando o bebê.

Aron - Quero que vocês cuidem dele até eu encontrar uma babá.

Elas engolem a seco e olham uma para outra querendo fugir dessa responsabilidade.

- Mas senhor, nós não sabemos cuidar de bebês.

Aron - Não importa, vão aprender!

Ele olha para os pratos com comida pela metade e logo seu bom senso entrou em jogo.

Aron - Perdão, podem continuar jantando! Quando terminarem quero falar com vocês.

Ele se retira da cozinha as deixando à vontade.

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